sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

P95 Os dois martelos

Dependendo de quem você é, ele bate diferente...
Você é um cidadão comum, sem dinheiro, sem amizades na
política, no judiciário ou coisas do tipo? Então o martelo da
justiça bate forte em você.
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Infelizmente é assim que as coisas são no Brasil e continuarão sendo por um bom tempo, até que uma mudança radical realmente coloque esse país nos devidos eixos da civilização. O cidadão que gosta de política, que se preocupa com os rumos do país é obrigado assim a estudar e reestudar as relações políticas e sociais sob as quais o brasileiro comum sofre injustiças sem conta.
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Por conta disso, apesar da figura nitidamente autopromocional da advogada Ana Lúcia Assad que defendeu o réu confesso Lindemberg Alves, assassino de sua namorada Eloá Pimentel, ao sequestrá-la e mantê-la presa durante cinco dias em 2008, tem valor a frase que ela disse durante uma altercação com a juíza. Ou seja, de que a juíza Milena Dias deveria voltar a estudar. Deve sim. Não a ciência do Direito, que ela deve conhecer bem, mas sociologia e política, para entender melhor esse país e quem sabe, conseguindo atingir um patamar mais alto na carreira, efetivamente tentar mudar as coisas para melhor.
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A própria juíza Milena disse ao proferir a sentença "que a sociedade espera que os juízes se libertem do fetichismo da pena mínima" o que é plenamente justificável, desde que uma revolução mude todo o ordenamento jurídico, político e social do país. De outra forma, apenas os que não contam com nenhuma amizade dos círculos políticos, judiciários e financeiros é que continuarão sendo duramente sentenciados. Aí nesse ponto o que a advogada disse faz sentido, a juíza deveria voltar a estudar. Os cinco dias do sequestro e agonia de Eloá
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Lindemberg foi até a casa de Eloá para tentar reatar o namoro, não se conformando com o rompimento. Foi armado e premeditou a violência que se seguiu. Ao que tudo indica premeditou o crime bem antes de levá-lo a cabo. Não foi coisa de um momento de loucura. Foi com a intenção clara de fazer o pior se recebesse uma negativa. Depois do desfecho do sequestro, foi retirado pela polícia aos pontapés, coisa bem justificável até pelo calor da ação. Dalí foi levado para a cadeia, o popular "cadeião", onde ficou até seu julgamento e para onde retornou depois de receber a sentença de 98 anos de prisão. Na época, na sequencia do crime, Lindemberg foi completa, exaustiva e repetidamente dissecado pela mídia. Além do mais o preso era pobre, morava em conjunto habitacional da periferia e suas melhores relações sociais eram no máximo com os amigos do boteco do quarteirão.
Preso e merecidamente espancado pela polícia. Nesses casos é
até parte normal da reação humana
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Bem semelhante em cores, motivação e premeditação ao crime cometido pelo ex jornalista Pimenta Neves em 2000, que na época era diretor de redação do jornal "O Estado de São Paulo", caso providencialmente citado pela advogada de Lindemberg. Depois de um conturbado romance com a jornalista Sandra Gomide que trabalhava com ele na redação e não aceitamento o rompimento da relação, Pimenta Neves foi armado até o haras onde Sandra praticava equitação, tentou a reconciliação e com a negativa de Sandra, simplesmente disparou uma primeira vez pelas costas da jornalista que tentou fugir, aproximou-se dela caída e disparou decidido mais uma vez contra a cabeça.
Sandra Gomide ainda tentou fugir e não teve chance de defesa
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Em tudo igual ao que Lindemberg fez, a premeditação, o desejo de matar e dois tiros. Mas algumas coisas fizeram a diferença para que Pimenta Neves pudesse ter entrado em seu carro, fugindo do local tranquilamente, apresentando-se alguns dias depois acompanhado de advogados à justiça, ficando então então preso por sete meses. Em 2001, conseguiu um Habeas Corpus e ficou em liberdade até seu julgamento em 2006, quando foi condenado a 19 anos de prisão e ainda teve o privilégio de sair bem solto pela porta da frente, já que ao mesmo tempo em que foi condenado, recebeu o benefício de recorrer em liberdade. Para Lindemberg nada disso foi possível.
Pimenta Neves vai preso em 2011 para cumprir sua pena
depois de 5 anos de recursos e adiamentos.

