segunda-feira, 27 de setembro de 2010

P50 Não mande mais e-mails

Que coisas inventam...
Caro amigo, recebi seus novos e-mails encaminhados sobre o avião presidencial, o tão falado Aerolula. Mas depois de tudo isso, acho que podemos dar uma pausa. É muita estória misteriosa. E as últimas do Aerolula, com fotos e tudo?

Mas de onde tiraram essas fotografias que dizem ser do interior do avião presidencial? Mas você já sabe, não sou partidário de Lula e nem da oposição, pois a política dos dias de hoje é comparável apenas a um jogo de carteado num boteco. Apenas analiso o que você me mandou, como das outras vezes.

Todos os e-mails que você me encaminhou apontam o presidente Lula como o grande gastador e único responsável pela escolha e compra do Airbus A-319.

Nenhum e-mail menciona que a compra do Airbus, ou melhor, Aerolula, nasceu da assinatura por Fernando Henrique Cardoso em 1999, da licitação para a compra de um novo avião presidencial, escolhendo entre modelos da Boeing americana e da Airbus francesa, já que no mesmo ano até um começo de incêndio de uma turbina do velho jato presidencial brasileiro já tinha acontecido. Lula só encaminhou a licitação para o final. Mas isso ninguém diz nos e-mails.

Os franceses receberam a encomenda para projetarem e fabricarem um avião presidencial e iriam fabricar o quê? Um avião presidencial com o interior de um avião de carga, com ferrugem, rebites soltos, poeira no chão e poltronas esfarrapadas? Aí os jornalões, as revistas do tipo Veja e Época iriam cair em cima do Lula dizendo que ele estava expondo o Brasil à vergonha suprema, que o avião deveria ser luxuoso, para melhor acomodar os governantes do nosso país e seus convidados estrangeiros com toda dignidade possível.

Pior ainda as fotos anexadas nos e-mails. Nenhuma placa, nenhum aviso, nenhum letreiro, nem uma única palavra em português no interior do suposto avião do Lula, nem em francês, nem em idioma algum. Nem mesmo os números do telefone dá para ver. Para completar, nenhuma das poltronas do avião tem cintos de segurança. Poltronas de avião sem cintos de segurança? É mesmo o interior do Aerolula ou de algum outro avião, de algum milionário, posto à venda? No site da Força Aérea Brasileira, as fotos do avião presidencial não tem nada a ver com as que você me mandou ou melhor, mandaram para você. Para estranhar mais ainda, o misterioso fotógrafo teve à disposição todos os ângulos, toda a iluminação que quis e ao que parece, todas as chaves para abrir todas as portas. Supõe-se que um avião presidencial fique sob guarda num hangar fechado, mas pelo que o fotógrafo mostrou, parece que qualquer um entra lá quando quer. Não é um fotógrafo, é um agente secreto como vemos em filmes.

Como o avião segue o modelo padrão do fabricante, com poucas alterações, tudo se torna suspeito. Falando no modelo que existe mesmo, usando um avião com conforto e luxo parecidos com o do avião presidencial francês, onde Nikolas Sarkozi se acomoda sossegado, aí dizem que Lula é perdulário, que é esbanjador, que voa sobre a miséria do povo. Já do avião presidencial francês, a imprensa brasileira se esmera em elogiar, porque nunca se sabe, bajular um poderoso, olha, garante futuro. Se Nikolas Sarkozi dissesse que Dilma é a sua candidata do coração, que votaria nela se fosse brasileiro, haveria uma loucura nas redações das revistas e jornalões do Brasil, todos querendo apresentar Dilma como a "Redentora", como a nova roupa da política brasileira, vinda diretamente de Paris. O que cansa nos donos das grandes revistas e jornalões brasileiros é a sua absoluta e total submissão e vassalagem a tudo que seja estrangeiro, mas de forma seletiva, como a vassalagem a banqueiros ingleses, americanos e franceses. Já para banqueiros africanos, parece que eles não ligam muito. Afinal, alguém tem que emprestar dinheiro a eles para poderem comprar seus equipamentos importados. De má vontade é que não emprestam e nem suas multinacionais subsidiárias no Brasil vão dar verbas publicitárias a publicações, digamos, discordantes. Afinal, se um governo estrangeiro quer comprar uma rica jazida mineral no Brasil, porque um grupo editorial vai discordar disso se depende desse governo?
Alguém ainda se lembra da emenda constitucional nr. 36, de 28 de maio de 2002, que autorizou a venda de 30% das ações dos grupos de comunicação quando os donos deles puderam enfim começar a se vender aos pedaços para pagarem suas dívidas, que o bom presidente do Banco Central de FHC, Gustavo Franco havia dobrado com a flutuação do real logo após a reeleição do seu chefe? Talvez não lembrem. Ou talvez não saibam que a editoria de jornais, revistas e televisões no Brasil segue sempre um manual de uma página e uma linha : a de dizer sempre o que o chefe, em especial o chefe estrangeiro acha certo. Ainda mais que ele trouxe dinheiro para o combalido cofre da empresa. A política dessa imprensa e de seus agregados se resume a isso : ler a cotação do dia de dólares, euros e esse manual sempre. E a partir daí pensar no que escrever como linha política. E dizer sempre sim senhor a quem fala de Londres, Paris, Tóquio ou Nova Iorque. E até podem ligar a cobrar. Isso já é grande coisa.

