terça-feira, 31 de março de 2009

P09 As mudanças começam

Apenas um cenário, por enquanto...
Num dia de sol, os funcionários do aeroporto de Brasília dão-se por felizes no final de mais uma sexta-feira. O último deputado embarcou com o último senador para suas cidades de origem, como sempre com o pretexto de "consulta às bases", eufemismo usado para tomarem uísque na beira de suas piscinas e negociarem mais algum conchavo político.

Na Esplanada dos Ministérios, funcionários fecham gabinetes e no Congresso, nos corredores vazios ouvem-se apenas conversas dos seguranças.

No Comando Militar do Planalto em Brasília chegam de forma discreta os carros dos oficiais comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Todos se reúnem na sala de conferências e decidem que o plano implementado há longo tempo e em total segredo deve ser posto em prática. Os oficiais de graduação menor também presentes dizem que seus quartéis estão preparados. É dada a ordem e eles saem, já transmitindo as palavras chaves para outros comandantes em guarnições militares.
No presídio da Papuda em Brasília, onde Cesare Battisti está preso, mas já na condição de anistiado político, com a anistia concedida pelo ministro da Justiça Tarso Genro e que ainda vai ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal, o dia corre tranqüilo. Já na certeza de logo estar solto, Cesare se dedica a ler um livro. Os agentes do presídio se espantam com os caminhões do Exército que estacionam na frente do presídio. Um capitão informa que estão alí para levarem Cesare Battisti para um quartel. Ante a recusa do diretor do presídio, blindados M-113 derrubam os portões e entram. Poucos minutos depois Cesare Battisti está algemado dentro de um dos caminhões sendo levado para o Comando Aéreo de Brasília.

Com a movimentação militar visível, programas de televisão e rádio começam a ser interrompidos para a divulgação das notícias. A comoção é imensa. No início atônitos, aos poucos a população do Brasil todo começa a dar apoio aos militares. Comboios de caminhões com soldados armados começam a passar pelas grandes avenidas de Brasília em direção ao Congresso Nacional. Tudo sendo filmado. Não há preocupação dos soldados em impedirem o trabalho da imprensa. Quanto mais os brasileiros souberem do que acontece melhor será. Um destacamento de soldados se posiciona na entrada do Supremo Tribunal Federal. Tanto lá como no Congresso Nacional, documentos, computadores e todos os arquivos começam a ser recolhidos. Entrada e saída são restritas e os prédios são tomados pelos soldados.

No Comando Aéreo de Brasília, Cesare Battisti é embarcado dentro de um avião Hércules C-130 com escolta armada, enquanto que o embaixador italiano notificado da situação informa seu governo de que Cesare Battisti está sendo levado para a Itália para ser entregue às autoridades italianas. Enquanto o embaixador passa a notícia, o avião decola.
O presidente Lula tenta sair de sua residência oficial, mas comunicam-lhe que para sua segurança ele será mantido sob custódia, enquanto a nação é informada do que acontece. Em Porto Alegre, o ministro da Justiça Tarso Genro acompanhando os fatos decide ir até o aeroporto Salgado Filho para embarcar em seu jato para Brasília. Ao chegar no aeroporto é preso por um destacamento da Aeronáutica que já o aguardava dentro hangar.
Durante o sábado e domingo prisões de diversos políticos se sucedem em todo o Brasil. Alguns fogem para países da América Latina pedindo asilo, outros se refugiam em embaixadas estrangeiras.
O inegável é que mudanças políticas e institucionais inacreditáveis acontecem. Alguns comentam que os militares sairão em algumas semanas, outros mais experientes acreditam em meses, outros mais versados em História se lembram de Getúlio Vargas e sabem que quinze anos é um bom palpite.

Matéria a verificar:
Militares comemoram Revolução de 31 de Março de 1964
Imagens do período do regime militar

quinta-feira, 12 de março de 2009

P08 Mudanças virão, minha amiga

Uma pequena conversa...
Minha prezada amiga Lia Luft, como está você? Permito-me chamá-la assim pois leio seus artigos há muito tempo. E ontem li seu artigo sobre os problemas que afligem nosso Brasil, que realmente são muitos. Nas suas observações creio que feitas ai nas terras do sul que conheço e acho lindas, mesmo com esses ares que trazem a suavidade do rio Guaíba, os pensamentos e os ânimos de qualquer um que se importe com política e com esse nosso país realmente ficam por baixo.
Mas que podemos por ora fazer? Certo, sem dúvida denunciar e de forma incisiva que vemos, porém me parece que o Brasil está tão cheio de contradições sociais que ele não terão mais uma solução pacífica. Mesmo porque interessa aos três poderes de hoje manterem essas contradições, pois é com elas e com o acirramente dos conflitos sociais que os verdadeiros barões feudais que hoje são chamados de políticos saem ganhando. É assim que eles constroem suas fortunas pessoais, às custas do sofrimento de milhões de brasileiros. E é assim que eles constroem seu prestígio político que serve tão somente para a adulação de bajuladores que os rodeiam rastejando no mais baixo servilismo. Querendo é claro um lugar na lama, quero dizer, ao sol.