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Depois de recorrer por 5 anos, em 2011, Pimenta Neves enfim foi cumprir sua pena na prisão, mas com os benefícios a que tem direito, juristas famosos acreditam que ele ficará preso no máximo 2 anos. É aí que as diferenças aparecem, apesar das semelhanças do crime dos dois. Lindemberg é pobre e não tinha amigos influentes. Saiu preso aos pontapés, ficou preso o tempo todo, a mídia o expôs sem piedade, médicos o chamaram de psicopata, ele não pôde recorrer em liberdade e saiu do tribunal direto para a prisão.
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Pimenta Neves era um dos diretores de um dos jornalões mais influentes do Brasil, tinha um círculo de amizades nos meios político, judiciário, midiático e na alta sociedade em geral. e tinha uma boa situação financeira. Pôde se apresentar sem que nenhum guarda lhe desse um empurrão que fosse, médicos atestaram "sua condição de fragilidade emocional", a mídia tentou falar o mínimo possível do seu crime, quase o abafando e tratando sua figura de forma respeitosa, conseguiu um Habeas Corpus, foi condenado e pôde recorrer durante 5 anos em liberdade e agora talvez cumpra apenas 2 anos de sua pena, talvez menos.
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É nessas situações que o martelo da justiça bate de forma branda, calma, quase como um tapinha nas costas. Depende de quem você conhece e de quanto dinheiro tem na sua conta bancária.
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Dentre os milhares de casos de um sistema de injustiça legalizada, estabelecida e já adotada como uma tradição, mais que tradição, um requisito obrigatório para os que querem seguir a carreira jurídica, fica até difícil não citar o caso dos precatórios. E se fôssemos citar tudo o que acontece no meio político, social e jurídico do Brasil daria um tratado para os cientistas políticos do mundo todo tentarem entender melhor o Brasil e ainda por cima resultaria numa revolução, se plenamente conhecido pelo povo, que mesmo assim já dá sinais disso.
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Os famosos precatórios que muitos ouvem falar mas não entendem muito, resultam das dívidas impagáveis que tanto o governo federal como os estaduais e municipais durante décadas fizeram contra os cidadãos comuns, atingidos por desapropriações, sonegação de direitos e inadimplência oficial e assumida contra os legítimos credores do estado político e judiciário brasileiro em todas as suas instâncias.

Velhinhas do Rio Grande do Sul tricotam na frente da sede do governo em protesto contra o não pagamento dos precatórios. E vão morrer desse jeito, pois a resposta do sistema político brasileiro foi a aprovação da PEC 12 em 2009, que tornou praticamente impossível o cidadào credor receber o que deve dos governos.
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Em relação à dívida dos precatórios, a grande movimentação do sistema político brasileiro e com a concordância de todos os partidos, excetuando-se os que publicamente discursaram contra, mas apenas fingindo que não concordavam com isso, foi a votação de mais uma proposta de emenda constitucional, a hoje conhecida PEC 12/2009 que permite aos governos devedores, na prática pagarem quanto, quando e se quiserem, alguma parte do que devem aos seus credores, cidadãos lesados pelos seus próprios governos. Mais de 100 bilhões de reais assim devidos a brasileiros prejudicados ou mesmo vítimas de estelionato estatal, ficaram relegados ao mais completo abandono tanto político quanto jurídico.