Ora, esqueci de uma coisa. Também telefonam para Madrid e Lisboa. Porque interessaria a empresas como a Portugal Telecom e como a Telefonica de España terem participações acionárias em jornais do Brasil? E porque esses jornais, capazes de descobertas incríveis sobre políticos e mensalões nada descobrem sobre as tarifas de telefonia muitas vezes mais caras aqui no Brasil, enquanto que na Espanha uma linha simples da Telefonica oferece até mesmo banda larga e aqui não? O que aconteceu com esses jornais? Caiu a linha da investigação?

E porque esses mesmo jornais, intrépidos ao denunciarem Aerolulas, dinheiro em maletas e fotos de um monte de dinheiro em campanha eleitoral, ou seja descobrem tudo contra seus desafetos, não descobrem nada com a constatação de que coeficientes de cálculo errados deram às companhias elétricas privatizadas e agora de propriedade de estrangeiros um lucro indevido de quase 7 bilhões de reais? Interessante, afora os magistrados idealistas que vão fundo em questões difíceis, tem um promotor paulista querendo saber se o comediante Tiririca sabe ler e escrever, para ver se consegue impugnar a candidatura dele. Ora, o promotor faria melhor se usando da sua blindagem juridica, foro privilegiado e coisas tais, se entrasse com uma representação contra quem errou nos cálculos de energia elétrica fazendo o povo brasileiro pagar esses 7 bilhões de reais a mais em contas indevidas. E o promotor poderia perguntar se quem faz os cálculos sabe fazer contas de somar e subtrair pelo menos. Mas não, preferiu ir para cima de um comediante. E porque os jornalões e revistas não martelam esse assunto sem parar até que o povo brasileiro seja ressarcido, até que uma CPI das privatizações seja aberta? Uma CPI das privatizações séria? Acredite, teremos suícidios de editores dessas revistas e jornalões. Então nenhum repórter audaz e corajoso vai questionar essas empresas? Ou a Aneel? Não vai porque não quer parar no olho da rua. E a Aneel é só um entreposto administrativo dessas empresas.

E as tarifas de telefonia no Brasil, cobradas pelas empresas estrangeiras são as mais caras do mundo. Nos EUA um serviço de banda larga fica na média de 20 dólares, no Brasil fica na média de 34 dólares. E onde estão os repórteres dos grandes jornais, dos noticiários da noite que diziam que o preço da telefonia iria cair a centavos? E porque nenhum editor, repórter ou jornal corajoso denuncia isso? Ora, porque vivem do dinheiro de verbas publicitárias de estrangeiros. Se mentir, ocultar a verdade paga a prestação do apartamento, o negócio é mentir.

E também, porque interessaria a um grupo de extrema-direita como o Naspers sul-africano que sempre apoiou todas as ações violentas do governo branco contra a população negra no regime de apartheid na África do Sul ter 13% das ações da Editora Abril. E essa editora que publica a revista Veja se diz independente e cultora de valores humanos e é logo com esse sócio de um passado manchado de sangue que vai fechar negócio? E depois expõe lacrimosas reportagens sobre o regime militar tão brutal, que malvado. Ao menos não metralhavam centenas de pessoas numa praça.

E na habitual condução de negócios escusos, os governos anteriores, em especial os que privatizaram a Telebrás nada ficam a dever em falta de honestidade. Em especial os membros do governo FHC e o próprio, que deixaram agências americanas e européias avaliarem a Vale do Rio Doce, uma das maiores jazidas minerais do planeta com potencial de exploração de 300 anos em míseros 3 bilhões de dólares para a venda, quando então todos saudaram a venda como um grande e maravilhoso negócio para o Brasil. Agora, quando essas mesmas agências estrangeiras avaliam a Vale do Rio Doce hoje em mais de 50 bilhões de dólares, podemos nos perguntar o que aconteceu? Podemos nos perguntar porque os mesmos repórteres que fotografam o interior do avião presidencial, que descobrem tudo sobre o mensalão não fotografam uma única reunião dessas agências de avaliação internacionais? Porque eles, que se infiltraram como César Trali, da Rede Globo, no meio da Polícia Federal não se infiltram no meio de uma reunião de diretores e presidentes de bancos estrangeiros que decidem o que e por quanto vão comprar qualquer riqueza mineral do Brasil?

O único repórter que tentou alguma coisa, aliás seguindo uma vida dedicada com a maior correção ao jornalismo foi o Aloysio Biondi na época das privatizações. E o que aconteceu com ele? Foi banido das redações. Seus colegas de profissão esconderam o quanto deu o livro que ele publicou chamado "O Brasil privatizado".

Essa tem sido a verdade da nossa imprensa insuflando tudo e todos com fatos manipulados e boatos absurdos, porque seus chefes do exterior mandam e pronto. E nisso, entre pessoas bem intencionadas e falsários declarados, aparece essa enxurrada de e-mails com toda essa manipulação de fatos e textos.

Sim, Lula e sua equipe protagonizaram escândalos indecentes e imperdoáveis. Não votarei em Dilma, não votarei em Serra, não votarei em Marina, porque na verdade todos fazem parte de um cassino político, onde a vida do brasileiro é jogada numa roleta e os partidos políticos fazem apostas com o futuro e a vida do povo brasileiro. Hoje a classe política em sua totalidade, de vereadores a senadores tornou-se um bando de cangaceiros que ataca os brasileiros como pode.

