
Talvez com indulgência podemos dizer que foi uma tentativa de ver a lei e a justiça aplicadas com o rigor e o respeito que existe em qualquer sociedade que tenha alcançado ao menos uma incipiente civilização judiciária. O espectador depois de ver no noticiário da emissora criminosos ricos e famosos escapando da lei com risos e continuando a frequentar bares e restaurantes sossegados, não poderia mesmo continuar assistindo o seriado. Mudaria de canal como fez para assistir um seriado como o americano "Law and Order" onde os criminosos, sejam eles famosos, juízes, políticos e outros do mesmo tipo são implacavelmente perseguidos, despojados de seus cargos e levados para o presídio depois de um julgamento rápido, totalmente ao contrário do que ocorre no Brasil, onde os criminosos ainda verberam ameaças de processos a quem repare em sua impunidade.
As atrizes e os atores fazem uma boa presença e tentam, pelo menos no imaginário do roteirista, aplicar o que qualquer ser humano de bom senso entende como justiça para proteger a sociedade, mas tem que seguir o que é dado pelo nome do seriado, ou seja, a forma da lei e ainda por cima a brasileira, o que inviabiliza qualquer tentativa de fazer justiça. Luana Piovani como delegada e Ana Paula Arósio como promotora estariam melhor aproveitadas num seriado americano com leis americanas. Nesse foi puro desperdício com elas e com os outros atores, que pelo semblante pareciam mesmo pouco convencidos da veracidade de seus papéis.

A essas duas candidatas a heroínas só restou mesmo aceitarem a total fantasia de seus papéis e assistirem com um suspiro de resignação o desenrolar de mais um episódio do seriado americano "Law and Order" onde os protagonistas tem a seu favor a lei e o judiciário americanos, o que lhes dá munição suficiente para acabar com qualque bandido, onde depois de uma perseguição, os criminosos, sejam eles políticos famosos ou juízes federais, terminam perseguidos e presos.
Igualmente belas e com boa presença na tela, as atrizes americanas do seriado "Law and Order" tem a seu favor um judiciário sério e competente, portanto podem sair para verdadeiras expedições punitivas contra o crime. Os policiais que as acompanham não hesitam em passar algemas em público nos criminosos, sejam eles um bandido perseguido ou mesmo um agora ex-colega pego enfiado em algum crime, que termina despojado do seu distintivo, algemado e encarcerado ou algum político pego num ato de corrupção e que termina na cela ao lado.


Feliz, o telespectador brasileiro vê, em certos episódios, os criminosos condenados, sejam eles milionários, juízes ou políticos, de uniforme laranja, respondendo a mais uma chamada dos guardas ao raiar do sol e depois acorrentados, indo trabalhar mais um duro dia em alguma estrada ou rachando pedras.

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Depois de ter visto no noticiário mais um atropelador saindo tranquilamente da delegacia para mais uma noitada, depois de liberado pelo delegado, o telespectador sente que a trama do seriado brasileiro definitivamente não é séria. Acompanhando o noticiário ele fica sabendo que o pai do atropelador tentou de forma premeditada apagar todas as provas do crime e isso só lhe rende um bem calculado depoimento na frente do delegado. Logo depois ele fica sabendo de mais um magistrado envolvido em atos de corrupção e que como punição foi aposentado pelo Conselho Nacional de Justiça. Lógico que a ele só resta mudar de canal. Mesmo num episódio de ficção ele vê a seriedade de uma outra estrutura política e judiciária que ele não tem aqui.
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Ao telespctador só resta chegar à triste conclusão de que ao desligar o televisor e deixar de fazer parte daquele momento de bela ficção, ele estará entregue a essa estrutura judiciária e política brasileira, onde o crime predomina, redige as leis e controla o judiciário, poderes que dizem representar o povo. Isso sim é uma ficção e que de bela nada tem.
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Lógicamente não é o povo como entendemos. É o povo que segue o que se diz "na forma da lei".
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