sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

P64 Não gosto de matar ratos

Os ratos, na verdade, são inocentes...
Ao voltar para casa ontem encontrei morto, afogado na ratoeira, um pequeno ratinho. Lamentei pelo jeito que o animal morreu. A água da chuva havia subido perto do bueiro onde eu coloquei a ratoeira e o pobre animal morreu afogado alí. Os amigos leitores haverão de estranhar. Mas porquê lamentar? Ora, fazendo as contas, imagino que a morte do bichinho foi penosa, carregada de agonia, a água subindo e ele preso na ratoeira, tentando escapar e morrendo aos poucos. Contando os outros dois que havia capturado na mesma ratoeira, são três. Entrada de bueiro perto de casa é assim mesmo. Os dois que peguei antes, com calma levei para um descampado aqui perto e soltei na noite. Leis da natureza. No descampado ou são pegos por uma coruja ou outro predador, mas ao menos tem uma chance na luta pela vida. Até mesmo um rato merece isso. A alternativa é matar o bicho ao abrir a portinha da ratoeira com um pisão ou uma porretada, coisa nada agradável de fazer.
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Ao mesmo tempo em que pegava o ratinho morto e o punha no saco de lixo, pensava que afinal, mesmo sendo considerado um animal imundo, ele não tinha culpa de ser assim. Os ratos, seja como for, assim foram feitos pela Natureza e nada mais fazem do que o mesmo que nós, apenas tentam viver. Eles nem fazem idéia do mal que nos causam, apenas chegam e roem o que tem que roer, passam as doenças que tem que passar e são absolutamente inconscientes disso. Apenas vivem, sempre assustados e escondidos em bueiros, sempre no limite da fome e caçados pelos animais maiores. Eles não tem culpa de serem como são. Nenhuma culpa de viverem escondidos, de serem perigosos, de serem sujos.
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Depois de deixar o corpo dele na lata de lixo, entrei em casa e liguei o televisor. Como não poderia deixar de ser, apareceu a notícia de mais um caso de corrupção onde como já é tradicional, políticos estão envolvidos. Um deputado estadual por São Paulo dizia que não tem nada de errado em pagar o aluguel de parentes com verbas estaduais. Enquanto isso no hospital da cidade dele, um pai desesperado depois de três dias sem atendimento médico para o filho com o braço quebrado recorria à polícia para tentar conseguir socorro. Nem falo dos pacientes que morreram ou agonizam sem remédios. Enquanto o hospital está abandonado sem verbas, os parentes de um político corrupto recebem verbas estaduais para pagarem o aluguel. Quem é um dos responsáveis por isso? Um político corrupto. No Piauí uma reportagem mostra que 74 ambulâncias que deveriam estar trabalhando para atendimento de UTI móvel estão abandonadas num pátio, estragando-se dia a dia. Quem provoca desastres assim? Políticos corruptos.
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Mais uma notícia mostra que o corte de 1 bilhão de reais das despesas do governo vai atingir diretamente a educação. A presidente eleita Dilma Roussef já começa a articular votos para o aumento da idade mínima da aposentadoria. Quem vota a favor disso? Políticos corruptos, que ao mesmo tempo desfrutam de aposentadoria privilegiada. Surge também uma notícia de que governadores estão se articulando com deputados federais para tentarem a volta da CPMF com outro nome, alegando aumento de despesas na saúde. Claro, é só para roubar mesmo. Em todos os anos de CPMF isso nunca ajudou em nada. Além disso quem vai pagar a conta de mais 8.000 vereadores que foram eleitos na última eleição por causa de uma emenda constitucional? E quem é o culpado por tudo isso? O político corrupto.

