terça-feira, 8 de junho de 2010

P36 Uma escola antiga

Alunos e professores...

Hoje as tropas de Israel começam a levar destruição até mesmo fora de suas fronteiras. Levando além do limite a sua ideologia de direito de retorno à terra de seus ancestrais, todo um povo que um dia teve a simpatia do mundo, hoje joga fora o que poderia ser uma alternativa para não só ter paz mas também no futuro ter seus atuais inimigos como vizinhos depois de uma reconciliação histórica. Um dia uma grande nação se aventurou nesse caminho. Mas era grande o suficiente para terminar apenas dividida pela metade. A Alemanha pôde se reunir em uma só novamente. Israel dificilmente terá essa chance. Texto originalmente publicado em 07.01.09 em http://vellker.blog.terra.com.br

A velha escola

Uma escola de muitos alunos...
Gueto de Varsóvia, 1943. Na foto acima vemos o general Jürgen Stroop, seus soldados e oficiais durante o ataque feito ao gueto, na Polônia em abril de 1943, onde os judeus confinados haviam se rebelado, depois de um longo tempo de sofrimento. Não suportando mais as humilhações, maltratos e as prisões para deportação, aos poucos os judeus organizaram um pequeno exército e se levantaram em armas. Contavam com fuzis, revólveres e pistolas velhas.
Após a invasão da Polônia em 1939, a população judia começou a ser perseguida e grande parte dos judeus de Varsóvia foi confinada numa parte da cidade, em volta da qual os alemães construíram um muro, deixando-os completamente segregados, com o mínimo de alimentos e remédios.
Durante esse tempo, a população judia foi amontoada em uma pequena área, com condições desumanas de vida, sofrendo com isso a ocorrência de doenças, privações, fome.
Nas fotos feitas por pessoas que lá passaram, foi deixado esse testemunho do que faz uma velha escola que é comum a seres humanos de todos os países, seja qual for sua raça ou religião. É a velha escola do ódio. Cenas de um sofrimento imenso foram registradas e existem até hoje. Alguns poucos fotógrafos alemães e poloneses, todos que podiam entrar e sair deixaram essas fotos para o mundo.

Ao enfrentar o pequeno exército de judeus que haviam conseguido contrabandear armas para dentro do gueto, o general Stroop contava com canhões, tanques, metralhadoras pesadas e milhares de soldados. Em maio de 1943 o general enviou mensagem a Berlim informando seus superiores de que o gueto não existia mais. Em Londres, um judeu exilado, Szmul Zygelboim suicidou-se, deixando uma carta onde dizia: "Quero registrar meu protesto contra a passividade com a qual o mundo está vendo e permitindo o extermínio do povo judeu".
Era uma época onde as notícias demoravam a chegar, onde o acontecido hoje podia levar vários dias para que as pessoas ficassem sabendo o que tinha ocorrido num ponto do mundo, se viessem a saber.
Há muito tempo o general Stroop e seus comandados morreram, passaram para o outro lado da vida. Até seus dias finais, muitos soldados que lá estiveram sempre diziam que tinham feito o que achavam certo.
Faixa de Gaza, 2009. Dizendo ser legítima defesa, uma das maiores máquinas militares do mundo, o exército de Israel avança contra a população palestina em retaliação contra os ataques dos militantes do grupo islâmico Hamas, que dispara contra pequenas cidades da fronteira israelense, mísseis que até a ofensiva haviam provocado 4 mortes.

Mais de 400 tanques, mais de 100 helicópteros de combate e caças dos mais modernos disparam obuses e mísseis sem parar. Milhares de soldados seguem tomando cidades. Do lado palestino são contados até agora 702 mortos. Do lado israelense até agora 10 mortos.
Chega a notícia de que 2 escolas mantidas pela ONU foram atingidas por mísseis e obuses, com a morte de mais de 30 crianças. Segundo os israelenses as escolas eram uma base de lançamento de foguetes. Segundo o encarregado da ONU, que supervisionava as escolas presente no local, nada disso é verdade. Pelo mundo afora, diplomatas israelenses esgrimem os mais refinados argumentos para dizer que o que suas tropas fazem é correto. Shimon Peres, pateticamente limita-se a dizer que Israel cuida de suas crianças, ao ser questionado sobre isso. Soldados de Israel, entrevistados no local acreditam estar fazendo o que é certo.
Há 66 anos atrás em Varsóvia, homens de uniforme acreditavam estar fazendo o que era certo. Até o fim de suas vidas diziam isso. Hoje, num exercício de imaginação podemos ver o general Stroop do outro lado da vida, dizendo aos seus homens que afinal, os descendentes do povo que eles perseguiam fazem hoje a mesma coisa.
Claro, esse é um novo tempo, onde as notícias chegam em questão de segundos. Sons, imagens, um relato completo do que está acontecendo chegam a todos os lares do mundo. E parece que o mundo não está tão passivo hoje. Olhando bem tudo isso, o general Stroop pode pensar que no fim de contas, não há grandes diferenças entre seus homens e os que atacam hoje.
E se um dia, eles estiverem no mesmo lugar no outro lado da vida, poderão ver que apesar de tudo, eles tem algo em comum. Frequentaram a mesma velha escola.
Mas fica feio admitir isso. É melhor apenas dizer que acreditam que estavam fazendo a coisa certa.

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