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domingo, 11 de março de 2012

P97 O bumerangue

É apenas questão de chance...
Para os soldados americanos, a guerra moderna é apenas um vídeogame, onde os inimigos são apenas imagens na tela.
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Em janeiro de 2012, soldados americanos protagonizaram uma cena que além de envergonhar qualquer combatente pelo mundo afora, deixou claro que as tropas da coalizão ocidental que hoje combatem no Afeganistão nem de longe tem o que se pode chamar de postura de combatentes. Urinando sobre os corpos de soldados talibans que haviam matado, deixaram claro que o pensamento dos soldados americanos de hoje é o mesmo de adolescentes jogando um vídeogame de guerra, onde os inimigos são apenas imagens na tela. Houve um tempo em que os soldados americanos tinham outra postura e talvez essa postura de combatente tenha sido exercida pela última vez na 2ª Guerra Mundial.
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O vídeo da cena filmada por eles mesmos foi divulgado na Internet e acima de tudo exaustivamente exibido pelos grupos radicais islâmicos, que a cada ato desses cometidos pelos soldados americanos, ficam com mais argumentos para qualquer pregação anti-ocidental e mais simpatia e adeptos conquistam em muitas regiões do Oriente Médio. Manifestações aconteceram em todos os países nítidamente anti-ocidentais e anti-israelenses, já que desde 1948 Israel barbariza toda a região com o poder militar que os americanos lhes dão. Por si mesmo, esse pequeno país não tem força militar nenhuma.
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Continuando com seus atos mais de loucura do que de provocação de um grupo inimigo, em fevereiro os americanos queimaram milhares de exemplares do Alcorão, o livro sagrado dos islâmicos, ação que também foi intensamente aproveitada pelos radicais islâmicos e nas manifestações que se seguiram mais de 20 civis afegãos terminaram mortos nos tumultos ocorridos com policiais afegãos e soldados americanos.

Soldados talibans a pé com sapatos comuns, mal equipados, mal alimentados, usando armas do tempo da União Soviética e inflingindo baixas enormes contra os soldados americanos, que bem equipados, bem armados e com vasta rede de transporte e comunicações, estão mais na defensiva do que na ofensiva
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Na verdade, fazendo a comparação entre os soldados talibans pobres e famélicos e os soldados americanos ou mesmo ocidentais bem armados, bem alimentados e apoiados por vasta rede de transportes, apoio aéreo e de artilharia, vigilância por satélites e há 11 anos sem conseguir dobrar a vontade de combater dos talibans e tendo presenciado a quase morte do movimento depois dos milhares de toneladas de bombas jogados no Afeganistão em 2001, a pretexto de vingar o ataque às Torres Gêmeas, cuja culpa o governo americano colocou nos afegãos, os americanos assistiram estarrecidos nos últimos cinco anos ao ressurgimento do movimento com atentados, ataques e emboscadas que custaram muito caro aos soldados americanos. Tornam-se simplesmente incapazes de explicar tamanha capacidade de combate de soldados esfarrapados contra soldados que tem até mesmo câmeras de vídeo em seus capacetes e não conseguem dobrar a resistência do inimigo. No mínimo vergonhoso.
Ódio aos ocidentais e ao Ocidente em si, acabando com qualquer chance de diálogo, foi tudo o que os americanos conseguiram fazer com essa guerra
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Para piorar, neste mês um soldado americano saiu de sua fortificação e fuzilou mais de 17 civis em aparente estado de loucura, o que só piora a cada dia a situação, enquanto a data limite de retirada dos soldados ocidentais se aproxima.
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Lembrando dos tempos em que os ingleses foram massacrados no Afeganistão em 1842, quando apenas um sobrevivente retornou de uma coluna de mais de 15.000 soldados, ao que tudo indica nos tempos modernos o modo e a ferocidade do combate dos afegãos, seja naquele século como nos dias de hoje não mudou. O que salva os ocidentais de uma derrota total é apenas a capacidade de se defenderem em posições estáticas enquanto contam com apoio aéreo contínuo e mesmo assim sofrendo baixas pesadas, como a da unidade de elite Seal americana, que em combate com um grupo de talibans, teve mais de 20 soldados mortos e um helicóptero pesado derrubado simplesmente caindo numa armadilha de um grupo taliban, como sempre pequeno, equipado com armas leves, mal vestido e mal alimentado, mas com uma capacidade suicida de combate.
Russos hoje dão o troco da ajuda que os americanos deram aos combatentes afegãos durante a década de 80, quando então os americanos os chamava de "combatentes da liberdade"
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Depois de sangrarem por 11 anos com as mesmas baixas no Afeganistão de 1979 a 1989, os russos hoje deixam que armas leves como fuzis e foguetes anti-tanque e anti-aéreo como o RPG-7 cheguem às mãos dos talibans. São apenas negócios de "empreendedores" que botaram as mãos em incontáveis estoques de armas russas dos tempos da União Soviética, mas que servem de troco pelas baixas que os russos sofreram quando os talibans tinham todo o apoio recebendo armas americanas e acima de tudo recebendo o míssil anti-aéreo Stinger, que derrubou dezenas de helicópteros soviéticos, a tal ponto que suas incursões aéreas começaram a ser feitas em grande parte à noite. Naquele tempo nem eram talibans, eram mujahedins, que lutavam contra tropas soviéticas e eram saudados pela mídia ocidental como "combatentes da liberdade". Hoje essa mesma mídia os chama de "terroristas". Já o soldado que fuzilou 17 civis foi descrito apenas como "um soldado em crise nervosa".
Militarmente superiores e no entanto acuados por um grupo de insurgentes que não pára de crescer, estimulado pela reação contra os ocidentais
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Hoje o soldado ocidental, a despeito da enorme bagagem do que deveria ser um comportamento civilizado que deveria se refletir nas frentes de combate, apesar da ferocidade e selvageria do combate em si, onde o instinto de sobrevivência rebaixa qualquer comportamento humano a uma luta animal, deixa muito a desejar até mesmo ao comportamento das tropas do Império Romano, que por onde passou, a despeito dos combates, conseguiu instilar nos povos vencidos toda a cultura que trazia consigo. Com o tempo, povos vencidos tornaram-se seguidores e admiradores dos romanos. Comandantes e soldados da época se aposentavam longe de Roma, tornando-se assim moradores das províncias conquistadas e ao mesmo tempo difundindo o conhecimento e a cultura conseguidas pelos romanos. Mesmo o livro de memórias do imperador combatente Marco Aurélio foi escrito em frentes de luta no ano 170 A.C. e traz em suas reminiscências noções de valor e comportamento que certamente fazem falta ao soldado ocidental de hoje.
Soldados americanos ambarcam em um helicóptero de transporte. Decolagem e aterrisagem, os momentos em que estão sujeitos a receberem um foguete anti-aéreo
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Incapazes mesmo, talvez pela forma de vida moderna, de darem outro tratamento a seus adversários, notadamente a população civil, totalmente indefesa, os soldados ocidentais de hoje deixam qualquer possibilidade de um futuro entendimento entre Oriente e Ocidente longe de qualquer realização maior. Diferentemente dos soldados americanos aclamados enquanto passavam com seus comboios empurrando de volta os soldados nazistas para a Alemanha, os americanos de hoje são odiados, suas atitudes nada mais fazem do que aumentar as levas de simpatizantes e recrutas dos movimentos radicais islâmicos e depois dos atentados nos EUA e na Europa, aprenderam a viver com medo até dentro de seus países.
Tanques modernos dos anos 2000, custando milhões de dólares são destruídos por mísseis russos RPG-7 da década de 90, que custam entre 1.000 e 2.000 dólares. Tripulações de nível quase universitário terminam mortas ou aleijadas por soldados famélicos e quase analfabetos
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Os soldados ocidentais e notadamente os soldados americanos encontram-se hoje às voltas com o golpe mortal de um bumerangue que eles mesmos criaram para que os combatentes afegãos de 1979 pudessem combater os soviéticos. Deram-lhes modernos equipamentos bélicos, ensinaram táticas modernas de guerrilha, deram-lhes noções de defesa e contra-ataque anti-aéreo, ensinaram-nos a usar mísseis de última geração e acima de tudo, deram-lhes fundos, até hoje mantidos pelos afegãos, que além disso passam tudo o que aprenderam com eles e nos combates com os soviéticos para os recrutas que entram em serviço nos dias de hoje.
Talibans, famintos, mal armados e mortais. Fazendo a comparação das tropas na proporção de instrução, recursos e vontade, os bem armados soldados ocidentais estão levando uma surra
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O cenário de combates vai continuar assim até a retirada dos ocidentais previstas para 2014, enquanto que o movimento taliban considerado morto depois dos bombardeios de 2001, praticamente ressuscitou a partir de 2005 e desde então não parou de conseguir adeptos. A invasão americana em 2001, descrita pela mídia ocidental como pacificadora e civilizadora, conseguiu apenas fazer com que os ocidentais e por extensão o Ocidente fossem vistos pela maior parte da população exatamente como veem Israel, como inimigos de morte e inimigos a serem atacados até mesmo além de suas fronteiras.
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Os novos adeptos dos insurgentes talibans gostariam de viver em paz, mas percebem que basicamente só lhes restou a opção de retornarem aos tempos medievais com armas modernas, já que esta é a única forma de combaterem os soldados ocidentais, que com sua arrogância, desprezo e atrocidades contra os civis só conseguiram essa resposta. É o caso de se perguntar quem retornou primeiro aos tempos medievais.
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Vellker
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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

P94 Os indignados vão almoçar

E agora entendem o que sempre falaram para os outros...
Iniciado no ano passado, o movimento dos indignados na Espanha e um pouco em Portugal e algumas outras cidades da Europa entra enfim num período de recesso. Seus organizadores e alguns intelectuais falam em não perder o caminho, em retorno com novas reivindicações e coisas do tipo. Na verdade o estômago dos ditos indignados ronca e as pernas tremem com o frio europeu e eles já percebem que só uma revolução radical poderá desmontar o monstro econômico que ajudaram a criar nos últimos 20 anos. E uma revolução dessas poria a perder as migalhas que ainda conseguem no mundo que já não os reconhece como cidadãos e sim como cifras. E aí não ficam tão indignados assim, acham até que dá para ir vivendo na indignação. Essa é a triste verdade.
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Assim os indignados também vão almoçar e de quebra emprestam o jornal de algum amigo de movimento para ler e reler os classificados de empregos. Apesar da negra situação econômica pelas paragens européias, cada indignado sortudo que arrume um emprego depois do almoço é um indignado a menos na hora da janta. E Madrid, um dos berços do movimento dos indignados continua com sua vida de sempre.
É uma boa lição da história que os espanhóis e portugueses estejam nessa situação. Lá por 1990, os grandes grupos bancários, de telecomunicações e industriais europeus passaram a vender para os países da América Latina a idéia de que desmontar seu patrimônio estatal era a melhor coisa que poderiam fazer. E seria melhor ainda se vendessem, leiloassem, entregassem de que forma fosse, desde que entregassem, todo o patrimônio e estrutura de telecomunicações, energia e petroquímica que haviam montado em mais de 20 anos, às custas de imensos sacrifícios para suas populações. Os primeiros a fazerem isso foram os argentinos sob a liderança do falastrão ex presidente Carlos Menen, sempre sob a idéia, incansavelmente repetida pelos grandes grupos de comunicação, de jornais a televisões, de que vender tudo para estrangeiros era a melhor coisa a fazer. E por um preço bem baixo, bem abaixo mesmo do valor real das instalações, usinas e fábricas e ainda com empréstimos de bancos estatais de desenvolvimento nacional para ajudar os grandes grupos estrangeiros que então teriam mais dinheiro para comprar o que era patrimônio nacional. Poderia existir negócio melhor?
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O resultado, diziam os jornalistas e comentaristas econômicos, seria uma maravilha. As dívidas nacionais desapareceriam, o povo viveria melhor e melhor ainda, os bondosos estrangeiros assumiriam o controle de tudo, desde as grandes usinas hidrelétricas até as redes de telefonia para fazer a nação feliz e bem melhor de vida. Claro, nenhum jornalista dizia que seus jornais e televisões já estavam comprados com a promessa de verbas publicitárias milionárias e ainda por cima pretendiam tomar parte no negócio. A população, não só da Argentina, mas também de outros países da América Latina caiu no estelionato. Ainda por cima dirigidas por governantes e presidentes comprometidos com essa traição, perderam tudo.
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O resultado foi o que se viu. Desemprego, relações de trabalho onde os funcionários dos novos donos são explorados ao máximo, péssimos serviços oferecidos por um preço muito maior do que era cobrado antes, sucateamento das hidrelétricas, redes de energia, redes de telefonica, desnacionalização da estrutura fabril e produtiva das nações sul-americanas e esmagamento dos empreendedores nacionais. Tudo sob o comedido silêncio dos comentaristas econômicos, ainda comprados pelas verbas publicitárias. Quer dizer, os que ainda estão empregados, pois boa parte dos jornalistas que escreviam pregando a "flexibilização" das relações de trabalho, leia-se máxima exploração da força de trabalho com o mínimo de direitos, também foi para as ruas, não para entrevistar os indignados, mas como demitidos mesmo. Bem feito.
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Aliás uma das máximas que esses jornalistas sempre pregaram era a de que "não havia almoço grátis" que era um dos dogmas da escola econômica orientada pelo economista americano Milton Friedman, que preconizava a destruição do estado que assistisse seus cidadãos, que regulamentasse as atividades dos grandes grupos econômicos e industriais e que enfim, deixasse nação e cidadãos entregues à selvageria do mercado e das grandes corporações agindo como bem entendessem.
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Para Friedman proteger o cidadão da guerra do mercado era errado, era dar almoço grátis para seus cidadãos. No entanto seus seguidores sempre acharam certo que diretores e presidentes de empresas falidas como a General Motors nos EUA recebessem ajuda do governo americano e mais ainda, que seus dirigentes embolsassem boa parte dessa ajuda como "bonus" devido ao seu trabalho, que consistiu unicamente em levar suas empresas à falência.
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Quanto aos funcionários, esses foram contemplados com demissões em massa. Como pregava a escola de Milton Friedman, não existia "almoço grátis" a não ser para os presidentes dos grandes grupos econômicos que embolsaram bônus de milhões de dólares. E com teorias como esta, os jornalistas das nações sul-americanas não tiveram vergonha em desempenhar o papel de traidores do próprio povo, martelando sem parar a idéia de que o patrimônio energético, telefônico e viário era caro demais para as nações sul-americanas, era melhor vendê-lo para estrangeiros. Além de verem desaparecer a dívida interna, os maravilhados cidadãos ainda seriam premiados com tarifas mais baixas. Além de acontecer exatamente o contrário, receberam como prêmio extra o desemprego.

Um dos mais interessantes exemplos de como tudo veio a terminar, já que uma vez devorada a vítima de além mar, esse monstro econômico continuava com fome, foi o caso de Portugal. Lá por 1500, quando aportou pelas terras sul-americanas, Portugal trazia com seus administradores, vícios políticos dos piores, que a terra recém descoberta, para infelicidade de seus habitantes herdou.
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Era acompanhada nisso pela Espanha. Depois de séculos de exploração e predação econômica, quando faliram sob o peso de seus vícios políticos e administrativos, mesmo tendo tido quase duzentos anos para purgarem seus erros e se apresentarem renovadas ao mundo, as duas nações retornaram para representar novamente um deprimente espetáculo de predação das relações sociais e econômicas dos países que vitimaram outra vez, juntamento com o trabalho de governantes mais assemelhados a traidores do que qualquer outra coisa. E agora, como há trezentos anos atrás estão pobres de novo.

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Portugueses hoje depredam os imensos pedágios, que lá são chamados de portagens, colocados em estradas absurdamente superdimensionadas, que estariam mais bem colocadas em países como a Alemanha, com sua imensa frota automotiva. E hoje o primeiro ministro português fala em "alicerçar as exportações para recuperar as finanças públicas".
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Com certeza, exportando produtos de altíssima tecnologia como azeitonas, azeite de oliva, vinho e cortiça, quem sabe Portugal poderá até desequilibrar o comércio mundial. Se isso não tiver o retorno esperado, poderão os portugueses exportarem o fado, tradicional música portuguesa. Tudo é válido na hora do aperto.
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Quanto à Espanha, resta um caminho semelhante, com a exportação de vinhos e produtos hortifrutículas. Sem dúvida, um gigante da produção industrial, que sabe-se lá porque, hoje anda de chapéu na mão à cata de alguns euros da Alemanha, França, Holanda e alguns outros europeus de coração mole.
E hoje resta aos indignados que sempre se consideraram superiores aos sul-americanos, pularem a catraca do metrô de Madrid (ora essa, que coisa mais sul-americana) ou depredarem o pedágio em Portugal, em nome do movimento dos indignados, que olhando para o passado, em momento algum ficaram indignados quando souberam dos crimes econômicos cometidos pelas grandes corporações de seus países contra as populações sul-americanas, enganadas por seus jornalistas e traídas por seus governantes e entregues aos grandes grupos econômicos dos seus países.
Os assim tão auto-proclamados indignados, que procuram despertar simpatias pelo mundo afora, nada mais são do que vítimas do próprio monstro que ajudaram a criar.
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Não foi bom enquanto esse monstro atacou outros povos? Não foi lucrativo para eles enquanto o desemprego que provocavam em outros países lhes dava dividendos das ações dos seus idolatrados grupos industriais?
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Resta agora irem almoçar, se acharem alguém que lhes empreste dinheiro para isso, mas seguindo a máxima de Milton Friedman de que não existe almoço grátis, é bom irem se conformando com um emagrecimento forçado. Não foi o que sempre acharam bom para outros povos?
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Ora essa, porque ficam indignados agora que chegou a vez deles? Quanta hipocrisia.

sábado, 24 de setembro de 2011

P83 O mundo era perfeito mesmo

Os israelenses pouco se importam...
No tempo em que segue sem uma decisão final o pedido da Autoridade Palestina para o seu reconhecimento como nação pela ONU, vemos que na verdade os israelenses pouco se importam com a possibilidade de levarem o mundo a um confronto de final imprevisível. Tendo conquistado seu reconhecimento como nação independente em 1948 através da ocupação militar da região, alegando direitos de posse das terras e defesa da nação que surgia, depois de passarem os últimos 63 anos provocando conflitos na região, pode-se constatar que Israel prefere ameaçar em última instância com a possibilidade de incendiar o Oriente Médio que é vital para muitos países do mundo pelo petróleo que produz do que ceder ao bom senso e reconhecer a existência da Palestina como nação.
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Negando aos palestinos o que acharam ser em 1948 seu direito natural, embasados numa absurda e medieval concepção de nação favorecida por direito divino pela interpretação literal dos textos do Velho Testamento, que é o livro sagrado dos judeus, persiste o Estado de Israel nesse caminho sem volta, visto que o que uma das coisas mais temidas pelos israelenses aconteceu. Uma nação islâmica, no caso o Irã, conseguiu levantar-se das cinzas da guerra contra o Iraque na década de 80 e construiu sozinha seu sistema de enriquecimento de urânio, com o qual conseguirá sua arma nuclear em breve. Os mísseis para lançamento dela já foram mostrados ao mundo em 2010 em testes bem sucedidos. Para piorar, nações árabes foram varridas por uma onda de transformações onde novos líderes questionam de forma nada animadora a instransigência e no fundo, crueldade de Israel quanto aos palestinos. Tudo baseado na visão de povo favorecido por direito divino, um absurdo que permite aos governantes israelenses cometerem contra qualquer um as piores atrocidades a título de defesa do seu estado, que se torna em última análise, a defesa da vontade divina.
Contando com o Exército americano para fazer na região o que jamais poderia fazer por si só, Israel beneficiou-se por mais 10 anos com o avassalador ataque direto dos Estados Unidos aos Afeganistão e ao Iraque, primeiro em 1991, depois em 2001 e 2003, alegando nos últimos ataques retaliação pelo ataque contra as Torres Gêmeas em 2001. Com as forças americanas preparando sua retirada, financeiramente esgotadas e sem terem cumprido a tarefa de derrota total contra os talibãs e contra os radicais islâmicos iraquianos, os israelenses mesmo vendo um negro cenário à sua frente, persistem ainda em sua postura de confronto. O final será com certeza triste para ambos os lados.

Enquanto não sai a decisão final, que todos poderemos comentar, deixo aqui, numa espécie de nostalgia bem-humorada, a lembrança de como o mundo era mesmo perfeito em tempos passados como na década de 60. Afinal pelo menos podíamos ir ao cinema mais despreocupados com essas questões.
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Texto originalmente postado em
20.09.10 no bilogue Cartas no Dia
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Como o mundo era bom naqueles tempos... O filme se chama "Adivinhe quem vem para jantar". Tendo reencontrado um dos grandes sucessos do cinema da década de 60, que assisti no século passado (bem, metade do planeta pode dizer isso) tratei de levá-lo para casa para rever um dos melhores filmes já feitos, que mistura um ótimo elenco, romance, comédia e reexame de relações raciais, que em 1967, ano em que foi feito, foi um filme justamente premiado pela mensagem de respeito e tolerância que levou para o público americano e para o mundo.

Mas esquecido da cena inicial, que havia visto aos 12 anos num pequeno cinema do interior paulista, é que me dei conta de como o mundo era perfeito. O filme começa com a aproximação de um avião a jato. Enquanto ele se aproxima soltando uma quantidade de fuligem proibida nos dias de hoje, a câmera passa para um plano alto e aí a trilha sonora, lindamente cantada, começa. Aí, de forma inevitável e cativante comecei a relembrar das coisas que vivíamos então, num mundo perfeito. O avião, um Boeing 707, com imensas 4 turbinas, grandes consumidoras de querosene e que na época despejavam toda a poluição possível, fora o rugido também proibido nos dias de hoje, é de uma época em que os combustíveis eram baratos, a poluição de hoje era só um assunto desconhecido, aquecimento global era uma coisa nem sonhada e por um instante todos nós nos sentíamos americanos dentro daquele avião, com todo o luxo possível, não brasileiros comendo pipoca dentro de um cinema.

A trilha sonora no estilo de Ray Conniff, claro era apreciada, se bem que essa trilha é um caso à parte, é linda mesmo de se ouvir abraçado com a mulher amada. Na época, ser elegante e fino e aparentar um certo conhecimento do estilo de vida nas grandes cidades era ter o último disco de Ray Conniff. Quem tinha aparelho de som, coisa rara na época, corria para a discoteca (naquele tempo, discoteca era para vender discos mesmo) A MPB era chata demais por isso só uns 3 ou 4 na cidade ouviam. No caso tínhamos a vitrola monofônica de 78, 45 e 33 rotações por minuto. Bom mesmo era o som estereofônico dos aparelhos High-Fidelity ou os chamados Hi-Fi, que aprendíamos a pronunciar para não dar furo na frente das meninas : rái-fái. De novo, tudo vinha da genialidade dos americanos. E lá íamos nós nos bailinhos de jovens inocentes de tudo, dançando de mãos dadas e corpos separados, sob o olhar vigilante dos pais e mães no que era chamado de "brincadeira dançante". Os carros que víamos no filme, claro, deixavam todos nós nos perguntando que tipo de tesouro a América tinha encontrado afinal? Estávamos acostumados a andar de Volkswagen, o usual da época. Naquele tempo, 4 entre 5 donos de carro tinham um. Ou então o velho Jeep, Rural Willys e coisas assim. Vez por outra, algum parente mais rico de algum conhecido vinha da capital no seu Impala importado, e ficávamos de olho naquela lataria reluzente. Nos filmes da época, quase todos os carros como táxis, viaturas de polícia, carros do vizinho ou do protagonista do filme, eram o lindo e imbatível Ford Galaxie. Por dentro e por fora, nos mostrava o que era ser americano. Luxuoso e bem acabado, uma lataria super reforçada, pára-choques de aço capazes de derrubar um muro e com o consumo em inacreditáveis 3 quilômetros por litro. De gasolina azul, é claro. Mas na época, comprar gasolina era como comprar água mineral hoje.
Terminado o filme, íamos para casa certos de que víviamos no mundo mais perfeito possível. Naquela época, o mundo era dividido somente em bloco capitalista e bloco comunista. Por sorte tínhamos nascido na parte capitalista, ou melhor dizendo, americana. A civilização estava em volta de todos, mesmo que incipiente.

Em casa, antes de dormir, íamos escovar os dentes. E todos nós, com um sabor de vida americana na boca, fazíamos isso usando a pasta dental Kolynos. Ou Colgate. Podia ter coisa mais americana do que essa? Não tínhamos carros de luxo e nem aviões, mas pelo menos a pasta de dentes estava lá. Ou que outra coisa poderia fazer com que nos sentíssemos a um passo de começar a falar inglês no próximo momento, como se de repente nos tornássemos parte da vida que tínhamos visto no filme?

Era um mundo perfeito mesmo.

domingo, 11 de setembro de 2011

P81 Lembranças de um dia triste

Era um dia como qualquer outro...
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11 de setembro de 2001. Milhões de pessoas foram se aglomerando em volta de aparelhos de televisão e viram o inacreditável.
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Naqueles momentos, era difícil acreditar mesmo. Era simplesmente impossível aceitar que tudo tudo aquilo estava acontecendo. Mas era verdade.
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segunda-feira, 25 de julho de 2011

P75 A praça de touros

O touro que espera...
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Com os mais recentes desdobramentos da crise econômica, também a Espanha começa a dar sinais de que dificilmente sairá inteira da praça de touros econômicos onde se enfiou nos últimos anos.
Fazendo uma comparação com as touradas, uma coisa é que a aparente coragem do toureiro é no fundo uma extrema covardia. Dias antes da tourada, o touro é fechado num curral escuro onde fica sem água e sem comida até o dia da tourada. Enquanto isso dão-lhe laxantes e deixam pesos amarrados em suas costas. Quando está bem esgotado e desorientado é assim que é jogado numa arena para enfrentar de súbito um homem que se diz corajoso, saudável, armado e que treinou durante anos esse ataque. Cultores dessa coisa ainda propagandeiam uma suposta coragem, ocultando todo o horror que existe aí. Pior ainda, se o touro começar a apenas ameaçar seu desafiante, o toureiro é socorrido imediatamente por lanceiros a cavalo e vários outros toureiros também armados. Custa crer que ainda tenha admiradores essa atrocidade.
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Ao ser lançada na América Latina a onda de privatizações de empresas estatais largamente incensada em especial por economistas e jornalistas brasileiros sem nenhum compromisso com seu país, a Espanha se aproveitou disso para voltar a este continente novamente, onde sua última presença em séculos passados só trouxe infelicidade pelos genocídios e exploração social que deixou como marca. Mantendo seu costume secular de se aproveitar de outros povos, não poderia deixar de ser diferente quando os espanhóis viram a chance de novamente desembarcarem por aqui, contando com o apoio dos chamados neoliberais do governo FHC, que depois de terem vendido as estatais brasileiras por preço de liquidação, saíram de seus empregos para trabalharem como diretores de bancos de investimentos que passaram a ter participação nas empresas privatizadas. Afinal de graça é que não venderam todo o patrimônio brasileiro. Se alguém pagou alguma coisa, esse foi o povo brasileiro.
Na época em que se liquidavam as estatais de energia elétrica, as condições de venda eram tão favoráveis a especuladores e aproveitadores que um dos dirigentes de um grupo hidrelétrico espanhol declarou abismado para a imprensa que não conseguia entender como o governo brasileiro estava vendendo empresas totalmente pagas e que estavam dando lucro.
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Enquanto isso um casal de jornalistas brasileiros, figura habitual do noticiário da Rede Globo alardeava durante meses, de forma mais enfática, a ineficiência das empresas estatais brasileiras. Durante anos já vinham vendendo a idéia de que entregar tudo aos estrangeiros era a melhor coisa a fazer. Reportagens minuciosas eram feitas mostrando até mesmo torneiras pingando nas estatais. Hoje esse mesmo casal não faz essas reportagens minuciosas investigando a fundo as dezenas de explosões de bueiros de sistemas elétricos no Rio de Janeiro, cuja manutenção seria dever das empresas privadas que compraram a rede elétrica antes estatal. Mas não era para ter melhorado com a administração privada? Isso o Jornal Nacional não fala muito.
No caso dos bancos estaduais, não só no Brasil como também no resto da América Latina, coisa semelhante aconteceu. Durante anos também não só emissoras de televisão como também uma revista semanal da Editora Abril, noticiavam com destaque qualquer problema nesses bancos, coisa que qualquer administração correta acertaria sem problemas, a não ser que ela tivesse a intenção de pôr tudo a perder enquanto jornalistas faziam a propaganda de que vender para estrangeiros seria melhor. Enquanto isso, uma revista de circulação nacional publicava relatos de brasileiros felizes no exterior com os serviços bancários estrangeiros. Quando o banco estatal de São Paulo foi vendido, em questão de meses o dinheiro da venda evaporou-se nas despesas do estado. Pior ainda, hoje o banco Santander, o comprador, acumulou milhares de reclamações nesses anos, trabalhistas e de clientes, sem contar que em 2011 o Ministério Público Federal carioca concluiu que o Grupo Santander havia cobrado 265 milhões de reais em taxas indevidas dos clientes do Brasil. Mas não ia ficar tudo melhor com os estrangeiros? Isso a revista não investiga nem remotamente.
Nas empresas de telefonia, os grandes grupos jornalísticos do Brasil foram aliados incondicionais dos espanhóis. Os grupos da Espanha puderam ir ás compras com tudo muito facilitado por essa parceria. Hoje operando a antiga Telesp, ex estatal de telefonia paulista, entre outras no Brasil, os espanhóis fixaram um domínio por aqui às custas do brasileiros. Claro que reportagens da revista "Veja" se esmeravam em mostrar relatos de brasileiros felizes no exterior com as empresas de telefonia de onde estavam. Mas ficava complicado contar que a Telefonica de España já havia levado multas de milhões de euros no exterior. Depois da privatização, do dia para a noite os telefones começaram a ser vendidos em 48 horas. Milagre?
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Sim, às custas do povo brasileiro que não foi informado de que isso se devia aos altos investimentos feitos pelo governo FHC pouco antes das privatizações. E que a alta de preços pouco antes dessas mesmas privatizações foi imensamente bem vista por possíveis compradores estrangeiros que receberiam as empresas funcionando, com melhoramentos nas instalações e melhor ainda, com os preços cobrados já deixados mais altos pelo governo vendedor. Algum repórter do "Jornal Nacional" ou da revista "Veja" investigou isso? Não. Ia atrapalhar os negócios de telefonia que ambicionavam e de onde foram postos para fora pelos mesmos estrangeiros que ajudaram a entrar aqui.

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Hoje os negócios de telecomunicações das Organizações Globo são praticamente desconhecidos e a MTV da Editora Abril encolheu-se miseravelmente a ponto de ser desconhecida fora da cidade de São Paulo.
E hoje, depois de tudo isso, depois de passarem anos lucrando às custas de um povo explorado e enganado, estão os governantes e empresários espanhóis a baterem na porta das agências de risco internacionais pedindo alguma ajuda, para não terem seu país rebaixado nas notas que graduam os investimentos para melhor ou pior. Já foram rebaixados para pior, pois lidam com gente do mesmo tipo. Enquanto isso, dentro da Espanha sucedem-se as marchas contra o desemprego e a crise no país deles. De novo perderam o que ganharam, depois de terem tido uma triste passagem por aqui, sempre explorando povos enganados ou de alguma forma incapazes de se defenderem.
Assim, o toureiro espanhol subitamente se vê na arena sem capa e sem espada, enquanto que o touro que ele tem pela frente, além de estar em forma e bem disposto, está acostumado a moer o que encontra na arena mas não tem muita pressa. Os amigos que antes o ajudavam de cavalo e lanças em punho agora se voltam contra ele. Sem saída, o toureiro espanhol tem que pedir ajuda para seu povo até se lembrar de que calça de toureiro não tem bolso.
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A platéia de grandes especuladores não está nem um pouco interessada no certo nem no errado, nem no touro e nem no toureiro, mas em sim em quanto vai ganhar. Mas quem se meteu nesse jogo sujo foi ele. Memorável mesmo. Em pouco mais de dez anos depois de retornarem ao continente sul-americano como pretensos reconquistadores, com tudo o que ganharam em negócios obscuros mal conseguem fechar as contas internas e seus amigos de ontem lhes dão as costas hoje. Custa-se a crer que até mesmos seus jornalistas de aluguel os tenham abandonado, mas esses trabalham de acordo com o que ganham.
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Enfim, com touro bem alimentado, a coisa é outra.

