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sábado, 8 de outubro de 2011

P84 Um homem e seu sonho

Um sonho de todo ser humano...
Ainda sob o impacto da morte de Steve Jobs há três dias atrás, seus admiradores no mundo inteiro relembram com tristeza pela sua perda, a imagem de um dos criadores do computador pessoal que representou um marco inesquecível na história do mundo. Com sua aparência sempre informal nos modos e na vestimenta, sempre lembrando a mistura de autodidata, empresário, sonhador e cientista, Steve Jobs deixa uma marca toda própria num dos processos civilizatórios mais importantes pelos quais o mundo já passou.
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Mais do que isso, junto com o progresso que trouxe para o ser humano com a concretização de suas idéias, muitas vezes incompreendidas tamanho o alcance de sua visão, ele deixa também uma lição de vida que serve de exemplo a todos que trilhem um caminho semelhante e que ao mesmo tempo que tenham sonhos, se vejam premidos por todo tipo de dificuldades. Filho adotivo de uma família de poucos recursos, sempre interessado em ciências, Jobs deu mostras de sua tenacidade ao entrar numa universidade. Quase sem recursos para pagar as mensalidades, até mesmo catava latinhas de refrigerantes para reciclagem, com o que amealhava recursos para pagar suas contas. Mas mesmo com todo esse esforço foi obrigado a abandonar seu curso. Não abandonou porém seus sonhos.
Ao lado de seu companheiro de idéias, o engenheiro eletricista Steve Wozniac, deu os passos decisivos na criação do Apple I, o primeiro computador pessoal a alcançar sucesso entre as pessoas comuns e realmente abrir as portas de um novo processo de civilização que hoje alcança todas as pessoas do mundo. Numa época em que os circuitos eletrônicos digitais começavam a se tornar pequenos mas potentes o suficiente para serem montados por dois técnicos numa garagem, os dois amigos precisaram vender o único veículo que dispunham para transporte para financiar a compra de materiais para tornarem real o que hoje chamamos de computação pessoal. Na época Jobs já era um defensor entusiasmado do que ele dizia ser a possibilidade de levar o poder dos grandes centros de computação, até então fechados ao comum dos mortais, para entregá-lo à criatividade, lazer e cultura de milhões de pessoas pelo mundo afora. E conseguiu tal proeza.
Na história da civilização humana desde tempos remotos, os progressos sempre foram difíceis e boa parte das conquistas arrancadas da natureza pelo ser humano sempre veio do seu caminho passo a passo na direção do conhecimento, com o que a natureza, de inimiga impassível passava a aliada sempre que seus segredos eram compreendidos e transmitidos para as novas gerações.
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Ao longo de milhares de anos, o conhecimento acumulado deixou de ser estático em imensas bibliotecas para ser dinâmico em gigantescas máquinas de processamento desse mesmo conhecimento. Até mesmo pelas imposições da tecnologia disponível isso só podia ser feito em imensos centros de processamento. Na época em que iniciou seus estudos, Jobs foi um visionário que via na tecnologia já acessível do seu tempo a possibilidade de miniaturizar aquelas máquinas tornando possível que todas as pessoas dispusessem de toda a força do processamento das informações acumuladas pela humanidade em todos esses milhares de anos.
Com a criação em definitivo da indústria da computação pessoal, tornando a informática um meio de desenvolvimento pessoal, educação e aprimoramento de milhões de pessoas pelo mundo todo, Jobs desencadeou uma revolução na qual nem ele mesmo com toda sua genialidade esteve imune aos efeitos de mudanças abruptas. Foi essa mesma genialidade que se em determinado momento o tirou da liderança de sua empresa, o trouxe de volta tempos depois exatamente para impulsionar a criação de mais e mais aparelhos que elevaram a computação pessoal a um nível do qual talvez nem mesmo ele pudesse sonhar quando começou sua jornada.
Já doente desde 2004 com um câncer de diagnóstico negatvio, ainda assim Jobs demonstrou mais uma vez sua capacidade de superar os problemas que se abatiam sobre ele e lançou-se à luta contra a doença. Mesmo sabendo de que talvez não tivesse muito tempo de vida, assim que se recuperou após o primeiro tratamento, voltou à ativa na sua empresa e deixou o mundo assombrado com suas aparições em apresentações onde demonstrava novos aparelhos criados pela sua empresa, baseados sempre em suas idéias e observações de que os produtos deveriam ser simples, elegantes e funcionais, acima de tudo porque eram destinados à computação pessoal.
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Steve Jobs morreu mas deixou esse legado de um avanço sem precedentes na história da civilização pelos meios que criou desde um simples começo com expectativas nada animadoras até chegar a uma das maiores empresas do mundo, sempre orientada pelo seu gênio criativo. Hoje não milhões, mas bilhões de pessoas tem ao seu alcance tudo o que o processamento de informações pode oferecer em termos de lazer, conhecimento e desenvolvimento pessoal.
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Tudo isso que o mundo hoje desfruta se originou de um sonho que esse gênio jamais abandonou, mesmo quando as dificuldades o cercavam por todos os lados.
Numa imagem simples, como era seu estilo, seus seguidores o homenagearam após sua morte, profundamente entristecidos pela perda do criador de inventos que alteraram suas vidas para melhor.
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Sempre nos livros de história, a vida e a obra de um homem chamado Steve Jobs serão lembrados da forma simples que ele deixou como sua marca pessoal, mas a magnitude de sua criação será de uma riqueza sem fim ao longo dos tempos que virão.

