quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

P59 Adivinhe quem mandou lembranças

Tudo em ordem no exército do tráfico...
A imagem acima da Guerra do Vietnã dá uma imagem clara de coisas parecidas que acontecem por aqui, se bem que nos limites da cidade do Rio de Janeiro.
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Um
soldado americano desolado não consegue entender porque depois das operações com contingentes enormes do exército americano no Vietnã em 1968, os guerrilheiros vietcongs magros e com sinais de fome crônica, descalços, mal-equipados, sem apoio aéreo e sem comando central conseguiam voltar a surpreender os americanos com ataques de surpresa mostrando que estavam sim bem vivos, apenas tinham mudado de lugar. Generais distantes da zona de combate ordenavam investidas incríveis, que com morros e colinas sendo atacados por mais de 12 horas e finalmente conquistados traziam aos soldados americanos uma breve certeza de que haviam vencido, até descobrirem que os vietcongs simplesmente haviam mudado para outra colina ou morro e de lá lançavam novos ataques. Enquanto isso os generais podiam reportar ao comando militar americano mais uma "vitória" e mais um morro ou colina "conquistados".
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Não foi nada diferente o que aconteceu e acontece na cidade do Rio de Janeiro, onde depois de uma espetaculosa e vergonhosa operação montada às pressas para acalmar os ânimos dos dirigentes da FIFA e do COI, que cuidam respectivamente da Copa do Mundo e das Olímpiadas e que por enquanto estão previstas para acontecerem no Rio de Janeiro, os comandantes militares brasileiros puderam anunciar aos seus novos chefes estrangeiros a "vitória" contra os soldados do tráfico, que ora essa, que bando de mal educados, no dia 24 deste mês, durante uma operação no Morro da Mineira mostraram que continuam sim, vivos, bem organizados e bem armados.
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Policiais subiram o morro atirando, e levando tiros e sobrou bala até para o helicóptero da Rede Globo, o Globocop, que auxiliado pelas orientações do piloto da Rede Record fez um pouso forçado quase caindo. Três tiros acertaram o Globocop, com mira precisa dos soldados do tráfico. Que vergonha para a emissora que passou quase um mês cantando "vitória", "resgate da cidade" e outras conversas redigidas para a alegria das autoridades, que comemoravam a "vitória da lei e da ordem", quando o televisor no canto da sala, talvez por não ter ligações políticas, de forma inconveniente estragou a festa mostrando o helicóptero caindo. Mas eles não tinham "vencido"?
O mesmo helicóptero que filmou as operações militares no Complexo do Alemão e produziu as imagens para as exultantes e laudatórias crônicas do casal de jornalistas de sua emissora, onde sobravam termos como "O Estado retoma a cidade...", "As forças policiais derrotam os traficantes...", "A população do morro é libertada..." e demais frases de efeito para serem ouvidas única e exclusivamente pelos dirigentes da FIFA e do COI que há muito tempo exigem que a cidade fique como uma vitrine de shopping center arrumada e sem tiroteios para sua alegria. E todas essas frases sobre a "vitória do povo carioca" caíram junto com o helicóptero, quando os traficantes decidiram mandar lembranças com três tiros precisos. Em dia de especial bom humor, deram só três tiros no helicóptero da Rede Globo, ao contrário do outro da polícia, que metralhado no ano passado, caiu, explodindo e matando os policiais.
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Os soldados do tráfico, inconvenientes como os antigos vietcongs, dominando os morros do Rio de Janeiro, descalços ou então de chinelos ou de tênis, drogados, bem armados, sem comando central e sem apoio aéreo mandaram um recado bem claro ao casal de jornalistas que fazia a tarefa do dia para as autoridades e dirigentes esportivos estrangeiros. Continuam bem vivos, bem armados e principalmente não mexam com eles, façam como vem fazendo até agora, finjam que ganharam, que o tráfico e seus soldados continuam móveis, de um morro para outro, armados, com dinheiro, com drogas e tudo mais que quiserem.
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Quanto às tropas da polícia, já velhas conhecidas deles e em alguns casos parceiras informais de negócios, elas pouco ligam para isso.
Quanto às tropas do Exército e da Marinha estão na triste situação de ficarem dentro de seus tanques inúteis, estacionados no pé dos morros, sem ter o que fazer, enquanto denúncias de envolvimento de soldados com furtos e maltratos aos moradores já começam a aparecer na imprensa. Tudo isso sob o sorriso irônico dos soldados do tráfico, que de cima do morro , veem tudo.
Ou traduzindo tudo na celébre interpretação do ator Sandro Rocha, que no filme "Tropa de Elite 2" fazendo o papel do corrupto Major Rocha, ao ser enquadrado pelo comandante do batalhão da PM, igualmente corrupto, resume sua desobediência numa frase acachapante, que deixa o comandante sem resposta:
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- E tem mais. Quem disse que o comando do batalhão é teu?

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O filme também retrata com perfeição a índole das autoridades não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil todo no geral. E nessa degradante situação, derrota avassaladora mesmo sofreram as tropas do Exército e da Marinha, que ao invés de recusarem firmemente o triste papel de figurantes num cenário militar armado para conveniência das autoridades do Rio de Janeiro, só para exibição aos dirigentes da FIFA e do COI, ao invés de denunciarem tão indecente manobra numa carta aberta ao povo, hoje ficam no pé dos morros, com seus tanques e soldados paralisados numa única posição, exatamente como acontecia com as tropas do exército americano, que pelo menos obedeciam aos seus generais e não a um grupo de interesses de estrangeiros.

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