domingo, 17 de julho de 2011

P74 O navio português

Currículos e referências primeiro...
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Nos dias de hoje segue sem maiores novidades o rumo do que podemos chamar de navio da economia portuguesa. Se por um lado parece surreal a imagem de um navio encravado em terra firme, esta seria uma navegação segura para os portugueses. O problema é que lá vem tempestade e faltam botes e bóias para os passageiros abandonarem o navio. Enfim, tendo zarpado junto com a comunidade econômica européia há alguns anos, esse foi o rumo tomado.
É um caso de estudo no qual o Brasil deve se mirar pois não está longe disso, apesar da alegria reinante com dinheiro emprestado, na mesma festa que hoje chega ao fim para os portugueses. Com instituições cópia das portuguesas, a capacidade de mudar e de reagir a qualquer imprevisto se anula a cada dia, se não houver uma mudança radical na estrutura política do Brasil. Enquanto isso, para Portugal, se o cenário já era desolador com a admissão pública da incapacidade para saldar suas dívidas e pedido formal de socorro aos outros países europeus, agora com os problemas financeiros do governo americano, no navio português todos veem que além do naufrágio iminente, falta de botes e bóias, ainda por cima aparecem tubarões no mar.
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Com uma história de lamentáveis 8 séculos de persistência no mesmo sistema político viciado, do qual aliás o Brasil é um dos mais dignos herdeiros, haja visto a espantosa corrupção que a todos hoje assombra por aqui, Portugal e os portugueses, seja lá como for, acharam que estava de bom tamanho viverem sob a égide de um sistema político atrasado, retrógrado e acostumado a viver da pilhagem sistemática de povos colonizados, sempre mais fracos é claro. As guerras de conquista coloniais de Portugal contra os povos africanos sempre tiveram essa marca: um moderno poder bélico sempre voltado contra tribos que ainda mergulhadas numa vida pre-histórica caíam fácil sob as balas das armas portuguesas, compradas dos ingleses, franceses, alemães e outros que tivessem as indústrias e fábricas que os portugueses não tinham. Vale lembrar que até pouco tempo atrás, a cortiça plantada em Portugal era industrializada em outros países de onde voltava como rolha para suas garrafas de vinho.
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As guerras coloniais de Portugal sempre tiveram essa triste marca, a qual procuram não comentar. Guerra de conquista contra a Alemanha ou mesmo contra a Espanha, um pouco menor? Nem pensar. Melhor dar tiros de canhão em aborígenes que pensavam que lanças e flechas eram a última palavra em armamento e que foram aprender o que era a pólvora com os tiros que levaram. Enquanto isso, do século 12 ao século 20, seguia a modorrenta vida de exploração de plantações de cortiça, uvas e oliveiras, com o que Portugal reafirmava seu modo de vida voltado à exploração cruenta dos povos colonizados, enquanto que entregava a seu próprio povo migalhas do que conseguia no exterior através das colonias conquistadas com sua esquadra. Na verdade eles já chegavam nas colônias com saldo devedor para ingleses, de quem compravam as armas e para holandeses, de quem arrendavam os navios. O que sempre foi saque, assassinato em larga escala e tráfico de escravos sempre foi mais palatável contar nas aulas de história de ginásios como gloriosa saga de exploração colonial.
Apesar de uma alentada produção vinícola, tanto hoje como naqueles tempos, barris e mais barris de vinho estavam muito longe de pagar tudo o que deviam aos povos mais cultos, progressistas e industrializados daquela época. Pior ainda, os exploradores portugueses, além de chegarem devendo para holandeses e ingleses ainda hoje seus credores, já deviam dinheiro também para a corte portuguesa que sustentava sua opulência com os impostos cobrados do que viessem a conseguir de ouro e pedras preciosas, sobre o que também tinham que pagar a sua parte para o braço português da igreja católica. Uma situação triste mesmo.
Parece incrível que os portugueses tenham chegado novamente por terras brasileiras com a onda de privatizações que se seguiu com o governo FHC a partir de 1995, onde nenhum pouco de indústria ou trabalho foi preciso para que saíssem lucrando e muito. Basicamente nessas privatizações, um alto funcionário do governo brasileiro dizia que estava em condições de vender por um preço de liquidação tudo o que o povo brasileiro tinha passado 20 anos construindo e pagando. E é claro, esse funcionário, à semelhança do corrupto Major Sandro do filme "Tropa de Elite 1" dizia que quem quer rir, tem que fazer rir, se é que o entendiam. Claro que o entenderam.
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E assim, somente com a tradição de colher cortiça, engarrafar vinho e enlatar azeite, Portugal, do dia para a noite se tornava proprietário de redes de telecomunicações das quais não havia levantado um poste e nem sequer estendido um fio que fosse. Exultantes e arrogantes, chegavam os portugueses, sentindo-se superiores em tudo, pisando a terra do Brasil como a velha colônia que na verdade sempre deveria ter sido. E recomeçava a transferência de dinheiro da antiga colônia para a velha metrópole, sempre velha em seus hábitos e costumes nada elogiáveis.
Ao mesmo tempo em que fazia isso, qualquer um que fosse estudar a história de Portugal veria que se existem símbolos e marcas de cortiças, vinhos e azeites em profusão, nenhuma marca, nada mesmo existe que indique alta tecnologia, adquirida por conhecimento próprio e avançado em ciências exatas, laboratórios de eletrônica, física e engenharia que andem passo a passo com os mais modernos laboratórios do mesmo tipo alemães, ingleses e holandeses, para não dizer americanos, que com 6 séculos a menos de história até mesmo colocaram o primeiro homem na Lua.
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Existem apenas entidades centenárias que cultivam em grande parte todos os vícios que conhecemos por aqui, deixados como herança pelos antigos colonizadores portugueses. Vícios políticos que por sinal são a única forma de vida da estrutura política que aceitam como instituição nacional. Vícios de educação, onde é privilegiada a formação intensiva de bacharéis que em nada contribuem com o país, a não ser com a malandragem e esperteza institucionais, ou seja, com a redação de leis destinadas a apenas enganar seu próprio povo.
Não podia dar outra coisa. Enquanto durou a festa do dinheiro emprestado da comunidade econômica européia, Portugal foi às compras. Agora que o dinheiro europeu acabou, exatamente como nos tempos em que perdeu o rendimento que vinha de suas colônias, Portugal se prepara para afundar. Até mesmo foi ensaiado um primeiro e discreto pedido para a recém eleita presidente Dilma, que desconversou já que estava mais para fazer negócios com os chineses que tinham muito mais a oferecer. Pedir dinheiro para uma ex-colônia é o ponto mais baixo para uma ex-metrópole. Sem contar que Dilma deixou claro que estava com os cofres empenhados em coisas inúteis tal como o trem-bala, o mesmo que Portugal mandou construir e que hoje está abandonado por lá, enquanto que em imensas rodovias que estariam mais bem situadas na Alemanha, trafegam alguns poucos carros e enquanto os motoristas pagam caros pedágios, o governo português pensa em como vai pagar tudo o que foi construído sem saberem ao certo porque.
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Alheio a tudo isso, o ex primeiro ministro José Sócrates, dirigente que levou Portugal a esse buraco, há poucos dias mudou-se para a França e disse que sua nova residência em Paris é para estudos de filosofia. Formado em engenharia civil, a mudança dele vem bem a calhar já que saiu a notícia de que o novo governo português admitiu publicamente o desvio de mais de 2 bilhões de euros de contas públicas, equivalente a 4 bilhões de reais, o que deixa os países que ajudaram Portugal com 73 bilhões de euros propensos a não dar mais ajuda nenhuma.
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Sem outra alternativa, os portugueses que antes olhavam os imigrantes brasileiros com uma ponta de desprezo, hoje se veem na contingência de chegarem não só no Brasil como também em outros países como imigrantes, levando currículo e referências para candidatarem-se a empregos.
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Com o navio português prestes a afundar, todos gritarão como palavras de ordem currículos e referências primeiro, mulheres e crianças depois. Em caso de cairem na água mesmo, resta ainda fazer como o herói literário Camões, que segundo a lenda, ao escapar de um naufrágio nadou com um só braço e segurou seus manuscritos com outro até chegar em terra firme. Haja braço para isso no mar agitado dos dias de hoje.

domingo, 29 de maio de 2011

P70 Uma pequena usina

Tão pequena quanto uma bomba atômica...
Com a recente notícia de que mais um reator da usina nuclear de Fukushima teve sua refrigeração afetada, enquanto que os vazamentos de água radioativa continuam acontecendo para o mar, o Japão e por sequência todas as nações que construíram reatores nucleares, veem enfim, de frente, a inescapável situação de lidarem com uma das forças mais destrutivas do planeta. Na década de 70, com a bilionária febre de construções de usinas nucleares pagas por orçamentos governamentais, que no fundo sustentavam corporações sem clientes particulares para o que haviam criado, essas instalações ficaram de tal forma espalhadas por tantos países com o argumento de que eram absolutamente seguras, que hoje seu fechamento e troca por outra alternativa energética ficou inviável e ao mesmo tempo o desgaste contínuo de suas estruturas mantém seus construtores em contínuo estado de alerta, necessitando de mais verbas governamentais.
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Engenheiros e cientistas dos mais responsáveis alertavam na época para o perigo do que chamavam de loucura nuclear ou seja, a construção em número crescente de usinas nucleares, com a aprovação governamental baseada em relatórios que eles consideravam no mínimo fantasiosos sobre a tão alardeada segurança. Esses cientistas foram marginalizados pelas corporações, por governos e pela mídia da época. Para piorar, muitas usinas foram construídas próximas do mar, pois isso barateava e muito os custos de uma estação de bombeamento e represamento da água do mar para a refrigeração dos reatores. Para que construir tais estações que deixariam a usina a uma distância segura do mar, se era mais lucrativo construí-las a distâncias de, no máximo 200 metros do mar? Contra todas as objeções, eram apresentados estudos nunca comprovados de segurança absoluta. Uma mídia que no fundo queria ser enganada pensando nas verbas publicitárias propagou essas notícias em todos os países.
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Acidentes já aconteceram. Na década de 50, dois grandes acidentes na antiga União Soviética e na Inglaterra serviram de lição, esquecida em meio às pressões das grandes corporações. As mesmas que hoje, como a Tepco do Japão, que construiu a usina de Fukushima de frente para o mar, já à beria da falência, pede socorro ao governo japonês que estima em mais de 200 bilhões de dólares os custos para enfrentar a catástrofe do vazamento nuclear. Aos poucos o governo e a mídia vão deixando a população saber que aquela área do país está praticamente perdida, talvez por quase um século. Este é o balanço do potencial de desastre das usinas nucleares, neste caso de uma só usina nuclear, que como seus construtores asseguravam, era totalmente segura. Tão segura que podia ser construída na beira do mar.
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Texto originalmente publicado no bilogue Cartas no Dia em 06.05.11.

