domingo, 7 de agosto de 2011

P77 Soldados vencidos

Suicidando-se por inanição e ainda pedindo desculpas...
Passando em retrospecto o comportamento das Forças Armadas nas últimas décadas, vemos que se guiaram desde 1985 numa chamada posição de respeito aos governos civis, garantindo sua não ingerência nos governos que vieram desde então. O momento histórico assim o exigia e os militares souberam entender isso. Porém, se por um lado deram mostras de uma atitude que condiz com uma postura de correção política, por outro se colocaram numa rota suicida, submetendo-se aos desvarios de governos ditos democráticos que na verdade vieram todos, desde a posse de José Sarney em 1986, carregados de uma corrupção avassaladora. Pior que isso, a corrupção, a entrega da nação a estrangeiros e em grande parte a destruição das Forças Armadas foram sempre diretrizes de autodefesa de tais governos, tanto federais como estaduais. Retalhando e destruindo para terem lucro qualquer parte dos serviços e instalações públicas, em especial a capacidade militar do Brasil, mantendo-se sempre submissos a diretrizes estrangeiras em troca de favores pessoais e favorecimentos comerciais, os dirigentes que vieram desde a época da passagem da presidência aos civis não só desmereceram completamente seu comando como também talvez tenham colocado o Brasil e suas Forças Armadas frente às consequencias de uma secessão civil e militar da nação.
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Hoje sempre insistindo em estar na defesa de um sistema político que o ataca, o deixa sem condições de defender a própria nação e ao mesmo tempo provoca sua morte lenta, as Forças Armadas brasileiras hoje parecem na verdade uma espécie de soldado que além de estar se suicidando pela fome ainda pede desculpas pelo incômodo.
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No primeiro dia deste mês o General Augusto Heleno, hoje reformado, mas que já foi comandante militar da Amazônia e também liderou as forças brasileiras no Haití, participou do programa de debates da Rede Bandeirantes, o Canal Livre. Em que pesem suas credenciais impecáveis e postura de verdadeiro patriota e defensor da nação, ao longo da entrevista todos os que gostam de assuntos estratégicos veem de forma clara que as Forças Armadas brasileiras hoje estão em situação de mendicância, em se tratando de poder militar contra algum possível invasor estrangeiro, coisa não desprezível nos dias de hoje. Pior ainda, quem conhece a realidade dos quartéis sabe que em muitas unidades, soldados com famílias na cidade do quartel almoçam em casa para que o Exército possa gastar menos. Percebe-se claramente que uma estrutura militar que desceu a tal ponto nem mesmo suas cidades consegue defender de inimigos internos. Um claro exemplo foi a falsa "retomada" dos morros cariocas pelo Estado, tão mistificada e celebrada pela imprensa com a subida de tanques do Exército e da Marinha no Rio de Janeiro, para desalojar traficantes, que apenas mudaram de lugar e continuam com o tráfico sem maiores problemas, enquanto que todo o aparato bélico apenas voltou para os quartéis sem nada fazer e nem nada garantir. Serviu apenas para os governantes do Rio dizerem para a FIFA que o trabalho de casa estava sendo feito. Nada poderia ser tão humilhante para os militares brasileiros quanto esse papel.
Com esse pano de fundo, a entrevista do General Heleno versou sobre a Amazônia e problemas de equipamentos do Exército. Com profundo respeito pela postura desse militar, o que os telespectadores perceberam foi que ele falava em nome de guarnições senão famélicas, ao menos miseravelmente a pé, tal o estado de desmonte dos sistemas de transporte em massa de soldados, coisa impensável na selva amazônica, onde a maioria dos ônibus e caminhões em certas estradas chegam a levar um dia inteiro para andarem uma mísera centena de quilômetros devido ao estado de abandono das estradas. Essas mesmas estradas seriam usadas no caso de necessidade do Exército reagir a um ataque estrangeiro. Ou seja, hoje em dia, a própria selva amazônica é um elemento de contenção dos soldados brasileiros, que se fossem responder a um ataque, se veriam enrolados em cipós e matas fechadas com seu deslocamento rápido completamente anulado.