Me chame de atrasado se quiser, mas certo mesmo estava um homem como Getúlio Vargas. Autoritário, assumiu o poder em 10 de novembro de 1937 e no outro dia fechou o congresso nacional. E governou sozinho muito melhor do que qualquer político daquela época. Os políticos atuais, se assumisse o poder hoje, Getúlio Vargas jogaria num presídio para sempre. Talvez esse tenha sido o erro de Vargas. Deixou os políticos da época vivos. Eles tiveram filhos e deu no que deu.

Mas nos dias de hoje, apesar do que dizem os opositores de Lula e sua tropa, em franco desespero pela derrota iminente, deveriam ao menos se pautar por uma denúncia correta e um discurso construtivo, programático, não mentiras e promessas delirantes. Mas caráter, uma vez formado, dificilmente muda.

Seja como for, como povo, estamos numa situação muito infeliz e de grande perigo, com essas monstruosidades políticas em nossa vida. Pelo entreguismo e pela corrupção desses políticos, pela ganância dessas dinastias familiares que secularmente vem vivendo às custas do sacrifício, do sangue e das lágrimas do povo brasileiro e sempre submissos a poderes estrangeiros, só por milagre escaparemos inteiros disso.

Assim caro amigo, não sei de onde você recebe esses e-mails, que como você vê distorcem a realidade, pinçam frases e selecionam fotos para enfeitarem e formarem uma verdadeira corrente de falsidades. O outro lado faria a mesma coisa se fosse só oposição hoje.

Espero que reflita sempre sobre isso e ao invés de se escandalizar de imediato ao ver algum texto "novo" ou fotos "novas" procure ter sempre uma visão crítica de tudo isso o que lhe é passado. É coisa que temos que olhar com cuidado.

Finalizando, quanto a Arnaldo Jabor, muito bom denunciar tudo o que ele denuncia, mas onde estava ele quando o Brasil foi vendido a estrangeiros? Onde estava ele quando William Bonner e Fátima Bernardes anunciaram por todo um Jornal Nacional inteiro o fato mais marcante do dia? A privatização do sistema Telebrás?

Não. O nascimento da filha da Xuxa, isso sim, coisa capaz de ter comovido até o finado Saddam Hussein. William Bonner e Fátima Bernardes deram ao nascimento de Sasha mais de inacreditáveis 10 minutos em tom emocionado, com direito a frases chorosas de repórteres na maternidade, enquanto que a privatização ou melhor, entrega da Telebrás e de todo o sistema telefônico brasileiro a estrangeiros, teve 3 míseros e austeros minutos. Nenhum comentarista apareceu para dizer porque a venda anunciada em 68 bilhões de reais caiu para 22 bilhões, depois para 13 bilhões e no final acabou ficando por apenas 8 bilhões de reais. Quanto a Arnaldo Jabor, talvez estivesse fora do ar.

Certo, tínhamos problemas com a Telebrás, mas pelo menos eram nossos problemas. Agora temos problemas que espanhóis e portugueses importaram da Europa para os brasileiros e ainda por cima cobram todo mês a fatura por isso. Só a Telefonica de España tem lucros inacreditáveis. Comprou a Telesp por 2 bilhões de reais em 1998, assumiu a propriedade de toda a rede de telefonia instalada, ou seja, centenas de milhares de quilômetros de cabos, centenas de estações de telefonia, todas as instalações prediais e assumiu também a titularidade do dinheiro da Telesp nos bancos, o que dava mais ou menos 1 bilhão de reais. Que belo negócio. Isso é que é modernidade. E por mês fatura uns 4 bilhões em cima dos brasileiros. O mesmo sistema telefônico que temos hoje, com telefones a qualquer hora, teríamos, se ao invés de termos vendido a Telebrás a estrangeiros, tivéssemos feito parcerias público-privadas. Teríamos mantido o controle de nossas comunicações e tudo estaria muito bem. Mas como diziam jornalões e revistas, o moderno era vender tudo para estrangeiros. E os ministros do governo diziam que o governo devia estar fora do mercado de comunicações. Devia estar fora de um mercado que rende a estrangeiros 4 bilhões de reais por mês e isso só para uma empresa. Isso é que é governo inteligente. Ora, e porque ele continua cobrando impostos num negócio onde não está e que é totalmente sustentado pelo contribuinte brasileiro?
E assim essas pessoas que se dizem jornalistas manipulam milhões de pessoas e as levam para o caminho de perdas e derrotas dentro de sua própria nação. Sempre que um jornalista comenta a época do Estado Novo de Getúlio Vargas deixa claro que naquela época não havia liberdade de imprensa. E na época da democracia e cidadania o que fizeram os jornalistas? Trocaram a liberdade de imprensa pela liberdade de empresa. Quem paga mais tem sua verdade publicada. É, Getúlio sabia lidar com esse povo.

Meu caro amigo, mesmo não querendo, vou esperar mais e-mails de você. Mande que tenho que ver para acreditar. Um grande abraço.
Se tiver alguns com alguém comentando sobre Getúlio Vargas e o Estado Novo, mande logo. Aquele sujeito sabia consertar o que estava quebrado.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

P49 Mande mais e-mails

Te respondo depois... Caro amigo

Como está? Sempre trocamos e-mails sobre a vida política dos dias de hoje. E nesta época de eleições, recebemos e-mails da direita e da esquerda, seja lá como se denominem, sem parar. Mas falando de política, apesar de alguns se alienarem disso, o assunto é interessante e nos toca a todos. Temos talvez uma discordância dos fatos políticos de hoje, pelas notícias que me manda, . Mas vejo a parcialidade das notícias que me são enviadas. Todas foram encaminhadas a você, que por sua vez as encaminhou para mim. Mas notícias? Uma verdadeira coleção de fatos montados e remontados, sabe-se lá por quem.