Já aconteceu de verdade antes e depois...
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Filme recomendado

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A Síndrome da China (The China Syndrome, EUA, 1979)
Na longa e inesquecível cronologia dos filmes que retratam certos acontecimentos reais dos nossos tempos, alguns se destacam não só pela marcante interpretação dos atores com o trabalho de roteiristas muito bons. Juntando tudo isso com uma direção competente, temos o que chamamos de clássicos do cinema.
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Apesar de uma produção até simples para os padrões do cinema americano, é assim que podemos descrever "Síndrome da China", um filme que retratou de forma vívida um drama real que já aconteceu bem antes que ele fosse produzido e inacreditavelmente aconteceu na época apenas 12 dias depois do lançamento do filme e no Japão acontece nos dias de hoje enquanto estas linhas são lidas. No tempo em que o leitor vê este texto, na agora antiga usina nuclear de Fukushima no Japão e mais novo jazigo nuclear do mundo, tudo o que o personagem principal deste filme mais temia acontece a cada minuto, com a massa de combustível nuclear aos poucos vazando para o mar.
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Jack Lemmon, um dos artistas mais expressivos de Hollywood interpreta o engenheiro-chefe de operações de uma uma usina nuclear americana, que em determinado dia percebe apavorado que por um erro do painel de instrumentos quase haviam provocado a fusão do reator e pior ainda, percebera com isso um defeito na construção do sistema de resfriamento. Sem ele saber estavam vendo tudo os repórteres de uma emissora de televisão, com a jornalista interpretada por Jane Fonda junto com Michael Douglas como o cinegrafista, que estavam ali para uma reportagem sobre o dia a dia de uma usina e haviam chegado no exato momento do incidente.
Depois de alertar seus superiores e a empresa proprietária da usina sobre os problemas que havia percebido, Jack percebe por parte da empresa a atitude de minimizar o ocorrido e manter as ações da empresa sem problemas no mercado financeiro. Más notícias além disso teriam o efeito de provocar o adiamento da nova usina construída pela empresa e em fase de aprovação pelo governo americano. Pior ainda, ao analisar os dados de segurança entregues na aprovação da usina, ele percebe que os dados haviam sido falsificados.
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Correndo contra o tempo, Jack conta apenas com contatos com a repórter para tentar denunciar o que poderia acontecer e ao voltar para a usina encontra uma operação de teste em força máxima em andamento, o que poderia provocar exatamente o que ele temia, a fusão do núcleo radioativo. Sem alternativas ele invade a sala de controle armado, expulsa todos de lá e tomando o controle da usina, passa a exigir a presença da imprensa para denunciar tudo o que estava acontecendo.
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Fora da sala de controle, a única preocupação dos diretores da empresa é fazer o desligamento externo dos circuitos para neutralizar as ações do engenheiro. Com a entrada da repórter na sala para entrevistar Jack ao vivo, o maior temor dos diretores da empresa já acontecera. Era inevitável a paralisação da nova usina, o fechamento da que estava com problemas e acima de tudo a perda financeira. Em nenhum momento os diretores da empresa levavam em conta que estavam com um núcleo de combústivel nuclear com problemas, arriscando uma catástrofe de proporções colossais. Interessava-lhes apenas preservar os lucros da empresa e é claro, seus lucros pessoais. Uma catástrofe nuclear e milhares de vítimas estavam fora das considerações.
Parece loucura que diretores de uma empresa possam agir assim, com toda sua educação formal, mas foi exatamente o que aconteceu antes do filme. Em 1957 em Windscale na Inglaterra, uma usina para fins militares, somente a insistência de um engenheiro em reforçar os sistemas de isolamento evitou que uma parte do país ficasse inabitável. Um incêndio no núcleo de urânio provocou a desativação da usina. Tudo o que restou da usina permanece em constante monitoramento. Em Kyshtym na antiga União Soviética, também em 1957 a fusão do núcleo provocou centenas de mortes e a usina permanece como um jazigo nuclear.
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Apenas 12 dias depois do lançamento do filme, a usina nuclear de Three Mile Island sofreu um acidente com exposição do núcleo radioativo em quase tudo semelhante aos acontecimentos do filme. Em 1986 o mundo ficou estarrecido com o acidente de Chernobyl, que hoje é um gigantesco jazigo nuclear. Em 2011, depois de um tsunami que provocou milhares de mortos e a destruição das salas de controle da usina de Fukushima no Japão, o núcleo de combústivel nuclear entrou em fissão sem controle, provocando a explosão de um dos reatores que até agora permanecem com sua reação sem controle, com um providencial esquecimento da mídia. A atitude do grupo de dirigentes da empresa foi de minimizar custos e até mesmo racionar a comida dos técnicos que trabalham na contenção do desastre, enquanto faziam apressadas reuniões para tentar acalmar os ânimos no mercado de ações.
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Na época da construção da usina por uma empresa americana, um engenheiro demitiu-se do projeto denunciando o que ele considerava absurdas falhas de segurança no projeto, em especial a usina ser tão próxima do mar numa região sujeita a terremotos como o que aconteceu.

A atitude dos grandes empreiteiros e burocratas governamentais poderia ser apenas ficção mas não é. No mais recente caso de contaminação nuclear, uma catástrofe natural desencadeou outra que já estava engatilhada por tais atitudes, de prezar acima de tudo lucros corporativos e pessoais.
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Nos tensos momentos em que a repórter entrevista o engenheiro dentro da sala de controle, nas coisas que ele consegue dizer até o desfecho final, fica uma clara imagem de como deveriam ser operados esses sistemas, que ao invés disso são submetidos a um lógica de mercado absolutamente insana.