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A história do Brasil vai registrar para eterna vergonha do nosso judiciário que os mesmos juízes que se insurgiram em massa pelo aumento dos seus próprios salários em 2003, ameaçando até mesmo tornar o Brasil ingovernável, se calaram completamente frente a este verdadeiro assassinato do que podemos chamar de moralidade pública, tão pomposamente descrita no artigo 37 da Constituição, chamada pelos mesmos juízes de "guardiã dos interesses do cidadão brasileiro".
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Bem, dependendo de quem esse cidadão conheça e dos círculos a que pertence, seus interesses serão defendidos mesmo.
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Enquanto as velhinhas de Porto Alegre tricotam em protesto contra o não pagamento dos precatórios, enquanto mais de 50 mil credores já morreram na fila sem receber nem um centavo do que tinham direito, a justiça brasileira não parece preocupada com a defesa do artigo 5 da Constituição, que diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de espécie alguma" e onde se garante também o direito dos cidadãos à segurança, à propriedade e a tantos direitos que é simplesmente injustificável que enquanto milhares de cidadãos decentes tenham morrido esperando pelos seus direitos, dois cidadãos indecentes tem plenamente garantidos seus altos salários e privilégios, mesmo tendo se envolvido premeditadamente em um crime contra a nação brasileira.
Leonardo Bandarra, ex procurador de justiça e a promotora Deborah Guerner, mesmo denunciados como réus pelo Tribunal Reginal Federal, continuarão recebendo seus salários por decisão de Gilmar Mendes do STF
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Envolvidos no escândalo do mensalão do Distrito Federal em 2009, o ex procurador de justiça do Distrito Federal Leonardo Bandarra e a promotora Deborah Guerner acabam de receber agora em fevereiro de 2012 sentença favorável do juiz Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal, o famoso STF, garantindo a eles por liminar deferida, o pagamento dos seus salários. Um ex procurador de justiça, ao que tudo indica deveria zelar pela justiça, uma promotora, ao que tudo indica também deveria zelar pela proteção da sociedade brasileira. No entanto foram condenados em 2011 pela Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e tornaram-se réus no processo de extorsão contra o ex governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, também implicado no escândalo do desvio de verbas.
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Enquanto verdadeiros celerados investidos de cargos públicos usam a magistratura como uma verdadeira arma contra a nação e terminam protegidos por uma justiça que se rege cegamente e sem protestos por leis injustas e redigidas especialmente para a proteção de criminosos oficiais, milhares de cidadãos que sempre cumpriram com seus deveres, foram literalmente abandonados à morte por essa mesma justiça.
Para bater como um malho ou bater como um tapinha nas costas, tudo depende da posição política, social e jurídica do cidadão
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Dependendo de qual círculo jurídico ou político um cidadão pertença e dependendo de quem esse cidadão conheça, a espada da justiça torna-se um verdadeiro guarda-chuva para ele.
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E uma espada bem pesada para os cidadãos desfavorecidos e pobres.
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Isso seria de grande proveito não só para a juíza, mas sim para todos que querem um Brasil melhor, estudar e reestudar o tempo todo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

P94 Os indignados vão almoçar

E agora entendem o que sempre falaram para os outros...
Iniciado no ano passado, o movimento dos indignados na Espanha e um pouco em Portugal e algumas outras cidades da Europa entra enfim num período de recesso. Seus organizadores e alguns intelectuais falam em não perder o caminho, em retorno com novas reivindicações e coisas do tipo. Na verdade o estômago dos ditos indignados ronca e as pernas tremem com o frio europeu e eles já percebem que só uma revolução radical poderá desmontar o monstro econômico que ajudaram a criar nos últimos 20 anos. E uma revolução dessas poria a perder as migalhas que ainda conseguem no mundo que já não os reconhece como cidadãos e sim como cifras. E aí não ficam tão indignados assim, acham até que dá para ir vivendo na indignação. Essa é a triste verdade.
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Assim os indignados também vão almoçar e de quebra emprestam o jornal de algum amigo de movimento para ler e reler os classificados de empregos. Apesar da negra situação econômica pelas paragens européias, cada indignado sortudo que arrume um emprego depois do almoço é um indignado a menos na hora da janta. E Madrid, um dos berços do movimento dos indignados continua com sua vida de sempre.
É uma boa lição da história que os espanhóis e portugueses estejam nessa situação. Lá por 1990, os grandes grupos bancários, de telecomunicações e industriais europeus passaram a vender para os países da América Latina a idéia de que desmontar seu patrimônio estatal era a melhor coisa que poderiam fazer. E seria melhor ainda se vendessem, leiloassem, entregassem de que forma fosse, desde que entregassem, todo o patrimônio e estrutura de telecomunicações, energia e petroquímica que haviam montado em mais de 20 anos, às custas de imensos sacrifícios para suas populações. Os primeiros a fazerem isso foram os argentinos sob a liderança do falastrão ex presidente Carlos Menen, sempre sob a idéia, incansavelmente repetida pelos grandes grupos de comunicação, de jornais a televisões, de que vender tudo para estrangeiros era a melhor coisa a fazer. E por um preço bem baixo, bem abaixo mesmo do valor real das instalações, usinas e fábricas e ainda com empréstimos de bancos estatais de desenvolvimento nacional para ajudar os grandes grupos estrangeiros que então teriam mais dinheiro para comprar o que era patrimônio nacional. Poderia existir negócio melhor?
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O resultado, diziam os jornalistas e comentaristas econômicos, seria uma maravilha. As dívidas nacionais desapareceriam, o povo viveria melhor e melhor ainda, os bondosos estrangeiros assumiriam o controle de tudo, desde as grandes usinas hidrelétricas até as redes de telefonia para fazer a nação feliz e bem melhor de vida. Claro, nenhum jornalista dizia que seus jornais e televisões já estavam comprados com a promessa de verbas publicitárias milionárias e ainda por cima pretendiam tomar parte no negócio. A população, não só da Argentina, mas também de outros países da América Latina caiu no estelionato. Ainda por cima dirigidas por governantes e presidentes comprometidos com essa traição, perderam tudo.
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O resultado foi o que se viu. Desemprego, relações de trabalho onde os funcionários dos novos donos são explorados ao máximo, péssimos serviços oferecidos por um preço muito maior do que era cobrado antes, sucateamento das hidrelétricas, redes de energia, redes de telefonica, desnacionalização da estrutura fabril e produtiva das nações sul-americanas e esmagamento dos empreendedores nacionais. Tudo sob o comedido silêncio dos comentaristas econômicos, ainda comprados pelas verbas publicitárias. Quer dizer, os que ainda estão empregados, pois boa parte dos jornalistas que escreviam pregando a "flexibilização" das relações de trabalho, leia-se máxima exploração da força de trabalho com o mínimo de direitos, também foi para as ruas, não para entrevistar os indignados, mas como demitidos mesmo. Bem feito.
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Aliás uma das máximas que esses jornalistas sempre pregaram era a de que "não havia almoço grátis" que era um dos dogmas da escola econômica orientada pelo economista americano Milton Friedman, que preconizava a destruição do estado que assistisse seus cidadãos, que regulamentasse as atividades dos grandes grupos econômicos e industriais e que enfim, deixasse nação e cidadãos entregues à selvageria do mercado e das grandes corporações agindo como bem entendessem.
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Para Friedman proteger o cidadão da guerra do mercado era errado, era dar almoço grátis para seus cidadãos. No entanto seus seguidores sempre acharam certo que diretores e presidentes de empresas falidas como a General Motors nos EUA recebessem ajuda do governo americano e mais ainda, que seus dirigentes embolsassem boa parte dessa ajuda como "bonus" devido ao seu trabalho, que consistiu unicamente em levar suas empresas à falência.
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Quanto aos funcionários, esses foram contemplados com demissões em massa. Como pregava a escola de Milton Friedman, não existia "almoço grátis" a não ser para os presidentes dos grandes grupos econômicos que embolsaram bônus de milhões de dólares. E com teorias como esta, os jornalistas das nações sul-americanas não tiveram vergonha em desempenhar o papel de traidores do próprio povo, martelando sem parar a idéia de que o patrimônio energético, telefônico e viário era caro demais para as nações sul-americanas, era melhor vendê-lo para estrangeiros. Além de verem desaparecer a dívida interna, os maravilhados cidadãos ainda seriam premiados com tarifas mais baixas. Além de acontecer exatamente o contrário, receberam como prêmio extra o desemprego.

Um dos mais interessantes exemplos de como tudo veio a terminar, já que uma vez devorada a vítima de além mar, esse monstro econômico continuava com fome, foi o caso de Portugal. Lá por 1500, quando aportou pelas terras sul-americanas, Portugal trazia com seus administradores, vícios políticos dos piores, que a terra recém descoberta, para infelicidade de seus habitantes herdou.
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Era acompanhada nisso pela Espanha. Depois de séculos de exploração e predação econômica, quando faliram sob o peso de seus vícios políticos e administrativos, mesmo tendo tido quase duzentos anos para purgarem seus erros e se apresentarem renovadas ao mundo, as duas nações retornaram para representar novamente um deprimente espetáculo de predação das relações sociais e econômicas dos países que vitimaram outra vez, juntamento com o trabalho de governantes mais assemelhados a traidores do que qualquer outra coisa. E agora, como há trezentos anos atrás estão pobres de novo.