Tenho recebido uma quantidade enorme de e-mails nesta época de eleições, encaminhados por você e outros amigos, alguns dos quais não se sabe, creio eu, a origem. Todos tendenciosos e montados de forma a dar uma certa impressão dos fatos que não correspondem à realidade. Ou melhor, procuram moldar uma realidade ao gosto de quem escreve, pinçando textos, falseando opiniões e ajeitando fotos para compor uma realidade que parece que é mas não é.

É antes a realidade que os órfãos de Fernando Henrique Cardoso, um dos maiores enganadores que o país já teve, tentam passar adiante para ver se seus chefes voltam ao poder. Quem sabe, pode dar certo. Mas não me julgue como partidário de qualquer um dos candidatos atuais a presidente. Vendo a política de hoje, considero Lula apenas um carreirista que fez fortuna por culpa de um erro do povo brasileiro, que alienado dos fatos, humilde e esfomeado deixou-se levar por bolsas e sanduíches do governo. Maior culpa ainda pelo que nos sucedeu a partir de 1994 cabe à classe média, que apesar de ter estudo e renda, foi e ainda é mais alienada e mais atrasada que a classe pobre e em 1994 deu a um grupo de ladrões os votos necessários para venderem o Brasil a estrangeiros e só não fizeram pior porque, sabe-se lá como, mudaram de voto em 2002, senão nem mesmo teríamos mais o nome de Brasil e sim de Brazil Incorporated. É fato, a classe média só conhece o caminho do shopping center. Mas no mundo de hoje, com os valores que ele idolatra, ela não é tão culpada assim, mas ao mesmo tempo, prefere não saber de nada.

Mais uma vez esclareço que não sou a favor de nenhum dos candidatos que estão aí. Ter que votar na Dilma, no Serra ou na Marina é, para fazer uma analogia, estar na mesma situação de ter que escolher entre uma mulher que vasculha bolsas em lojas, entre um homem que revira gavetas num armário ou entre a cúmplice dos dois, que tenta vender na rua produtos naturais feitos em laboratórios do pior tipo, para a presidência do nosso condomínio.

Quanto ao resto, vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, não só de um, mas de todos os partidos, não passam de trapaceiros, que tem um e só um objetivo: encherem-se de dinheiro e redigirem as leis que o judiciário, muito amigo deles, recebe sem reclamar. Se bem que alguns magistrados idealistas, ainda que solitários, tentam mudar alguma coisa.

A situação do Brasil hoje, caro amigo, já é próxima de uma secessão, ou seja, separação, perda pura e simples de partes consideráveis e vitais do nosso território, iniciada com a venda das estatais por Fernando Henrique Cardoso e exemplo marcante disso foi a venda de empresas como a Vale do Rio Doce, que antes totalmente nossa, hoje é de propriedade de estrangeiros e chamam a isso de "modernidade". Eu chamo de traição.

A política nos toca, ao menos aos não alienados. Por isso, se pudermos trocar algumas idéias sobre tais assuntos, será bom. O tema política é extenso, o que dá para abreviar é resenha esportiva. Vejo que cada vez mais o Brasil começa a entrar num processo de cisma, onde se dividirão os bons, que desejam retomar o país, com todos os sacrifícios que isso traz, dos maus, que desejam saborear pequenas comodidades dadas por estrangeiros, até o dia em que estarão de chapéu na mão, pedindo dinheiro aos mesmos que ontem lhes davam alguns presentes, fazendo uma analogia, colares e espelhos, como os conquistadores deram aos índios em troca de suas terras, para depois lhes darem as balas de suas Winchesters. Sua região, parte da Amazônia será a primeira a entrar nessa situação.

Aliás, por obra e graça de mais traidores enfiados em todos os cargos públicos, já temos 94 mil km2. de terras dadas para reservas indígenas para uns 4.000 índios, em fronteiras próximas de combates entre guerrilheiros e tropas colombianas, um terreno potencialmente explosivo e capaz de desencadear situações fora do controle do Brasil, pela sua absoluta fraqueza. E enquanto isso, como na denúncia de Orlando Villas-Boas, os índios vivem no exterior fazendo o papel de coitadinhos, pedindo intervenção estrangeira.

Temos um exército incapaz de se deslocar em seu próprio território em caso de conflito e que libera soldados residentes nas cidades em que servem para comerem em suas casas para economizar comida, temos uma força áerea com mais da metade dos seus obsoletos aviões parados por falta de peças, temos um porta-aviões vendido pelos franceses no ano 2000 por 12 milhões de dólares e que eles não sabiam se derretiam ou se transformavam em navio museu. Afinal, ele foi construído em 1957. Mas claro, Fernando Henrique Cardoso apareceu para comprar o velho navio enferrujado. E foi saudado pela imprensa francesa e pela Rede Globo como grande estrategista. E de quebra toca a privatizar estatais elétricas para vender até mesmo para estatais elétricas francesas, que continuaram estatais e hoje lucram com as contas que cobram dos brasileiros. E pelos seus correligionários e votantes foi saudado como homem de grande visão. Que impressionante. Engana a nação mais uma vez e é elogiado.

