domingo, 11 de março de 2012

P97 O bumerangue

É apenas questão de chance...
Para os soldados americanos, a guerra moderna é apenas um vídeogame, onde os inimigos são apenas imagens na tela.
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Em janeiro de 2012, soldados americanos protagonizaram uma cena que além de envergonhar qualquer combatente pelo mundo afora, deixou claro que as tropas da coalizão ocidental que hoje combatem no Afeganistão nem de longe tem o que se pode chamar de postura de combatentes. Urinando sobre os corpos de soldados talibans que haviam matado, deixaram claro que o pensamento dos soldados americanos de hoje é o mesmo de adolescentes jogando um vídeogame de guerra, onde os inimigos são apenas imagens na tela. Houve um tempo em que os soldados americanos tinham outra postura e talvez essa postura de combatente tenha sido exercida pela última vez na 2ª Guerra Mundial.
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O vídeo da cena filmada por eles mesmos foi divulgado na Internet e acima de tudo exaustivamente exibido pelos grupos radicais islâmicos, que a cada ato desses cometidos pelos soldados americanos, ficam com mais argumentos para qualquer pregação anti-ocidental e mais simpatia e adeptos conquistam em muitas regiões do Oriente Médio. Manifestações aconteceram em todos os países nítidamente anti-ocidentais e anti-israelenses, já que desde 1948 Israel barbariza toda a região com o poder militar que os americanos lhes dão. Por si mesmo, esse pequeno país não tem força militar nenhuma.
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Continuando com seus atos mais de loucura do que de provocação de um grupo inimigo, em fevereiro os americanos queimaram milhares de exemplares do Alcorão, o livro sagrado dos islâmicos, ação que também foi intensamente aproveitada pelos radicais islâmicos e nas manifestações que se seguiram mais de 20 civis afegãos terminaram mortos nos tumultos ocorridos com policiais afegãos e soldados americanos.