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Portugueses hoje depredam os imensos pedágios, que lá são chamados de portagens, colocados em estradas absurdamente superdimensionadas, que estariam mais bem colocadas em países como a Alemanha, com sua imensa frota automotiva. E hoje o primeiro ministro português fala em "alicerçar as exportações para recuperar as finanças públicas".
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Com certeza, exportando produtos de altíssima tecnologia como azeitonas, azeite de oliva, vinho e cortiça, quem sabe Portugal poderá até desequilibrar o comércio mundial. Se isso não tiver o retorno esperado, poderão os portugueses exportarem o fado, tradicional música portuguesa. Tudo é válido na hora do aperto.
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Quanto à Espanha, resta um caminho semelhante, com a exportação de vinhos e produtos hortifrutículas. Sem dúvida, um gigante da produção industrial, que sabe-se lá porque, hoje anda de chapéu na mão à cata de alguns euros da Alemanha, França, Holanda e alguns outros europeus de coração mole.
E hoje resta aos indignados que sempre se consideraram superiores aos sul-americanos, pularem a catraca do metrô de Madrid (ora essa, que coisa mais sul-americana) ou depredarem o pedágio em Portugal, em nome do movimento dos indignados, que olhando para o passado, em momento algum ficaram indignados quando souberam dos crimes econômicos cometidos pelas grandes corporações de seus países contra as populações sul-americanas, enganadas por seus jornalistas e traídas por seus governantes e entregues aos grandes grupos econômicos dos seus países.
Os assim tão auto-proclamados indignados, que procuram despertar simpatias pelo mundo afora, nada mais são do que vítimas do próprio monstro que ajudaram a criar.
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Não foi bom enquanto esse monstro atacou outros povos? Não foi lucrativo para eles enquanto o desemprego que provocavam em outros países lhes dava dividendos das ações dos seus idolatrados grupos industriais?
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Resta agora irem almoçar, se acharem alguém que lhes empreste dinheiro para isso, mas seguindo a máxima de Milton Friedman de que não existe almoço grátis, é bom irem se conformando com um emagrecimento forçado. Não foi o que sempre acharam bom para outros povos?
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Ora essa, porque ficam indignados agora que chegou a vez deles? Quanta hipocrisia.

domingo, 29 de janeiro de 2012

P93 O ensaio do brado

Melhor seria o sussurro retumbante...
A Rede Globo exibiu na semana passada o último capítulo da série "O brado retumbante" onde foi contada a história de um presidente brasileiro, Paulo Ventura, que na condição anterior de deputado assume a presidência após um acidente com o presidente em exercício. Assumindo contrariado, sendo a última coisa que gostaria de fazer, cerca-se de bons assessores e termina deflagrando uma luta contra a corrupção sem paralelo nos dias atuais na presidência real, tanto atual como as passadas, que se guiaram sempre por uma idéia contrária.
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Mas a série e como não poderia deixar de ser uma estória contada pela Rede Globo peca e muito em labirintos e descaminhos que levam o personagem principal a ficar muito aquém do que poderia ter sido numa trama bem realista. É fácil entender que o roteirista da Rede Globo poderia fazer de tudo, menos contar certas verdades ou ofender certos personagens bem vivos, enfiados na política e mais ainda donos de emissoras afiliadas da Rede Globo, que estão unidos há décadas em amizade e socorro mútuos.
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Assim a estória que poderia ter trazido muito do que realmente é feito nos bastidores do poder se perde em intermináveis e contínuas estorinhas de amor, adultério, vai e vem de separações e reconciliações, enquanto que o poder mesmo e a capacidade de exercê-lo de forma a beneficiar a nação se dilui em ações ocasionais e de pouco impacto. Como é que a Rede Globo vai propor ou escancarar a caça às oligarquias políticas das quais sempre se serviu para transmitir e concretizar seus conceitos mais obscuros de política? Impossível. Daí as grandes ações do presidente passarem batidas em poucos momentos decisivos, enquanto que intermináveis namoros, romances e casos afins desfilam pelo enredo da série.
Pior ainda, aderindo ao discurso homossexual, o presidente se vê confrontado em transmitir para a nação o discurso de aceitação do filho antes homossexual e agora transexual, com a família toda reunida em lágrimas, enquanto seu antigo filho agora filha, chora emocionada, só faltando o discurso da Câmara de deputados pedindo o prêmio Nobel para a mais nova "mulher" brasileira. O esforço dos roteiristas para esvaziar a idéia e imagem de um presidente realmente empenhando em limpar a política brasileira desceu a níveis inimagináveis. Parece que hoje para ser roteirista de televisão, antes de ter a profissão registrada na carteira de trabalho, o candidato a isso precisa ter a carteirinha de algum clube gay.
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O trabalho dos atores foi muito bom, convincente mesmo, elogios para todos mas o trabalho dos roteiristas em enredar o espectador em uma trama caótica de namoros, casos, adultérios, num vai e vem que estaria melhor numa série romantica foi melhor ainda. Resta a certeza de que trabalhando para a maior emissora de televisão do Brasil e que sempre esteve ligada aos piores e mais nefastos clãs da oligarquia política do Brasil, para não dizerem o que realmente deveria ter sido dito e nem de longe ofenderem os amigos jornalistas enfiados em assessorias de imprensa para essas mesmas oligarquias, o trabalho deve ter sido muito bem pago. Se o dinheiro não foi parar na maleta, com certeza foi parar no roteiro. Nessa arte de aliciar colaboradores, o senador Floriano Pedreira interpretado por José Wilker, era mestre.
Como diria o presidente Paulo Ventura com suas finas observações, é, roteirista também coloca dinheiro na cueca.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

P92 Brincando de prefeito

O parque de diversões paulistano...
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Em uma tragicômica trapalhada, Gilberto Kassab pôde mais uma vez brincar de prefeito de São Paulo, enquanto que os paulistanos vêem cada vez mais motivos de arrependimento por terem brincado de eleitores, se bem que eles não tem nenhuma saída dessa situação. Nas eleíções eles tem as seguintes opções: na esquerda um trapaceiro, no meio um patife e à direita um desonesto. Fica difícil mesmo.
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Após o incêndio da favela próxima ao prédio do antigo moinho desativado, uma sequência de erros, incompetência e absoluto descaso com o dinheiro público resultou na agora histórica brincadeira de demolição do moinho e que vai ficar para sempre na memória dos paulistanos e dos brasileiros em geral, como motivo de riso e vergonha.
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Para melhor entender a brincadeira das crianças crescidas que fantasiadas de prefeito e engenheiros foram brincar de gastar dinheiro com 800 kgs. de dinamite, basta olhar o exemplo de competência e seriedade que foi a demolição do edifício Mendes Caldeira em 1975.
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Mas cabe observar algumas diferenças. Na época do regime militar, a implosão do edifício para a construção da estação Sé do Metrô além de cuidadosamente supervisionada pelo governo, foi dirigida por engenheiros americanos que acostumados a órgãos de fiscalização sérios e a uma justiça que realmente condenaria qualquer deslize deles, estavam também acostumados a trabalhar direito.
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E é o que se vê no registro da primeira implosão feita no Brasil, de uma perfeição e rigor impressionantes. Estrutura do prédio ainda nova, 30 andares, 500 kgs. de dinamite, centenas de pontos de aplicação de cargas de demolição cuidadosamente calculadas e ligadas a espoletas de detonação sincronizadas foram usados. O prédio foi demolido em 8 segundos e baixada a poeira os responsáveis pela demolição receberam todos os cumprimentos pela perfeição da implosão. Saíram dalí orgulhosos e vistos como mestres em seu trabalho. É só ver as imagens.


Em 2011, 36 anos depois, com a mais moderna tecnologia disponível, com melhores equipamentos de engenharia produzidos, com tudo o que se pode dizer de melhor em material de demolição, mesmo assim, com tudo isso à sua disposição, os técnicos arrebanhados pela prefeitura para a demolição do moinho ou não sabiam o que fazer com 800 kgs. de explosivo para demolir um velho prédio de 6 andares já abalado por um incêndio ou nem sequer tinham idéia de como agrupar toda essa carga de explosivo nos pontos certos. O negócio era acender o pavio logo, ficar longe e receber o dinheiro correndo. Feito o desastre, saíram dalí sob vaias e vistos no mínimo como estelionatários e sem a mínima coragem de dizerem que tudo aquilo era serviço deles.
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Na vergonhosa brincadeira de demolição, depois de baixada a poeira, quando todos viram que o antigo moinho havia sido apenas rebaixado para um andar a menos, qualquer um se pergunta como uma empresa com engenheiros que se dizem habilitados foi capaz de fazer tamanha trapalhada e ao mesmo tempo, vendo o vergonhoso fracasso da implosão ao custo de 3 milhões de reais, o prefeito Gilberto Kassab, fazendo questão de deixar seu nome registrado na história dos maiores trapalhões brasileiros, disse em tom de gente grande que "a implosão foi um sucesso". É só conferir nas imagens.

sábado, 24 de dezembro de 2011

P91 Um Feliz Natal

Enfim, que tragam o presente...
Para todos os leitores deste espaço desejo um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, com todos os sonhos realizados. E aproveitando a ocasião, meditemos sobre o triste estado em que se encontra nossa nação.
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Com a decadência total, pública e desavergonhada dos três poderes, que ao menos os Três Reis Magos tragam o presente que a nação brasileira precisa para não terminar como uma grande fazenda.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

