sexta-feira, 24 de setembro de 2010

P49 Mande mais e-mails

Te respondo depois... Caro amigo

Como está? Sempre trocamos e-mails sobre a vida política dos dias de hoje. E nesta época de eleições, recebemos e-mails da direita e da esquerda, seja lá como se denominem, sem parar. Mas falando de política, apesar de alguns se alienarem disso, o assunto é interessante e nos toca a todos. Temos talvez uma discordância dos fatos políticos de hoje, pelas notícias que me manda, . Mas vejo a parcialidade das notícias que me são enviadas. Todas foram encaminhadas a você, que por sua vez as encaminhou para mim. Mas notícias? Uma verdadeira coleção de fatos montados e remontados, sabe-se lá por quem.

Tenho recebido uma quantidade enorme de e-mails nesta época de eleições, encaminhados por você e outros amigos, alguns dos quais não se sabe, creio eu, a origem. Todos tendenciosos e montados de forma a dar uma certa impressão dos fatos que não correspondem à realidade. Ou melhor, procuram moldar uma realidade ao gosto de quem escreve, pinçando textos, falseando opiniões e ajeitando fotos para compor uma realidade que parece que é mas não é.

É antes a realidade que os órfãos de Fernando Henrique Cardoso, um dos maiores enganadores que o país já teve, tentam passar adiante para ver se seus chefes voltam ao poder. Quem sabe, pode dar certo. Mas não me julgue como partidário de qualquer um dos candidatos atuais a presidente. Vendo a política de hoje, considero Lula apenas um carreirista que fez fortuna por culpa de um erro do povo brasileiro, que alienado dos fatos, humilde e esfomeado deixou-se levar por bolsas e sanduíches do governo. Maior culpa ainda pelo que nos sucedeu a partir de 1994 cabe à classe média, que apesar de ter estudo e renda, foi e ainda é mais alienada e mais atrasada que a classe pobre e em 1994 deu a um grupo de ladrões os votos necessários para venderem o Brasil a estrangeiros e só não fizeram pior porque, sabe-se lá como, mudaram de voto em 2002, senão nem mesmo teríamos mais o nome de Brasil e sim de Brazil Incorporated. É fato, a classe média só conhece o caminho do shopping center. Mas no mundo de hoje, com os valores que ele idolatra, ela não é tão culpada assim, mas ao mesmo tempo, prefere não saber de nada.

Mais uma vez esclareço que não sou a favor de nenhum dos candidatos que estão aí. Ter que votar na Dilma, no Serra ou na Marina é, para fazer uma analogia, estar na mesma situação de ter que escolher entre uma mulher que vasculha bolsas em lojas, entre um homem que revira gavetas num armário ou entre a cúmplice dos dois, que tenta vender na rua produtos naturais feitos em laboratórios do pior tipo, para a presidência do nosso condomínio.

Quanto ao resto, vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, não só de um, mas de todos os partidos, não passam de trapaceiros, que tem um e só um objetivo: encherem-se de dinheiro e redigirem as leis que o judiciário, muito amigo deles, recebe sem reclamar. Se bem que alguns magistrados idealistas, ainda que solitários, tentam mudar alguma coisa.

A situação do Brasil hoje, caro amigo, já é próxima de uma secessão, ou seja, separação, perda pura e simples de partes consideráveis e vitais do nosso território, iniciada com a venda das estatais por Fernando Henrique Cardoso e exemplo marcante disso foi a venda de empresas como a Vale do Rio Doce, que antes totalmente nossa, hoje é de propriedade de estrangeiros e chamam a isso de "modernidade". Eu chamo de traição.

A política nos toca, ao menos aos não alienados. Por isso, se pudermos trocar algumas idéias sobre tais assuntos, será bom. O tema política é extenso, o que dá para abreviar é resenha esportiva. Vejo que cada vez mais o Brasil começa a entrar num processo de cisma, onde se dividirão os bons, que desejam retomar o país, com todos os sacrifícios que isso traz, dos maus, que desejam saborear pequenas comodidades dadas por estrangeiros, até o dia em que estarão de chapéu na mão, pedindo dinheiro aos mesmos que ontem lhes davam alguns presentes, fazendo uma analogia, colares e espelhos, como os conquistadores deram aos índios em troca de suas terras, para depois lhes darem as balas de suas Winchesters. Sua região, parte da Amazônia será a primeira a entrar nessa situação.

Aliás, por obra e graça de mais traidores enfiados em todos os cargos públicos, já temos 94 mil km2. de terras dadas para reservas indígenas para uns 4.000 índios, em fronteiras próximas de combates entre guerrilheiros e tropas colombianas, um terreno potencialmente explosivo e capaz de desencadear situações fora do controle do Brasil, pela sua absoluta fraqueza. E enquanto isso, como na denúncia de Orlando Villas-Boas, os índios vivem no exterior fazendo o papel de coitadinhos, pedindo intervenção estrangeira.