Chocante não é? Mas essa é a descrição da classe política de hoje. E mais ainda dos jornalistas que dizem manter a habilitação da classe, cerrando fileiras para que qualquer um que queira escrever ou denunciar nas linhas de um jornal tenha que ter diploma. Assim segundo eles garante-se o alto nível da profissão. Que hipocrisia. É tudo reserva de mercado. Jornalistas formados hoje se espremem por qualquer mísero salário para trabalharem para políticos donos de jornais e revistas que jamais leram um livro e sob suas ordens escrevem qualquer coisa que lhes garanta o prato feito do dia. Isso segundo dizem, é manter o "alto padrão" do jornalismo brasileiro, coisa que no exterior provoca risos. Luminares do jornalismo mundial como Dan Rather, Walther Cronkite, Greg Palast e outros jamais teriam sido jornalistas no Brasil. Interessante quando você pergunta para um jornalista, até mesmo desses nascidos em 1985 o que foi o regime militar, ele descreve somente horrores. E quando você pergunta das leis do regime mais horrores ainda. E quando você faz a última pergunta sobre a Lei de Imprensa de 1967, ah, aí dizem, sábia decisão dos generais. E toca a trabalhar para o político dono do jornal, que telefona lá de Brasília para ditar o que ele deve escrever. Os jornalistas brasileiros de hoje poderiam muito bem trocar a exigência do diploma pela exigência de serem médiuns espíritas, afinal é outro espírito que dita a ele tudo o que ele na verdade psicografa. Se como os médiuns eles ao invés de colocarem seus nomes no final de cada artigo, colocassem a expressão "pelo espírito de tal sujeito" as coisas ficariam mais claras por aqui.

E sem dúvida podemos nos lamentar olhando o panorama geral. O que restou dos políticos que se pretendem honestos ou audazes hoje? Os que poderiam fazer alguma diferença, ao menos para marcar presença? Um ficou declamando versos de rap em comissões como protesto político. Outro que já até foi guerrilheiro saiu defendendo a liberação da maconha. Outra que se dizia candidata a presidente embarcou numa corrida sabidamente perdida e abriu caminho para que um ex-presidente cassado voltasse com todo poder para uma comissão política de alto nível.
Esses poucos e mais notáveis exemplos de oposição dão razão ao velho ditado político de que a esquerda brasileira só fica unida dentro da cadeia. Mas esses tempos já se foram. Agora as esquerdas brasileiras, mesmo brigadas e juradas de morte estão sempre unidas, ombro a ombro, na fila dos que vão receber as milionárias indenizações que eles mesmos votaram. Alguém já se perguntou porque essas leis demoraram tanto para serem votadas? E porque depois de votadas traziam sempre o recurso da indenização retroativa? Na verdade eram apenas punguistas enfiados num plenário e redigindo leis.
E em termos de honestidade, as coisas andam tão mal que hoje podemos comparar e dizer também que a direita brasileira só fica unida dentro da quadrilha. Fora disso é briga durante a partilha do que foi saqueado. Estão aí as divisões de partidos e coisas tais para constatarmos isso. Até um velho militante do norte já disse que um grande partido é mesmo chegado na corrupção. E outro histórico militante aí da sua terra do sul já disse que por qualquer 2 mil réis o partido se vende. Fico na dúvida se eles estão fazendo uma denúncia real ou se ficaram fora da partilha depois de mais algum assalto aos cofres públicos. Ora, durante 20 anos nunca falaram nada. Era só alegria, só constituinte cidadã. E agora toca a chorar feito bezerro desmamado.

E quanto a direita e esquerda aqui no Brasil, quem disse que não se unem de vez em quando? Esses dois tipos de, podemos dizer assim, meliantes políticos só se uniram e esqueceram as divergências políticas e ideológicas na hora de se reunirem e votarem leis que os favoreciam e lhes davam privilégios, vantagens e prerrogativas marcadas por uma obscenidade política sem igual. Quem não se lembra das avassaladoras votações onde o patrimônio da nação brasileira foi entregue a estrangeiros, tendo apenas a tímida e trêmula voz discordante da oposição, que já de antemão se sabia perdedora na defesa do Brasil? Pior ainda sempre foram as votações de aprovação de tarifas e aumento de salários nas horas da madrugada, quando de forma "conveniente" a esbravejante oposição de esquerda ou de direita "dormia".

