quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

P61 Chutei um amigo

Depois a gente se desculpa...
Com essa história do amigo chutado dou sequência ao texto anterior que se encadeia com ele e com os próximos, porque para comparar e atribuir valores às coisas precisamos, que surrada lógica, de coisas. E muitas vezes para fazer isso com seres humanos, precisamos até de animais. Que situação. Mas como é que se chuta um amigo? Simples, não o reconhecendo à primeira vista numa situação onde decididamente você percebeu que a violência é a única saída. E o mais interessante é que ela funciona. Dizem que ela se volta contra a gente, mas no placar geral, com os bons recebendo a violência sem terem feito nada para merecê-la, descobri, ou melhor constatei mais uma vez que ela é útil, necessária, tem efeitos e principalmente, faz bem para o estado de espírito. Você é violento quando é necessário e volta para casa em paz, certo de ter feito o que era preciso.
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Você é educado na maioria das ocasiões, resolve tudo sempre que possível por bem. Está tudo muito bem assim. Na maioria das vezes em que não é possível, o dito cidadão de bem resigna-se frente aos patifes e acredita que passar raiva em casa relembrando frases pacifistas é a mais nobre das virtudes. Engana-se quem pensa assim. Você não vai viver em guerra com o mundo, mas que a violência dá bons resultados em muitos casos, dá sim. Tem vez que dá errado mas e daí? Quantos cidadãos já não levaram a pior exatamente porque acharam um dever sagrado serem tão pacíficos quanto o próprio Ghandi, que por sinal morreu com três tiros sem reagir? E ia reagir de que jeito se ele, por fé, só usava uma bengalinha e uma túnica branca?
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Existe uma grande diferença entre quem não reage a uma agressão tendo condições de exercer a violência porque procura dar mais uma chance ao diálogo e entre quem não reage a qualquer violência que venha a sofrer porque simplesmente se colocou na posição de não poder reagir e renunciou a todos os meios para isso. Mais pacifista é quem tem condições de revidar a violência sofrida e não o faz porque percebe que ali cabe mais uma chance para o entendimento. E se decidir revidar, muito bem, está certo. É muito humano.
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Há uma violência que você sofre que é uma agressão descabida, injusta. E há uma violência que é exercida em resposta contra esse agressor que é uma justa retaliação, um ato de violência que machuca física ou moralmente o agressor e mostra a ele que sim, existem consequências para seus desatinos, se ele estava tranquilo pensando que nada lhe aconteceria. Mais do que tranquilos, a maioria dos agressores que agem assim são insolentes.
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E foi assim, no revide de uma série de aborrecimentos que acabei chutando um amigo, que ora essa, no seu devido papel de guardião e com uma decidida mordida, me abriu um rasgão na calça e um furo na perna com um dente afiado. No calor da situação, levou um chute. Me pego arrependido de ter chutado, tal a confusão da situação, o único amigo do lugar em que entrei, também depois de um bem aplicado pontapé na porta.
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Mas as coisas são assim na vida. Nem eu poderia ter de imediato reconhecido o amigo, nem ele me vendo naquelas condições poderia me ter reconhecido de igual forma. Espero que um dia possamos nos encontrar em outra situação. E foi assim que um amigo canino, da raça que em sua essência e comportamento tem se mostrado nestes tempos melhor do que a maioria dos seres da raça dos humanos, que se pretendem superiores a eles, foi, creio eu, para um canto curtir suas dores, enquanto eu aqui em casa passava antibiótico no furo da perna e olhava o rasgão na calça.
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De qualquer forma, louvável sua atitude e coragem de guardião de um local que ele julga habitado por seres decentes. Pobre animal. Soubesse ele das vilezas que guarda e certamente teria sido meu aliado, pondo seus dentes junto do meu pontapé no castigo dos malfeitores.
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Sim, a violência funciona e faz bem para a paz de espírito quando meditamos sobre tudo depois.
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A lamentar apenas ter chutado um amigo por total engano, ao qual estamos sujeitos nas ocorrências da vida.

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