domingo, 17 de julho de 2011

P74 O navio português

Currículos e referências primeiro...
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Nos dias de hoje segue sem maiores novidades o rumo do que podemos chamar de navio da economia portuguesa. Se por um lado parece surreal a imagem de um navio encravado em terra firme, esta seria uma navegação segura para os portugueses. O problema é que lá vem tempestade e faltam botes e bóias para os passageiros abandonarem o navio. Enfim, tendo zarpado junto com a comunidade econômica européia há alguns anos, esse foi o rumo tomado.
É um caso de estudo no qual o Brasil deve se mirar pois não está longe disso, apesar da alegria reinante com dinheiro emprestado, na mesma festa que hoje chega ao fim para os portugueses. Com instituições cópia das portuguesas, a capacidade de mudar e de reagir a qualquer imprevisto se anula a cada dia, se não houver uma mudança radical na estrutura política do Brasil. Enquanto isso, para Portugal, se o cenário já era desolador com a admissão pública da incapacidade para saldar suas dívidas e pedido formal de socorro aos outros países europeus, agora com os problemas financeiros do governo americano, no navio português todos veem que além do naufrágio iminente, falta de botes e bóias, ainda por cima aparecem tubarões no mar.
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Com uma história de lamentáveis 8 séculos de persistência no mesmo sistema político viciado, do qual aliás o Brasil é um dos mais dignos herdeiros, haja visto a espantosa corrupção que a todos hoje assombra por aqui, Portugal e os portugueses, seja lá como for, acharam que estava de bom tamanho viverem sob a égide de um sistema político atrasado, retrógrado e acostumado a viver da pilhagem sistemática de povos colonizados, sempre mais fracos é claro. As guerras de conquista coloniais de Portugal contra os povos africanos sempre tiveram essa marca: um moderno poder bélico sempre voltado contra tribos que ainda mergulhadas numa vida pre-histórica caíam fácil sob as balas das armas portuguesas, compradas dos ingleses, franceses, alemães e outros que tivessem as indústrias e fábricas que os portugueses não tinham. Vale lembrar que até pouco tempo atrás, a cortiça plantada em Portugal era industrializada em outros países de onde voltava como rolha para suas garrafas de vinho.
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As guerras coloniais de Portugal sempre tiveram essa triste marca, a qual procuram não comentar. Guerra de conquista contra a Alemanha ou mesmo contra a Espanha, um pouco menor? Nem pensar. Melhor dar tiros de canhão em aborígenes que pensavam que lanças e flechas eram a última palavra em armamento e que foram aprender o que era a pólvora com os tiros que levaram. Enquanto isso, do século 12 ao século 20, seguia a modorrenta vida de exploração de plantações de cortiça, uvas e oliveiras, com o que Portugal reafirmava seu modo de vida voltado à exploração cruenta dos povos colonizados, enquanto que entregava a seu próprio povo migalhas do que conseguia no exterior através das colonias conquistadas com sua esquadra. Na verdade eles já chegavam nas colônias com saldo devedor para ingleses, de quem compravam as armas e para holandeses, de quem arrendavam os navios. O que sempre foi saque, assassinato em larga escala e tráfico de escravos sempre foi mais palatável contar nas aulas de história de ginásios como gloriosa saga de exploração colonial.
Apesar de uma alentada produção vinícola, tanto hoje como naqueles tempos, barris e mais barris de vinho estavam muito longe de pagar tudo o que deviam aos povos mais cultos, progressistas e industrializados daquela época. Pior ainda, os exploradores portugueses, além de chegarem devendo para holandeses e ingleses ainda hoje seus credores, já deviam dinheiro também para a corte portuguesa que sustentava sua opulência com os impostos cobrados do que viessem a conseguir de ouro e pedras preciosas, sobre o que também tinham que pagar a sua parte para o braço português da igreja católica. Uma situação triste mesmo.
Parece incrível que os portugueses tenham chegado novamente por terras brasileiras com a onda de privatizações que se seguiu com o governo FHC a partir de 1995, onde nenhum pouco de indústria ou trabalho foi preciso para que saíssem lucrando e muito. Basicamente nessas privatizações, um alto funcionário do governo brasileiro dizia que estava em condições de vender por um preço de liquidação tudo o que o povo brasileiro tinha passado 20 anos construindo e pagando. E é claro, esse funcionário, à semelhança do corrupto Major Sandro do filme "Tropa de Elite 1" dizia que quem quer rir, tem que fazer rir, se é que o entendiam. Claro que o entenderam.
