segunda-feira, 20 de setembro de 2010

P47 Mercado nacional

Alguns negociantes saem, outros entram...

Aproxima-se o dia em que mudanças na atual participação societária da empresa chamada de Brasil S/A serão redefinidas, com a demissão de alguns dos atuais ocupantes de cargos de direção, havendo então a nomeação de novos pretendentes que passaram o mês apresentando seus curriculos num horário chamado de eleitoral, que seria mais próprio chamar de comercial. Se bem que a propaganda enganosa seria imediatamente proibida de ser veiculada, isso num país com instituições sérias.

O atual presidente da companhia já deu sonolentas mostras para a comunidade internacional de que com seu, ou melhor, sua sucessora, os investimentos continuarão garantidos. Seu sucessor ou melhor, sua provável sucessora, que em tempos idos da década de 70 lutava pelos oprimidos ou pelo menos fazia-de- conta remodelou seu pensamento e hoje trabalha confortavelmente do lado daqueles que chamava de opressores do povo, numa linha dita subversiva na época. Em recente propaganda apareceu com seu protetor dizendo "...a realidade mudou e nós mudamos com ela...". Traduzindo : saímos da cadeia e hoje frequentamos os melhores clubes de Brasília e quem disse que realmente queremos mudar alguma coisa agora? Só fazer-de-conta que mudamos já está ótimo.

E lá se foi o discurso dito socialista para a lata do lixo. Ficou o discurso de proteger o povo brasileiro com um belo conjunto de linhas apresentado em todo horário eleitoral, que estaria melhor mesmo denominado de horário comercial, onde o povo vê claramente que vai entrar forçado como sócio numa empresa de onde tenta sair a qualquer custo, que o digam os brasileiros que emigram todo ano para o exterior em busca de melhores sociedades.

Nessa sociedade onde o povo brasileiro entra como sócio minoritário em relação a direitos e como sócio majoritário em relação a deveres, obrigações e dívidas que nunca fez mas tem que pagar, fica a percepção de um ritual quadrienal de trapaça coletiva, da qual todos são obrigados a participar por lei, enquanto as manchetes das grandes revistas, jornais e redes de televisão procuram apresentar tudo como um mar de alegria e progresso.

A diretoria da empresa, também conhecida como congresso nacional por seu lado cuida de manter seus lugares, que alguns membros perderão esse ano por se aventurarem por onde não deviam, mas terminarão confortavelmente empregados em firmas terceirizadas, para prestarem serviço nenhum para o povo brasileiro, pagos com salários exorbitantes. Outros caídos na antipatia de seus antigos colegas sócios e também em descrédito entre a população, terão suas pretensões salariais rejeitadas, passando a amargar um ostracismo a pão e água.

É o caso de um ex-sociólogo, antigo presidente da empresa, que junto com seus sócios, seguiu fielmente as diretrizes econômicas ordenadas por sócios majoritários estrangeiros e vendeu a maior parte do país, ou melhor, da empresa, para presidentes estrangeiros americanos e europeus e crente de que ia ser recompensado com um belo e vistoso conselho vitalício na empresa, foi descartado por seus antigos sócios e hoje amarga a triste rotina de ser barrado pelo guarda da empresa na portaria, podendo apenas deixar o recado de telefonarem para ele, caso se lembrem. Já se conforma com o banco da praça como local de reuniões com outros demitidos, onde farão de conta de que estão no gabinete presidencial da empresa. Logo um seu amigo, ex-auto-exilado na França em 1964 e que sempre se auto-apresentou como combatente-contra-o-regime-militar lhe fará companhia, se for aceito é claro, depois da traição de dizer que era herdeiro do atual presidente e não do passado, hoje completamente abandonado. Em todo caso, tudo é faz-de-conta.

A empresa progride para alguns poucos funcionários não pela administração, mas pelo seu tamanho, pelo seu vigor natural, pelas riquezas que possui, indo mar adiante como um porta-aviões sem direção, navegando com a força do seu tamanho, enquanto que suas riquezas são indiscriminadamente usurpadas e entregues a estrangeiros e mercadores do pior tipo. Enquanto isso, o mar de prosperidade é pintado todo dia pelas revistas e jornais, que ignoram pessoas nos sinais pedindo o que comer, aposentados sem dinheiro para comprar remédios e o turismo sexual nas praias e estados do norte da empresa, sem contar um governador de um setor da empresa chamado de Amapá, preso sob a acusação de vender terras da empresa para estrangeiros. Enquanto isso, o sócio majoritário da empresa, no que diz respeito a deveres, obrigações e prejuízos, chamado de povo brasileiro, sabe dessa situação de faz-de-conta, mas está impotente para reagir.

A ele resta participar da farsa quadrienal que chamam de eleições e decidir entre dois candidatos, um que rouba pela direita e outra que rouba pela esquerda, qual o menos pior e menos danoso para suas vidas.

E depois, dispensados da única vez em que são ouvidos pela quadro de presidentes e diretores da empresa, será posto de volta no pátio desse imenso conglomerado chamado Brasil S/A, tratando de se cuidar pois a empresa é tropical, o sol é forte e o ar-condicionado fica lá dentro dos gabinetes.

Para piorar, a água fresca também. Mas aí já não é faz-de-conta.

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