domingo, 29 de janeiro de 2012

P93 O ensaio do brado

Melhor seria o sussurro retumbante...
A Rede Globo exibiu na semana passada o último capítulo da série "O brado retumbante" onde foi contada a história de um presidente brasileiro, Paulo Ventura, que na condição anterior de deputado assume a presidência após um acidente com o presidente em exercício. Assumindo contrariado, sendo a última coisa que gostaria de fazer, cerca-se de bons assessores e termina deflagrando uma luta contra a corrupção sem paralelo nos dias atuais na presidência real, tanto atual como as passadas, que se guiaram sempre por uma idéia contrária.
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Mas a série e como não poderia deixar de ser uma estória contada pela Rede Globo peca e muito em labirintos e descaminhos que levam o personagem principal a ficar muito aquém do que poderia ter sido numa trama bem realista. É fácil entender que o roteirista da Rede Globo poderia fazer de tudo, menos contar certas verdades ou ofender certos personagens bem vivos, enfiados na política e mais ainda donos de emissoras afiliadas da Rede Globo, que estão unidos há décadas em amizade e socorro mútuos.
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Assim a estória que poderia ter trazido muito do que realmente é feito nos bastidores do poder se perde em intermináveis e contínuas estorinhas de amor, adultério, vai e vem de separações e reconciliações, enquanto que o poder mesmo e a capacidade de exercê-lo de forma a beneficiar a nação se dilui em ações ocasionais e de pouco impacto. Como é que a Rede Globo vai propor ou escancarar a caça às oligarquias políticas das quais sempre se serviu para transmitir e concretizar seus conceitos mais obscuros de política? Impossível. Daí as grandes ações do presidente passarem batidas em poucos momentos decisivos, enquanto que intermináveis namoros, romances e casos afins desfilam pelo enredo da série.
Pior ainda, aderindo ao discurso homossexual, o presidente se vê confrontado em transmitir para a nação o discurso de aceitação do filho antes homossexual e agora transexual, com a família toda reunida em lágrimas, enquanto seu antigo filho agora filha, chora emocionada, só faltando o discurso da Câmara de deputados pedindo o prêmio Nobel para a mais nova "mulher" brasileira. O esforço dos roteiristas para esvaziar a idéia e imagem de um presidente realmente empenhando em limpar a política brasileira desceu a níveis inimagináveis. Parece que hoje para ser roteirista de televisão, antes de ter a profissão registrada na carteira de trabalho, o candidato a isso precisa ter a carteirinha de algum clube gay.
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O trabalho dos atores foi muito bom, convincente mesmo, elogios para todos mas o trabalho dos roteiristas em enredar o espectador em uma trama caótica de namoros, casos, adultérios, num vai e vem que estaria melhor numa série romantica foi melhor ainda. Resta a certeza de que trabalhando para a maior emissora de televisão do Brasil e que sempre esteve ligada aos piores e mais nefastos clãs da oligarquia política do Brasil, para não dizerem o que realmente deveria ter sido dito e nem de longe ofenderem os amigos jornalistas enfiados em assessorias de imprensa para essas mesmas oligarquias, o trabalho deve ter sido muito bem pago. Se o dinheiro não foi parar na maleta, com certeza foi parar no roteiro. Nessa arte de aliciar colaboradores, o senador Floriano Pedreira interpretado por José Wilker, era mestre.
Como diria o presidente Paulo Ventura com suas finas observações, é, roteirista também coloca dinheiro na cueca.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

P92 Brincando de prefeito

O parque de diversões paulistano...
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Em uma tragicômica trapalhada, Gilberto Kassab pôde mais uma vez brincar de prefeito de São Paulo, enquanto que os paulistanos vêem cada vez mais motivos de arrependimento por terem brincado de eleitores, se bem que eles não tem nenhuma saída dessa situação. Nas eleíções eles tem as seguintes opções: na esquerda um trapaceiro, no meio um patife e à direita um desonesto. Fica difícil mesmo.
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Após o incêndio da favela próxima ao prédio do antigo moinho desativado, uma sequência de erros, incompetência e absoluto descaso com o dinheiro público resultou na agora histórica brincadeira de demolição do moinho e que vai ficar para sempre na memória dos paulistanos e dos brasileiros em geral, como motivo de riso e vergonha.
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Para melhor entender a brincadeira das crianças crescidas que fantasiadas de prefeito e engenheiros foram brincar de gastar dinheiro com 800 kgs. de dinamite, basta olhar o exemplo de competência e seriedade que foi a demolição do edifício Mendes Caldeira em 1975.
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Mas cabe observar algumas diferenças. Na época do regime militar, a implosão do edifício para a construção da estação Sé do Metrô além de cuidadosamente supervisionada pelo governo, foi dirigida por engenheiros americanos que acostumados a órgãos de fiscalização sérios e a uma justiça que realmente condenaria qualquer deslize deles, estavam também acostumados a trabalhar direito.
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E é o que se vê no registro da primeira implosão feita no Brasil, de uma perfeição e rigor impressionantes. Estrutura do prédio ainda nova, 30 andares, 500 kgs. de dinamite, centenas de pontos de aplicação de cargas de demolição cuidadosamente calculadas e ligadas a espoletas de detonação sincronizadas foram usados. O prédio foi demolido em 8 segundos e baixada a poeira os responsáveis pela demolição receberam todos os cumprimentos pela perfeição da implosão. Saíram dalí orgulhosos e vistos como mestres em seu trabalho. É só ver as imagens.


Em 2011, 36 anos depois, com a mais moderna tecnologia disponível, com melhores equipamentos de engenharia produzidos, com tudo o que se pode dizer de melhor em material de demolição, mesmo assim, com tudo isso à sua disposição, os técnicos arrebanhados pela prefeitura para a demolição do moinho ou não sabiam o que fazer com 800 kgs. de explosivo para demolir um velho prédio de 6 andares já abalado por um incêndio ou nem sequer tinham idéia de como agrupar toda essa carga de explosivo nos pontos certos. O negócio era acender o pavio logo, ficar longe e receber o dinheiro correndo. Feito o desastre, saíram dalí sob vaias e vistos no mínimo como estelionatários e sem a mínima coragem de dizerem que tudo aquilo era serviço deles.
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Na vergonhosa brincadeira de demolição, depois de baixada a poeira, quando todos viram que o antigo moinho havia sido apenas rebaixado para um andar a menos, qualquer um se pergunta como uma empresa com engenheiros que se dizem habilitados foi capaz de fazer tamanha trapalhada e ao mesmo tempo, vendo o vergonhoso fracasso da implosão ao custo de 3 milhões de reais, o prefeito Gilberto Kassab, fazendo questão de deixar seu nome registrado na história dos maiores trapalhões brasileiros, disse em tom de gente grande que "a implosão foi um sucesso". É só conferir nas imagens.