Como também
comprou os caças A-4 Skyhawk em 1998, que vieram do Kwait, isso mesmo, o mesmo país invadido pelo Iraque e hoje apenas alguns desses aviões voam. O resto está parado dentro do porta-aviões porque não funciona. Claro, também temos que ver que o porta-aviões ficou de 2005 até 2010 no estaleiro recebendo, como não podia deixar de ser, peças eletrônicas e armamentos franceses, que deram um bom lucro aos seus vendedores, já que o Brasil não sabe fazer o equipamento que ele precisa. Imagine se entrássemos em guerra com a França. Como os franceses iriam rir. E todas essas forças armadas (armadas?) para proteger 8 milhões de km2. de território e 6.000 km. de costa marítima e 3,5 milhões de km2. de mar brasileiro. Brasileiro por enquanto. Quanto ao espaço aéreo, melhor nem calcular, "defendido" por alguns velhos caças F-5 americanos e Mirage 2000 franceses da década de 70.
E nesses e-mails que recebo, com o que estão preocupados? Com o que a classe média se preocupa? Com o avião do Lula e com o bolsa família, talvez porque ficaram de fora dos dois. E se a classe média tivesse recebido de presente do Lula uma espécie de Bolsa-Shopping pensa que ela estaria reclamando? Depredações dos Sem-Terra, que perto do que FHC e sua turma já fizeram com esse país é o mesmo que carpir quintal. E depredações dramatizadas ao extremo, justo em época de reeleição, como aconteceu da última vez. Por hoje, eles fazem o que querem e a imprensa só noticia em pé de página. Ninguém liga mais mesmo. Depredações que de resto já aconteciam no tempo de Fernando Henrique Cardoso exatamente para que a imprensa que vivia bajulando ele tivesse manchetes de terror para mostrar. A mesma imprensa que disse que se Lula fosse eleito em 1989, 800.000 empresários deixariam o país. Só se fosse para trabalharem de empregados em alguma lanchonete e olhe lá, porque aqui boa parte só vivia de favores oficiais. Como hoje, em que Lula completa o segundo mandato e esses 800.000 empresários que deveriam ter fugido não deixaram nem o bairro onde sempre moraram.

E entristece também o vergonhoso papel da nossa imprensa, mas um papel tradicional e que vivia pendurada no governo FHC comprando milhões em equipamentos eletrônicos para participarem como operadoras das linhas de telefonia, por isso fizeram a campanha pela privatização. Depois, quando FHC foi reeleito, deu um pontapé na imprensa e mandou Gustavo Franco derrubar a paridade entre o real e o dólar que era de um para um. Resultado, da noite para o dia, Globo, Estadão, Folha e outros viram suas dívidas em bancos estrangeiros subirem o dobro do que eram. Coincidência que eles tenham então apoiado mais a compra de bancos brasileiros por estrangeiros, que hoje controlam quase metade do sistema financeiro do Brasil? E é claro, lucram e muito com o dinheiro dos brasileiros. Pedágios aparecendo sem parar, empresas européias e americanas cobrando preços absurdos dos brasileiros que pagam a estrangeiros para andarem em sua própria terra e dizem que isso é "modernidade", que o certo é o "Estado fora do mercado". Isso é o que dizem jornalões como o Estadão, a Folha, o Globo, a revista Veja, a revista Época. Certo, o Estado fora do mercado. Agora quando esse mesmo Estado financia boa parte do papel comprado por esses grupos para imprimirem suas revistas e seus jornais, aí está certo, aí é modernidade. E nesse tempo todo, desde 1994, a destruição do sistema escolar, a destruição do sistema de saúde pública, o sucateamento da previdência, isso tudo sim a imprensa saudou como "modernização do Estado". E toca a receber verbas de órgãos públicos. Receber verbas do mesmo "Estado que deveria estar fora do mercado" não é ser atrasado, não é ser anacrônico, é ser "moderno".

E nesses últimos e-mails, aparecem denúncias de que o governo Lula paga auxílio-reclusão aos presos, só que não dizem que quem sancionou a lei que criou o auxílio-reclusão foi Fernando Collor de Mello em 1991, lei nr. 8.213/91 de 24 de julho de 1991. Esse Collor é bonzinho. Lula é que é mau porque paga esse tal auxílio que ele é que deve ter inventado.

E também nenhum desses e-mails diz que Fernando Henrique Cardoso aprovou a transformação do auxílio-reclusão em pensão para a família do preso em caso de seu falecimento, em 6 de maio de 1999, decreto-lei 3.048/99. Mas o maldoso mesmo é Lula que paga essas coisas para os presos e suas famílias.

Bom mesmo é Fernando Henrique Cardoso que defende publicamente a liberação das drogas, com todas as desgraças que elas trazem e ainda por cima completa dizendo que depois o Estado, sim, esse mesmo que ele sempre disse que devia estar fora de tudo, o Estado, mantido pelos nossos impostos é que deve arcar com o tratamento dos viciados, que nós já sabemos, é inútil.

O mesmo Fernando Henrique Cardoso que apoiou e conseguiu aprovar no congresso nacional a lei do desarmamento, que deixou o cidadão comum desarmado, incapaz de se defender de bandidos, estupradores e traficantes, quando eles sim é que hoje assaltam e matam o cidadão, estupram suas filhas, viciam seus filhos e o cidadão, desarmado e indefeso, só pode assistir a tudo de cabeça baixa. Mas a imprensa não apoiou isso? Não fez toda propaganda possível em horário nobre para que o cidadão aceitasse a idéia de se desarmar, de se tornar indefeso, de pôr a cabeça no cepo para maior comodidade dos bandidos? Não prometia que com o desarmamento o Brasil viraria uma Suíça de paz e amor?