Temos um exército incapaz de se deslocar em seu próprio território em caso de conflito e que libera soldados residentes nas cidades em que servem para comerem em suas casas para economizar comida, temos uma força áerea com mais da metade dos seus obsoletos aviões parados por falta de peças, temos um porta-aviões vendido pelos franceses no ano 2000 por 12 milhões de dólares e que eles não sabiam se derretiam ou se transformavam em navio museu. Afinal, ele foi construído em 1957. Mas claro, Fernando Henrique Cardoso apareceu para comprar o velho navio enferrujado. E foi saudado pela imprensa francesa e pela Rede Globo como grande estrategista. E de quebra toca a privatizar estatais elétricas para vender até mesmo para estatais elétricas francesas, que continuaram estatais e hoje lucram com as contas que cobram dos brasileiros. E pelos seus correligionários e votantes foi saudado como homem de grande visão. Que impressionante. Engana a nação mais uma vez e é elogiado.

Como também
comprou os caças A-4 Skyhawk em 1998, que vieram do Kwait, isso mesmo, o mesmo país invadido pelo Iraque e hoje apenas alguns desses aviões voam. O resto está parado dentro do porta-aviões porque não funciona. Claro, também temos que ver que o porta-aviões ficou de 2005 até 2010 no estaleiro recebendo, como não podia deixar de ser, peças eletrônicas e armamentos franceses, que deram um bom lucro aos seus vendedores, já que o Brasil não sabe fazer o equipamento que ele precisa. Imagine se entrássemos em guerra com a França. Como os franceses iriam rir. E todas essas forças armadas (armadas?) para proteger 8 milhões de km2. de território e 6.000 km. de costa marítima e 3,5 milhões de km2. de mar brasileiro. Brasileiro por enquanto. Quanto ao espaço aéreo, melhor nem calcular, "defendido" por alguns velhos caças F-5 americanos e Mirage 2000 franceses da década de 70.
E nesses e-mails que recebo, com o que estão preocupados? Com o que a classe média se preocupa? Com o avião do Lula e com o bolsa família, talvez porque ficaram de fora dos dois. E se a classe média tivesse recebido de presente do Lula uma espécie de Bolsa-Shopping pensa que ela estaria reclamando? Depredações dos Sem-Terra, que perto do que FHC e sua turma já fizeram com esse país é o mesmo que carpir quintal. E depredações dramatizadas ao extremo, justo em época de reeleição, como aconteceu da última vez. Por hoje, eles fazem o que querem e a imprensa só noticia em pé de página. Ninguém liga mais mesmo. Depredações que de resto já aconteciam no tempo de Fernando Henrique Cardoso exatamente para que a imprensa que vivia bajulando ele tivesse manchetes de terror para mostrar. A mesma imprensa que disse que se Lula fosse eleito em 1989, 800.000 empresários deixariam o país. Só se fosse para trabalharem de empregados em alguma lanchonete e olhe lá, porque aqui boa parte só vivia de favores oficiais. Como hoje, em que Lula completa o segundo mandato e esses 800.000 empresários que deveriam ter fugido não deixaram nem o bairro onde sempre moraram.

E entristece também o vergonhoso papel da nossa imprensa, mas um papel tradicional e que vivia pendurada no governo FHC comprando milhões em equipamentos eletrônicos para participarem como operadoras das linhas de telefonia, por isso fizeram a campanha pela privatização. Depois, quando FHC foi reeleito, deu um pontapé na imprensa e mandou Gustavo Franco derrubar a paridade entre o real e o dólar que era de um para um. Resultado, da noite para o dia, Globo, Estadão, Folha e outros viram suas dívidas em bancos estrangeiros subirem o dobro do que eram. Coincidência que eles tenham então apoiado mais a compra de bancos brasileiros por estrangeiros, que hoje controlam quase metade do sistema financeiro do Brasil? E é claro, lucram e muito com o dinheiro dos brasileiros. Pedágios aparecendo sem parar, empresas européias e americanas cobrando preços absurdos dos brasileiros que pagam a estrangeiros para andarem em sua própria terra e dizem que isso é "modernidade", que o certo é o "Estado fora do mercado". Isso é o que dizem jornalões como o Estadão, a Folha, o Globo, a revista Veja, a revista Época. Certo, o Estado fora do mercado. Agora quando esse mesmo Estado financia boa parte do papel comprado por esses grupos para imprimirem suas revistas e seus jornais, aí está certo, aí é modernidade. E nesse tempo todo, desde 1994, a destruição do sistema escolar, a destruição do sistema de saúde pública, o sucateamento da previdência, isso tudo sim a imprensa saudou como "modernização do Estado". E toca a receber verbas de órgãos públicos. Receber verbas do mesmo "Estado que deveria estar fora do mercado" não é ser atrasado, não é ser anacrônico, é ser "moderno".

E nesses últimos e-mails, aparecem denúncias de que o governo Lula paga auxílio-reclusão aos presos, só que não dizem que quem sancionou a lei que criou o auxílio-reclusão foi Fernando Collor de Mello em 1991, lei nr. 8.213/91 de 24 de julho de 1991. Esse Collor é bonzinho. Lula é que é mau porque paga esse tal auxílio que ele é que deve ter inventado.

E também nenhum desses e-mails diz que Fernando Henrique Cardoso aprovou a transformação do auxílio-reclusão em pensão para a família do preso em caso de seu falecimento, em 6 de maio de 1999, decreto-lei 3.048/99. Mas o maldoso mesmo é Lula que paga essas coisas para os presos e suas famílias.

Bom mesmo é Fernando Henrique Cardoso que defende publicamente a liberação das drogas, com todas as desgraças que elas trazem e ainda por cima completa dizendo que depois o Estado, sim, esse mesmo que ele sempre disse que devia estar fora de tudo, o Estado, mantido pelos nossos impostos é que deve arcar com o tratamento dos viciados, que nós já sabemos, é inútil.

O mesmo Fernando Henrique Cardoso que apoiou e conseguiu aprovar no congresso nacional a lei do desarmamento, que deixou o cidadão comum desarmado, incapaz de se defender de bandidos, estupradores e traficantes, quando eles sim é que hoje assaltam e matam o cidadão, estupram suas filhas, viciam seus filhos e o cidadão, desarmado e indefeso, só pode assistir a tudo de cabeça baixa. Mas a imprensa não apoiou isso? Não fez toda propaganda possível em horário nobre para que o cidadão aceitasse a idéia de se desarmar, de se tornar indefeso, de pôr a cabeça no cepo para maior comodidade dos bandidos? Não prometia que com o desarmamento o Brasil viraria uma Suíça de paz e amor?

Agora o resultado está aí. Fuzilamentos coletivos, bandos de modernos cangaceiros pondo até a polícia para correr, assassinatos em série, testemunhas de crimes fuziladas, o povo se trancando em casa logo ao anoitecer. E se por acaso um cidadão tiver uma arma, herança de família em casa, se sua casa for invadida por bandidos e ele atirar para defender sua família e com sucesso abater os bandidos, o que acontece? Ele vai preso por crime de porte de arma, considerado hediondo e inafiançável. Já sabemos o que vai acontecer com ele na cadeia. Mas agradeçam à nossa impresa e a quem assinou essa lei, Fernando Henrique Cardoso.

Claro, Lula também ajudou a manter tudo assim. "Tudo dominado" como diz a marginália.
Acabo de receber mais e-mails seus encaminhados. Não acredito. O assunto do Aerolula de novo? Vou conferir. Um grande abraço.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

P48 Títulos falsos

Títulos falsos...
No dia das eleições, já bem próximo, vai se dar novamente a farsa quadrienal de suposta alternância de governantes. Muitas vezes nem isso. Acredita-se numa sociedade civilizada que essa instituição chamada voto traz muitas mudanças. Que muda governantes e ideologias, que muda condições de vida e o destino de uma nação.

No caso do Brasil, de forma triste e lamentável, nada disso é verdade. Mantém-se a farsa institucional que, desde cedo, em magistral golpe de propaganda os falsários, no caso os políticos, aprenderam a chamar de "democracia e cidadania", logo seguidos pela imprensa, na qual trataram de colocar rédeas através da posse de emissoras de rádio, televisão e jornais e conseguiram criar essa ilusão.
Milhões de eleitores, ainda crentes nos títulos falsos que levam na carteira, irão se acotovelar nos transportes públicos no dia da eleição, coisa a que já estão habituados no dia a dia para chegar ao trabalho. Pelo menos as últimas panes no sistema de metrô da cidade de São Paulo já lhes deu um bom e último treino para isso. Depois poderão ver amenidades nas horas finais do feriado, crentes de que o sol brilhará diferente amanhã.

Os cidadãos deveriam se perguntar porque seu trabalho honesto tem sido tão penoso enquanto o dos políticos, de vereadores a presidentes é tão folgado? Porque sua aposentadoria é tão minguada enquanto que a dos políticos é tão polpuda coroando uma vida de nenhum trabalho e muita corrupção? Porque na propaganda oficial dos jornais, a vida está tão boa, mas o cidadão é roubado em seus direitos, abandonado à própria sorte na porta dos hospitais públicos, não consegue dar educação a seus filhos, enquanto que os políticos criam para eles mesmos mais direitos e privilégios, desfrutam dos melhores planos de saúde e dão educação das mais caras para seus filhos? O cidadão deveria se perguntar porque ele vive espremido em caríssimos cubículos nas grandes cidades, enquanto que os políticos vivem desfrutando de luxuosos condomínios?
Mas se perguntasse tudo isso de forma decidida só teria uma resposta : a de que o título que tem nas mãos é apenas um título falso, emitido por falsários. Isso daria margem a um tumulto e mudanças inacreditáveis. Por ora, a classe política consegue manter essa ilusão.

Talvez a melhor definição de tudo o que ocorre nos dias de hoje, 2010, seja dada pela leitura de um trecho do Manifesto Tenentista da revolução de 1924 :

"...O Brasil está reduzido a verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens e estabelecendo-se como condição primordial, para o acesso às posições de evidência, o servilismo contumaz que, movendo-se pela mola das ambições, cada vez mais se generaliza, constituindo fator de degradação social. O povo ficou reduzido a uma verdadeira situação de impotência, asfixiado em sua vontade pela ação compressora dos que detém as posições políticas e administrativas. Dispondo de material bélico moderno, contra o qual os cidadãos inermes nada podem fazer, os dominadores tem-lhe coartado a manifestação da vontade pelas urnas, órgão legítimo pelo qual a soberania popular se exerce nas democracias...".

Acredita o cidadão, ainda, que o título que ele carrega no bolso é legítimo. É falso, visto que só serve para alternar as posições de aliados e apaniguados nessa farsa eleitoral. É falso, porque só serve para sancionar as ambições de lucro pessoal dos que melhor souberem cantar promessas de mudança. É falso porque lhe dá a ilusão de mudanças decisivas na vida política da nação, quando na verdade apenas se alternam entre um cargo a mais ou a menos, os mesmos falsários que tem como meta final de tudo apenas a satisfação da ambição pessoal, às custas do povo e da nação.
Enquanto o povo não se perguntar isso, nem procurar pelas respostas, esse congresso de falsários continuará vivendo seu luxo às custas do sofrimento da nação.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

P47 Mercado nacional

Alguns negociantes saem, outros entram...

Aproxima-se o dia em que mudanças na atual participação societária da empresa chamada de Brasil S/A serão redefinidas, com a demissão de alguns dos atuais ocupantes de cargos de direção, havendo então a nomeação de novos pretendentes que passaram o mês apresentando seus curriculos num horário chamado de eleitoral, que seria mais próprio chamar de comercial. Se bem que a propaganda enganosa seria imediatamente proibida de ser veiculada, isso num país com instituições sérias.

O atual presidente da companhia já deu sonolentas mostras para a comunidade internacional de que com seu, ou melhor, sua sucessora, os investimentos continuarão garantidos. Seu sucessor ou melhor, sua provável sucessora, que em tempos idos da década de 70 lutava pelos oprimidos ou pelo menos fazia-de- conta remodelou seu pensamento e hoje trabalha confortavelmente do lado daqueles que chamava de opressores do povo, numa linha dita subversiva na época. Em recente propaganda apareceu com seu protetor dizendo "...a realidade mudou e nós mudamos com ela...". Traduzindo : saímos da cadeia e hoje frequentamos os melhores clubes de Brasília e quem disse que realmente queremos mudar alguma coisa agora? Só fazer-de-conta que mudamos já está ótimo.

E lá se foi o discurso dito socialista para a lata do lixo. Ficou o discurso de proteger o povo brasileiro com um belo conjunto de linhas apresentado em todo horário eleitoral, que estaria melhor mesmo denominado de horário comercial, onde o povo vê claramente que vai entrar forçado como sócio numa empresa de onde tenta sair a qualquer custo, que o digam os brasileiros que emigram todo ano para o exterior em busca de melhores sociedades.

Nessa sociedade onde o povo brasileiro entra como sócio minoritário em relação a direitos e como sócio majoritário em relação a deveres, obrigações e dívidas que nunca fez mas tem que pagar, fica a percepção de um ritual quadrienal de trapaça coletiva, da qual todos são obrigados a participar por lei, enquanto as manchetes das grandes revistas, jornais e redes de televisão procuram apresentar tudo como um mar de alegria e progresso.

A diretoria da empresa, também conhecida como congresso nacional por seu lado cuida de manter seus lugares, que alguns membros perderão esse ano por se aventurarem por onde não deviam, mas terminarão confortavelmente empregados em firmas terceirizadas, para prestarem serviço nenhum para o povo brasileiro, pagos com salários exorbitantes. Outros caídos na antipatia de seus antigos colegas sócios e também em descrédito entre a população, terão suas pretensões salariais rejeitadas, passando a amargar um ostracismo a pão e água.

É o caso de um ex-sociólogo, antigo presidente da empresa, que junto com seus sócios, seguiu fielmente as diretrizes econômicas ordenadas por sócios majoritários estrangeiros e vendeu a maior parte do país, ou melhor, da empresa, para presidentes estrangeiros americanos e europeus e crente de que ia ser recompensado com um belo e vistoso conselho vitalício na empresa, foi descartado por seus antigos sócios e hoje amarga a triste rotina de ser barrado pelo guarda da empresa na portaria, podendo apenas deixar o recado de telefonarem para ele, caso se lembrem. Já se conforma com o banco da praça como local de reuniões com outros demitidos, onde farão de conta de que estão no gabinete presidencial da empresa. Logo um seu amigo, ex-auto-exilado na França em 1964 e que sempre se auto-apresentou como combatente-contra-o-regime-militar lhe fará companhia, se for aceito é claro, depois da traição de dizer que era herdeiro do atual presidente e não do passado, hoje completamente abandonado. Em todo caso, tudo é faz-de-conta.

A empresa progride para alguns poucos funcionários não pela administração, mas pelo seu tamanho, pelo seu vigor natural, pelas riquezas que possui, indo mar adiante como um porta-aviões sem direção, navegando com a força do seu tamanho, enquanto que suas riquezas são indiscriminadamente usurpadas e entregues a estrangeiros e mercadores do pior tipo. Enquanto isso, o mar de prosperidade é pintado todo dia pelas revistas e jornais, que ignoram pessoas nos sinais pedindo o que comer, aposentados sem dinheiro para comprar remédios e o turismo sexual nas praias e estados do norte da empresa, sem contar um governador de um setor da empresa chamado de Amapá, preso sob a acusação de vender terras da empresa para estrangeiros. Enquanto isso, o sócio majoritário da empresa, no que diz respeito a deveres, obrigações e prejuízos, chamado de povo brasileiro, sabe dessa situação de faz-de-conta, mas está impotente para reagir.

A ele resta participar da farsa quadrienal que chamam de eleições e decidir entre dois candidatos, um que rouba pela direita e outra que rouba pela esquerda, qual o menos pior e menos danoso para suas vidas.