Vejo a memória de homens como o gaúcho Alberto Pasqualini, que deixou um legado de idéias políticas de um valor incalculável esquecidas. Vejo a obra nacionalista de um Getúlio Vargas retalhada e vendida a preço vil para proveito de estrangeiros.
Vejo nos dias de hoje que para andarmos em nosso próprio território temos que pagar pedágio a estrangeiros. Grupos econômicos estrangeiros é que decidem lá fora como o Brasil vai aplicar seus recursos e como vai vender mais partes de seu território.
E o que dizem nossos políticos sobre isso, pelas palavras dos jornalistas, seus escritores de aluguel? Dizem que isso é democracia e cidadania.
Minha querida amiga Lia, este é o retrato do Brasil de hoje e é claro que frente aos exemplos do passado não podemos deixar de encarar uma realidade. Isso aqui não tem mais saída pacífica. Que assim o seja.
E acredite que vai ser para melhor.

sábado, 7 de março de 2009

P07 Um ambulatório

Visita de uma tarde...
Estive ontem no ambulatório municipal. Nada demais, apenas um mal estar por causa do sol e calor durante uma pequena reforma do quintal. Com a pressão meio alta achei melhor dar uma passada lá.

Já escaldado com as notícias que vemos nos noticiários, fui até lá desconfiado, mas de forma surpreendente fui bem atendido, até mesmo já orientado a ir para o consultório após preencher uma ficha, pela análise da enfermeira. Passei na frente de várias mulheres com suas criancinhas de colo, meio constrangido.

Achariam que eu era protegido de algum político ou o próprio? No filme da imaginação vi um tijolo voando contra mim. Dei-me conta de que se eu fosse essa figura odiada eu não estaria alí e sim desfrutando de um bom plano de saúde, mas com o dinheiro dos outros, é claro..
Atendido pelo médico, após um breviário de perguntas ele mediu minha pressão e com presteza levou-me até uma sala, onde a enfermeira me fez engolir alguns comprimidos e depois voltou com uma injeção de um tamanho que me fez entender o porque da choradeira das criancinhas. Aí fui colocado numa sala com três camas.

Ao mesmo tempo em que descansava via a movimentação, o ambiente e as pessoas. Geralmente humildes, apenas aguardando um socorro que o Estado para o qual pagam impostos deve lhes dar. Olhei o quarto, simples, mas bem acabado, nada luxuoso e um pouco desgastado pelo uso mas nada infecto ou nauseante como vemos em reportagens de hospitais abandonados pelo poder público.
Pude perceber com clareza como um hospital assim, simples, bem limpo e higienizado, com camas também simples mas perfeitas seria fácil de ser feito e mantido por qualquer poder público. Ainda mais o poder público brasileiro que se esmera em gastar milhões de reais em obras inúteis e palácios, geralmente de alguma coisa que pretendam chamar de judiciário ou congresso e que nada representam a não ser uma visão feudal, às custas do seu próprio povo, hoje refém dessa situação.

Sentindo-me melhor fui até o corredor e vi um homem que sempre está pegando material para reciclagem nas ruas deitado em uma maca. Também passara mal com o calor, mas a despeito de estar desvalido, estava alí sendo atendido. Logo foi levado para um quarto. Enquanto isso mais mulheres com crianças chegavam.

Voltei para a sala da enfermeira onde ela mediu minha pressão e me encaminhou ao doutor, que após uma série de observações me aconselhou a procurar um médico para a devida consulta pois alí era apenas uma medicação de emergência.

Saí dalí me lembrando de todas as manchetes e noticiários sobre os desvios de dinheiro da saúde, do escândalo das ambulâncias superfaturadas e pensei em como num estado onde realmente se fizessem leis justas e houvesse um judiciário correto, nenhum desses culpados teria escapado impune. Aliás, com medo de leis e uma justiça implacáveis, nem sequer teriam pensado no crime que vieram a cometer com êxito.

No ponto de ônibus um cidadão lia um jornal onde vi a notícia de que prefeitos e um deputado queriam o comando da saúde. Me lembrei das cenas de grandes revoluções, onde os culpados de crimes de corrupção terminavam fuzilados e achei que seria uma boa coisa a acontecer por aqui.
Façamos tudo o que for possível para que aquele cidadão venha a ler tal notícia.