P90 Em quem você acredita e confia

Se você confia, você faz o que quer...
Com a declaração pública do juiz Ricardo Lewandowski, membro do Supremo Tribunal Federal, de que penas de réus do mensalão poderão prescrever, fica assim estabelecida de forma pública e inconteste a incapacidade da justiça brasileira de punir os corruptos com grande influência política. Se não é publicamente desejada como um ordenamento natural do judiciário brasileiro, ao menos essa incapacidade é tacitamente aceita pelos seus membros.
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E assim os corruptos brasileiros, que fazem de ministérios e governos estaduais e presidenciais entre outros, o bilhete premiado de suas vidas às custas da riqueza do Brasil sorriem, já que a declaração pública do juiz deixa clara a aceitação dessa tradição política e jurídica de impunidade providenciada por quem deveria punir os corruptos.-
E por estes tempos, os exemplos de que a leniência com a corrupção se torna indistinguível de uma ação decidida a favor dela foi vista na decisão do juiz Cezar Peluso do mesmo STF quando deu seu voto favorável ao retorno de Jáder Barbalho ao senado. Jáder que havia sido barrado por seu envolvimento em inúmeros casos de corrupção, agora retorna ao Senado graças ao voto favorável do juiz Cesar, onde conta com amigos como Renan Calheiros, José Sarney e outros mandatários da política nacional, que tem em sua história somente o envolvimento em episódios nebulosos ou vergonhosos da vida nacional e o de viverem em extremo luxo e riqueza em seus estados, que são da região nordestina e secularmente mergulhados na miséria para atenderem às dinastias políticas que os governa e da qual são descendentes e continuadores.
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A lei da Ficha Limpa havia sido criada para deter certos personagens em suas tentativas de reassumir o poder. Ora, posto o incômodo julgamento na frente de todos, violenta-se a lei e ponto final, já que não existia outra alternativa. O povo, indignado num primeiro momento, sucumbindo aos inúmeros problemas do dia a dia e além mais prestes a submergir em novas e catastróficas inundações, nada pode fazer a não ser esquecer e seguir em frente em seu dia a dia sofrido.
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A consciência de cada cidadão num julgamento o leva a entender que em muitos casos prevalece sobre a lei a defesa do patrimônio público, do bem estar e da segurança de uma coletividade de milhões de pessoas, quando a demanda de um membro dessa coletividade, julgada num tribunal, coloque em risco exatamente o que se pretende defender, no caso o direito à segurança e justiça de milhões de pessoas. Qualquer juiz analisando sob este ângulo e tendo em vista a vida passada do demandante, sempre evolvido em atos de corrupção que afetaram gravemente não só a segurança mas também o direito desses milhões de pessoas, decide, se for lúcido e coerente com princípios mais altos de justiça, a favor da sociedade como um todo e o passado criminoso desse demandante torna-se então a principal testemunha de acusação contra ele. Porém aqui vimos acontecer o contrário.
Assim, com as declarações do juiz Lewandowski e com os votos de seu colega, vê-se com clareza que os conceitos abstratos de corrupção e impunidade desfrutam de existência material para muitos círculos políticos e judiciários brasileiros. E o que é pior, esse conceitos assim alçados à condição de membros desses círculos, desfrutam também de prerrogativas como habeas corpus e foro privilegiado.
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É uma decisão que em última análise leva os corruptos do Brasil a entenderem que nada mais impede suas ações. Talvez venha a ocorrer uma prisão, um imprevisto momentâneo, mas a impunidade está garantida, senão por uma bem sucedida e milionária fraude perpetrada em posições administrativas da vida pública, ao menos pela notável lerdeza dessa mais alta corte em analisar e julgar os processos. Convenhamos. O ordenamento jurídico parece ter sido feito sob medida para isso. Enquanto o tempo de análise dos processos caminha lentamente, como um velho vergado pela idade, o tempo de prescrição desses mesmos processos corre com a velocidade de um maratonista.
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É assim, finalmente, que depois da declaração pública do juiz, que vemos como os corruptos se dão bem neste país. Em todos os países onde o ordenamento jurídico é civilizado e as punições a esses políticos são rápidas e impiedosas, mesmo assim corruptos existem, porém vivem em sobressalto. Assaltar o dinheiro público pode ser rendoso, mas é certeza de punição, de perda dos bens, de longos anos na prisão. Assim os corruptos nesses países confiam acima de tudo em seus planos de fuga para outros países, de troca de identidade, de viverem a partir daí uma vida dupla, oculta, com o risco de a qualquer momento serem descobertos.
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Já os corruptos brasileiros nem sequer pensam nisso. Pensam apenas em escolher uma praia próxima de suas novas residências depois que tudo acabar, onde viverão em residência sabida e conhecida de todos. Afinal, até por dever do ofício de corruptos sempre souberam do que o juiz Lewandowski fez questão de confirmar publicamente.
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Um exemplo é Marcos Valério, um dos envolvidos no escândalo do mensalão. que preso por esses dias pela Polícia Federal denunciado em grilagem de terras, mostrou durante a prisão um ar de enfado, de tédio mesmo, sabendo que aquilo era só um contratempo e logo ele seria libertado. Depois, entrevistado pela imprensa ao ser libertado, Marcos Valério exprimiu numa simples frase o que lhe dá a segurança de viver sempre envolvido em corrupção:
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"Eu confio na justiça."
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Com essa singela declaração, ele deixou claro no que os corruptos desse país mais acreditam e confiam ao darem seus golpes.
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Acreditam e confiam acima de tudo na justiça. E de que outra forma poderiam se dar tão bem?