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Aborrecido e ao mesmo tempo lembrando do ratinho morto, comecei a fazer algumas comparações entre a ação dos ratos e dos políticos. Percebi que os ratos além de não terem culpa de serem como são, provocam danos bem menores e são bem menos perigosos do que os políticos, que além de terem culpa de serem como são, provocam danos irreparáveis e milhares de mortes de cidadãos todos os anos.
Fui me lembrando de todas as reportagens sobre a destruição da nossa educação e de quem é a culpa disso tudo. Abandono de escolas construídas por seus antecessores, obras de escolas abandonadas enquanto vereadores e prefeitos se concedem aumentos obscenos, merenda escolar roubada ou dada a animais em fazendas, materiais superfaturados do orçamento federal para escolas que não foram construídas e de quem é a culpa? Dos políticos. Que graças a uma estrutura de poder corrupta administram nosso país e roubam o que podem para eles. Cultura, educação, ciência, isso não tem nenhum valor para eles, interessa apenas o que podem roubar para viverem bem às custas do dinheiro dos impostos, deixando pais, mães e seus filhos desesperados na porta das escolas que ficam sem vagas, sem professores, sem material escolar, sem segurança. Enquanto isso políticos vivem em mansões com esse dinheiro roubado, dão a melhor educação a seus filhos e já é habitual que enfiem seus parentes na administração pública para roubarem mais.
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Os ratos podem atacar uma escola, podem roer um ou outro caderno ou algum material escolar, mas é só isso que fazem. São sujos, vivem escondidos à espreita do que vão atacar e só trazem doenças. Mas não tem culpa do que fazem. Eles não tem consciência de serem assim. No fundo são inocentes.
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Já os políticos sabem que são assim. Que são sujos, que vivem à espreita do que poderão roubar, que são uma doença da nossa sociedade e é assim que gostam de viver e é assim que viverão até serem mortos da mesma forma que as pessoas acham que os ratos devem ser.
Me lembrei dos casos onde pacientes morreram à mingua em hospitais públicos, dos 26 bebês que morreram numa maternidade do Amapá por falta de material hospitalar adequado, dos doentes de tuberculose da favela da Rocinha que não recebem mais os remédios, dos pacientes de São Paulo que levam até 6 meses para receberem quimioterapia contra o câncer, da epidemia de dengue com milhares de doentes pelo Brasil afora, tudo sempre por causa da falta de verbas, que faltam para o socorro dos pacientes mas que não faltam para serem roubadas pelos políticos que administram o sistema de saúde e as verbas que vão para eles e seus cúmplices nomeados para a administração.
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Um rato pode entrar em um hospital e roer alguns lençóis e alguns fichários médicos, mas fará muito menos mal do que os políticos que de forma premeditada roubam verbas, desviam recursos, superfaturam preços de remédios sabendo que estão causando dor e morte para milhares de pacientes que hoje gritam na porta dos hospitais públicos. Os ratos de verdade mesmo pelo menos não tem consciência do mal que causam. Os políticos sabem que fazem esse mal, mas isso é lucrativo para eles. Sabem que estão causando dor e sofrimento e não se importam nem um pouco com isso e vão continuar a fazer isso até que sejam mortos como ratos. Os ratos de verdade mesmo pelo menos não tem consciência do mal que causam. Os políticos sabem que causam todo esse mal, mas isso é traz lucros para eles e assim vai ser enquanto estiverem no poder.
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Pensando em tudo isso me lembrei do corpo do ratinho na ratoeira e imaginei seu desespero, as águas subindo, ele se afogando. Em sua pequena consciência em agonia deve ter pensado que mal teria feito para que algum malvado o matasse assim. Nenhum, ele era inocente, apenas vivia como a Natureza o fez.
Me lembrei também do prédio que é chamado de congresso nacional onde onde uma verdadeira cria de seres humanos que abdicaram de sua humanidade para se tornarem animais do mesmo tipo hoje se alimentam da vitalidade, do trabalho e acima de tudo do sofrimento do povo brasileiro.
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Enquanto os ratos vivem escondidos em bueiros imundos, os políticos vivem em gabinetes iluminados para planejarem seus ataques ao cidadão que paga impostos. Enquanto os ratos vivem no limite do medo e sempre fugindo, os políticos vivem cometendo seus crimes e dispõem de imunidades para não serem alcançados pela Justiça. Enquanto os ratos são pisados e mortos, os políticos vivem pisando no povo brasileiro e no Brasil inteiro e causando só desgraças no dia a dia de um povo sofrido.
Foi assim que descobri que não gosto de matar ratos. Mas políticos eu mataria sem problemas de consciência. No Brasil de hoje, isso já se tornou até uma precaução de higine e segurança pública.

4 comentários:

  1. Também não mato ratos, eles tem direito de viver como a natureza os fez.

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  2. Pensei que era a única que pensava que os ratos apenas tentam sobreviver e não penso neles como pestes e não gosto da idéia de matá-los

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