Quando em 1948 se lançaram na hoje tão lamentada criação do estado de Israel, os judeus talvez nem por um instante imaginassem que o povo que varreram a fogo de metralhadoras da terra que diziam ser sua por direito divino pudesse se organizar em um exército de guerrilhas que sobrevive aos tempos e adota nomes que refletem seu extremismo. Diziam os sionistas que a criação de Israel era a destinação de uma terra sem povo para um povo sem terra. E os palestinos estavam lá porquê?
Uma cruel ironia da história esse modo de ver as coisas. O nazismo doutrinava seus soldados para verem como povo apenas o povo ariano, um povo eleito pelas suas virtudes proclamadas pelo regime. Os habitantes de outros países não eram um povo, eram apenas um obstáculo a ser removido pela força militar. O sionismo não pensa muito diferente. Terra apenas para o povo eleito, pelas suas virtudes auto-proclamadas e por um decreto divino. Quanto ao resto dos habitantes da região, apenas um obstáculo a ser removido pela força das armas, como ensinam aos seus soldados. Quem pode esperar a paz agindo assim? Vendo nos livros de história como terminou o nazismo, é pouco provável que o sionismo tenha um fim diferente.
Para Israel é fácil chamar o grupo palestino Hamas de grupo de terrorista. E o que era o Irgun no passado, na época da criação do seu estado? Um grupo judeu extremista que cometia atos de terrorismo contra os civis palestinos e as tropas britânicas em 1948, como no atentado contra o Hotel King David que matou 91 pessoas. Mas esses são diferentes, eram heróicos combatentes sionistas. Falar que eram terroristas estraga o cenário. Terroristas são os combatentes do Hamas, que faz a mesma coisa que o grupo judeu fazia em 1948. Mas aí é diferente. Enquanto isso crianças judias choram ao serem socorridas após mais um ataque de foguetes contra uma cidade israelense. E fazendo tudo o que fazem, os israelenses esperavam receber o que em troca? Dos dois lados, crianças são as maiores vítimas. Dos dois lados, pequenos feridos que viram a morte de um familiar ou de um amigo tornam-se radicais dispostos a tudo.
O que é mais impressionante em todo esse cenário é que aos poucos, como numa transformação silenciosa, em cada pessoa o coração vai se tornando de aço, tão igual como o das armas ou máquinas de guerra. Dos dois lados as batidas dos corações deixam de ser ouvidas como são.
Passam a serem ouvidas no ruído de uma metralhadora ou nos passos cadenciados da interminável fila de soldados suicidas que se apresentam contra Israel.
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