E depois, dispensados da única vez em que são ouvidos pela quadro de presidentes e diretores da empresa, será posto de volta no pátio desse imenso conglomerado chamado Brasil S/A, tratando de se cuidar pois a empresa é tropical, o sol é forte e o ar-condicionado fica lá dentro dos gabinetes.

Para piorar, a água fresca também. Mas aí já não é faz-de-conta.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

P46 E agora, a sobremesa...

O morango é amargo, mas a festa continua... Com o natural esquecimento do caso do atropelamento e morte do filho da atriz Cissa Guimarães, atriz da Rede Globo, retorna a classe média e média alta também para as alegres noitadas, onde sabem que façam o que fizerem seus filhinhos, nada vai acontecer, a não ser a impunidade. No máximo em caso de condenação, talvez alguns meses de serviço comunitário ou pagamento de cestas básicas. Já o coitado que tiver sido atropelado ou a coitada que tiver sido violentada, que azar, dirão os vizinhos do condomínio.

A orgia da classe média é essa e existe entre todos um tácito e silencioso acôrdo de que as coisas são assim mesmo. Aliás, seus filhos estudam Direito para isso, para estarem mais cientes do que fazer no caso de acontecer o inesperado meio esperado. Se bem que as possíveis vítimas também sabem disso, também aceitam o acôrdo quando saem fazendo loucuras pelas ruas e bares e se por azar terminarem o dia ou a noite sendo as premiadas do dia ou da noite para serem servidas em forma de bolo, fazer o quê?
Resta às lacrimosas mães cariocas, que já podem fazer companhia às mães da Plaza de Maio na Argentina, mães das vítimas da Junta Militar argentina que sumiu com milhares de pessoas, apelarem para o setor de passeatas do Instituto Sou da Paz. Por uma módica quantia, o movimento, aquele da pombinha da paz, põe um batalhão de gente de camiseta branca nas ruas, com o símbolo da pombinha. Um pombinha, diga-se de passagem, bem mais consciente do que os moradores do Rio de Janeiro, que vendo do alto tanta bala perdida voando para todos os lados, decidiu pousar em algum outro lugar bem mais seguro, ficando somente na camiseta dos passeantes, que volta e meia deitam na fumaça de mais uma bala não tão perdida assim.

Nem tudo estará perdido, porém, se as mães cariocas encontrarem os membros do Sou da Paz trancados dentro de casa e enfiados embaixo da mesa no meio do tiroteio. Podem apelar para o Movimento Viva Rio, outro que vive de denunciar a violência, dando a todos a sensação de que ele chegou no Rio de Janeiro ontem, já que desde a década de 90, tiroteios e fuzilamentos coletivos são rotina na cidade onde pretendem denunciar o que pensam que ninguém sabe. Mais uma vez, por uma módica quantia, organiza-se um desfile de cruzes que são solenemente enterradas na praia, simbolizando o massacre que é perpetrado contra a população. Ou pelos bandidos, que pelo menos estão em seu dia de trabalho ou pelos filhinhos da classe média, que estão voltando de mais uma noite de bebedeiras em altíssima velocidade e atropelando quem encontram pela frente. Terminado o protesto, enquanto os garis retiram as cruzes, vão todos se deitar na praia ou bebericar num bar da moda, que afinal ninguém é de ferro. Só os fuzis que atiram para todos os lados.
E assim continua a vida na cidade maravilhosa, que já tem um refrão entre os traficantes armados que policiam as encostas dos morros :

"Cidade maravilhosa, cheia de tiros mil...
Cidade maravilhosa, munição do meu fuzil..."

Munição paga é claro, com o dinheiro dos deslumbrados filhos da classe média e média alta, que abastecendo as bocas de fumo com reais, dólares e euros ajudam a manter esse tenebroso cenário.

Quanto a essas classes, deve-se notar que classe média é aquela que pensa que é rica, mas está com o cheque especial no vermelho. Classe média alta é aquela que também pensa que é rica, mas apenas ainda não estourou o saldo no banco. E a festa continua. Mas para dar um sono tranquilo ou quase aos pais desses filhos tão estabanados, está aí a polícia da cidade maravilhosa, sempre vigilante no lucro que pode ter com tudo isso, já que a orgia vai longe.
E a orgia moral e jurídica, nua e crua no caso do povo paisano, atinge uma devassidão inacreditável no caso do povo fardado, capaz de fazer o imperador Nero da Roma antiga ficar ruborizado de vergonha. No recente caso do atropelamento do filho da atriz, logo depois de tentar fugir, o atropelador foi parado por policiais que lhe exigiram uma propina. Depois de serem publicamente denunciados pelo pai do atropelante, que perdido por perdido decidiu abrir o jogo para a imprensa, os policiais em suspeição, na primeira entrevista coletiva dada pelos seus oficiais superiores, entre capitães e tenentes, foram elogiados como detentores de fichas de serviço das mais impolutas e honoráveis, até que ao serem desmascarados, foram jogados na cadeia, enquanto que os membros do tribunal militar que antes os elogiavam, agora de dedos em riste prometiam total apuração do caso e severas punições. Como sempre. Até deviam fazer um hino para esses casos.

Até que por esses dias, viu-se que a orgia da tão cantada cidade maravilhosa continuava além dos limites humanamente imagináveis. Depois de servido o prato principal da vez, forçado goela abaixo, veio a sobremesa. E põe sobremesa nisso.

O capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Lauro Moura Catarino, que também é o juiz militar encarregado de julgar os policiais acusados de extorquirem o atropelador do filho da atriz, foi preso na madrugada de sexta-feira, 27 de agosto, enquanto roubava fios telefônicos da companhia telefônica Oi. Junto dele, talvez pensando em montar um próspero negócio de cabos de telefonia, estava outro oficial, Marcelo Queiroz dos Anjos, capitão do Batalhão de Choque.

Depois de tudo isso, de todos esses acontecimentos dia após dia, caso após caso, sem dúvida alguma fica mais coerente o hino da cidade maravilhosa cantado pelos traficantes. Na gigantesca paisagem paradisíaca das belezas criadas pela Natureza, que prende a atenção de qualquer viajante, fica a triste visão de uma massa de pessoas perdidas em orgias sociais das mais impensáveis, impossíveis de serem imaginadas até mesmo por um escritor como Franz Kafka.

E no viver do dia a dia e noite a noite, entre corridas de carros descontrolados e cabos telefônicos cortados, prossegue a música ou melhor, ruídos grotescos dos bailes funk regados a drogas e alí perto, tentando compor uma triste e falsa ordem, a banda da polícia tenta animar o coreto, roído por uma colônia de cupins morais.

Enquanto isso, o garçom se aproxima para servir mais um bolo para a vítima premiada da vez, com morangos com gosto de vinagre e glacê com gosto de fel. É a cidade maravilhosa.

Imagine se não fosse maravilhosa.

Matéria a verificar:
Capitão da PM do Rio é preso roubando cabos telefônicos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

P45 O banquete da classe média

Muita gente ainda vai ser servida...
Continua ainda, mas já com uma certa expressão de tédio na fala dos apresentadores, a divulgação de algumas notícias sobre o caso do jovem filho de uma atriz da Rede Globo atropelado e morto por outro jovem da dita sociedade da classe média, representativa do que temos de melhor e pior na política e no judiciário do Brasil. Bem, é verdade que a parte melhor é bem pequena e boa parte já emigrou para outros países, mas a vida prossegue.

Essa classe média, uma espécie de papel carbono da classe rica no que se refere às mazelas sociais e jurídicas da nossa nação, persiste no seu caminho suicida, enquanto assiste adequadamente horrorizada às notícias da morte mais recente de mais algum jovem da sua classe, morto pelas mãos de mais outro jovem também da sua classe. No final a impunidade, que é um consenso já institucional entre os papais e mamães dessa classe, faz com que o agressor caminhe tranquilo para casa, enquanto o azarado da vez é pranteado no velório. Fora, na frente da funerária ouvem-se protestos indignados por justiça e a preparação de mais uma passeata pela justiça. Na frente da casa do agressor, o advogado, dependendo do honorário recebido, esbraveja indignadas expressões de defesa do pobre e traumatizado assassino. Afinal não é todo dia que um corpo bate no nosso carro e cai a dezenas de metros de distância. Mas o heróico rapaz ainda telefonou para a ambulância enquanto fugia. O próprio Tribunal de Justiça discutiu o direito de fugir um dia desses.

Já é passado, mas foi marcante como a justiça que temos tratou os criminosos que mataram o menino João Hélio. Três maiores de idade foram presos, mas detalhe, eram da classe bandida e não da classe média. Sem dinheiro para pagar advogados famosos, foram para a cadeia, mas estarão soltos logo. O da classe "de menor" mesmo depois de tentar matar um agente penitenciário e tentar organizar um motim, já está sob proteção das organizações de amparo ao "de menor". Diversas alternativas o assistem, desde a troca de identidade até um subsídio mensal para viver. Quanto aos pais do menino Hélio, abram alas para o "de menor", que vai passando imponente. Para dar uma idéia da visão do que é Justiça independente da idade, na Inglaterra duas crianças de 10 e 11 anos que mataram um bebê foram presos, julgados como adultos e sentenciados a prisão perpétua.
No caso do jovem e do menino, um arrastado até a morte e o outro atropelado e morto, não só a situação deixa evidente esse vício da impunidade que a classe média decidiu cultuar e que com o passar dos anos transformou em lei. Afinal, aos poucos ela conseguiu se infiltrar no judiciário e no legislativo e para lá levou essas deformidades de caráter. Um deputado aqui, um magistrado alí e ano após ano tudo foi se ajeitando. Claro, as leis tem que mudar, os entendimentos jurídicos tem que mudar e acompanhar os tempos. Mudança é uma coisa, perversão é outra. Agora porque será que ela reclama com passeatas? Se bem que a passeata só leva a dois lugares. De um lado a praia, de outro os bares.

Acima de tudo assiste-se a um festival de hipocrisia onde meias verdades, quando não mentiras inteiras são ditas para satisfazer a imprensa, como no caso das declarações dos oficiais da polícia militar carioca, quando o pai do atropelador denunciou a tentativa de extorsão dos policiais que haviam flagrado o atropelamento. Desfiando um verdadeiro rosário de elogios aos dois policiais, o oficial viu-se num beco sem saída quando a história toda veio à tona. Agora estão os dois policiais de molho no presídio das polícia a esperarem duas coisas: a punição, dependendo dos ânimos do tribunal militar ou a saída silenciosa de volta às ruas, quando tudo estiver esquecido. É a classe média, de trajes civis de um lado, de farda do outro e de toga no meio.