domingo, 29 de maio de 2011

P70 Uma pequena usina

Tão pequena quanto uma bomba atômica...
Com a recente notícia de que mais um reator da usina nuclear de Fukushima teve sua refrigeração afetada, enquanto que os vazamentos de água radioativa continuam acontecendo para o mar, o Japão e por sequência todas as nações que construíram reatores nucleares, veem enfim, de frente, a inescapável situação de lidarem com uma das forças mais destrutivas do planeta. Na década de 70, com a bilionária febre de construções de usinas nucleares pagas por orçamentos governamentais, que no fundo sustentavam corporações sem clientes particulares para o que haviam criado, essas instalações ficaram de tal forma espalhadas por tantos países com o argumento de que eram absolutamente seguras, que hoje seu fechamento e troca por outra alternativa energética ficou inviável e ao mesmo tempo o desgaste contínuo de suas estruturas mantém seus construtores em contínuo estado de alerta, necessitando de mais verbas governamentais.
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Engenheiros e cientistas dos mais responsáveis alertavam na época para o perigo do que chamavam de loucura nuclear ou seja, a construção em número crescente de usinas nucleares, com a aprovação governamental baseada em relatórios que eles consideravam no mínimo fantasiosos sobre a tão alardeada segurança. Esses cientistas foram marginalizados pelas corporações, por governos e pela mídia da época. Para piorar, muitas usinas foram construídas próximas do mar, pois isso barateava e muito os custos de uma estação de bombeamento e represamento da água do mar para a refrigeração dos reatores. Para que construir tais estações que deixariam a usina a uma distância segura do mar, se era mais lucrativo construí-las a distâncias de, no máximo 200 metros do mar? Contra todas as objeções, eram apresentados estudos nunca comprovados de segurança absoluta. Uma mídia que no fundo queria ser enganada pensando nas verbas publicitárias propagou essas notícias em todos os países.
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Acidentes já aconteceram. Na década de 50, dois grandes acidentes na antiga União Soviética e na Inglaterra serviram de lição, esquecida em meio às pressões das grandes corporações. As mesmas que hoje, como a Tepco do Japão, que construiu a usina de Fukushima de frente para o mar, já à beria da falência, pede socorro ao governo japonês que estima em mais de 200 bilhões de dólares os custos para enfrentar a catástrofe do vazamento nuclear. Aos poucos o governo e a mídia vão deixando a população saber que aquela área do país está praticamente perdida, talvez por quase um século. Este é o balanço do potencial de desastre das usinas nucleares, neste caso de uma só usina nuclear, que como seus construtores asseguravam, era totalmente segura. Tão segura que podia ser construída na beira do mar.
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Texto originalmente publicado no bilogue Cartas no Dia em 06.05.11.

