segunda-feira, 21 de junho de 2010

P40 Corações e máquinas

Corações de aço...
Após a reedição de textos sobre o conflito entre Israel e a Palestina, vejo nos jornais que um novo comboio de navios começa a ser organizado para tentar furar o bloqueio até a Faixa de Gaza pelo mar. É mais do que apenas mais uma vez Israel declarar através de seus porta-vozes que irá jogar toda força militar sobre esses navios. Não só a opinião pública mundial estará mais atenta como também começam a aparecer cada vez mais testemunhas do que já aconteceu e do que pode acontecer.

Causa pesar que os filhos de um povo que já esteve cercado no Gueto de Varsóvia durante a 2a. Guerra Mundial pelas tropas nazistas, não veja hoje nenhum erro em proceder como seus antigos captores, quando prendiam e executavam os que levavam alimentos para dentro do gueto de forma clandestina. Fica fácil para Israel acusar tudo e todos de terroristas, de chamar até crianças palestinas de terroristas também enquanto que em seus quadros de fotografias no Yad Vashem ou Museu do Holocausto em Jerusalém o papel das crianças judias quando conseguiam levar alimentos aos judeus cercados no gueto seja visto de forma diferente.

Para Israel nada há de errado em ser indiferente para com o destino de crianças palestinas perdidas em campos de refugiados ou atingidas em bombardeios contra populações civis, enquanto que ao mesmo tempo cobra de forma silenciosa lágrimas dos visitantes do museu ao verem fotos de crianças judias executadas pelos soldados nazistas. E que diferença existe entre estes pequenos corpos? Que diferença podemos ver entre os corpos de crianças judias mortas em 1943 por tropas nazistas que sabiam para onde atiravam e entre os corpos de crianças palestinas mortas por soldados israelenses em 2010, que também sabiam para onde atiravam? Que diferença terão as lágrimas então? Os israelenses acham essa comparação injusta, mas caiu no consenso do mundo.

Quando em 1948 se lançaram na hoje tão lamentada criação do estado de Israel, os judeus talvez nem por um instante imaginassem que o povo que varreram a fogo de metralhadoras da terra que diziam ser sua por direito divino pudesse se organizar em um exército de guerrilhas que sobrevive aos tempos e adota nomes que refletem seu extremismo. Diziam os sionistas que a criação de Israel era a destinação de uma terra sem povo para um povo sem terra. E os palestinos estavam lá porquê?

Uma cruel ironia da história esse modo de ver as coisas. O nazismo doutrinava seus soldados para verem como povo apenas o povo ariano, um povo eleito pelas suas virtudes proclamadas pelo regime. Os habitantes de outros países não eram um povo, eram apenas um obstáculo a ser removido pela força militar. O sionismo não pensa muito diferente. Terra apenas para o povo eleito, pelas suas virtudes auto-proclamadas e por um decreto divino. Quanto ao resto dos habitantes da região, apenas um obstáculo a ser removido pela força das armas, como ensinam aos seus soldados. Quem pode esperar a paz agindo assim? Vendo nos livros de história como terminou o nazismo, é pouco provável que o sionismo tenha um fim diferente.

Para Israel é fácil chamar o grupo palestino Hamas de grupo de terrorista. E o que era o Irgun no passado, na época da criação do seu estado? Um grupo judeu extremista que cometia atos de terrorismo contra os civis palestinos e as tropas britânicas em 1948, como no atentado contra o Hotel King David que matou 91 pessoas. Mas esses são diferentes, eram heróicos combatentes sionistas. Falar que eram terroristas estraga o cenário. Terroristas são os combatentes do Hamas, que faz a mesma coisa que o grupo judeu fazia em 1948. Mas aí é diferente. Enquanto isso crianças judias choram ao serem socorridas após mais um ataque de foguetes contra uma cidade israelense. E fazendo tudo o que fazem, os israelenses esperavam receber o que em troca? Dos dois lados, crianças são as maiores vítimas. Dos dois lados, pequenos feridos que viram a morte de um familiar ou de um amigo tornam-se radicais dispostos a tudo.

O que é mais impressionante em todo esse cenário é que aos poucos, como numa transformação silenciosa, em cada pessoa o coração vai se tornando de aço, tão igual como o das armas ou máquinas de guerra. Dos dois lados as batidas dos corações deixam de ser ouvidas como são.