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E assim, somente com a tradição de colher cortiça, engarrafar vinho e enlatar azeite, Portugal, do dia para a noite se tornava proprietário de redes de telecomunicações das quais não havia levantado um poste e nem sequer estendido um fio que fosse. Exultantes e arrogantes, chegavam os portugueses, sentindo-se superiores em tudo, pisando a terra do Brasil como a velha colônia que na verdade sempre deveria ter sido. E recomeçava a transferência de dinheiro da antiga colônia para a velha metrópole, sempre velha em seus hábitos e costumes nada elogiáveis.
Ao mesmo tempo em que fazia isso, qualquer um que fosse estudar a história de Portugal veria que se existem símbolos e marcas de cortiças, vinhos e azeites em profusão, nenhuma marca, nada mesmo existe que indique alta tecnologia, adquirida por conhecimento próprio e avançado em ciências exatas, laboratórios de eletrônica, física e engenharia que andem passo a passo com os mais modernos laboratórios do mesmo tipo alemães, ingleses e holandeses, para não dizer americanos, que com 6 séculos a menos de história até mesmo colocaram o primeiro homem na Lua.
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Existem apenas entidades centenárias que cultivam em grande parte todos os vícios que conhecemos por aqui, deixados como herança pelos antigos colonizadores portugueses. Vícios políticos que por sinal são a única forma de vida da estrutura política que aceitam como instituição nacional. Vícios de educação, onde é privilegiada a formação intensiva de bacharéis que em nada contribuem com o país, a não ser com a malandragem e esperteza institucionais, ou seja, com a redação de leis destinadas a apenas enganar seu próprio povo.
Não podia dar outra coisa. Enquanto durou a festa do dinheiro emprestado da comunidade econômica européia, Portugal foi às compras. Agora que o dinheiro europeu acabou, exatamente como nos tempos em que perdeu o rendimento que vinha de suas colônias, Portugal se prepara para afundar. Até mesmo foi ensaiado um primeiro e discreto pedido para a recém eleita presidente Dilma, que desconversou já que estava mais para fazer negócios com os chineses que tinham muito mais a oferecer. Pedir dinheiro para uma ex-colônia é o ponto mais baixo para uma ex-metrópole. Sem contar que Dilma deixou claro que estava com os cofres empenhados em coisas inúteis tal como o trem-bala, o mesmo que Portugal mandou construir e que hoje está abandonado por lá, enquanto que em imensas rodovias que estariam mais bem situadas na Alemanha, trafegam alguns poucos carros e enquanto os motoristas pagam caros pedágios, o governo português pensa em como vai pagar tudo o que foi construído sem saberem ao certo porque.
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Alheio a tudo isso, o ex primeiro ministro José Sócrates, dirigente que levou Portugal a esse buraco, há poucos dias mudou-se para a França e disse que sua nova residência em Paris é para estudos de filosofia. Formado em engenharia civil, a mudança dele vem bem a calhar já que saiu a notícia de que o novo governo português admitiu publicamente o desvio de mais de 2 bilhões de euros de contas públicas, equivalente a 4 bilhões de reais, o que deixa os países que ajudaram Portugal com 73 bilhões de euros propensos a não dar mais ajuda nenhuma.
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Sem outra alternativa, os portugueses que antes olhavam os imigrantes brasileiros com uma ponta de desprezo, hoje se veem na contingência de chegarem não só no Brasil como também em outros países como imigrantes, levando currículo e referências para candidatarem-se a empregos.
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Com o navio português prestes a afundar, todos gritarão como palavras de ordem currículos e referências primeiro, mulheres e crianças depois. Em caso de cairem na água mesmo, resta ainda fazer como o herói literário Camões, que segundo a lenda, ao escapar de um naufrágio nadou com um só braço e segurou seus manuscritos com outro até chegar em terra firme. Haja braço para isso no mar agitado dos dias de hoje.

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