sábado, 3 de dezembro de 2011

P89 Aprendizes de barraco

Os chefes sabem ensinar tudo sobre barraco...
Continua na Record a edição de 2011 do programa "O Aprendiz" que se por um lado premia só um dos inscritos, ao menos tem dado aos que são reprovados lições valiosas. No caso a de como não deve se comportar um administrador numa reunião. Como involuntários aprendizes do comportamento popularmente chamado de barraco, os candidatos ao menos saem sabendo o que não fazer numa reunião
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Chefiado por João Dória Jr., Cláudio Forner e Carla Pernambuco, longe de ser um ponto de referência para estudantes de administração e mesmo para espectadores comuns, tem sido a atitude dos condutores do programa que em cada apresentação entregam aos candidatos uma prova para ser realizada. Ao final da prova é anunciada a equipe vencedora que parte para alguns dias de diversão num ponto turístico, enquanto que a perdedora é levada para uma reunião onde são analisados os erros que levaram à sua derrota.
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O que se vê é um reunião deprimente, pela falta de educação dos, digamos assim, chefes do programa. Já tranquilamente alicerçados no sucesso profissional, eles se esmeram em moer os participantes numa sessão de humilhação que ao menos ensina aos candidatos uma coisa, a de como não devem se portar num cargo de direção.
Candidatos até bons, mas que cometeram o deslize de perder uma prova são passados por uma inquisição que parece ter paralelo somente com as reuniões do antigo partido comunista soviético, onde os caídos em desgraça eram humilhados e depois deportados. A diferença aqui é que os perdedores apenas são levados ao aeroporto, onde podem escolher o voo para suas casas.
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O resultado não poderia ser outro. Apavorados pela situação, filmados para exibição em rede nacional, qualquer resto de comedimento se apaga ali e o que vemos é uma luta que se assemelha mais a um tiroteio dentro de um elevador do que um discussão entre pessoas civilizadas, que supõe-se, mesmo num rígido e competitivo ambiente empresarial e corporativo deveria se revestir de alguma espécie de civilidade nos modos e comportamentos. Mas se o exemplo de cima já é o contrário, entende-se o que acontece.
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Mesmo que erros tenham sido cometidos e sejam cobrados, coisa normal em qualquer empreendimento, tudo é feito de forma absurda, parecendo ser, pelo menos nessas últimas edições, uma espécie de diversão dos apresentadores em espezinhar os candidatos de uma forma absolutamente condenável que nada acrescenta ao programa.
Geralmente feridos com as observações que vem carregadas com ironias e crueldades desprezíveis contra os candidatos em desgraça, do alto do Olimpo do seu sucesso profissional, os apresentadores divertem-se jogando todo tipo de observações das mais desonrosas contra os candidatos, que habitualmente chegam às lágrimas, de forma quieta ou aberta.
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Uma pena que a Rede Record tenha rescindido o contrato com o humorista Tom Cavalcante, que tem personificado o programa em suas paródias cômicas. Tivesse a chefia da emissora colocado o próprio Tom Cavalcante e sua trupe cde comediantes para dar tarefas, julgar os candidatos e reprovar e mandar para casa quem quer que fosse, ao menos ele o faria com bom humor e alegria para todos.
Seria bem melhor assim. Os candidatos aprenderiam sua lição e iriam para casa ao menos sorridentes.