Agora o resultado está aí. Fuzilamentos coletivos, bandos de modernos cangaceiros pondo até a polícia para correr, assassinatos em série, testemunhas de crimes fuziladas, o povo se trancando em casa logo ao anoitecer. E se por acaso um cidadão tiver uma arma, herança de família em casa, se sua casa for invadida por bandidos e ele atirar para defender sua família e com sucesso abater os bandidos, o que acontece? Ele vai preso por crime de porte de arma, considerado hediondo e inafiançável. Já sabemos o que vai acontecer com ele na cadeia. Mas agradeçam à nossa impresa e a quem assinou essa lei, Fernando Henrique Cardoso.

Claro, Lula também ajudou a manter tudo assim. "Tudo dominado" como diz a marginália.
Acabo de receber mais e-mails seus encaminhados. Não acredito. O assunto do Aerolula de novo? Vou conferir. Um grande abraço.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

P48 Títulos falsos

Títulos falsos...
No dia das eleições, já bem próximo, vai se dar novamente a farsa quadrienal de suposta alternância de governantes. Muitas vezes nem isso. Acredita-se numa sociedade civilizada que essa instituição chamada voto traz muitas mudanças. Que muda governantes e ideologias, que muda condições de vida e o destino de uma nação.

No caso do Brasil, de forma triste e lamentável, nada disso é verdade. Mantém-se a farsa institucional que, desde cedo, em magistral golpe de propaganda os falsários, no caso os políticos, aprenderam a chamar de "democracia e cidadania", logo seguidos pela imprensa, na qual trataram de colocar rédeas através da posse de emissoras de rádio, televisão e jornais e conseguiram criar essa ilusão.
Milhões de eleitores, ainda crentes nos títulos falsos que levam na carteira, irão se acotovelar nos transportes públicos no dia da eleição, coisa a que já estão habituados no dia a dia para chegar ao trabalho. Pelo menos as últimas panes no sistema de metrô da cidade de São Paulo já lhes deu um bom e último treino para isso. Depois poderão ver amenidades nas horas finais do feriado, crentes de que o sol brilhará diferente amanhã.

Os cidadãos deveriam se perguntar porque seu trabalho honesto tem sido tão penoso enquanto o dos políticos, de vereadores a presidentes é tão folgado? Porque sua aposentadoria é tão minguada enquanto que a dos políticos é tão polpuda coroando uma vida de nenhum trabalho e muita corrupção? Porque na propaganda oficial dos jornais, a vida está tão boa, mas o cidadão é roubado em seus direitos, abandonado à própria sorte na porta dos hospitais públicos, não consegue dar educação a seus filhos, enquanto que os políticos criam para eles mesmos mais direitos e privilégios, desfrutam dos melhores planos de saúde e dão educação das mais caras para seus filhos? O cidadão deveria se perguntar porque ele vive espremido em caríssimos cubículos nas grandes cidades, enquanto que os políticos vivem desfrutando de luxuosos condomínios?
Mas se perguntasse tudo isso de forma decidida só teria uma resposta : a de que o título que tem nas mãos é apenas um título falso, emitido por falsários. Isso daria margem a um tumulto e mudanças inacreditáveis. Por ora, a classe política consegue manter essa ilusão.

Talvez a melhor definição de tudo o que ocorre nos dias de hoje, 2010, seja dada pela leitura de um trecho do Manifesto Tenentista da revolução de 1924 :

"...O Brasil está reduzido a verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens e estabelecendo-se como condição primordial, para o acesso às posições de evidência, o servilismo contumaz que, movendo-se pela mola das ambições, cada vez mais se generaliza, constituindo fator de degradação social. O povo ficou reduzido a uma verdadeira situação de impotência, asfixiado em sua vontade pela ação compressora dos que detém as posições políticas e administrativas. Dispondo de material bélico moderno, contra o qual os cidadãos inermes nada podem fazer, os dominadores tem-lhe coartado a manifestação da vontade pelas urnas, órgão legítimo pelo qual a soberania popular se exerce nas democracias...".

Acredita o cidadão, ainda, que o título que ele carrega no bolso é legítimo. É falso, visto que só serve para alternar as posições de aliados e apaniguados nessa farsa eleitoral. É falso, porque só serve para sancionar as ambições de lucro pessoal dos que melhor souberem cantar promessas de mudança. É falso porque lhe dá a ilusão de mudanças decisivas na vida política da nação, quando na verdade apenas se alternam entre um cargo a mais ou a menos, os mesmos falsários que tem como meta final de tudo apenas a satisfação da ambição pessoal, às custas do povo e da nação.
Enquanto o povo não se perguntar isso, nem procurar pelas respostas, esse congresso de falsários continuará vivendo seu luxo às custas do sofrimento da nação.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

P47 Mercado nacional

Alguns negociantes saem, outros entram...

Aproxima-se o dia em que mudanças na atual participação societária da empresa chamada de Brasil S/A serão redefinidas, com a demissão de alguns dos atuais ocupantes de cargos de direção, havendo então a nomeação de novos pretendentes que passaram o mês apresentando seus curriculos num horário chamado de eleitoral, que seria mais próprio chamar de comercial. Se bem que a propaganda enganosa seria imediatamente proibida de ser veiculada, isso num país com instituições sérias.

