sábado, 7 de fevereiro de 2009

P06 Os miseráveis

Cidadãos brasileiros, os miseráveis...

Numa das grandes obras de Victor Hugo, “Os Miseráveis” vemos retratado em sua obra o estado de calamidade a que havia sido reduzida a população da França do ano de 1830, sofrendo sob o jugo de um poder político e judiciário cruel, poderes na época tomados pelo modo de agir de tempos antigos. Uma nova revolução se fez necessária e os injustiçados alcançaram um novo patamar de justiça para todos.

Deixo aqui mais um comentário escrito no site do Consultor Jurídico, sobre um artigo escrito também pelo advogado Ives Gandra da Silva Martins, intitulado “Justiça seja feita” onde como advogado, reconhece que exceto direitos políticos, o regime militar deu mais garantias ao cidadão. Foi uma época truculenta, mas nem de longe se compara ao que vivemos hoje.

Pior ainda, no retorno dos exilados políticos em 1979, havia no ar a esperança de uma fraternidade política, de um aprimoramento da nação e do povo brasileiro. Fomos enganados. Afora as pouquíssimas e honrosas exceções de sempre, os exilados, então anistiados em 1979 e contando com a confiança da população, cedo trataram de se unir em conchavos e acertos políticos com a única finalidade de alcançarem o poder, prestígio e fortunas pessoais. Em 9 anos se uniram em torno de uma assembléia constituinte, mais corretamente chamada de assembléia prostituinte, onde trataram de alicerçar sua impunidade para crimes a serem cometidos no poder sob o pomposo nome de prerrogativas. Leis para garantir a impunidade, que disseminadas pelos três poderes, mais do que nunca ao longo desses 19 anos os tornaram no Brasil um sólido refúgio para criminosos. Há como sempre as exceções nesse meio, mas que se tornam a cada dia mais impotentes para protegerem o povo e a nação brasileira.

Segue abaixo o comentário que deixei, com as partes que julgo mais merecedoras de reflexão realçadas em vermelho:

”Decididamente, olhando com frieza, não há mais solução pacífica para as contradições sociais do Brasil. É a análise correta que podemos fazer de tudo o que vivemos desde que o ciclo militar terminou em 1985 e os civis assumiram o poder, com as promessas de redenção social, aclamadas pela população que com toda a esperança acreditava neles.

Todos nós fomos traídos por esse grupo de exilados, que retornando do exterior, se puseram a ocupar confortavelmente postos administrativos e políticos em proveito próprio, traduzidos em poder político, exercido de forma que nada fica a dever ao modo de agir dos coronéis da República Velha, desmontada por Getúlio Vargas em 1930. Na esteira desse modo de agir, trataram de angariar o poder financeiro, resultante dos postos de comando preenchidos por amigos e cúmplices, notadamente membros da imprensa brasileira, uma das mais vendidas do mundo. Os antigos coronéis tinham jagunços armados com Winchesters .44, os modernos coronéis do regime civil tem seus jagunços eletrônicos armados com redações de jornais e estúdios de televisão. Foi tudo o que se viu durante esse período de 22 anos de governo civil.

Os militares que se retiraram do poder viveram suas vidas com as aposentadorias do trabalho que exerceram. O falecido presidente Médici até teve dificuldades no fim da vida para pagar seu tratamento de saúde. Geisel deixou um relato do que viveu na presidência, onde fala de ícones da política brasileira, que diziam estar a favor do povo, mas que faziam os conchavos que mais lhes dessem vantagens. O presidente Figueiredo não deixou nenhum relato, mas certa vez, entrevistado sobre o que vivera na presidência, disse em tom de desabafo: "O Brasil? Só tocando fogo em tudo e começando de novo!". Enquanto isso, na década de 80 e 90 vimos os antigos exilados que tinham voltado sem um tostão no bolso já donos de jornais e propriedades milionárias. Sem falar na indústria de indenizações, com leis e regulamentos criados por eles próprios.

