sábado, 24 de setembro de 2011

P83 O mundo era perfeito mesmo

Os israelenses pouco se importam...
No tempo em que segue sem uma decisão final o pedido da Autoridade Palestina para o seu reconhecimento como nação pela ONU, vemos que na verdade os israelenses pouco se importam com a possibilidade de levarem o mundo a um confronto de final imprevisível. Tendo conquistado seu reconhecimento como nação independente em 1948 através da ocupação militar da região, alegando direitos de posse das terras e defesa da nação que surgia, depois de passarem os últimos 63 anos provocando conflitos na região, pode-se constatar que Israel prefere ameaçar em última instância com a possibilidade de incendiar o Oriente Médio que é vital para muitos países do mundo pelo petróleo que produz do que ceder ao bom senso e reconhecer a existência da Palestina como nação.
-
Negando aos palestinos o que acharam ser em 1948 seu direito natural, embasados numa absurda e medieval concepção de nação favorecida por direito divino pela interpretação literal dos textos do Velho Testamento, que é o livro sagrado dos judeus, persiste o Estado de Israel nesse caminho sem volta, visto que o que uma das coisas mais temidas pelos israelenses aconteceu. Uma nação islâmica, no caso o Irã, conseguiu levantar-se das cinzas da guerra contra o Iraque na década de 80 e construiu sozinha seu sistema de enriquecimento de urânio, com o qual conseguirá sua arma nuclear em breve. Os mísseis para lançamento dela já foram mostrados ao mundo em 2010 em testes bem sucedidos. Para piorar, nações árabes foram varridas por uma onda de transformações onde novos líderes questionam de forma nada animadora a instransigência e no fundo, crueldade de Israel quanto aos palestinos. Tudo baseado na visão de povo favorecido por direito divino, um absurdo que permite aos governantes israelenses cometerem contra qualquer um as piores atrocidades a título de defesa do seu estado, que se torna em última análise, a defesa da vontade divina.
Contando com o Exército americano para fazer na região o que jamais poderia fazer por si só, Israel beneficiou-se por mais 10 anos com o avassalador ataque direto dos Estados Unidos aos Afeganistão e ao Iraque, primeiro em 1991, depois em 2001 e 2003, alegando nos últimos ataques retaliação pelo ataque contra as Torres Gêmeas em 2001. Com as forças americanas preparando sua retirada, financeiramente esgotadas e sem terem cumprido a tarefa de derrota total contra os talibãs e contra os radicais islâmicos iraquianos, os israelenses mesmo vendo um negro cenário à sua frente, persistem ainda em sua postura de confronto. O final será com certeza triste para ambos os lados.

Enquanto não sai a decisão final, que todos poderemos comentar, deixo aqui, numa espécie de nostalgia bem-humorada, a lembrança de como o mundo era mesmo perfeito em tempos passados como na década de 60. Afinal pelo menos podíamos ir ao cinema mais despreocupados com essas questões.
-
Texto originalmente postado em
20.09.10 no bilogue Cartas no Dia
-
Como o mundo era bom naqueles tempos... O filme se chama "Adivinhe quem vem para jantar". Tendo reencontrado um dos grandes sucessos do cinema da década de 60, que assisti no século passado (bem, metade do planeta pode dizer isso) tratei de levá-lo para casa para rever um dos melhores filmes já feitos, que mistura um ótimo elenco, romance, comédia e reexame de relações raciais, que em 1967, ano em que foi feito, foi um filme justamente premiado pela mensagem de respeito e tolerância que levou para o público americano e para o mundo.

Mas esquecido da cena inicial, que havia visto aos 12 anos num pequeno cinema do interior paulista, é que me dei conta de como o mundo era perfeito. O filme começa com a aproximação de um avião a jato. Enquanto ele se aproxima soltando uma quantidade de fuligem proibida nos dias de hoje, a câmera passa para um plano alto e aí a trilha sonora, lindamente cantada, começa. Aí, de forma inevitável e cativante comecei a relembrar das coisas que vivíamos então, num mundo perfeito. O avião, um Boeing 707, com imensas 4 turbinas, grandes consumidoras de querosene e que na época despejavam toda a poluição possível, fora o rugido também proibido nos dias de hoje, é de uma época em que os combustíveis eram baratos, a poluição de hoje era só um assunto desconhecido, aquecimento global era uma coisa nem sonhada e por um instante todos nós nos sentíamos americanos dentro daquele avião, com todo o luxo possível, não brasileiros comendo pipoca dentro de um cinema.

A trilha sonora no estilo de Ray Conniff, claro era apreciada, se bem que essa trilha é um caso à parte, é linda mesmo de se ouvir abraçado com a mulher amada. Na época, ser elegante e fino e aparentar um certo conhecimento do estilo de vida nas grandes cidades era ter o último disco de Ray Conniff. Quem tinha aparelho de som, coisa rara na época, corria para a discoteca (naquele tempo, discoteca era para vender discos mesmo) A MPB era chata demais por isso só uns 3 ou 4 na cidade ouviam. No caso tínhamos a vitrola monofônica de 78, 45 e 33 rotações por minuto. Bom mesmo era o som estereofônico dos aparelhos High-Fidelity ou os chamados Hi-Fi, que aprendíamos a pronunciar para não dar furo na frente das meninas : rái-fái. De novo, tudo vinha da genialidade dos americanos. E lá íamos nós nos bailinhos de jovens inocentes de tudo, dançando de mãos dadas e corpos separados, sob o olhar vigilante dos pais e mães no que era chamado de "brincadeira dançante". Os carros que víamos no filme, claro, deixavam todos nós nos perguntando que tipo de tesouro a América tinha encontrado afinal? Estávamos acostumados a andar de Volkswagen, o usual da época. Naquele tempo, 4 entre 5 donos de carro tinham um. Ou então o velho Jeep, Rural Willys e coisas assim. Vez por outra, algum parente mais rico de algum conhecido vinha da capital no seu Impala importado, e ficávamos de olho naquela lataria reluzente. Nos filmes da época, quase todos os carros como táxis, viaturas de polícia, carros do vizinho ou do protagonista do filme, eram o lindo e imbatível Ford Galaxie. Por dentro e por fora, nos mostrava o que era ser americano. Luxuoso e bem acabado, uma lataria super reforçada, pára-choques de aço capazes de derrubar um muro e com o consumo em inacreditáveis 3 quilômetros por litro. De gasolina azul, é claro. Mas na época, comprar gasolina era como comprar água mineral hoje.
Terminado o filme, íamos para casa certos de que víviamos no mundo mais perfeito possível. Naquela época, o mundo era dividido somente em bloco capitalista e bloco comunista. Por sorte tínhamos nascido na parte capitalista, ou melhor dizendo, americana. A civilização estava em volta de todos, mesmo que incipiente.

Em casa, antes de dormir, íamos escovar os dentes. E todos nós, com um sabor de vida americana na boca, fazíamos isso usando a pasta dental Kolynos. Ou Colgate. Podia ter coisa mais americana do que essa? Não tínhamos carros de luxo e nem aviões, mas pelo menos a pasta de dentes estava lá. Ou que outra coisa poderia fazer com que nos sentíssemos a um passo de começar a falar inglês no próximo momento, como se de repente nos tornássemos parte da vida que tínhamos visto no filme?

Era um mundo perfeito mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário