quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

P56 Desculpe por reclamar

Pensei que descrevia o que vejo...
Devo então pedir desculpas aos poucos leitores que aqui aparecem de vez em quando. Afinal não ressurgi no primeiro dia do radioso ano de 2011, em que pese a foto que escolhi para ele. Devo pedir desculpas por reclamar. Ou estarei apenas descrevendo o que vejo e como cidadão passando o sentimento político que tenho para a minha descrição?
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Até demorei e mais do que o habitual para escrever. Isso se deve em parte à pertinente observação de um leitor crítico que por sua vez teve que reclamar também e de mim dizendo que eu reclamava das coisas. De qualquer forma ele tomou o mesmo caminho que eu. Nada contra, é com essa mostra de insatisfação que muitas vezes uma sociedade avança em direção ao progresso e um sujeito comum avança em direção a uma visão melhor das coisas. Ou talvez, para se revoltar de vez com o que vê e ver o que pode fazer, ainda que com palavras.
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Apesar de estar já estar politicamente fossilizado, prodígio conseguido pelo sistema político brasileiro nesses 26 anos de "democracia participativa" onde os três poderes com todos os seus vícios participam do saque às riquezas da nação enquanto que ao povo resta participar do trabalho duro, ao mesmo tempo em que é amparado pelos poucos e notáveis membros desses três poderes que são a exceção a essa regra com idéias inovadoras, deixem-me explicar aqui porque não voltei no primeiro dia do ano como havia prometido.
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Participando vez ou outra com comentários no espaço de um colega de escritos, um jovem e idealista promotor que demonstra coragem e capacidade de entender as críticas ao poder que integra e que muitas vezes até receio ter magoado com as críticas aos nossos sistemas judiciário e político, ainda assim fico surpreendido quando os comentários que mando para seus artigos aparecem quando estou aqui esperando receber uma polida nota de recusa, visto que sua educação é visível em seus escritos. Pois no final do ano passado, após eu remeter um comentário crítico a uma nota laudatória de 14 de dezembro redigida por um outro promotor, elogiando a instituição a que pertence, após a publicação, li depois e nada surpreso a reclamação de um outro leitor que dizia textualmente:
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"...Esse tal Velker só faz criticas negativas em todos os textos!!!!! Olha lá!!! Tudo bem criticar mas só fazer críticas negativas demostra que algo deve estar errado com o crítico!!!!!..."
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Bem, fiquei a pensar que talvez ele tivesse razão. Em todo caso deve ter lido tudo o que escrevi em outros comentários. Pensei que talvez com o passar dos dias e virada do ano, num novo sistema político viesse à luz, um executivo pioneiro surgisse, um novo sistema judiciário se apresentasse. Decidi então não escrever enquanto a virada do ano não me mostrasse estar errado. E o que vi?
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O sistema político continua tão viciado, corrupto e falso como sempre foi. Depois das eleições e no final do ano, os políticos outorgaram-se um aumento de 67% em seus salários e vantagens obscenas e começaram a discursar sobre a volta da CPMF, enquanto que no período eleitoral nem um sussurro dessas coisas veio a ser ouvido nos discursos que prometiam a moralidade que eternamente chegará no ano que vem.
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O executivo agora chefiado por Dilma Roussef dedica-se como se vê em seus discursos de posse, a manter a arrecadação de todas as riquezas da nação para sua máquina partidária, esquecida a antiga "terrorista" dos discursos a favor do povo. Interessa fazer obras apenas para o povo que tem dinheiro e baixar a cabeça para negócios de comitês e federações de esporte internacionais.
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Depois da decisão de Lula em manter a salvo o terrorista Cesare Battisti aqui no Brasil, ficam agora os ministros do STF a postergarem uma decisão ao invés de enfrentarem de forma resoluta a expulsão do bandido, agora com status de refugiado político. O mesmo judiciário que prometeu uma revolta coletiva por causa de salários há alguns anos agora por nada clama e por nada se revolta.
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Depois de tudo isso e no dia de hoje revendo uma capa da revista "Veja" sobre as operações no Complexo do Alemão, onde lemos de forma estarrecedora como as Forças Armadas decidiram, pelo menos em parte, aceitarem seu rebaixamento para a situação de polícia auxiliar, decidi voltar a escrever.
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Mas receio que o colega leitor que me criticou tem motivos de sobra para repensar suas palavras. Peço que me desculpe por reclamar, mas não faço nada mais do que descrever o que vejo.
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E o cenário é dos mais desoladores. Da mesma forma é a descrição dele.

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