Passam a serem ouvidas no ruído de uma metralhadora ou nos passos cadenciados da interminável fila de soldados suicidas que se apresentam contra Israel.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

P39 Sementes do ódio

Uma colheita amarga no futuro...

Em suas contínuas incursões contra os palestinos, Israel amarga hoje uma triste colheita. Todas as sementes plantadas no passado deram somente espinhos. Mas mesmo assim não existe entre os membros do alto comando militar israelense a idéia de tentar frutos da paz para o futuro. Enquanto continuarem a ter o apoio militar norte-americano, jamais irão plantar outras sementes. Aliás, o próprio Estado de Israel é fruto de uma semente que os americanos se arrependem amargamente de terem plantado no lugar que uma vez foi chamado de jardim do Éden. Texto publicado originalmente em 14.01.09 em
http://vellker.blog.terra.com.br

Os deuses vencidos

Divindades também caem...
Com a notícia do recente disparo de mísseis do território libanês, os israelenses levando em frente sua ofensiva na Faixa de Gaza prendem a respiração e o temor da abertura de uma nova frente de combate faz todos os estrategistas de Israel estremecerem. O custo que isso representaria em termos de soldados, equipamentos, baixas e uma nova onda de antipatia mundial, justo no momento em que o mais fiel aliado de Israel, o já quase ex-presidente George Bush não dá mais ordens é um cenário que deixa seus generais e políticos sem dormir.
O que os israelenses começam a sentir de forma cada vez mais desanimadora é que a onda de ódio que foram alimentando desde que se instalaram no Oriente Médio em 1948 a cada dia se torna mais e mais preocupante. Em última análise, Israel, como em 1973, pode apelar para seu poderio nuclear que nunca foi confirmado e ao mesmo tempo nunca foi desmentido pelos seus dirigentes, mas num cenário desses, a intervenção da Rússia e da China, em implícita ameaça de entrar num conflito desses não é nada desprezível. Em 1973, com o avanço das tropas egípcias, segundo antigos membros de serviços secretos, Golda Meir ordenou que 13 ogivas nucleares transportadas por aviões fossem colocadas ao lado dos aviões. Com os satélites americanos e soviéticos captando a radiação das ogivas e prevendo o desastre que isso poderia representar, em alguns dias conseguiram parar o conflito.
Hoje, com o cenário na região sempre mais tenso, pouco se pode fazer num caso desses. A Síria que nunca renunciou à sua decisão de reaver as colinas de Golan tomadas por Israel em 1967, países como o Líbano com seus radicais que cresceram a partir da ofensiva de Israel em 1982, onde após uma sangrenta ofensiva Israel provocou enormes baixas na população civil e ao mesmo tempo viu suas forças paralisadas nos combates de rua em Beirute, o crescimento de movimentos como o Hezbolah, Hamas e o crescente poder militar do Irã criam uma situação que nos permite entender porque os filhos dos judeus que emigraram para Israel hoje pensam em como sair de lá.

Apesar de acreditar que se defende, o cidadão israelense já começa a pensar que vai chegar o dia em que será impossível manter tantas frentes de batalha. Um país que apesar de sua invejável posição no campo da educação e avanços tecnológicos, não consegue entender porque desperta tanto ódio. Mesmo uma parte dos israelenses já começa a pensar que torna-se vital para seu futuro, para sua sobrevivência pura e simples reverem seus conceitos de estado, de religião, de nação, de relacionamento com seus vizinhos e acima de tudo retirarem do poder os líderes que no fundo sempre se guiaram pela visão religiosa, extremista e segregacionista dos rabinos ortodoxos, na construção do estado do Eretz Israel, que pressupõe, é claro, a recriação de Israel em fronteiras definidas pelos ortodoxos religiosos. Tal visão só pode conduzir para o desastre.
Os radicais islâmicos com a crescente influência e ajuda de homens no poder como Mahmoud Ahmadinejad, que viveu no Irã a guerra contra o Iraque na década de 80 trabalhando no serviço secreto iraniano e grande conhecedor de muitos dos segredos daquela região e que depois de sobreviver a tudo, se alicerça como um dos poderes militares que mais crescem na região e ainda por cima dá ajuda a esses grupos, as opções de Israel começam a ficar cada vez mais limitadas, se forem baseadas somente no confronto militar, que até hoje, em larga escala é sustentado pelo governo americano a fundo perdido de mais de 2 bilhões de dólares por ano, enquanto que os árabes, tendo perdido a limitada ajuda da União Soviética em 1991, continuam por seus meios a crescer em força militar. Nas milícias islâmicas até mesmo crianças já passam por treino militar, acreditando ser um dever quase sagrado o combate. No futuro de Israel, muito antes de ele chegar, já existem esses inimigos.
Hoje, em meio ao tumulto dos combates na Faixa de Gaza, com uma máquina militar imensa e que avança lentamente com o apoio de aviação e artilharia pesada, lutando contra radicais islâmicos que dispõem só do equipamento leve de infantaria, mas combatem sem cessar e ainda ao custo da própria vida disparam os mísseis que podem, no fundo, soldados e cidadãos de Israel sentem, sem nada dizerem, que uma guerra assim já é de antemão perdida. Mais dia menos dia, virá o acerto de contas, coisa que muitos israelenses tentaram avisar desde 1948 mas foram ignorados.
Resta a homens como Ehud Olmert e seus generais e soldados, nos momentos em que estão a sós com seus pensamentos, assistirem a tudo como deuses vencidos.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