Por meados de dezembro passado escrevia isso para um amigo, sobre a falta de perspectivas para uma solução pacífica para nossos problemas. No outro dia saia a notícia de 7 mortos num ônibus incendiado no Rio de Janeiro. Sim, o regime militar foi impiedoso e em muitas coisas agiu com truculência desnecessária. Mas procuramos os noticiários daquela época e não encontramos nada semelhante à chacina de Vigário Geral, de Nova Iguaçú, dos ataques do PCC, dos últimos ônibus incendiados e das dezenas de cidadãos fuzilados no meio da rua.

Hoje somos exilados jurídicos em nosso próprio país enquanto os antigos fugitivos do regime militar cometem delitos tranqüilamente protegidos pelo foro privilegiado. Os antigos acusadores do regime militar são os mesmos que se reúnem no congresso para votarem leis de privilégios e injustiças.Somos abandonados ao assalto do banditismo armado que é muito, muito pior do que os antigos grupos de repressão política que seqüestravam apenas os chamados subversivos. Hoje esses grupos incendeiam ônibus, metralham sobreviventes, seqüestram e extorquem suas vítimas, para muitas vezes o seqüestrado ir parar numa das 200 ossadas já encontradas nos morros do Rio de Janeiro.

No regime militar acontecia isso? Pelo menos o seqüestrado naquela época tinha boas chances de parar na frente de um tribunal militar e tentar se defender. Pior ainda, os exilados que retornaram prometendo o primado do social, cedo se aliaram ao capital, retalhando e vendendo a nação brasileira a grupos estrangeiros. Atitude bem diferente de quando gritavam e bradavam que os militares eram entreguistas. Podemos concluir que na verdade essa gente nunca foi pelo social, pelo povo ou pela justiça. Eram antes partidários do capital, da sociedade anônima e da injustiça. O único detalhe é que gritavam chavões comunistas e brandiam bandeiras vermelhas em 1964. Então ficaram sem ter para onde ir de uma hora para outra. Tudo o que faziam era teatro: era um charme impressionar as garotas da faculdade com pose de esquerdistas enquanto tentavam entrar no Country Club.

Essa é a triste verdade de tudo o que vivemos e de tudo o que sofremos hoje. A conclusão fria é de que somente começaremos a arrumar esse Brasil com um segundo Getúlio Vargas e um segundo Estado Novo. Porque o estado que temos hoje, não é nem velho nem novo. É somente lamentável.”


Nos últimos acontecimentos de descobertas da Polícia Federal, na Operação Navalha, depois do habitual desfile de acusados sendo liberados e autoridades dizendo que de nada sabem e tudo ignoram, apesar das conversas que mantinham com o principal acusado, dono da construtora Gautama, assistimos no noticiário de ontem, 23.05.07 as reportagens sobre as mortes seguidas de bebês em hospitais públicos, onde os enfermeiros mostram a absoluta falta de condições de trabalho, devido a falta de verbas e equipamentos. Enquanto isso sabemos que essa construtora recebeu em licitações forjadas mais de 100 milhões de reais. São tempos em que o rei Herodes da Bíblia, que ordenou o assassinato de bebês, se voltasse a viver não quereria mais ser rei e sim dono de construtora. Construiria seu palácio com mais facilidade e com verbas federais.

Se junto com o rei Herodes, Victor Hugo voltasse da morte para viver no Brasil de hoje, vendo tudo isso, vendo a situação da população, ele não reescreveria “Os Miseráveis”. Entristecido, só caminharia pelas ruas com lágrimas nos olhos.

Matéria a verificar:
Justiça seja feita

Republicação do texto original de 24.05.07

P05 Um retorno

Uma pequena pausa...
Peço desculpas aos amigos que vieram neste espaço e quase nada encontraram. É tempo de retornar.