Dispõe o Exército de velhos blindados de transporte pessoal tipo M-113, boa parte deles veteranos da Guerra do Vietnã, caminhões Mercedes brasileiros, jipes Toyota japoneses e Land Rovers ingleses numa total despadronização de equipamentos de transporte. Os velhos tanques vendidos ao Brasil nas décadas de 70 e 80, apesar de bons também tem limites para avanço numa selva. Em todo caso não iriam a lugam nenhum nessas estradas e os soldados permaneceriam dentro deles sem mais nada a fazer do que patrulhar o perímetro próximo. Para aumentar ainda mais a sensação de espanto, o próprio general admitiu no programa que o sistema de comunicaçães militares amazônico é tão precário que muitas vezes ele usava o celular para conseguir se comunicar. Um general de um exército com uma missão de defesa continental e que pode ter a surpresa de ao tentar dar uma ordem, receber o aviso de seu celular está fora de área. Para não sujeitar nosso Exército a maiores humilhações, melhor nem entrar no éxame da situação de sistemas de artilharia, transporte aéreo, cobertura por força aérea própria e vigilância por satélites, simplesmente inexistentes.
Se é para dar uma esperança, falsa aliás, sobram tanques M-41 da década de 60 e alguns tanques M-60 recentemente comprados pelo exército brasileiro. Alguns desses modelos hoje são usados como alvos para mísseis em testes nos Estados Unidos. Com quase 1.400 blindados obsoletos espalhados pelo Brasil, boa parte sem funcionar, vemos que hoje o território nacional é uma casa de portas abertas para qualquer invasor estrangeiro. Só para uma comparação, somente para a defesa de seu território os americanos contam com mais de 8.000 blindados modernos e funcionando. Esse número não inclui os blindados em uso pelo exército americano em operações estrangeiras e nem se contam aqui os que saem das fábricas mensalmente. É provável que não tenhamos sido invadidos porque nas privatizações boa parte das províncias minerais amazônicas passou para a mão de estrangeiros através da venda a preço de ocasião. Chegava mesmo a ser tragicômico ver anúncios do Exército Brasileiro na televisão falando de tropas preparadas para a defesa do território nacional e depois o noticiário sobre mais uma compra de reservas minerais por estrangeiros.
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Em todo caso a grande responsável pelo desmonte das Forças Armadas brasileiras foi a classe política brasileira, que tendo causado um prejuízo de incontáveis bilhões de reais desde 1985, não só não se cansa de reincidir nos seus crimes, como também a cada dia que passa coloca em risco a sobrevivência do Brasil como o conhecemos, como território constituído nesses 8 milhões de quilômetros quadrados tão duramente conquistados e que por incompetência e e corrupção contumaz de seus políticos, verdadeiros traidores da nação, está cada dia mais em grave perigo.
Restaram homens como o General Augusto Heleno, com suas críticas fundamentadas contra a política indigenista, ponta de lança da entrega de territórios brasileiros a estrangeiros e também civis preocupados com essa situação, que ajudam no possível com suas idéias. Temos que reconhecer, que como brasileiros estamos acuados em nosso próprio território. Até mesmo para dar a entrevista o general teve que transitar por estradas onde empresas com participação estrangeira lhe cobraram pedágio. Parece que a missão de defesa do solo nacional pode ser mais bem descrita como uma abstração do que uma realidade.
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Apesar reconhecermos o esforço, a dedicação e o preparo dos soldados brasileiros na Amazônia, mais ainda na figura do General Augusto Heleno, temos que nos lembrar das palavras de Anton Zischka, que observou várias guerras ao redor do mundo e até mesmo previu a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Ao observar a sempre certa vitória de tropas com mecanização superior em vários confrontos na Europa, ele não deixou de observar a coragem e determinação de exércitos vencidos. Mas observou igualmente que se a coragem pode muito, a coragem movida a gasolina pode muito mais. Foi assim que ele viu as vitórias avassaladoras de tropas blindadas alemãs contra oponentes que ainda lutavam a cavalo ou a pé.

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