P38 Professores e aprendizes

A lição aprendida justifica tudo...

Israel continua por esses dias a mostrar que seus ataques contra a população palestina sitiada na Faixa de Gaza parecem ter uma motivação mais profunda. Se fizeram comigo posso fazer com os outros. Por tudo que os judeus passaram na 2a. Guerra Mundial, os comandos militares israelenses agem como se tudo fosse possível. Militarmente é, mas humanamente não. Mas parece pouco provável que enquanto forem abastecidos pelos norte-americanos, que os israelenses venham a mostrar qualquer comedimento. Texto publicado originalmente em
em 12.01.09 em http://vellker.blog.terra.com.br

O aprendiz

Um conto escrito pela vida...
Existe um filme muito bom, baseado num conto de Stephen King, mestre do horror, chamado "O Aprendiz" que conta a história de um estudante americano, que por uma série de acasos descobre que um idoso alemão, quase seu vizinho, era na verdade um criminoso de guerra. Ao confrontá-lo com a ameaça de contar tudo para a polícia, o velho oficial alemão pergunta o que ele quer. Ele diz que mantém tudo em segredo, desde que ele lhe conte em detalhes tudo o que viveu na 2a. Guerra Mundial, como comandante de um campo de extermínio. Em certa altura das conversas, o antigo oficial alemão vê no rapaz um aprendiz muito capacitado.

Em que pese a ficção do conto, resta saber o desfecho do conto ainda sendo escrito pela vida. Nesse conto, no dia 20 de janeiro de 2009, Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos assume seu cargo, enquanto a vida por uma série de roteiros que ela mesmo escreveu continua mostrando mais coisas a ele. Resta saber como ele reagirá ao aprendizado. Já recebendo ao mesmo tempo que o presidente Bush todos os relatórios dos serviços de inteligência americanos, Barack Obama começa a mostrar outro rosto para as câmeras. No lugar do sorridente candidato, começa a surgir agora um rosto apreensivo.
Começando a saber de coisas sobre a situação mundial que antes como candidato ignorava, Obama entra no caminho dos grandes aprendizes do maior poder mundial, passando a ser leitor atento dos grandes segredos do mundo, consubstanciados nos relatórios da CIA e da NSA, a pouco conhecida e poderosa National Security Agency, que além da coleta de bruta dados da CIA, um eufemismo para as operações do serviço secreto que custam vidas mundo afora, trazem também relatórios da coleta eletrônica de dados da NSA, que só na década de 70 já era capaz de informar ao governo americano quais seriam as decisões de Leonid Brezhnev, secretário geral da União Soviética simplesmente porque era capaz de captar as emissões que ele julgava secretas entre seu avião e seus ministros.