Por alguns problemas de saúde de um parente próximo estive sem tempo de fazer algumas leituras, dessas que por vezes fazemos antes de escrever, como costumamos dizer, algumas poucas linhas. E certas vezes muitas linhas, dependendo do assunto, que pode nos levar num caminho de palavras.
Assim, já refeito e ao mesmo tempo esperando que esses problemas não voltem tão cedo, me dedico a preparar mais algumas coisas. Por hora republico um texto que fiz há algum tempo.
Um grande abraço e obrigado pela compreensão.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

P04 Negócio da China

Uma notícia não muito notada...

Ao longo desses dias em que se negocia no congresso (é com letra minúscula mesmo), a disputa pela presidência do senado e da câmara dos deputados, vemos de forma clara que toda nossa estrutura política é de fato das mais lamentáveis que já tivemos conhecimento. Pior que isso, como cidadãos somos obrigados a sofrer suas consequências sob o atual ordenamento constitucional, que de ordem só tem o nome.

A disputa não diz respeito ao embate de opiniões entre homens sábios, que irão contribuir com suas decisões para um melhor destino para nossa nação. Diz respeito apenas e tão somente isso, a quem é que vai ter nas mãos a chave do cofre, nas funções de controle do orçamento da União. O ocupante do cargo será aquele que decidirá que partido ou que emenda parlamentar vai ter o dinheiro de que necessita.

No fundo é apenas isso, dinheiro. E qual amigo vai recebê-lo para fazer o que bem entender e qual adversário ficará de pires na mão pedindo o que não vai receber. Nada contra a dministração das riquezas que o trabalho de milhões de cidadãos produz no dia a dia da nação.

Há uma quantia imensa resultante disso e cabe a quem for votado e empossado empossado nesse cargo fazer a correta distribuição dos recursos. Mas tudo se resume a uma briguinha contra os partidos adversários, a abrir o cofre para os partidos amigos, a privilegiar obras eleitoreiras e só.

Infelizmente nosso sistema político, secularmente viciado nos procedimentos mais baixos e nascido na política de compadres, onde conchavos e acertos entre amigos são feitos para benefício próprio, mostra nesse cargo toda a perversidade do sistema do qual por ora somos reféns. Não só nós cidadãos, mas a nação inteira, como se entende o conceito de nação.

Imersos no trabalho do dia a dia, cansados no retorno a suas casas, mal podem os cidadãos entender o que se passa. E se pudessem, toda uma estrutura jurídica e legislativa já foi montada por esses grupos políticos que por hora infelicitam a nação, para até mesmo mobilizar em escala nacional a coerção de tribunais e polícias para conter qualquer manifestação contrária a isso. Já qualquer manifestação de ordem jurídica está fadada ao fracasso, pois pelas leis viciadas editadas pelo nosso assim chamado congresso foram de forma premeditada pensadas para isso.

Continua assim a festa dos amigos nos cargos, os famosos trens da alegria, a corrupção em todos os níveis dos três poderes, enquanto que ao cidadão resta, chegando num posto de saúde, saber que o remédio que ele necessita com desespero não tem data para chegar e ao mesmo tempo saber que na câmara legislativa em frente, o salário dos políticos mais corruptos chega pontualmente.


Enquanto isso, a degradação política, moral e social do Brasil aumenta, já envolvendo até mesmo seus responsáveis por ela fisicamente, nas ruas em volta de seus tão falados palácios da justiça, do legislativo e outros com nomes tão falsos quanto vazios.

Por enquanto estamos reféns desse sistema. O povo francês esteve refem de uma situação assim e um dia, numa explosão de revolta justa e legítima, derrubou seus opressores na tão relembrada Revolução Francesa.

No Brasil, apesar da tranqüilidade desses modernos cortesãos, não vai ser diferente.

Links a verificar:
Tráfico avança em direção à câmara em SP
SUS depois de 10 anos não saiu do papel