O atual presidente da companhia já deu sonolentas mostras para a comunidade internacional de que com seu, ou melhor, sua sucessora, os investimentos continuarão garantidos. Seu sucessor ou melhor, sua provável sucessora, que em tempos idos da década de 70 lutava pelos oprimidos ou pelo menos fazia-de- conta remodelou seu pensamento e hoje trabalha confortavelmente do lado daqueles que chamava de opressores do povo, numa linha dita subversiva na época. Em recente propaganda apareceu com seu protetor dizendo "...a realidade mudou e nós mudamos com ela...". Traduzindo : saímos da cadeia e hoje frequentamos os melhores clubes de Brasília e quem disse que realmente queremos mudar alguma coisa agora? Só fazer-de-conta que mudamos já está ótimo.

E lá se foi o discurso dito socialista para a lata do lixo. Ficou o discurso de proteger o povo brasileiro com um belo conjunto de linhas apresentado em todo horário eleitoral, que estaria melhor mesmo denominado de horário comercial, onde o povo vê claramente que vai entrar forçado como sócio numa empresa de onde tenta sair a qualquer custo, que o digam os brasileiros que emigram todo ano para o exterior em busca de melhores sociedades.

Nessa sociedade onde o povo brasileiro entra como sócio minoritário em relação a direitos e como sócio majoritário em relação a deveres, obrigações e dívidas que nunca fez mas tem que pagar, fica a percepção de um ritual quadrienal de trapaça coletiva, da qual todos são obrigados a participar por lei, enquanto as manchetes das grandes revistas, jornais e redes de televisão procuram apresentar tudo como um mar de alegria e progresso.

A diretoria da empresa, também conhecida como congresso nacional por seu lado cuida de manter seus lugares, que alguns membros perderão esse ano por se aventurarem por onde não deviam, mas terminarão confortavelmente empregados em firmas terceirizadas, para prestarem serviço nenhum para o povo brasileiro, pagos com salários exorbitantes. Outros caídos na antipatia de seus antigos colegas sócios e também em descrédito entre a população, terão suas pretensões salariais rejeitadas, passando a amargar um ostracismo a pão e água.

É o caso de um ex-sociólogo, antigo presidente da empresa, que junto com seus sócios, seguiu fielmente as diretrizes econômicas ordenadas por sócios majoritários estrangeiros e vendeu a maior parte do país, ou melhor, da empresa, para presidentes estrangeiros americanos e europeus e crente de que ia ser recompensado com um belo e vistoso conselho vitalício na empresa, foi descartado por seus antigos sócios e hoje amarga a triste rotina de ser barrado pelo guarda da empresa na portaria, podendo apenas deixar o recado de telefonarem para ele, caso se lembrem. Já se conforma com o banco da praça como local de reuniões com outros demitidos, onde farão de conta de que estão no gabinete presidencial da empresa. Logo um seu amigo, ex-auto-exilado na França em 1964 e que sempre se auto-apresentou como combatente-contra-o-regime-militar lhe fará companhia, se for aceito é claro, depois da traição de dizer que era herdeiro do atual presidente e não do passado, hoje completamente abandonado. Em todo caso, tudo é faz-de-conta.

A empresa progride para alguns poucos funcionários não pela administração, mas pelo seu tamanho, pelo seu vigor natural, pelas riquezas que possui, indo mar adiante como um porta-aviões sem direção, navegando com a força do seu tamanho, enquanto que suas riquezas são indiscriminadamente usurpadas e entregues a estrangeiros e mercadores do pior tipo. Enquanto isso, o mar de prosperidade é pintado todo dia pelas revistas e jornais, que ignoram pessoas nos sinais pedindo o que comer, aposentados sem dinheiro para comprar remédios e o turismo sexual nas praias e estados do norte da empresa, sem contar um governador de um setor da empresa chamado de Amapá, preso sob a acusação de vender terras da empresa para estrangeiros. Enquanto isso, o sócio majoritário da empresa, no que diz respeito a deveres, obrigações e prejuízos, chamado de povo brasileiro, sabe dessa situação de faz-de-conta, mas está impotente para reagir.

A ele resta participar da farsa quadrienal que chamam de eleições e decidir entre dois candidatos, um que rouba pela direita e outra que rouba pela esquerda, qual o menos pior e menos danoso para suas vidas.

E depois, dispensados da única vez em que são ouvidos pela quadro de presidentes e diretores da empresa, será posto de volta no pátio desse imenso conglomerado chamado Brasil S/A, tratando de se cuidar pois a empresa é tropical, o sol é forte e o ar-condicionado fica lá dentro dos gabinetes.

Para piorar, a água fresca também. Mas aí já não é faz-de-conta.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

P46 E agora, a sobremesa...

O morango é amargo, mas a festa continua... Com o natural esquecimento do caso do atropelamento e morte do filho da atriz Cissa Guimarães, atriz da Rede Globo, retorna a classe média e média alta também para as alegres noitadas, onde sabem que façam o que fizerem seus filhinhos, nada vai acontecer, a não ser a impunidade. No máximo em caso de condenação, talvez alguns meses de serviço comunitário ou pagamento de cestas básicas. Já o coitado que tiver sido atropelado ou a coitada que tiver sido violentada, que azar, dirão os vizinhos do condomínio.

A orgia da classe média é essa e existe entre todos um tácito e silencioso acôrdo de que as coisas são assim mesmo. Aliás, seus filhos estudam Direito para isso, para estarem mais cientes do que fazer no caso de acontecer o inesperado meio esperado. Se bem que as possíveis vítimas também sabem disso, também aceitam o acôrdo quando saem fazendo loucuras pelas ruas e bares e se por azar terminarem o dia ou a noite sendo as premiadas do dia ou da noite para serem servidas em forma de bolo, fazer o quê?
Resta às lacrimosas mães cariocas, que já podem fazer companhia às mães da Plaza de Maio na Argentina, mães das vítimas da Junta Militar argentina que sumiu com milhares de pessoas, apelarem para o setor de passeatas do Instituto Sou da Paz. Por uma módica quantia, o movimento, aquele da pombinha da paz, põe um batalhão de gente de camiseta branca nas ruas, com o símbolo da pombinha. Um pombinha, diga-se de passagem, bem mais consciente do que os moradores do Rio de Janeiro, que vendo do alto tanta bala perdida voando para todos os lados, decidiu pousar em algum outro lugar bem mais seguro, ficando somente na camiseta dos passeantes, que volta e meia deitam na fumaça de mais uma bala não tão perdida assim.

Nem tudo estará perdido, porém, se as mães cariocas encontrarem os membros do Sou da Paz trancados dentro de casa e enfiados embaixo da mesa no meio do tiroteio. Podem apelar para o Movimento Viva Rio, outro que vive de denunciar a violência, dando a todos a sensação de que ele chegou no Rio de Janeiro ontem, já que desde a década de 90, tiroteios e fuzilamentos coletivos são rotina na cidade onde pretendem denunciar o que pensam que ninguém sabe. Mais uma vez, por uma módica quantia, organiza-se um desfile de cruzes que são solenemente enterradas na praia, simbolizando o massacre que é perpetrado contra a população. Ou pelos bandidos, que pelo menos estão em seu dia de trabalho ou pelos filhinhos da classe média, que estão voltando de mais uma noite de bebedeiras em altíssima velocidade e atropelando quem encontram pela frente. Terminado o protesto, enquanto os garis retiram as cruzes, vão todos se deitar na praia ou bebericar num bar da moda, que afinal ninguém é de ferro. Só os fuzis que atiram para todos os lados.
E assim continua a vida na cidade maravilhosa, que já tem um refrão entre os traficantes armados que policiam as encostas dos morros :

"Cidade maravilhosa, cheia de tiros mil...
Cidade maravilhosa, munição do meu fuzil..."

Munição paga é claro, com o dinheiro dos deslumbrados filhos da classe média e média alta, que abastecendo as bocas de fumo com reais, dólares e euros ajudam a manter esse tenebroso cenário.

Quanto a essas classes, deve-se notar que classe média é aquela que pensa que é rica, mas está com o cheque especial no vermelho. Classe média alta é aquela que também pensa que é rica, mas apenas ainda não estourou o saldo no banco. E a festa continua. Mas para dar um sono tranquilo ou quase aos pais desses filhos tão estabanados, está aí a polícia da cidade maravilhosa, sempre vigilante no lucro que pode ter com tudo isso, já que a orgia vai longe.
E a orgia moral e jurídica, nua e crua no caso do povo paisano, atinge uma devassidão inacreditável no caso do povo fardado, capaz de fazer o imperador Nero da Roma antiga ficar ruborizado de vergonha. No recente caso do atropelamento do filho da atriz, logo depois de tentar fugir, o atropelador foi parado por policiais que lhe exigiram uma propina. Depois de serem publicamente denunciados pelo pai do atropelante, que perdido por perdido decidiu abrir o jogo para a imprensa, os policiais em suspeição, na primeira entrevista coletiva dada pelos seus oficiais superiores, entre capitães e tenentes, foram elogiados como detentores de fichas de serviço das mais impolutas e honoráveis, até que ao serem desmascarados, foram jogados na cadeia, enquanto que os membros do tribunal militar que antes os elogiavam, agora de dedos em riste prometiam total apuração do caso e severas punições. Como sempre. Até deviam fazer um hino para esses casos.

Até que por esses dias, viu-se que a orgia da tão cantada cidade maravilhosa continuava além dos limites humanamente imagináveis. Depois de servido o prato principal da vez, forçado goela abaixo, veio a sobremesa. E põe sobremesa nisso.

O capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Lauro Moura Catarino, que também é o juiz militar encarregado de julgar os policiais acusados de extorquirem o atropelador do filho da atriz, foi preso na madrugada de sexta-feira, 27 de agosto, enquanto roubava fios telefônicos da companhia telefônica Oi. Junto dele, talvez pensando em montar um próspero negócio de cabos de telefonia, estava outro oficial, Marcelo Queiroz dos Anjos, capitão do Batalhão de Choque.

Depois de tudo isso, de todos esses acontecimentos dia após dia, caso após caso, sem dúvida alguma fica mais coerente o hino da cidade maravilhosa cantado pelos traficantes. Na gigantesca paisagem paradisíaca das belezas criadas pela Natureza, que prende a atenção de qualquer viajante, fica a triste visão de uma massa de pessoas perdidas em orgias sociais das mais impensáveis, impossíveis de serem imaginadas até mesmo por um escritor como Franz Kafka.

E no viver do dia a dia e noite a noite, entre corridas de carros descontrolados e cabos telefônicos cortados, prossegue a música ou melhor, ruídos grotescos dos bailes funk regados a drogas e alí perto, tentando compor uma triste e falsa ordem, a banda da polícia tenta animar o coreto, roído por uma colônia de cupins morais.

Enquanto isso, o garçom se aproxima para servir mais um bolo para a vítima premiada da vez, com morangos com gosto de vinagre e glacê com gosto de fel. É a cidade maravilhosa.

Imagine se não fosse maravilhosa.

Matéria a verificar:
Capitão da PM do Rio é preso roubando cabos telefônicos