
Vindo pela rua vejo de novo os pequenos vagabundos chutando a bola, até que consigo devagar chegar a meio quarteirão de distância quando eles me veem. Os dois maiores já espertos na vagabundagem saem pelo quarteirão acima e largam o menorzinho com a bola enroscada entre a sargeta e uma laje de cimento. O pequeno, já escolado na mentira tenta me dizer que "...está vendo a bola aqui, eu não estava chutando a bola...". Nem eu acreditei que tivesse voz de tenor assim para lhe berrar tão alto todos os palavrões possíveis. Mereceu, pouco me interessa o tamanho ou idade, já é um vagabundo com esse tamanho.
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Pareço agora um covarde. E se eu estivesse de frente com dois marmanjos? Mas continuo subindo a rua. E gritando todos os palavrões e piores adjetivos dirigidos aos dois sem-vergonhas que se encostaram num portão. Os vizinhos começam a sair porta afora para ver o que está acontecendo. Ótimo, é isso mesmo que quero. Dobro a esquina e vejo os dois vagabundos um pouco mais crescidos pondo em prática a primeira tática dos "de menor" malandros: se encostarem no portão de casa e fazerem de conta que não é com eles.
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Ora, parece que não está dando certo, eles olham e o sujeito continua subindo a rua, gritando e o que é pior, está indo para cima deles. O outro menorzinho já foi para sua casa que nem sei onde é. Melhor dizendo, esconderijo. Os "de menor" usam outra tática segura nesses casos e entram portão adentro. Pronto. Verdadeira proteção que nem uma embaixada oferece. Do portão para cá nem a polícia entra, estamos a salvo pensam. Continuo chegando e gritando, vizinhos todos na rua. Já imagino a polícia chegando e me prendendo e estou pouco ligando. Depois volto aqui e jogo um tijolo na casa desse desgraçado. O casal de idosos que me havia dito não ter mais paz com esses moleques me olha com um pequeno sorriso vendo o que vai acontecer. E acontece.
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Pareço agora um covarde. E se eu estivesse de frente com dois marmanjos? Mas continuo subindo a rua. E gritando todos os palavrões e piores adjetivos dirigidos aos dois sem-vergonhas que se encostaram num portão. Os vizinhos começam a sair porta afora para ver o que está acontecendo. Ótimo, é isso mesmo que quero. Dobro a esquina e vejo os dois vagabundos um pouco mais crescidos pondo em prática a primeira tática dos "de menor" malandros: se encostarem no portão de casa e fazerem de conta que não é com eles.
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Ora, parece que não está dando certo, eles olham e o sujeito continua subindo a rua, gritando e o que é pior, está indo para cima deles. O outro menorzinho já foi para sua casa que nem sei onde é. Melhor dizendo, esconderijo. Os "de menor" usam outra tática segura nesses casos e entram portão adentro. Pronto. Verdadeira proteção que nem uma embaixada oferece. Do portão para cá nem a polícia entra, estamos a salvo pensam. Continuo chegando e gritando, vizinhos todos na rua. Já imagino a polícia chegando e me prendendo e estou pouco ligando. Depois volto aqui e jogo um tijolo na casa desse desgraçado. O casal de idosos que me havia dito não ter mais paz com esses moleques me olha com um pequeno sorriso vendo o que vai acontecer. E acontece.

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Como já é habitual nos dias de hoje, os dois fazem parte da medonha figura em que tem se tornado o brasileiro típico. Chinelão, bermuda e um barrigão que completa a aparência de desmazelo e relaxo. A discussão começa, palavras feias de cada lado, mas ora essa, um deles me olha de alto a baixo de cara feia, põe as mãos na cintura e depois vai para dentro da casa. Acho que vai pegar uma arma, dane-se, estou pouco ligando. Continuo discutindo com o outro que também me olha de alto a baixo e me diz uma frase que me deixa desnorteado. Terei invadido a casa errada? Depois de arrebentar seu portão, gritar todos os palavrões a quem julgo seu filho, depois de todas essas cenas quando ele deveria avançar para cima de mim aos murros, ele me diz que:
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- Você não pode invadir o meu quintal e chutar o meu cachorro.
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Deixando claro a ele que estava alí por causa da irresponsabilidade e vagabundagem do seu filho e que as consequências seriam sempre essas se ele aprontasse bagunça novamente, trocamos mais umas palavras nada amigáveis e saio, com ele me dizendo que vai ver isso com o filho dele. Então era filho mesmo, mas ele se mostrou mais preocupado com o cachorro. Que filho mais reles. Seja lá como for, os dois pequenos meliantes já seguem os pais, bermudão e chinelos imundos nos pés. O sujeito que havia entrado na casa sai sem arma nenhuma. Apuro os ouvidos e não escuto a sirene do carro de polícia, então não chamaram ninguém.
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Descendo a rua, me lembro dos botecos onde tipos assim são a presença contínua, habitual, retrato desesperador do povo decaído em que tem se tornado o brasileiro destes dias. Sempre desmazelado e relaxado. Com esse exemplo que tipos de filhos esperam criar? Se é que criam. Os filhos olham para seus pais assim e pensam que se os pais, exemplo maior, andam pelas ruas seminús, incapazes de colocarem sapatos, uma roupa decente, de se mostrarem higiênicos, asseados, então o certo é isso, andar na rua como o papai. Como decaímos com o regime dito de "democracia e cidadania". O negócio é sentar o pé ou bala se for preciso. Desci a rua pensando que se um pontapé faz isso, o que fará um tiro então?

Olho novamente e vejo que o volume no bolso parecia de forma convincente uma pequena pistola automática, as chaves parecendo uma coronha e o tocador de MP3 o cano. Não consigo imaginar outra coisa. Me lembro do outro homem me olhando de alto a baixo e ao invés de avançar para cima de mim, virou-se e entrou na casa. Terá sido por isto? Me lembro da olhada do outro também e a discussão que se seguiu depois e ele preocupado em defender o cachorro.
-Tudo indica que foi isso. Chega um sujeito chutando o portão, gritando coisas horríveis e os dois maiores do que eu saem e ficam só na saída e numa pequena discussão. Olho de novo. Parece mesmo o contorno de uma arma. É isso aí. Você trata certas pessoas com decência e dão risada de você. Dizem para você se danar. Aí você mostra que está disposto a cometer atos de violência extrema e o que fazem? São cuidadosas e dizem que isso não vai acontecer de novo. Sim, a violência funciona.
-Deixo a casa da minha mãe arrumada e sei que infelizmente ainda terei problemas. Não vou viver em guerra com o mundo, mas de vez em quando vou aprontar com ele. Em casa, depois de passar um antibiótico na perna, me ponho a rememorar tudo. Depois durmo o sono dos anjos.

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