Barack Obama começa a ver assim a situação de perigo em que caminha o mundo, uma situação que não deixa de ter semelhanças com o velhinho do conto de Stephen King, que num exercício de imaginação, agora morando num apartamento perto da Casa Branca, lhe contará sim tudo o que ele viveu no mundo desde 1939, desde que ele mantenha tudo isso para ele e para os que já sabem. Sim, infelizmente tem quem saiba e se aproveite disso.
Os grandes problemas do esgotamento das reservas de petróleo, vitais não só para os Estados Unidos, mas para o mundo todo. Hoje, com mais de 60% de seu consumo garantido pelo petróleo que vem o Oriente Médio, viram-se os americanos com a desastrada presidência de George Bush invadindo o Iraque pelo real objetivo de garantir sua presença militar por lá e ao mesmo tempo assegurar a exploração e remessa do petróleo custe o que custar. Custou por enquanto a vida de mais de 3.000 soldados americanos e pelo contado, de mais de 90.000 iraquianos, a um custo de bilhões de dólares por ano, preço baixo a pagar se garante a sobrevivência da própria nação americana. Tudo motivado por uma suposta democracia iraquiana e começado num famoso atentado até hoje mal explicado Mas é melhor não falar disso em voz alta.
Enquanto isso, em Israel, a ofensiva contra a faixa de Gaza, muito bem pensada para essa época do ano, teve e terá até seu fim a principal finalidade de pegar o novo presidente americano de surpresa como pegou, antes que ele e seus secretários efetivamente possam a vir dar novas ordens, quando então estarão lidando com um fato consumado muito perigoso e os dirigentes de Israel poderão sentir pela sua reação, se no fundo ele será um bom aprendiz, desses que não criam problemas. O último que tentou reformar para essas estruturas de poder foi o presidente americano John Kennedy empossado em 1961. E que morreu em 1963, num atentado até hoje também mal explicado.
Com seu serviço secreto bem montado, com agentes infiltrados em vários cargos de países árabes, com sua coleta de dados eletrônica com sistemas e rede de satélites espiões próprios, conseguindo informações que são passadas para os serviços secretos americanos e vitais para terem um mapa atual da região, Israel recebe em troca desde as peças dos seus tanques até o combustível para seus aviões e de resto todos os equipamentos para manter sua máquina militar funcionando. Sem isso Israel seria forçado a passar para o seu último grau de intimidação, ou seja, a ameaça do uso de sua força nuclear frente a uma força árabe unida, com o que o Oriente Médio entraria em colapso e a Europa e os Estados Unidos, o mundo todo enfim se veria frente a um desastre sem precedentes na história mundial pela completa desorganização da extração e distribuição do petróleo. Os conflitos que poderiam vir então, num mundo com forças nuclearizadas, ninguém sequer imagina.
É tudo isso que o aparentemente bom velhinho tem contado aos poucos para Barack Obama. Mais ele vai saber a partir do dia 20. E talvez fazer o que for possível. Com a mesma sensação de quem caminha na beira de um abismo. Cada passo é um aprendizado.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

P37 Um caminho sem fim

Há mais de 5.000 anos...

O povo de Israel não deixa de sentir um certo orgulho por ter em seu calendário mais de 5.000 anos registrados. Mas com a história de tribulações e perseguições por que tem passado, é provável que esse orgulho seja mais pesar do que exaltação, no fundo uma silenciosa lamentação que vem mais cedo ou mais tarde na vida de qualquer israelense. Se em relação ao resto do mundo o povo judeu continuar pensando como pensa, terá mais esse tempo de aflição. Jamais se dará bem com o mundo porque na verdade não quer saber do mundo. Mundo é só Israel. Porém com os recentes avanços belicos dos seus vizinhos enquanto seu principal suporte, no caso os Estados Unidos, começam a entrar na fase de progressivo declínio político, incerteza econômica e desgaste militar, os israelenses terão sorte se contarem mais 50 anos em seu calendário. Texto originalmente publicado em 09.01.09 em http://vellker.blog.terra.com.br

O labirinto

Uma guerra sem saída...
Nesses dias em que continua a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, fica mais uma vez comprovado que um grande exército nem sempre garante uma vitória. Pior ainda, cada disparo de sua artilharia pode ser mais um estrondo em que se comprova sua derrota.

É o que acontece dia a dia nessa ofensiva do exército de Israel, que apesar do poderio esmagador, hoje se vê na situação de um atirador perdido em uma viela, com a mira do fuzil quebrada, atirando para todos os lados e anunciando o bombardeio indiscriminado da população palestina como uma grande estratégia de guerra. Mapas são mostrados, comboios de tanques avançam e aviões de combate disparam mísseis e bombas, dando cobertura a soldados que completam o cenário avançando.
Pudesse Israel ganhar essa guerra em corações e mentes e não precisaria disparar um tiro que fosse. Para completar a sensação de perda dos caminhos dentro da política e da própria nação, Israel e seus soldados se vêem confrontados com a sensação amarga de que de nada adiantou mostrar a força que tem. Do Líbano, algum grupo temerário de militantes radicais também disparou mísseis que acabaram acertando uma base aérea, coisa ainda não confirmada.