domingo, 15 de maio de 2011

P69 A foto que você não pode ver

Fotos formam opiniões quando são mostradas...ou até mesmo escondidas...
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Não é intenção minha mostrar fotos de guerra como as que seguem abaixo por descaso com os leitores. As fotos são chocantes, mas retratam o que é uma guerra e o trabalho notável de fotógrafos estrangeiros durante a guerra do Vietnã, uma das piores em que os americanos entraram e que foi talvez a última onde os jornalistas puderam trabalhar sem entraves, mostrando ao seu país e ao mundo o que lá acontecia. Foi um dos últimos acontecimentos onde os militares americanos mantiveram a tradição de mostrar o que acontecia, coisa que faziam desde os tempos da guerra civil americana em 1860.
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Na guerra do Iraque, a censura dos militares americanos é visível. Muitas das fotos mostradas nos dias de hoje vem de jornalistas que escapam dessa censura ou mesmo de cidadãos que registram as cenas e as colocam na Internet, de onde vencem qualquer impedimento. Ameaças de morte dos soldados a jornalistas no Iraque já se tornaram coisa comum. Trabalham quando não intimidados, arriscados a não poderem mostrar o que registraram. Que tipo de soldado procura ocultar o registro das coisas que são feitas? Somente os que sabem que estão cometendo atos, que longe dos combates, podem ser vistos como crimes de guerra.
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A morte de Osama Bin Laden recentemente anunciada com grande propaganda pelo mundo afora, traz junto do que alguns jornalistas proclamaram como uma espetacular vitória, uma atitude estranha mas reveladora do que aconteceu. Alegando que a foto de Bin Laden morto só acirraria o ódio dos radicais islâmicos contra os americanos, a Casa Branca mesmo tendo assistido a tudo em áudio e vídeo transmitidos ao vivo e a cores pelos soldados americanos, achou que o melhor a fazer seria ocultar tudo o que foi gravado. Todo o meticuloso registro de imagens e palavras ficou, por enquanto, para sempre oculto, sendo liberadas apenas algumas fotos de parentes de Bin Laden também mortos.
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Nas grandes cidades da Europa e da América, depois de um momento de júbilo onde os cidadãos deram vazão à sua alegria, todos viram-se subitamente envolvidos por um sentimento de medo. Em Nova Iorque muitos americanos passaram a recusar táxis dirigidos por imigrantes paquistaneses ou indianos. Na Inglaterra coisa parecida também acontece dentro do metrô, onde parar perto de um imigrante indiano provoca desconforto. Na Espanha, a mesma coisa dentro de trens. Algo mais além do secular racismo europeu e americano hoje permeia a vida nessas cidades. Um certo receio desceu como uma névoa, com o sentimento silencioso de que afinal pode haver uma vingança mesmo. 80 cadetes paquistaneses já pagaram a conta pela morte do terrorista, mortos por um suicida que entrou no ônibus que os levava e detonou os explosivos que carregava. Na Europa, na América, quem será o "premiado" por isso tudo? Será que pode acontecer mesmo? Não teria sido melhor terem capturado Bin Laden vivo para um julgamento? Porque estão escondendo tudo? É o novo receio que toma conta de todos, com uma névoa de incerteza baixando sobre as grandes capitais do mundo.
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Abaixo seguem fotos famosas das das guerras onde os americanos entraram e a censura ficou de fora.
1965. A revista Life mostra a foto de um prisioneiro do exército americano sendo levado para interrogatório. Geralmente eram entregues aos militares sul-vietnamitas, que além da tortura costumavam executá-los sumariamente. Os leitores do mundo puderam saber de tudo isso.
1967. Um coronel do exército sul-vietnamita executa a queima-roupa um suspeito de ser terrorista, durante combates de rua em Saigon. A foto provocou tal comoção na América que iniciou os protestos da população contra a guerra. O mundo todo viu essa foto.
1968. Homens, mulheres e crianças sul-vietnamitas da aldeia de My Lai executados por soldados americanos, num massacre que marcou o exército americano para sempre. A população dividiu-se completamente, com a maioria exigindo o fim da guerra. Jovens americanos chamados para o serviço militar passaram a fugir para o Canadá.
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Abaixo, fotos da guerra do Iraque, cuja invasão final aconteceu em 2003 e onde a censura entrou junto com as tropas.
Guerra do Iraque, sem data. Soldado americano socorre colega gravemente ferido após combates com os insurgentes iraquianos. Apesar da máquina militar americana ser de uma potência esmagadora, estão longe de terem tornado o Iraque seguro. O grande receio dos censores militares é o aumento do questionamento da guerra.
Prisão de Abu Ghraib no Iraque, sem data. Militar americano tortura prisioneiro iraquiano, atiçando um cão de guarda contra ele. As demais fotos, levadas para fora de forma clandestina deixaram não só o governo como o exército americano em situação insustentável. O mundo todo viu.
Guerra do Iraque, sem data. Embarque dos corpos de soldados americanos mortos no Iraque. Com uma média de 3 mortes por dia, com os atentados e combates tipo guerrilha efetuados pelos insurgente iraquianos, o exército americano não tem como proclamar uma vitória definitiva. Censores militares procuram evitar fotos assim, mas não tem como impedir que os próprios soldados façam as fotos.
Guerra do Iraque, sem data. Criança iraquiana morta após ação das forças americanas é carregada por um morador local. Os censores militares sabem do impacto e questionamentos que fotos assim levantam. Mas o mundo acaba vendo.
Osama Bin Laden, sem data. Em local ignorado, vivo e por vezes aparecendo em vídeos exortando seus seguidores a continuarem com atentados pelo mundo, onde pudessem atingir os americanos e seus aliados. Fotos e vídeos assim o governo americano sempre fez questão de mostrar e difundir da forma mais completa possível. Justificava qualquer guerra.
O quadro negro acima seria a foto de Osama Bin Laden morto em 02 de maio de 2011, em sua casa em Abottabad, no Paquistão. Não faltam informações de data, hora e local, tudo fornecido pelos comunicados do governo americano após terem anunciado ao mundo o feito. Segundo o porta-voz da Casa Branca, as tropas especiais transmitiram ao vivo para o presidente americano e seus assessores toda a ação, do momento da chegada, invasão e morte de Bin Laden, até o momento em que decolaram com o corpo dele. Dos 40 minutos filmados da ação, um só segundo que fosse mostraria a imagem de Osama Bin Laden morto.
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Mas segundo a Casa Branca, a foto teria o efeito de acirrar o ódio dos radicais e seria uma visão chocante para as pessoas do mundo todo. Depois de tudo que o mundo já viu e continua vendo das guerras passadas e da guerra atual, nenhuma outra justificativa poderia ser tão desastrada e tão forçada.
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Porque tendo sido filmada toda a operação, ao verem a foto de Bin Laden morto, jornalistas e o público passariam a exigir a curta sequência dos momentos em que Bin Laden estava para entrar na linha de tiro e de quando foi atingido.
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Alguns jornalistas também iriam querer algumas cenas dos momentos em que os helicópteros militares chegaram e aterrissaram no quintal da casa dele. Apenas para verem como tudo isso, todo esse barulho não despertou a atenção das sentinelas da academia militar próxima da casa de Bin Laden. Helicópteros, tropas de assalto, tudo isso durante 40 minutos e toda uma academia militar dormia como se nada acontecesse. É mesmo intrigante.
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Com a narrativa já pública de que uma das mulheres de Bin Laden teria entrado em sua frente tentando protegê-lo, fica mais do que claro que ele poderia ter sido capturado vivo e levado para julgamento. As revelações que ele poderia fazer sobre seus contatos no Ocidente, bancos que movimentaram seu dinheiro para uso de seus agentes, compras de material bélico com mercadores de armas, movimentações de serviços secretos, tudo isso poderia trazer verdades atordoantes.
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E com todas as possibilidades de tantas revelações, o mesmo soldado supertreinado que o colocou na linha de tiro do seu fuzil, não hesitou em matá-lo.
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Osama Bin Laden, a testemunha mais arrasadora de tudo o que aconteceu desde 11 de setembro de 2001 morreu assim. As tropas especiais que são treinadas para tomarem de assalto o esconderijo de um terrorista e levá-lo preso para interrogatório e julgamento desta vez fizeram outra coisa. Junto com o corpo de Bin Laden, jogaram no fundo do mar todas as verdades que ele conhecia.

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É só examinar a ação como um conjunto de decisões do alto comando militar e político americano e as conclusões e opiniões marcam o que foi decidido com uma cor de suspeita, numa ação que se nota claramente que foi mais uma queima de arquivo do que uma tentativa de prisão.