
Essa classe média, uma espécie de papel carbono da classe rica no que se refere às mazelas sociais e jurídicas da nossa nação, persiste no seu caminho suicida, enquanto assiste adequadamente horrorizada às notícias da morte mais recente de mais algum jovem da sua classe, morto pelas mãos de mais outro jovem também da sua classe. No final a impunidade, que é um consenso já institucional entre os papais e mamães dessa classe, faz com que o agressor caminhe tranquilo para casa, enquanto o azarado da vez é pranteado no velório. Fora, na frente da funerária ouvem-se protestos indignados por justiça e a preparação de mais uma passeata pela justiça. Na frente da casa do agressor, o advogado, dependendo do honorário recebido, esbraveja indignadas expressões de defesa do pobre e traumatizado assassino. Afinal não é todo dia que um corpo bate no nosso carro e cai a dezenas de metros de distância. Mas o heróico rapaz ainda telefonou para a ambulância enquanto fugia. O próprio Tribunal de Justiça discutiu o direito de fugir um dia desses.
Já é passado, mas foi marcante como a justiça que temos tratou os criminosos que mataram o menino João Hélio. Três maiores de idade foram presos, mas detalhe, eram da classe bandida e não da classe média. Sem dinheiro para pagar advogados famosos, foram para a cadeia, mas estarão soltos logo. O da classe "de menor" mesmo depois de tentar matar um agente penitenciário e tentar organizar um motim, já está sob proteção das organizações de amparo ao "de menor". Diversas alternativas o assistem, desde a troca de identidade até um subsídio mensal para viver. Quanto aos pais do menino Hélio, abram alas para o "de menor", que vai passando imponente. Para dar uma idéia da visão do que é Justiça independente da idade, na Inglaterra duas crianças de 10 e 11 anos que mataram um bebê foram presos, julgados como adultos e sentenciados a prisão perpétua.

Acima de tudo assiste-se a um festival de hipocrisia onde meias verdades, quando não mentiras inteiras são ditas para satisfazer a imprensa, como no caso das declarações dos oficiais da polícia militar carioca, quando o pai do atropelador denunciou a tentativa de extorsão dos policiais que haviam flagrado o atropelamento. Desfiando um verdadeiro rosário de elogios aos dois policiais, o oficial viu-se num beco sem saída quando a história toda veio à tona. Agora estão os dois policiais de molho no presídio das polícia a esperarem duas coisas: a punição, dependendo dos ânimos do tribunal militar ou a saída silenciosa de volta às ruas, quando tudo estiver esquecido. É a classe média, de trajes civis de um lado, de farda do outro e de toga no meio.
Justiça seja feita, a justiça é sagrada, a lei é igual para todos. Mas no meu filho ninguém encosta a mão. Se foi o seu filho que deu azar, problema seu. Fazer o quê? O meu filho não sabia que era o seu. Espero que isso não atrapalhe quando nos encontrarmos na entrada do condomínio. E se eu entrar nessa, quero habeas-corpus também.
Isso é o que sintetiza o pensamento da classe média. Julgamento justo, garantias constitucionais, garantias jurídicas, tudo isso é nome de fantasia para o objetivo principal: impunidade. Desde que o sujeito possa pagar advogados caríssimos. Que o diga Pimenta Neves, assassino confesso da jornalista Sandra Gomide com quem mantinha um caso amoroso, condenado em primeira e segunda instâncias a 19 anos de prisão em regime fechado e que está soltíssimo.


Mudei de canal, mas não era o dia de espetáculos alegres. No outro canal, com boa imagem, aparecia uma horda de mortos-vivos de um filme de terror atacando a dentadas mais uma vítima, que é claro, ia virar zumbí também.
Com seu passeio diário de impunidades às custas do sangue dos seus próprios filhos, o comportamento da classe média fica melhor retratado ou numa triste briga de cães se arrebentando a dentadas ou numa cena de fime de terror, com zumbís atacando a vítima, que depois se vê transformada num deles também.
Pela disposição e mentalidade de manter a impunidade e a justiça do faz-de-conta intocáveis por muito tempo, parece que a classe média ainda tem um longo banquete pela frente.
O que ela não gosta muito é quando é servida não pelo garçom, mas como prato pincipal.

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