A população palestina, apesar do sofrimento que tem passado ao contrário de esmorecer apóia os militantes radicais, que bem ou mal vão ganhando seu espaço e assim também seus corações e mentes. Resta aos soldados de Israel apreciarem o espetáculo pirotécnico de sua artilharia, passar por regiões desoladas cheias de mortos, terem ciência da verdadeira maré de ódio que despertam e se consideraremm vencedores, para não terem que amargar essa constatação que a cada dia se torna mais pesada do que toda sua artilharia.
Sim, venceram e ao mesmo tempo perderam militarmente. E pior, perdem a cada dia a pouca simpatia que ainda tinham mundo afora e isso coisa que começaram a perder há muitos anos atrás. Apesar de seu imenso poder, ainda assim na fronteira norte de seu país também aparecem outros militantes desafiando esse poder. Que pode fazer Israel? Atacar todo o mundo conhecido além de suas fronteiras? Convocar todos seus reservistas e transformar cada cidadão num combatente? Do quê e para quê, já se perguntam no íntimo muitos dos seus cidadãos, que se um dia sonharam em ir para a terra prometida tão falada, hoje pensam em como ir para outra terra qualquer, onde possam viver em paz. Se a terra prometida exige tanta dor, melhor deixar tudo isso para quem queira.
No íntimo, cada cidadão israelense está cansado de viver com medo, cansado de ter receio de se aventurar fora das fronteiras de seu país, cansado de ouvir os alarmes avisando que mais bombas estão chegando, cansado de saber que protestam mundo afora contra tudo que sua nação faz.
Sem saber o que dizer frente aos protestos da comunidade internacional, os jornais israelenses procuram ser neutros, tentam anunciar que tudo vai bem na frente militar, autoridades como Ehud Olmert, Shimon Peres e Ehud Barak fazem patéticos discursos triunfalistas e moralistas, enquanto que o cansaço em suas vozes mostra que nada sentem de triunfo nem de moral e a população vive tentando não sentir mais angústia do que já sente.
Em 1948 os judeus fizeram de tudo para criarem e proclamarem ao mundo o Estado de Israel. Que se tornou um verdadeiro labirinto de guerras e incerteza. Há 60 anos vagando dentro desse labirinto, os israelenses chamam a isso de terra prometida.

terça-feira, 8 de junho de 2010

P36 Uma escola antiga

Alunos e professores...

Hoje as tropas de Israel começam a levar destruição até mesmo fora de suas fronteiras. Levando além do limite a sua ideologia de direito de retorno à terra de seus ancestrais, todo um povo que um dia teve a simpatia do mundo, hoje joga fora o que poderia ser uma alternativa para não só ter paz mas também no futuro ter seus atuais inimigos como vizinhos depois de uma reconciliação histórica. Um dia uma grande nação se aventurou nesse caminho. Mas era grande o suficiente para terminar apenas dividida pela metade. A Alemanha pôde se reunir em uma só novamente. Israel dificilmente terá essa chance. Texto originalmente publicado em 07.01.09 em http://vellker.blog.terra.com.br

A velha escola

Uma escola de muitos alunos...
Gueto de Varsóvia, 1943. Na foto acima vemos o general Jürgen Stroop, seus soldados e oficiais durante o ataque feito ao gueto, na Polônia em abril de 1943, onde os judeus confinados haviam se rebelado, depois de um longo tempo de sofrimento. Não suportando mais as humilhações, maltratos e as prisões para deportação, aos poucos os judeus organizaram um pequeno exército e se levantaram em armas. Contavam com fuzis, revólveres e pistolas velhas.
Após a invasão da Polônia em 1939, a população judia começou a ser perseguida e grande parte dos judeus de Varsóvia foi confinada numa parte da cidade, em volta da qual os alemães construíram um muro, deixando-os completamente segregados, com o mínimo de alimentos e remédios.
Durante esse tempo, a população judia foi amontoada em uma pequena área, com condições desumanas de vida, sofrendo com isso a ocorrência de doenças, privações, fome.
Nas fotos feitas por pessoas que lá passaram, foi deixado esse testemunho do que faz uma velha escola que é comum a seres humanos de todos os países, seja qual for sua raça ou religião. É a velha escola do ódio. Cenas de um sofrimento imenso foram registradas e existem até hoje. Alguns poucos fotógrafos alemães e poloneses, todos que podiam entrar e sair deixaram essas fotos para o mundo.

