segunda-feira, 27 de setembro de 2010

P50 Não mande mais e-mails

Que coisas inventam...
Caro amigo, recebi seus novos e-mails encaminhados sobre o avião presidencial, o tão falado Aerolula. Mas depois de tudo isso, acho que podemos dar uma pausa. É muita estória misteriosa. E as últimas do Aerolula, com fotos e tudo?

Mas de onde tiraram essas fotografias que dizem ser do interior do avião presidencial? Mas você já sabe, não sou partidário de Lula e nem da oposição, pois a política dos dias de hoje é comparável apenas a um jogo de carteado num boteco. Apenas analiso o que você me mandou, como das outras vezes.

Todos os e-mails que você me encaminhou apontam o presidente Lula como o grande gastador e único responsável pela escolha e compra do Airbus A-319.

Nenhum e-mail menciona que a compra do Airbus, ou melhor, Aerolula, nasceu da assinatura por Fernando Henrique Cardoso em 1999, da licitação para a compra de um novo avião presidencial, escolhendo entre modelos da Boeing americana e da Airbus francesa, já que no mesmo ano até um começo de incêndio de uma turbina do velho jato presidencial brasileiro já tinha acontecido. Lula só encaminhou a licitação para o final. Mas isso ninguém diz nos e-mails.

Os franceses receberam a encomenda para projetarem e fabricarem um avião presidencial e iriam fabricar o quê? Um avião presidencial com o interior de um avião de carga, com ferrugem, rebites soltos, poeira no chão e poltronas esfarrapadas? Aí os jornalões, as revistas do tipo Veja e Época iriam cair em cima do Lula dizendo que ele estava expondo o Brasil à vergonha suprema, que o avião deveria ser luxuoso, para melhor acomodar os governantes do nosso país e seus convidados estrangeiros com toda dignidade possível.

Pior ainda as fotos anexadas nos e-mails. Nenhuma placa, nenhum aviso, nenhum letreiro, nem uma única palavra em português no interior do suposto avião do Lula, nem em francês, nem em idioma algum. Nem mesmo os números do telefone dá para ver. Para completar, nenhuma das poltronas do avião tem cintos de segurança. Poltronas de avião sem cintos de segurança? É mesmo o interior do Aerolula ou de algum outro avião, de algum milionário, posto à venda? No site da Força Aérea Brasileira, as fotos do avião presidencial não tem nada a ver com as que você me mandou ou melhor, mandaram para você. Para estranhar mais ainda, o misterioso fotógrafo teve à disposição todos os ângulos, toda a iluminação que quis e ao que parece, todas as chaves para abrir todas as portas. Supõe-se que um avião presidencial fique sob guarda num hangar fechado, mas pelo que o fotógrafo mostrou, parece que qualquer um entra lá quando quer. Não é um fotógrafo, é um agente secreto como vemos em filmes.

Como o avião segue o modelo padrão do fabricante, com poucas alterações, tudo se torna suspeito. Falando no modelo que existe mesmo, usando um avião com conforto e luxo parecidos com o do avião presidencial francês, onde Nikolas Sarkozi se acomoda sossegado, aí dizem que Lula é perdulário, que é esbanjador, que voa sobre a miséria do povo. Já do avião presidencial francês, a imprensa brasileira se esmera em elogiar, porque nunca se sabe, bajular um poderoso, olha, garante futuro. Se Nikolas Sarkozi dissesse que Dilma é a sua candidata do coração, que votaria nela se fosse brasileiro, haveria uma loucura nas redações das revistas e jornalões do Brasil, todos querendo apresentar Dilma como a "Redentora", como a nova roupa da política brasileira, vinda diretamente de Paris. O que cansa nos donos das grandes revistas e jornalões brasileiros é a sua absoluta e total submissão e vassalagem a tudo que seja estrangeiro, mas de forma seletiva, como a vassalagem a banqueiros ingleses, americanos e franceses. Já para banqueiros africanos, parece que eles não ligam muito. Afinal, alguém tem que emprestar dinheiro a eles para poderem comprar seus equipamentos importados. De má vontade é que não emprestam e nem suas multinacionais subsidiárias no Brasil vão dar verbas publicitárias a publicações, digamos, discordantes. Afinal, se um governo estrangeiro quer comprar uma rica jazida mineral no Brasil, porque um grupo editorial vai discordar disso se depende desse governo?
Alguém ainda se lembra da emenda constitucional nr. 36, de 28 de maio de 2002, que autorizou a venda de 30% das ações dos grupos de comunicação quando os donos deles puderam enfim começar a se vender aos pedaços para pagarem suas dívidas, que o bom presidente do Banco Central de FHC, Gustavo Franco havia dobrado com a flutuação do real logo após a reeleição do seu chefe? Talvez não lembrem. Ou talvez não saibam que a editoria de jornais, revistas e televisões no Brasil segue sempre um manual de uma página e uma linha : a de dizer sempre o que o chefe, em especial o chefe estrangeiro acha certo. Ainda mais que ele trouxe dinheiro para o combalido cofre da empresa. A política dessa imprensa e de seus agregados se resume a isso : ler a cotação do dia de dólares, euros e esse manual sempre. E a partir daí pensar no que escrever como linha política. E dizer sempre sim senhor a quem fala de Londres, Paris, Tóquio ou Nova Iorque. E até podem ligar a cobrar. Isso já é grande coisa.

Ora, esqueci de uma coisa. Também telefonam para Madrid e Lisboa. Porque interessaria a empresas como a Portugal Telecom e como a Telefonica de España terem participações acionárias em jornais do Brasil? E porque esses jornais, capazes de descobertas incríveis sobre políticos e mensalões nada descobrem sobre as tarifas de telefonia muitas vezes mais caras aqui no Brasil, enquanto que na Espanha uma linha simples da Telefonica oferece até mesmo banda larga e aqui não? O que aconteceu com esses jornais? Caiu a linha da investigação?

E porque esses mesmo jornais, intrépidos ao denunciarem Aerolulas, dinheiro em maletas e fotos de um monte de dinheiro em campanha eleitoral, ou seja descobrem tudo contra seus desafetos, não descobrem nada com a constatação de que coeficientes de cálculo errados deram às companhias elétricas privatizadas e agora de propriedade de estrangeiros um lucro indevido de quase 7 bilhões de reais? Interessante, afora os magistrados idealistas que vão fundo em questões difíceis, tem um promotor paulista querendo saber se o comediante Tiririca sabe ler e escrever, para ver se consegue impugnar a candidatura dele. Ora, o promotor faria melhor se usando da sua blindagem juridica, foro privilegiado e coisas tais, se entrasse com uma representação contra quem errou nos cálculos de energia elétrica fazendo o povo brasileiro pagar esses 7 bilhões de reais a mais em contas indevidas. E o promotor poderia perguntar se quem faz os cálculos sabe fazer contas de somar e subtrair pelo menos. Mas não, preferiu ir para cima de um comediante. E porque os jornalões e revistas não martelam esse assunto sem parar até que o povo brasileiro seja ressarcido, até que uma CPI das privatizações seja aberta? Uma CPI das privatizações séria? Acredite, teremos suícidios de editores dessas revistas e jornalões. Então nenhum repórter audaz e corajoso vai questionar essas empresas? Ou a Aneel? Não vai porque não quer parar no olho da rua. E a Aneel é só um entreposto administrativo dessas empresas.

E as tarifas de telefonia no Brasil, cobradas pelas empresas estrangeiras são as mais caras do mundo. Nos EUA um serviço de banda larga fica na média de 20 dólares, no Brasil fica na média de 34 dólares. E onde estão os repórteres dos grandes jornais, dos noticiários da noite que diziam que o preço da telefonia iria cair a centavos? E porque nenhum editor, repórter ou jornal corajoso denuncia isso? Ora, porque vivem do dinheiro de verbas publicitárias de estrangeiros. Se mentir, ocultar a verdade paga a prestação do apartamento, o negócio é mentir.

