terça-feira, 26 de junho de 2012

P105 Sempre amigos

Apenas negócios, nada pessoal...-
Na lógica do poder nos dias de hoje, está em jogo para as próximas eleições a posse da cidade de São Paulo cuja prefeitura dará ao partido vencedor a administração de um orçamento estimado em 20 bilhões de reais. Antigos inimigos políticos e ideológicos hoje se confraternizam, esquecendo das diferenças em nome de alianças que refletem bem o clima de vale-tudo para pegar esse dinheiro, no fundo a verdadeira razão de tais alianças.
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Em 1982, durante uma de suas primeiras tentativas de se apresentar como moralizador e reformador da política nacional, Lula ironizava as perfurações de prospecção de petróleo feitas por Paulo Maluf na Paulipetro, que na verdade ao custo de milhões de dólares para o contribuinte paulista serviam apenas de mostruário de vitrine política. Lula então dizia que Paulo Maluf cavava bem fundo não para achar petróleo mas para ver se achava vergonha na cara. Hoje, 40 anos depois abraça fraternalmente seu ex adversário político e ideológico e os dois dizem que "os tempos mudaram" e selam uma aliança para empurrar para a frente a candidatura do petista Fernando Haddad, tão inexpressivo quanto uma lápide de cemitério, que faz por enquanto o mesmo caminho que fez Aloízio Mercadante de mesma palidez política.   
 

Tempos mudam, adversários se reconciliam, mas se existe a distinção do que é certo e do que é errado, do que é leal e do que é desleal e de proteger uma comunidade, uma cidade, uma nação, então passe o tempo que passar, alianças com pessoas, erradas, desonestas e desleais jamais serão feitas. A não ser que apenas o tempo tenha passado e hoje os que se abraçam tenham sido sempre iguais, apenas tinham diferenças quanto aos negócios, oportunidades e lucros, que sempre chamaram de "política".
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Enquanto isso o que se vê é o abandono de cidadãos de todas as cidades e idades, que deveriam ser protegidos pelo poder público e por ele são saqueados. Doentes agonizam em salas de espera de hospitais públicos, outros morrem na calçada mesmo. O poder executivo pouco se interessa por isso, aparecendo apenas com discursos de ocasião, o poder legislativo apenas legisla no sentido de agravar as diferenças e mazelas sociais em proveito próprio, no que não fica atrás o poder judiciário, como ficou claro no caso dos precatórios que não são pagos, enquanto seus membros concedem a si mesmos indenizações milionárias, sempre retroativas a anos passados, sob as mais diversas justificativas de auxílio moradia, transporte, roupas, livros e tudo mais, em total falta de decência, honestidade e lealdade para o cidadão comum.      
Enquanto isso, dentro dos presídios, uma realidade desesperadora retira dos presos qualquer chance de cumprirem suas penas num ambiente que ao mesmo tempo que deveria ser duro e cobrar a falta cometida, longe disso submete-os a uma verdadeira tortura que já se iguala à realidade dos campos de prisioneiros nazistas, tendo se tornado o sistema penitenciário brasileiro numa fábrica de loucos homicidas, com a complacência dos três poderes que deveriam zelar para que outro fosse o destino dos prisioneiros.
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A mais atual análise do que hoje é o sistema político brasileiro e sua lógica de poder, está perfeitamente descrita num pequeno trecho do Manifesto do Movimento Tenentista de 1924, que apesar de ter sido escrito há mais de 80 anos, descreve com perfeição o que é ser político nos dias de hoje no Brasil:
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"...O Brasil está reduzido a verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens e estabelecendo-se como condição primordial, para o acesso ás posições de evidência, o servilismo contumaz, que movendo-se pela mola das ambições, cada vez mais se generaliza, constituindo fator de degradação social. O povo ficou reduzido a uma verdadeira situação de impotência, asfixiado em sua vontade pela ação compressora dos que detém as posições políticas e administrativas. Dispondo de material bélico moderno contra o qual os cidadãos inermes nada podem fazer, os dominadores tem-lhe coartado a manifestação da vontade pelas urnas, órgão legítimo pelo qual a soberania popular se exerce nas democracias..."     
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Tal é a situação de degradação que vivemos hoje em dia, sob as alegres falas da mudança dos tempos. Vemos uma presidente, que com um passado de esquerdista combatente, hoje se abraça com latifundiários e que dizia em seu discurso de candidatura "que os tempos mudaram", vemos antigos inimigos ideológicos hoje se abraçando com a mesma fala de "mudança dos tempos" e vemos que na verdade, em todo esse tempo o que não mudou mesmo foi o caráter servil e falso desses políticos, que se apresentam como pretensos reformadores da política. Continua atual o Manifesto dos Tenentes de 1924.
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quarta-feira, 6 de junho de 2012

P104 A lógica do poder

Uma lógica sempre perversa...
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Ao longo das últimas semanas, desenrolou-se uma série de acontecimentos que tem mostrado de forma inequívoca que toda a estrutura de poder no Brasil se orienta, é montada e vive por uma lógica perversa de dominação, disfarçada de "estado democrático de direito", nome apenas para uso de propaganda de todo esse sistema de poder, que pretende disfarçar assim vícios e prostituição política com o nome de "democracia".
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O termo da lógica perversa foi levado ao conhecimento dos brasileiros pela presidente Dilma, tentando fazer o papel de grande heroína da cena política ao anunciar a baixa dos juros por decreto e de forma política. Na verdade tenta junto com seu ministro da Fazenda, fazer frente à crise financeira que já se torna visível no horizonte, crise que é na verdade resultado do descalabro de corrupção, de vícios políticos seculares e do apoio do seu partido a toda essa deformidade política que hoje é chamada de "estado democrático de direito" para maior conveniência dos estelionatários políticos, presentes em todas as esferas do poder nacional.    
Isso não é exclusividade da atuação presidente Dilma nem de seu antecessor que vivia de falácias, nem de seu partido. Ela e ele são apenas outros membros que hoje no poder se dedicam a manter viva essa estrutura que lentamente devora a vida dos cidadãos brasileiros e que destrói aos poucos a própria nação brasileira.
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Essa lógica perversa foi zelosamente seguida pelos seus antecessores de outros partidos, que com discursos de "democracia" e "modernidade" ajudaram na construção de fortunas particulares, na ascensão do crime até mesmo dentro das esferas do legislativo e do judiciário, na entrega de riquezas nacionais a estrangeiros, resultando daí o surgimento de uma nova classe de banqueiros, antes funcionários graduados que redigiam as diretrizes das privatizações em anos recentes e que de um cargo público estratégico saltaram para a propriedade de bancos de negócios. Melhor dizento, assaltaram o patrimônio nacional, construído em décadas de trabalho duro e tudo sob as vistas complacentes do executivo, do legislativo e do judiciário, sempre sob o disfarce de "normalidade democrática" e "modernidade".   
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Hoje a nação brasileira vive esse drama de presenciar dia a dia a sua própria destruição sem poder se defender. Ao longo dos próximos textos será debatido esse estado de coisas, dessa lógica perversa do poder, inicialmente com um texto histórico, o Manifesto do Tenentes, que escrito em 1924, é um verdadeiro retrato das coisas que acontecem nos dias de hoje.
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