Ao enfrentar o pequeno exército de judeus que haviam conseguido contrabandear armas para dentro do gueto, o general Stroop contava com canhões, tanques, metralhadoras pesadas e milhares de soldados. Em maio de 1943 o general enviou mensagem a Berlim informando seus superiores de que o gueto não existia mais. Em Londres, um judeu exilado, Szmul Zygelboim suicidou-se, deixando uma carta onde dizia: "Quero registrar meu protesto contra a passividade com a qual o mundo está vendo e permitindo o extermínio do povo judeu".
Era uma época onde as notícias demoravam a chegar, onde o acontecido hoje podia levar vários dias para que as pessoas ficassem sabendo o que tinha ocorrido num ponto do mundo, se viessem a saber.
Há muito tempo o general Stroop e seus comandados morreram, passaram para o outro lado da vida. Até seus dias finais, muitos soldados que lá estiveram sempre diziam que tinham feito o que achavam certo.
Faixa de Gaza, 2009. Dizendo ser legítima defesa, uma das maiores máquinas militares do mundo, o exército de Israel avança contra a população palestina em retaliação contra os ataques dos militantes do grupo islâmico Hamas, que dispara contra pequenas cidades da fronteira israelense, mísseis que até a ofensiva haviam provocado 4 mortes.

Mais de 400 tanques, mais de 100 helicópteros de combate e caças dos mais modernos disparam obuses e mísseis sem parar. Milhares de soldados seguem tomando cidades. Do lado palestino são contados até agora 702 mortos. Do lado israelense até agora 10 mortos.
Chega a notícia de que 2 escolas mantidas pela ONU foram atingidas por mísseis e obuses, com a morte de mais de 30 crianças. Segundo os israelenses as escolas eram uma base de lançamento de foguetes. Segundo o encarregado da ONU, que supervisionava as escolas presente no local, nada disso é verdade. Pelo mundo afora, diplomatas israelenses esgrimem os mais refinados argumentos para dizer que o que suas tropas fazem é correto. Shimon Peres, pateticamente limita-se a dizer que Israel cuida de suas crianças, ao ser questionado sobre isso. Soldados de Israel, entrevistados no local acreditam estar fazendo o que é certo.
Há 66 anos atrás em Varsóvia, homens de uniforme acreditavam estar fazendo o que era certo. Até o fim de suas vidas diziam isso. Hoje, num exercício de imaginação podemos ver o general Stroop do outro lado da vida, dizendo aos seus homens que afinal, os descendentes do povo que eles perseguiam fazem hoje a mesma coisa.
Claro, esse é um novo tempo, onde as notícias chegam em questão de segundos. Sons, imagens, um relato completo do que está acontecendo chegam a todos os lares do mundo. E parece que o mundo não está tão passivo hoje. Olhando bem tudo isso, o general Stroop pode pensar que no fim de contas, não há grandes diferenças entre seus homens e os que atacam hoje.
E se um dia, eles estiverem no mesmo lugar no outro lado da vida, poderão ver que apesar de tudo, eles tem algo em comum. Frequentaram a mesma velha escola.
Mas fica feio admitir isso. É melhor apenas dizer que acreditam que estavam fazendo a coisa certa.

domingo, 6 de junho de 2010

P35 Lembranças de uma guerra

Túnel do tempo e do medo...

Uma palavra ao leitor : hoje nesse mundo interconectado, os cidadãos comuns podem opinar sobre os fatos que ocorrem nesse imenso mural eletrônico da Internet. Sobre as coisas que Israel tem feito no Oriente Médio as opiniões convergem numa condenação geral. Seria bom que israelenses e palestinos pudessem viver em paz. Pesquisando a história do mundo, quase não há menções aos palestinos antes de 1948. Depois de expulsos pelos judeus de sua terra, começaram a aparecer como combatentes dos quais Israel na verdade tem medo. Tem força militar para contê-los, mas vive em constante medo. Os palestinos antes esquecidos pelos historiadores hoje apenas devolvem o que recebram. E os judeus colhem o que plantaram. É o que veremos nessa retrospectiva de textos.
Texto publicado originalmente em 05.01.09 - http://vellker.blog.terra.com.br/

Uma guerra distante

Por esses dias vemos uma guerra distante acontecendo. Os ataques maciços de Israel contra a população palestina na faixa de Gaza são uma das grandes tragédias destes tempos. E também, há coisa de alguns anos vem o governo do Brasil, desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso e hoje nas palavras do presidente Lula, sendo insistente na idéia de ter uma assento no Conselho de Segurança da ONU.

