terça-feira, 30 de março de 2010

P30 Construção

Um exemplo a ser lembrado...
Ontem, acessando como sempre o bilogue "Promotor de Justiça" fui lendo os textos novos e percebi que junto do último comentário que eu havia deixado no texto que cita uma obra de Monteiro Lobato havia um comentário a mais. Fui ler para saber da opinião do leitor sobre os personagens que este genial escritor brasileiro criou. Foi uma grata surpresa.

Escreve-me um leitor anônimo da cidade de Sobral no Ceará achando interessante os pontos de vista que deixei no comentário que fiz. Eu o agradeço pelo que disse, mas mais do que isso, seu comentário se tornou para mim tocante pelo que diz, pelas atitudes que toma. É uma verdadeira declaração de coragem, de lucidez e acima de tudo de estoicismo frente às coisas que ele vê e que nós cidadãos de outros pontos desse Brasil também vemos diariamente. Mais do que ver, sofremos no fim das contas.

Morando na periferia de Sobral, presencia ele as cenas habituais de bairros com todos os problemas que vemos hoje afligindo os moradores das cidades brasileiras.

Mas deve ser destacado o que ele diz. Que presenciando as coisas que tornam a vida do cidadão comum mais aflitiva, ele se entristece. Está aí um sentimento que o torna diferente de muitos que hoje, alienados por uma série de circunstâncias, não veem ou preferem não sentir mais qualquer dor que seja pelo dia a dia que presenciam.

Mas o leitor de Sobral sente-se triste e por vezes se deprime com o que vê. Entendo seus sentimentos. E o elogio profundamente por ainda ter a capacidade de sentir as coisas assim, de observar a realidade, mesmo que dolorosa e em seu íntimo sentir-se motivado a fazer o melhor pelas outras pessoas que vê em situação desoladora. No Brasil de hoje poucos são os que ficam tristes com as coisas que vemos, com a nossa nação tão por baixo, apesar do retrato feliz que a imprensa brasileira procura passar, como sempre querendo agradar a quem está no poder. Grandes obras são vistas e propagadas enquanto que o que acontece nos cruzamentos de trânsito, nos bairros mais humildes, nas ruas, tudo isso fica em segundo plano, como pessoas de fora de um grande banquete, contidas por uma cerca e ignoradas pelos festivos governantes em seu repasto de verbas desviadas.

Nos dias de hoje, quando pessoas esclarecidas andam pelas ruas sem nenhum constrangimento com copos de bebida nas mãos, considerando o alcoolismo como comportamento civilizado, quando administradores políticos destroem livros, quando magistrados sentenciam em causa própria provocando a ruína do cidadão ou seja, quando toda a trama social se desfaz na nossa frente, tudo isso é mesmo para entristecer, para deprimir.

Por isso é de se destacar o que diz o leitor de Sobral:

"...porém em meu mundo particular, busco refúgio nos poucos livros que tenho, não para esquecer do que está acontecendo lá fora,mas sim para primeiro munir-me de conhecimento para auxiliar os que são estimulados a não desenvolver uma visão de mundo que os faça melhorar suas condições de vida, em todos os seus aspectos."

No outro mundo além desse, Monteiro Lobato não poderia estar mais feliz, mais reanimado ao ler essas palavras, ao tomar ciência do testemunho desse cidadão, que com seus livros, procura continuar a construção de sua consciência cívica, de sua postura de brasileiro que faz por merecer o caminho dos grandes vultos que tivemos em nossa história, em que pesem os dias atuais, quando de forma esmagadora faz-se verdade o profético ditado de Rui Barbosa:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

Mais do que nunca deve ser admirada a atitude do leitor de Sobral, que mesmo cercado por uma realidade que entristece qualquer cidadão, procura com seus livros, como ele mesmo diz, munir-se de mais conhecimento para fazer o melhor possível para poder ajudar o povo de sua nação, para tentar melhorar esse Brasil de hoje.

Existe mesmo uma vida após essa? Então Rui Barbosa sabe que cidadãos como o leitor de Sobral não estarão sozinhos na luta por melhorar tudo o que está errado. Monteiro Lobato sente que a frase que nos legou de que "Um país se faz com homens e livros" mais do que nunca retoma vida.

Mais do que um simples observador dos dias de hoje, o leitor de Sobral é no fundo, acima de todas as dificuldades, um exemplo perfeito do que entendemos como verdadeira cultura e lealdade ao que há de melhor em sua nação.

Com sua capacidade de observação e com seu altruísmo, dia a dia torna a si mesmo uma construção de tudo o que é melhor para esse sofrido Brasil de hoje.

sexta-feira, 19 de março de 2010

P29 Renovação

Pela força...

Para o observador atento nada tem sido mais desolador do que olhar de forma cuidadosa o panorama político do Brasil atual. A palavra política aqui tem uma abrangência significativa. Me refiro ao que podemos congregar nessa palavra como um todo para retratar uma nação, ou seja, o executivo, o legislativo, o judiciário, a sociedade como um todo.

E o retrato que emerge desse olhar é uma completa e desoladora ruína moral, que espelha de modo incontestável a situação desses poderes no Brasil. É no meio dessa ruína além de moral, humana, que habitam por assim dizer seus membros. Já acostumados com essa habitação que lembra mais a dos fantasmas dos contos de terror, aos poucos foram se moldando aos locais onde moram.

De forma espantosa, como no romance de Franz Kafka, "A Metamorfose" foram tornando suas mentes e seus hábitos tão parecidos com as ruínas que hoje, ruínas e moradores, fantasmas e pedras espalhadas são indistinguíveis. Em seu romance surrealista, Kafka narra o momento assombroso em que o personagem Gregor Sansa percebe que havia se transformado numa barata.

De forma semelhante, os membros desses três poderes no Brasil de hoje também se transformaram em insetos. Mas por vontade própria. No conto de Kafka, Gregor Sansa, abismado, percebe sua horrível metamorfose, da qual sequer sonhara em seus piores pesadelos e pede socorro para retomar a forma humana. Já os membros dos nossos três poderes voluntariamente foram se deixando levar por essa metamorfose que nada mais é do que se tornarem naturais habitantes da paisagem política criada pela infame constituição de 1988, que é cantada em prosa e verso pelos formas de vida parasitárias que por ela foram criadas e que às custas do Brasil e do sangue do povo brasileiro vivem.

Nada mais natural do que a farsesca "constituição cidadã" ter-se tornado apenas um chão fervilhante de insetos políticos dos mais repugnantes, alguns alçando voos aqui e alí. sendo por assim dizer, seus bem adaptados habitantes, em especial os que se regalam com as maiores alturas nesse meio institucional, que por ora temos que aguentar com extrema náusea. Bem, uma barata voa e crê que seu voo alcança ápices gloriosos para a natureza e no entanto continua sendo uma barata.

Não poderia ser de outra forma. Urdida por uma das mais infelizes e corruptas assembléias constituintes que o Brasil já presenciou, chamada por seus poucos críticos de "assembléia prostituinte" tudo mostra que nesses 22 anos de existência a tão falada "constituição cidadã" pode, em vista de tudo o que tem produzido de insetos políticos, ser de hoje em diante chamada de "prostituição cidadã". Assim ao menos a atividade a que se dedicam seus membros se torna mais específica para comentários e reflexões. Continua porém a repugnância de sua metamorfose, voluntária e desejada para se adequarem a esse meio onde vicejam.

Porém mesmo a natureza como a conhecemos, além da política propriamente dita, tem seus mecanismos de limpeza. Um deles é expresso pelo ditado "Ignea Natura Renovatur Integra" que significa que "Pelo Fogo a Natureza Inteira se Renova". O Brasil de hoje, em que pesem os cantantes meios de imprensa, sempre vendidos ao poder, se assemelha a um imenso galpão onde o cheiro de gasolina é mais do que perceptível. Uma fagulha, dessas que a história dos povos sempre faz surgir e tudo voa pelos ares. E com as chamas desaparecem essas repugnantes formas políticas que hoje infestam esse país.

O certo é que por bem, essas pragas jamais irão embora. Que seja pela força então.