Já aconteceu de verdade antes e depois...
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Filme recomendado

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A Síndrome da China (The China Syndrome, EUA, 1979)
Na longa e inesquecível cronologia dos filmes que retratam certos acontecimentos reais dos nossos tempos, alguns se destacam não só pela marcante interpretação dos atores com o trabalho de roteiristas muito bons. Juntando tudo isso com uma direção competente, temos o que chamamos de clássicos do cinema.
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Apesar de uma produção até simples para os padrões do cinema americano, é assim que podemos descrever "Síndrome da China", um filme que retratou de forma vívida um drama real que já aconteceu bem antes que ele fosse produzido e inacreditavelmente aconteceu na época apenas 12 dias depois do lançamento do filme e no Japão acontece nos dias de hoje enquanto estas linhas são lidas. No tempo em que o leitor vê este texto, na agora antiga usina nuclear de Fukushima no Japão e mais novo jazigo nuclear do mundo, tudo o que o personagem principal deste filme mais temia acontece a cada minuto, com a massa de combustível nuclear aos poucos vazando para o mar.
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Jack Lemmon, um dos artistas mais expressivos de Hollywood interpreta o engenheiro-chefe de operações de uma uma usina nuclear americana, que em determinado dia percebe apavorado que por um erro do painel de instrumentos quase haviam provocado a fusão do reator e pior ainda, percebera com isso um defeito na construção do sistema de resfriamento. Sem ele saber estavam vendo tudo os repórteres de uma emissora de televisão, com a jornalista interpretada por Jane Fonda junto com Michael Douglas como o cinegrafista, que estavam ali para uma reportagem sobre o dia a dia de uma usina e haviam chegado no exato momento do incidente.
Depois de alertar seus superiores e a empresa proprietária da usina sobre os problemas que havia percebido, Jack percebe por parte da empresa a atitude de minimizar o ocorrido e manter as ações da empresa sem problemas no mercado financeiro. Más notícias além disso teriam o efeito de provocar o adiamento da nova usina construída pela empresa e em fase de aprovação pelo governo americano. Pior ainda, ao analisar os dados de segurança entregues na aprovação da usina, ele percebe que os dados haviam sido falsificados.
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Correndo contra o tempo, Jack conta apenas com contatos com a repórter para tentar denunciar o que poderia acontecer e ao voltar para a usina encontra uma operação de teste em força máxima em andamento, o que poderia provocar exatamente o que ele temia, a fusão do núcleo radioativo. Sem alternativas ele invade a sala de controle armado, expulsa todos de lá e tomando o controle da usina, passa a exigir a presença da imprensa para denunciar tudo o que estava acontecendo.
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Fora da sala de controle, a única preocupação dos diretores da empresa é fazer o desligamento externo dos circuitos para neutralizar as ações do engenheiro. Com a entrada da repórter na sala para entrevistar Jack ao vivo, o maior temor dos diretores da empresa já acontecera. Era inevitável a paralisação da nova usina, o fechamento da que estava com problemas e acima de tudo a perda financeira. Em nenhum momento os diretores da empresa levavam em conta que estavam com um núcleo de combústivel nuclear com problemas, arriscando uma catástrofe de proporções colossais. Interessava-lhes apenas preservar os lucros da empresa e é claro, seus lucros pessoais. Uma catástrofe nuclear e milhares de vítimas estavam fora das considerações.
Parece loucura que diretores de uma empresa possam agir assim, com toda sua educação formal, mas foi exatamente o que aconteceu antes do filme. Em 1957 em Windscale na Inglaterra, uma usina para fins militares, somente a insistência de um engenheiro em reforçar os sistemas de isolamento evitou que uma parte do país ficasse inabitável. Um incêndio no núcleo de urânio provocou a desativação da usina. Tudo o que restou da usina permanece em constante monitoramento. Em Kyshtym na antiga União Soviética, também em 1957 a fusão do núcleo provocou centenas de mortes e a usina permanece como um jazigo nuclear.
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Apenas 12 dias depois do lançamento do filme, a usina nuclear de Three Mile Island sofreu um acidente com exposição do núcleo radioativo em quase tudo semelhante aos acontecimentos do filme. Em 1986 o mundo ficou estarrecido com o acidente de Chernobyl, que hoje é um gigantesco jazigo nuclear. Em 2011, depois de um tsunami que provocou milhares de mortos e a destruição das salas de controle da usina de Fukushima no Japão, o núcleo de combústivel nuclear entrou em fissão sem controle, provocando a explosão de um dos reatores que até agora permanecem com sua reação sem controle, com um providencial esquecimento da mídia. A atitude do grupo de dirigentes da empresa foi de minimizar custos e até mesmo racionar a comida dos técnicos que trabalham na contenção do desastre, enquanto faziam apressadas reuniões para tentar acalmar os ânimos no mercado de ações.
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Na época da construção da usina por uma empresa americana, um engenheiro demitiu-se do projeto denunciando o que ele considerava absurdas falhas de segurança no projeto, em especial a usina ser tão próxima do mar numa região sujeita a terremotos como o que aconteceu.