Soldados talibans a pé com sapatos comuns, mal equipados, mal alimentados, usando armas do tempo da União Soviética e inflingindo baixas enormes contra os soldados americanos, que bem equipados, bem armados e com vasta rede de transporte e comunicações, estão mais na defensiva do que na ofensiva
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Na verdade, fazendo a comparação entre os soldados talibans pobres e famélicos e os soldados americanos ou mesmo ocidentais bem armados, bem alimentados e apoiados por vasta rede de transportes, apoio aéreo e de artilharia, vigilância por satélites e há 11 anos sem conseguir dobrar a vontade de combater dos talibans e tendo presenciado a quase morte do movimento depois dos milhares de toneladas de bombas jogados no Afeganistão em 2001, a pretexto de vingar o ataque às Torres Gêmeas, cuja culpa o governo americano colocou nos afegãos, os americanos assistiram estarrecidos nos últimos cinco anos ao ressurgimento do movimento com atentados, ataques e emboscadas que custaram muito caro aos soldados americanos. Tornam-se simplesmente incapazes de explicar tamanha capacidade de combate de soldados esfarrapados contra soldados que tem até mesmo câmeras de vídeo em seus capacetes e não conseguem dobrar a resistência do inimigo. No mínimo vergonhoso.
Ódio aos ocidentais e ao Ocidente em si, acabando com qualquer chance de diálogo, foi tudo o que os americanos conseguiram fazer com essa guerra
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Para piorar, neste mês um soldado americano saiu de sua fortificação e fuzilou mais de 17 civis em aparente estado de loucura, o que só piora a cada dia a situação, enquanto a data limite de retirada dos soldados ocidentais se aproxima.
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Lembrando dos tempos em que os ingleses foram massacrados no Afeganistão em 1842, quando apenas um sobrevivente retornou de uma coluna de mais de 15.000 soldados, ao que tudo indica nos tempos modernos o modo e a ferocidade do combate dos afegãos, seja naquele século como nos dias de hoje não mudou. O que salva os ocidentais de uma derrota total é apenas a capacidade de se defenderem em posições estáticas enquanto contam com apoio aéreo contínuo e mesmo assim sofrendo baixas pesadas, como a da unidade de elite Seal americana, que em combate com um grupo de talibans, teve mais de 20 soldados mortos e um helicóptero pesado derrubado simplesmente caindo numa armadilha de um grupo taliban, como sempre pequeno, equipado com armas leves, mal vestido e mal alimentado, mas com uma capacidade suicida de combate.
Russos hoje dão o troco da ajuda que os americanos deram aos combatentes afegãos durante a década de 80, quando então os americanos os chamava de "combatentes da liberdade"
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Depois de sangrarem por 11 anos com as mesmas baixas no Afeganistão de 1979 a 1989, os russos hoje deixam que armas leves como fuzis e foguetes anti-tanque e anti-aéreo como o RPG-7 cheguem às mãos dos talibans. São apenas negócios de "empreendedores" que botaram as mãos em incontáveis estoques de armas russas dos tempos da União Soviética, mas que servem de troco pelas baixas que os russos sofreram quando os talibans tinham todo o apoio recebendo armas americanas e acima de tudo recebendo o míssil anti-aéreo Stinger, que derrubou dezenas de helicópteros soviéticos, a tal ponto que suas incursões aéreas começaram a ser feitas em grande parte à noite. Naquele tempo nem eram talibans, eram mujahedins, que lutavam contra tropas soviéticas e eram saudados pela mídia ocidental como "combatentes da liberdade". Hoje essa mesma mídia os chama de "terroristas". Já o soldado que fuzilou 17 civis foi descrito apenas como "um soldado em crise nervosa".
Militarmente superiores e no entanto acuados por um grupo de insurgentes que não pára de crescer, estimulado pela reação contra os ocidentais
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Hoje o soldado ocidental, a despeito da enorme bagagem do que deveria ser um comportamento civilizado que deveria se refletir nas frentes de combate, apesar da ferocidade e selvageria do combate em si, onde o instinto de sobrevivência rebaixa qualquer comportamento humano a uma luta animal, deixa muito a desejar até mesmo ao comportamento das tropas do Império Romano, que por onde passou, a despeito dos combates, conseguiu instilar nos povos vencidos toda a cultura que trazia consigo. Com o tempo, povos vencidos tornaram-se seguidores e admiradores dos romanos. Comandantes e soldados da época se aposentavam longe de Roma, tornando-se assim moradores das províncias conquistadas e ao mesmo tempo difundindo o conhecimento e a cultura conseguidas pelos romanos. Mesmo o livro de memórias do imperador combatente Marco Aurélio foi escrito em frentes de luta no ano 170 A.C. e traz em suas reminiscências noções de valor e comportamento que certamente fazem falta ao soldado ocidental de hoje.
Soldados americanos ambarcam em um helicóptero de transporte. Decolagem e aterrisagem, os momentos em que estão sujeitos a receberem um foguete anti-aéreo
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Incapazes mesmo, talvez pela forma de vida moderna, de darem outro tratamento a seus adversários, notadamente a população civil, totalmente indefesa, os soldados ocidentais de hoje deixam qualquer possibilidade de um futuro entendimento entre Oriente e Ocidente longe de qualquer realização maior. Diferentemente dos soldados americanos aclamados enquanto passavam com seus comboios empurrando de volta os soldados nazistas para a Alemanha, os americanos de hoje são odiados, suas atitudes nada mais fazem do que aumentar as levas de simpatizantes e recrutas dos movimentos radicais islâmicos e depois dos atentados nos EUA e na Europa, aprenderam a viver com medo até dentro de seus países.
Tanques modernos dos anos 2000, custando milhões de dólares são destruídos por mísseis russos RPG-7 da década de 90, que custam entre 1.000 e 2.000 dólares. Tripulações de nível quase universitário terminam mortas ou aleijadas por soldados famélicos e quase analfabetos
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Os soldados ocidentais e notadamente os soldados americanos encontram-se hoje às voltas com o golpe mortal de um bumerangue que eles mesmos criaram para que os combatentes afegãos de 1979 pudessem combater os soviéticos. Deram-lhes modernos equipamentos bélicos, ensinaram táticas modernas de guerrilha, deram-lhes noções de defesa e contra-ataque anti-aéreo, ensinaram-nos a usar mísseis de última geração e acima de tudo, deram-lhes fundos, até hoje mantidos pelos afegãos, que além disso passam tudo o que aprenderam com eles e nos combates com os soviéticos para os recrutas que entram em serviço nos dias de hoje.
Talibans, famintos, mal armados e mortais. Fazendo a comparação das tropas na proporção de instrução, recursos e vontade, os bem armados soldados ocidentais estão levando uma surra
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O cenário de combates vai continuar assim até a retirada dos ocidentais previstas para 2014, enquanto que o movimento taliban considerado morto depois dos bombardeios de 2001, praticamente ressuscitou a partir de 2005 e desde então não parou de conseguir adeptos. A invasão americana em 2001, descrita pela mídia ocidental como pacificadora e civilizadora, conseguiu apenas fazer com que os ocidentais e por extensão o Ocidente fossem vistos pela maior parte da população exatamente como veem Israel, como inimigos de morte e inimigos a serem atacados até mesmo além de suas fronteiras.
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Os novos adeptos dos insurgentes talibans gostariam de viver em paz, mas percebem que basicamente só lhes restou a opção de retornarem aos tempos medievais com armas modernas, já que esta é a única forma de combaterem os soldados ocidentais, que com sua arrogância, desprezo e atrocidades contra os civis só conseguiram essa resposta. É o caso de se perguntar quem retornou primeiro aos tempos medievais.
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Vellker
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