quarta-feira, 16 de junho de 2010

P39 Sementes do ódio

Uma colheita amarga no futuro...

Em suas contínuas incursões contra os palestinos, Israel amarga hoje uma triste colheita. Todas as sementes plantadas no passado deram somente espinhos. Mas mesmo assim não existe entre os membros do alto comando militar israelense a idéia de tentar frutos da paz para o futuro. Enquanto continuarem a ter o apoio militar norte-americano, jamais irão plantar outras sementes. Aliás, o próprio Estado de Israel é fruto de uma semente que os americanos se arrependem amargamente de terem plantado no lugar que uma vez foi chamado de jardim do Éden. Texto publicado originalmente em 14.01.09 em
http://vellker.blog.terra.com.br

Os deuses vencidos

Divindades também caem...
Com a notícia do recente disparo de mísseis do território libanês, os israelenses levando em frente sua ofensiva na Faixa de Gaza prendem a respiração e o temor da abertura de uma nova frente de combate faz todos os estrategistas de Israel estremecerem. O custo que isso representaria em termos de soldados, equipamentos, baixas e uma nova onda de antipatia mundial, justo no momento em que o mais fiel aliado de Israel, o já quase ex-presidente George Bush não dá mais ordens é um cenário que deixa seus generais e políticos sem dormir.
O que os israelenses começam a sentir de forma cada vez mais desanimadora é que a onda de ódio que foram alimentando desde que se instalaram no Oriente Médio em 1948 a cada dia se torna mais e mais preocupante. Em última análise, Israel, como em 1973, pode apelar para seu poderio nuclear que nunca foi confirmado e ao mesmo tempo nunca foi desmentido pelos seus dirigentes, mas num cenário desses, a intervenção da Rússia e da China, em implícita ameaça de entrar num conflito desses não é nada desprezível. Em 1973, com o avanço das tropas egípcias, segundo antigos membros de serviços secretos, Golda Meir ordenou que 13 ogivas nucleares transportadas por aviões fossem colocadas ao lado dos aviões. Com os satélites americanos e soviéticos captando a radiação das ogivas e prevendo o desastre que isso poderia representar, em alguns dias conseguiram parar o conflito.
Hoje, com o cenário na região sempre mais tenso, pouco se pode fazer num caso desses. A Síria que nunca renunciou à sua decisão de reaver as colinas de Golan tomadas por Israel em 1967, países como o Líbano com seus radicais que cresceram a partir da ofensiva de Israel em 1982, onde após uma sangrenta ofensiva Israel provocou enormes baixas na população civil e ao mesmo tempo viu suas forças paralisadas nos combates de rua em Beirute, o crescimento de movimentos como o Hezbolah, Hamas e o crescente poder militar do Irã criam uma situação que nos permite entender porque os filhos dos judeus que emigraram para Israel hoje pensam em como sair de lá.

Apesar de acreditar que se defende, o cidadão israelense já começa a pensar que vai chegar o dia em que será impossível manter tantas frentes de batalha. Um país que apesar de sua invejável posição no campo da educação e avanços tecnológicos, não consegue entender porque desperta tanto ódio. Mesmo uma parte dos israelenses já começa a pensar que torna-se vital para seu futuro, para sua sobrevivência pura e simples reverem seus conceitos de estado, de religião, de nação, de relacionamento com seus vizinhos e acima de tudo retirarem do poder os líderes que no fundo sempre se guiaram pela visão religiosa, extremista e segregacionista dos rabinos ortodoxos, na construção do estado do Eretz Israel, que pressupõe, é claro, a recriação de Israel em fronteiras definidas pelos ortodoxos religiosos. Tal visão só pode conduzir para o desastre.
Os radicais islâmicos com a crescente influência e ajuda de homens no poder como Mahmoud Ahmadinejad, que viveu no Irã a guerra contra o Iraque na década de 80 trabalhando no serviço secreto iraniano e grande conhecedor de muitos dos segredos daquela região e que depois de sobreviver a tudo, se alicerça como um dos poderes militares que mais crescem na região e ainda por cima dá ajuda a esses grupos, as opções de Israel começam a ficar cada vez mais limitadas, se forem baseadas somente no confronto militar, que até hoje, em larga escala é sustentado pelo governo americano a fundo perdido de mais de 2 bilhões de dólares por ano, enquanto que os árabes, tendo perdido a limitada ajuda da União Soviética em 1991, continuam por seus meios a crescer em força militar. Nas milícias islâmicas até mesmo crianças já passam por treino militar, acreditando ser um dever quase sagrado o combate. No futuro de Israel, muito antes de ele chegar, já existem esses inimigos.
Hoje, em meio ao tumulto dos combates na Faixa de Gaza, com uma máquina militar imensa e que avança lentamente com o apoio de aviação e artilharia pesada, lutando contra radicais islâmicos que dispõem só do equipamento leve de infantaria, mas combatem sem cessar e ainda ao custo da própria vida disparam os mísseis que podem, no fundo, soldados e cidadãos de Israel sentem, sem nada dizerem, que uma guerra assim já é de antemão perdida. Mais dia menos dia, virá o acerto de contas, coisa que muitos israelenses tentaram avisar desde 1948 mas foram ignorados.
Resta a homens como Ehud Olmert e seus generais e soldados, nos momentos em que estão a sós com seus pensamentos, assistirem a tudo como deuses vencidos.

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