Justiça seja feita, a justiça é sagrada, a lei é igual para todos. Mas no meu filho ninguém encosta a mão. Se foi o seu filho que deu azar, problema seu. Fazer o quê? O meu filho não sabia que era o seu. Espero que isso não atrapalhe quando nos encontrarmos na entrada do condomínio. E se eu entrar nessa, quero habeas-corpus também.

Isso é o que sintetiza o pensamento da classe média. Julgamento justo, garantias constitucionais, garantias jurídicas, tudo isso é nome de fantasia para o objetivo principal: impunidade. Desde que o sujeito possa pagar advogados caríssimos. Que o diga Pimenta Neves, assassino confesso da jornalista Sandra Gomide com quem mantinha um caso amoroso, condenado em primeira e segunda instâncias a 19 anos de prisão em regime fechado e que está soltíssimo.
Mas nem tudo está perdido. Uma passeata aqui, outra alí e pelo menos a tarde está salva. Alternativas tentadoras. De um lado um belo mergulho na praia, de outro, a tarde a bebericar em bares da moda e a discutir filósofos e juristas famosos e seus pareceres. E fazer de conta que tudo parece diferente. Na calçada, quem vai indo embora pensa que é melhor ter cuidado na hora de atravessar a rua porque todo mundo bebeu bastante. No estacionamento, quem liga o carro lembra que se acontecer qualquer coisa o advogado já disse que ele terá o direito de não fazer o teste do bafômetro.
Foi o que fiquei imaginando ao mudar de canal no meio do noticiário. Com a imagem cheia de chuviscos ainda ví o pedaço de um documentário que mostrava uma briga de cães, tradicional em alguns países. Com o triste espetáculo dos animais se atacando daquela forma, atiçados pelos seus donos, não pude deixar de fazer uma analogia com a classe média dos dias de hoje. De um lado a hipocrisia e a impunidade como donas, do outro a classe média solta sem coleira. E toca a dar dentada.

Mudei de canal, mas não era o dia de espetáculos alegres. No outro canal, com boa imagem, aparecia uma horda de mortos-vivos de um filme de terror atacando a dentadas mais uma vítima, que é claro, ia virar zumbí também.

Com seu passeio diário de impunidades às custas do sangue dos seus próprios filhos, o comportamento da classe média fica melhor retratado ou numa triste briga de cães se arrebentando a dentadas ou numa cena de fime de terror, com zumbís atacando a vítima, que depois se vê transformada num deles também.

Pela disposição e mentalidade de manter a impunidade e a justiça do faz-de-conta intocáveis por muito tempo, parece que a classe média ainda tem um longo banquete pela frente.

O que ela não gosta muito é quando é servida não pelo garçom, mas como prato pincipal.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

P44 Uma indicação inesperada

Colocando o logotipo do http://www.topblog.com.br/

Hoje ao abrir a caixa de e-mails para ver as novidades, me deparei com uma surpresa : o logotipo de indicação do Topblog.

Há coisa de um mês ao me deparar com o e-mail anterior do site, apaguei-o por confundi-lo com alguma propaganda. Desconhecia o site, que passei a conhecer agora, com uma visita inicial para ficar ciente dos temas que aborda e links a que conduz.

Uma grata surpresa tal indicação. Não aparece no logotipo por quem fui indicado. Mas agradeço a quem o fez.

Ou se a indicação decorre de pesquisa do Topblog na bilogosfera, da mesma forma fico agradecido pela leitura dos textos aqui colocados.

Amanhã, ao final da noite, colocarei um texto sobre a triste festa da classe média, na qual ela desejaria ser a última convidada. Um leitor há algum tempo atrás achou que alguns textos meus ferem sensibilidades. Na verdade até vejo bilogues com palavras bem mais pesadas do que as minhas. Fico imaginando o que pode ser.

Enfim, no Brasil atual, quem gosta de política tem um manancial inesgotável para estudar. Pena que o manancial não seja propriamente de águas límpidas.

Um grande abraço aos leitores e aos indicadores.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

P43 Na forma do crime

Atores e roteirista caíram na real...
Terminou há poucos dias de forma silenciosa o seriado da Rede Globo "Na Forma da Lei" onde de forma imponente e audaz, pouco característica dos atores brasileiros, um grupo de policiais aplicava a "dura" lei brasileira contra os bandidos, que variavam de bandidos comuns a políticos famosos. Em tom de ação e ângulos de filmagem que procuravam lembrar seriados americanos como o famoso "Law and Order" os atores e o roteirista tentaram, talvez, dar uma visão do que pode vir a ser a lei e a ordem no Brasil algum dia, porque nos dias de hoje é totalmente inacreditável. O seriado pecou desde o início por falta de credibilidade, querendo passar a imagem de uma justiça e lei duras no combate ao crime. Enquanto uma das atrizes da mesma emissora lamentava a morte do filho, atropelado por um jovem da classe média que logo apelou para a lei que os protagonistas diziam seguir para se ver livre das consequências do seu ato, ficou claro que o seriado era totalmente desprovido de lógica.