Isso é coisa para gente grande. No cenário mundial, em outras palavras, é coisa para quem pode se defender, para quem tem um poder militar capaz de impor verdadeiro respeito. Se não é capaz de defender nem a sua própria nação, devia o governo brasileiro parar com esses inúteis pretensões que só provocam o riso dos atuais detentores desse poder, a saber Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China que mantém exércitos e uma força nuclear que realmente contam.

No caso do Brasil, é válida tal pretensão desde que não só a nação seja um poder militar respeitável, como também sua população deve ser capaz de opinar sobre os conflitos do mundo, sabendo que ao mesmo tempo é efetivamente capaz de intervir se necessário.

Sendo assim, ainda acompanhando as notícias que vem da região de Gaza, decidi repostar o texto que escrevi na época dos ataques de Israel contra o Líbano no ano de 2006. Se queremos mesmo fazer parte de algum conselho que decida sobre segurança, devemos no mínimo ser capazes de discorrer sobre o assunto. E termos a certeza de que todos ficam em silêncio para ouvirem o que temos dizer. Mais importante ainda, que nossa decisão faça diferença não só sendo acatada, mas também pelo que a nação decida fazer.

Atrás disso haverá um poder militar autenticamente nacional que realmente será capaz de sustentar nossa decisão.

E esse é e sempre será, como sabemos, um assunto polêmico e que desperta simpatias e antipatias. A outra forma de encarar isso que acontece é fazermos de conta que não vivemos nesse planeta chamado Terra. Coisa que Israel vem fazendo há 60 anos.

O ataque de Israel, o Dia dos Pais sob fogo. Um cessar fogo anunciado...e lembranças...de sentimentos do Dia dos Pais, no Líbano...
Pais e filhos se encontravam naqueles dias. Ou pais e filhos eram levados uns aos outros...

Alguns pais recebiam telefonemas de parabéns. E depois disparavam canhões de 175 mm. Alvos a 25 kms. de distância. Outros recebiam mensagens de carinho a 6 kms. de altura, voando a 800 kms. por hora. E depois soltavam bombas de 500 kg.

A 25 kms. de distância...a 6 km. de altura...esses homens, pais também, não viram o que acontecia depois. Como reagiriam se vissem...?

Chegam as notícias de violação do cessar-fogo por parte de Israel. Ehud Olmert, primeiro ministro de Israel que comanda toda essa máquina militar apresenta desculpas.

Passando mais um sentimento de tédio do que um sentimento de angústia, com uma voz sem nenhuma alteração. Ele realmente comanda essa máquina? Israel realmente controla essa máquina?

Ou ela se move sozinha? Ou recebe equipamentos, combustíveis, peças e tudo o que precisa de fora de Israel? E ordens também...?

Links a verificar:
Tropas de Israel violam o cessar-fogo

sexta-feira, 4 de junho de 2010

P34 A diáspora

O futuro dentro de um labirinto... Na foto tirada nas primeiras incursões de Israel na Faixa de Gaza em 2008, um adolescente palestino atira uma pedra contra um tanque israelense.

Hoje o Estado de Israel segue um triste destino, que na verdade foi escolhido por ele mesmo. Apoiado por seu povo, com poucas vozes discordantes, vivem, Estado e povo, uma nova diáspora dentro da própria terra para onde retornaram em 1948. Encontraram de tudo, menos paz. E com essa forma de pensar, jamais encontrariam a paz mesmo.

Hoje o caminho da terra prometida tornou-se uma caminhada sem fim num labirinto.

E com o pensamento de ódio e destruição voltado aos povos em sua volta, esse povo e esse Estado estarão condenados a trilharem esse caminho dentro de suas próprias fronteiras, um caminho de ódio, destruição e medo de tudo e de todos.

Com os acontecimentos recentes, onde Israel atacou navios de ativistas que pretendiam romper o bloqueio que exercem contra a população palestina, é necessária uma reedição de textos já escritos, que fazem uma reflexão sobre a atitude do Estado de Israel.

Que para ter poder, preferiu abandonar toda a esperança de um futuro de paz.

Abandonou a esperança da mesma forma que a abandonavam os que entravam no inferno de Dante.