E também, porque interessaria a um grupo de extrema-direita como o Naspers sul-africano que sempre apoiou todas as ações violentas do governo branco contra a população negra no regime de apartheid na África do Sul ter 13% das ações da Editora Abril. E essa editora que publica a revista Veja se diz independente e cultora de valores humanos e é logo com esse sócio de um passado manchado de sangue que vai fechar negócio? E depois expõe lacrimosas reportagens sobre o regime militar tão brutal, que malvado. Ao menos não metralhavam centenas de pessoas numa praça.

E na habitual condução de negócios escusos, os governos anteriores, em especial os que privatizaram a Telebrás nada ficam a dever em falta de honestidade. Em especial os membros do governo FHC e o próprio, que deixaram agências americanas e européias avaliarem a Vale do Rio Doce, uma das maiores jazidas minerais do planeta com potencial de exploração de 300 anos em míseros 3 bilhões de dólares para a venda, quando então todos saudaram a venda como um grande e maravilhoso negócio para o Brasil. Agora, quando essas mesmas agências estrangeiras avaliam a Vale do Rio Doce hoje em mais de 50 bilhões de dólares, podemos nos perguntar o que aconteceu? Podemos nos perguntar porque os mesmos repórteres que fotografam o interior do avião presidencial, que descobrem tudo sobre o mensalão não fotografam uma única reunião dessas agências de avaliação internacionais? Porque eles, que se infiltraram como César Trali, da Rede Globo, no meio da Polícia Federal não se infiltram no meio de uma reunião de diretores e presidentes de bancos estrangeiros que decidem o que e por quanto vão comprar qualquer riqueza mineral do Brasil?

O único repórter que tentou alguma coisa, aliás seguindo uma vida dedicada com a maior correção ao jornalismo foi o Aloysio Biondi na época das privatizações. E o que aconteceu com ele? Foi banido das redações. Seus colegas de profissão esconderam o quanto deu o livro que ele publicou chamado "O Brasil privatizado".

Essa tem sido a verdade da nossa imprensa insuflando tudo e todos com fatos manipulados e boatos absurdos, porque seus chefes do exterior mandam e pronto. E nisso, entre pessoas bem intencionadas e falsários declarados, aparece essa enxurrada de e-mails com toda essa manipulação de fatos e textos.

Sim, Lula e sua equipe protagonizaram escândalos indecentes e imperdoáveis. Não votarei em Dilma, não votarei em Serra, não votarei em Marina, porque na verdade todos fazem parte de um cassino político, onde a vida do brasileiro é jogada numa roleta e os partidos políticos fazem apostas com o futuro e a vida do povo brasileiro. Hoje a classe política em sua totalidade, de vereadores a senadores tornou-se um bando de cangaceiros que ataca os brasileiros como pode.

Me chame de atrasado se quiser, mas certo mesmo estava um homem como Getúlio Vargas. Autoritário, assumiu o poder em 10 de novembro de 1937 e no outro dia fechou o congresso nacional. E governou sozinho muito melhor do que qualquer político daquela época. Os políticos atuais, se assumisse o poder hoje, Getúlio Vargas jogaria num presídio para sempre. Talvez esse tenha sido o erro de Vargas. Deixou os políticos da época vivos. Eles tiveram filhos e deu no que deu.

Mas nos dias de hoje, apesar do que dizem os opositores de Lula e sua tropa, em franco desespero pela derrota iminente, deveriam ao menos se pautar por uma denúncia correta e um discurso construtivo, programático, não mentiras e promessas delirantes. Mas caráter, uma vez formado, dificilmente muda.

Seja como for, como povo, estamos numa situação muito infeliz e de grande perigo, com essas monstruosidades políticas em nossa vida. Pelo entreguismo e pela corrupção desses políticos, pela ganância dessas dinastias familiares que secularmente vem vivendo às custas do sacrifício, do sangue e das lágrimas do povo brasileiro e sempre submissos a poderes estrangeiros, só por milagre escaparemos inteiros disso.

Assim caro amigo, não sei de onde você recebe esses e-mails, que como você vê distorcem a realidade, pinçam frases e selecionam fotos para enfeitarem e formarem uma verdadeira corrente de falsidades. O outro lado faria a mesma coisa se fosse só oposição hoje.

Espero que reflita sempre sobre isso e ao invés de se escandalizar de imediato ao ver algum texto "novo" ou fotos "novas" procure ter sempre uma visão crítica de tudo isso o que lhe é passado. É coisa que temos que olhar com cuidado.

Finalizando, quanto a Arnaldo Jabor, muito bom denunciar tudo o que ele denuncia, mas onde estava ele quando o Brasil foi vendido a estrangeiros? Onde estava ele quando William Bonner e Fátima Bernardes anunciaram por todo um Jornal Nacional inteiro o fato mais marcante do dia? A privatização do sistema Telebrás?

Não. O nascimento da filha da Xuxa, isso sim, coisa capaz de ter comovido até o finado Saddam Hussein. William Bonner e Fátima Bernardes deram ao nascimento de Sasha mais de inacreditáveis 10 minutos em tom emocionado, com direito a frases chorosas de repórteres na maternidade, enquanto que a privatização ou melhor, entrega da Telebrás e de todo o sistema telefônico brasileiro a estrangeiros, teve 3 míseros e austeros minutos. Nenhum comentarista apareceu para dizer porque a venda anunciada em 68 bilhões de reais caiu para 22 bilhões, depois para 13 bilhões e no final acabou ficando por apenas 8 bilhões de reais. Quanto a Arnaldo Jabor, talvez estivesse fora do ar.

Certo, tínhamos problemas com a Telebrás, mas pelo menos eram nossos problemas. Agora temos problemas que espanhóis e portugueses importaram da Europa para os brasileiros e ainda por cima cobram todo mês a fatura por isso. Só a Telefonica de España tem lucros inacreditáveis. Comprou a Telesp por 2 bilhões de reais em 1998, assumiu a propriedade de toda a rede de telefonia instalada, ou seja, centenas de milhares de quilômetros de cabos, centenas de estações de telefonia, todas as instalações prediais e assumiu também a titularidade do dinheiro da Telesp nos bancos, o que dava mais ou menos 1 bilhão de reais. Que belo negócio. Isso é que é modernidade. E por mês fatura uns 4 bilhões em cima dos brasileiros. O mesmo sistema telefônico que temos hoje, com telefones a qualquer hora, teríamos, se ao invés de termos vendido a Telebrás a estrangeiros, tivéssemos feito parcerias público-privadas. Teríamos mantido o controle de nossas comunicações e tudo estaria muito bem. Mas como diziam jornalões e revistas, o moderno era vender tudo para estrangeiros. E os ministros do governo diziam que o governo devia estar fora do mercado de comunicações. Devia estar fora de um mercado que rende a estrangeiros 4 bilhões de reais por mês e isso só para uma empresa. Isso é que é governo inteligente. Ora, e porque ele continua cobrando impostos num negócio onde não está e que é totalmente sustentado pelo contribuinte brasileiro?
E assim essas pessoas que se dizem jornalistas manipulam milhões de pessoas e as levam para o caminho de perdas e derrotas dentro de sua própria nação. Sempre que um jornalista comenta a época do Estado Novo de Getúlio Vargas deixa claro que naquela época não havia liberdade de imprensa. E na época da democracia e cidadania o que fizeram os jornalistas? Trocaram a liberdade de imprensa pela liberdade de empresa. Quem paga mais tem sua verdade publicada. É, Getúlio sabia lidar com esse povo.

Meu caro amigo, mesmo não querendo, vou esperar mais e-mails de você. Mande que tenho que ver para acreditar. Um grande abraço.
Se tiver alguns com alguém comentando sobre Getúlio Vargas e o Estado Novo, mande logo. Aquele sujeito sabia consertar o que estava quebrado.

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