Talvez com indulgência podemos dizer que foi uma tentativa de ver a lei e a justiça aplicadas com o rigor e o respeito que existe em qualquer sociedade que tenha alcançado ao menos uma incipiente civilização judiciária. O espectador depois de ver no noticiário da emissora criminosos ricos e famosos escapando da lei com risos e continuando a frequentar bares e restaurantes sossegados, não poderia mesmo continuar assistindo o seriado. Mudaria de canal como fez para assistir um seriado como o americano "Law and Order" onde os criminosos, sejam eles famosos, juízes, políticos e outros do mesmo tipo são implacavelmente perseguidos, despojados de seus cargos e levados para o presídio depois de um julgamento rápido, totalmente ao contrário do que ocorre no Brasil, onde os criminosos ainda verberam ameaças de processos a quem repare em sua impunidade.

As atrizes e os atores fazem uma boa presença e tentam, pelo menos no imaginário do roteirista, aplicar o que qualquer ser humano de bom senso entende como justiça para proteger a sociedade, mas tem que seguir o que é dado pelo nome do seriado, ou seja, a forma da lei e ainda por cima a brasileira, o que inviabiliza qualquer tentativa de fazer justiça. Luana Piovani como delegada e Ana Paula Arósio como promotora estariam melhor aproveitadas num seriado americano com leis americanas. Nesse foi puro desperdício com elas e com os outros atores, que pelo semblante pareciam mesmo pouco convencidos da veracidade de seus papéis.
A essas duas candidatas a heroínas só restou mesmo aceitarem a total fantasia de seus papéis e assistirem com um suspiro de resignação o desenrolar de mais um episódio do seriado americano "Law and Order" onde os protagonistas tem a seu favor a lei e o judiciário americanos, o que lhes dá munição suficiente para acabar com qualque bandido, onde depois de uma perseguição, os criminosos, sejam eles políticos famosos ou juízes federais, terminam perseguidos e presos.

Igualmente belas e com boa presença na tela, as atrizes americanas do seriado "Law and Order" tem a seu favor um judiciário sério e competente, portanto podem sair para verdadeiras expedições punitivas contra o crime. Os policiais que as acompanham não hesitam em passar algemas em público nos criminosos, sejam eles um bandido perseguido ou mesmo um agora ex-colega pego enfiado em algum crime, que termina despojado do seu distintivo, algemado e encarcerado ou algum político pego num ato de corrupção e que termina na cela ao lado.
Lógico que aí o espectador brasileiro se sente gratificado. Percebe que lei e a ordem naquele momento em que ele está na frente do televisor valem realmente alguma coisa, ao menos em algum país onde um seriado para ser feito segue a lógica de que ao menos precisa ter seriedade para igualmente ser levado a sério. Ainda que órfão de justiça, o telespectador brasileiro se sente amparado ao menos por um roteirista e atores de um país distante que lhe diz que a justiça, aqui ainda um sonho, é sim possível.
Audazes e corajosos, os protagonistas de "Law and Order" perseguem os que quebram a lei com um rigor que é desconhecido no Brasil. Ao menos esse rigor só é conhecido por aqui contra os pobres e os cidadãos comuns. Os juízes americanos sentenciam baseados num judiciário sério, atribuindo a pena sem levar em conta o nível social dos réus no tribunal, pondo abaixo as tentativas de advogados mercenários de conseguirem uma liberdade injusta e carregadas de privilégios. Até mesmo um ex-magistrado pego num crime é visto pelo outro juiz como merecedor da pena mais severa por ter usado o poder da lei para a delinquência. Igualmente o juiz condena qualquer um que tente ocultar provas de forma tão severa quanto o principal acusado.

Feliz, o telespectador brasileiro vê, em certos episódios, os criminosos condenados, sejam eles milionários, juízes ou políticos, de uniforme laranja, respondendo a mais uma chamada dos guardas ao raiar do sol e depois acorrentados, indo trabalhar mais um duro dia em alguma estrada ou rachando pedras.
Exatamente por contarem com essa formidável retaguarda jurídica e legal os policiais de "Law and Order" passam credibilidade, fazem o espectador se emocionar e desligar o televisor com a certeza de que ao menos na América a lei e a ordem são levadas a sério. Exatamente o que ele pensou ao mudar de canal ao perceber a esquálida ficção do seriado brasileiro "Na Forma da Lei". Aliás, a forma da lei no Brasil já diz tudo.
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Depois de ter visto no noticiário mais um atropelador saindo tranquilamente da delegacia para mais uma noitada, depois de liberado pelo delegado, o telespectador sente que a trama do seriado brasileiro definitivamente não é séria. Acompanhando o noticiário ele fica sabendo que o pai do atropelador tentou de forma premeditada apagar todas as provas do crime e isso só lhe rende um bem calculado depoimento na frente do delegado. Logo depois ele fica sabendo de mais um magistrado envolvido em atos de corrupção e que como punição foi aposentado pelo Conselho Nacional de Justiça. Lógico que a ele só resta mudar de canal. Mesmo num episódio de ficção ele vê a seriedade de uma outra estrutura política e judiciária que ele não tem aqui.
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Ao telespctador só resta chegar à triste conclusão de que ao desligar o televisor e deixar de fazer parte daquele momento de bela ficção, ele estará entregue a essa estrutura judiciária e política brasileira, onde o crime predomina, redige as leis e controla o judiciário, poderes que dizem representar o povo. Isso sim é uma ficção e que de bela nada tem.
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Lógicamente não é o povo como entendemos. É o povo que segue o que se diz "na forma da lei".