A atitude dos grandes empreiteiros e burocratas governamentais poderia ser apenas ficção mas não é. No mais recente caso de contaminação nuclear, uma catástrofe natural desencadeou outra que já estava engatilhada por tais atitudes, de prezar acima de tudo lucros corporativos e pessoais.
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Nos tensos momentos em que a repórter entrevista o engenheiro dentro da sala de controle, nas coisas que ele consegue dizer até o desfecho final, fica uma clara imagem de como deveriam ser operados esses sistemas, que ao invés disso são submetidos a um lógica de mercado absolutamente insana.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

P03 Os ferramenteiros

Simples ferramentas...
Na época em que as comunicações começaram e se tornar cada vez mais difundidas, com o advento de tecnologias como os satélites na década 60, um sociólogo americano se destacou com suas teorias sobre o poder da comunicação. Marshall Macluhan com suas idéias novas sobre o fenômeno da comunicação instantânea, criou uma frase que merece ser pensada: “Os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens.”.
Passados 28 anos de sua morte, até mesmo uma visão da Internet que ele teve naquela época nos parece admirável. Descreveu a potência que seria uma rede de computadores usados para a comunicação entre si. Ainda não existia a Internet como a conhecemos. Até mesmo contestado por outros pensadores da época, Macluhan deixou viva em todos a discussão de que um mundo novo viria pela frente.
Mesmo a rede de satélites para todos os fins que começava a ser montada então era resultado das idéias de outro notável cientista, Arthur C. Clarke, que a apresentou pela primeira vez em 1945, após ter trabalhado como físico no desenvolvimento de radares, lançou essa idéia num tempo em que os foguetes para isso ainda não existiam. Na década de 60, seu romance “2001, Uma Odisséia no Espaço” tornou-se um filme cultuado até hoje.
Mais que isso, 2001, como peça de ficção orientou toda uma nova forma de pensar da simbiose ser humano-máquina, coisa prevista por muitos cientistas, porém vista com ceticismo. As idéias do ser humano potencializadas pelo poder da máquina. Ou ferramenta.
Naquela mesma época, um adolescente franzino passava horas na frente da tela de um computador PDP-11 com incríveis 32K de memória, trabalhando nele até altas horas da noite. Anos depois, esse jovem agora conhecido como Bill Gates lançou um livro chamado “A Estrada do Futuro” onde mostrava suas idéias sobre um mundo interconectado por computadores e a transformação que isso iria causar.
Bem, hoje, escrevendo e lendo estas linhas vivemos nos tempos que eles prenunciaram e tornaram possíveis por suas teorias e suas criações. Vindas de um sociólogo, de um cientista e de um jovem programador, a verdade é que somos hoje todos participantes desse mundo novo, que se torna mais e mais capaz de nos mostrar uma nova vertente da realidade, poderíamos dizer assim a hiper-realidade.
Mas acima de tudo, a vertente que origina tudo isso, todo esse progresso do ser humano é a política, que analisada em sua forma mais simples é também só uma ferramenta. Mas das mais importantes. Seu uso correto determina o surgimento de uma nação da forma mais feliz possível. Seu uso incorreto determina até mesmo o desaparecimento dela, como vemos na história do mundo.

Assim, na propagação das idéia políticas nos dias de hoje, sem dúvida que os meios que foram criados mostram-se ferramentas de uma utilidade incrível para levarmos uns aos outros visões da realidade e conceitos de política que podem realmente transformar muita coisa em nosso mundo.

Como cidadãos, hoje mais do que nunca, podemos fazer muito mais do que era possível há uns 20 anos atrás. Com a exposição de idéias, utilizando esses novos recursos, é um gesto que torna o caminho que esses criadores abriram cada vez mais cheia de gente, de opiniões, de idéias. Acima de tudo é um caminho que tem lugar para todos na direção do progresso humano.
Vamos caminhar então.