quinta-feira, 29 de abril de 2010

P32 Parado na parede

Quase caiu...
Toda casa tem uma hora para cair, dependendo do que fazem seus ocupantes. No caso da casa do Brasil, a parede rachada foi um alerta visível para quem não queria sentir o peso dos escombros sobre si. No episódio todo, o peso de uma votação favorável à revisão da Lei da Anistia.

É compreensível a visão jurídica do juiz Eros Grau, que pelo comentário de juristas fez um parecer bem construído sobre seu voto contra a revisão da dita lei. Ele mesmo tendo passado por maus momentos durante a época do regime militar, fundamentou bem sua decisão, mas convenhamos, a parede rachada fez os juízes relatarem em coro seus votos contrários a essa revisão pretendida pela OAB, que como sempre só aparece para colher ou tentar colher louros de coisas que não faz ou se faz, é porque acabarão lhe dando algum lucro, seja ele político ou lucro mesmo, como se entende.

A mesma OAB que chora lágrimas e mais lágrimas por torturados e desaparecidos da época do regime militar mas que não dá grande importância para os milhares de presos do Brasil de hoje, que de forma incompreensível permanecem presos em condições que são uma verdadeira reedição dos campos de concentração nazistas e nem para os incontáveis desaparecidos e torturados pelos soldados do tráfico de drogas, que segundo ela desfrutam de plena democracia e cidadania, mas esses são pobres e favelados, então não tem dinheiro para pagar a tabela de honorários que a OAB estipula para os advogados e sendo assim esses não interessam.

O que comove mesmo a OAB são os antigos esquerdistas oriundos das classes média ou rica das décadas de 60 e 70, que embarcaram na tentativa de derrubar o regime apostando que se isso acontecesse seriam os donos do Brasil, com direito a todos os privilégios do comitê central da nova república soviética dos trópicos. No fundo era uma jogada de cassino do tipo tudo ou nada. Deu em nada, mas após ocuparem cargos legislativos depois da anistia, votaram uma lei de milionárias indenizações para eles mesmos. Enfim, não perderam todas as fichas. Já para as vítimas de seus atentados, nada, nenhum socorro, a não ser o esquecimento, providenciado pelos seus antigos companheiros agora jornalistas.

Quem se lembra de algum jornalista ex-esquerdista entrevistando os mutilados, as viúvas e órfãos que restaram dos seus atentados e assaltos para escrever um livro sobre eles? Ninguém. Aliás, a esquerda brasileira sempre chamou os assaltos a banco de "expropriações". Assassinatos como o do tenente Alberto Mendes Júnior, morto a coronhadas enquanto estava amarrado por Carlos Lamarca e sua turma, eram chamados de "justiçamento por tribunal revolucionário". Explodir uma bomba como fizeram no aeroporto de Guararapes em 1966, matando 2 pessoas e ferindo 15 com gravidade é descrito pelos seus partidários como "ação política".

E a entrada deles nessa situação no passado, acima de tudo foi forçada pelas circunstâncias. Era um charme posar de comunista para discursos nos diretórios acadêmicos até que a Revolução de 1964 colocou tanques nas ruas e de uma hora para outra quem estava com bandeirinha vermelha ficou sem ter para onde ir, já que os diretórios fecharam as portas e largaram todo mundo levando porretada lá fora. Boa parte da mística criada sobre os antigos "guerrilheiros da democracia" se baseia numa visão falseada da história.

Os mesmos "guerrilheiros" que em tempos idos diziam combater o imperialismo norte-americano e ao mesmo tempo defender o povo e a nação brasileira, quem diria, depois de soltos das prisões, aos poucos tornaram-se membros do governo, entregaram o patrimônio nacional nas privatizações ao mesmo capital que para eles era corrupto, tornaram-se banqueiros, donos de corretoras de valores e hoje vivem aos abraços com os mais ricos especuladores internacionais, antes por eles considerados inimigos mortais.
Quando uma parede racha, quem está por perto ouve o barulho que é perceptível. Em 31 de março de 2009 os militares fizeram uma comemoração pelos 45 anos da revolução de 1964, um claro sinal de discordância aberta por muitas coisas vistas na vida nacional. Neste ano, quando a OAB já dava como certa a revisão da lei, em 03 de abril o General Leônidas Pires Gonçalves deu uma entrevista ao repórter Genetton Moraes Neto na GloboNews onde de forma clara deu a entender que o período vivido pela nação foi o enfrentamento de um regime contra opositores que radicalizaram suas ações com a execução generalizada de atentados, sequestros e assassinatos.

Uma frase marcante do general para o repórter foi:

- Quem começa a guerra não pode lamentar mortes. É duro de ouvir?

Seja lá como for, é mais do que claro que se era para ouvir alguma coisa, todos os interessados ouviram e muito bem nos silêncios da entrevista, assim como se lê nas entrelinhas. O mesmo general que já havia acusado os antigos esquerdistas de revanchismo, falava de novo e de forma incisiva nesta data. O mesmo general que havia garantido a posse de José Sarney em 1985 após a doença e morte de Tancredo Neves, afastando todas as especulações e incertezas do cenário de então, deixava uma certeza no ar, a de que as Forças Armadas jamais se submeteriam a uma ofensa dessas, que estava para ser julgada.

A OAB e seus discursantes oportunistas de sempre perderam mais uma vez o rumo. Parar o julgamento era impossível, sair o resultado que queriam seria uma temeridade. E agora? No fundo, aliviados por perderem a própria causa, depois da votação colocaram algumas palavras de lamentações sobre a votação, nobreza de seus propósitos e coisas do tipo. A grande lamentação no entanto era a de que a torneira de novas e milionárias indenizações fora fechada de vez e junto com ela polpudos honorários, fora o aparecimento de novos e falsos heróis, enrolados na bruma do tempo e de mistificações, essa é a verdade.
Fica assim, com a votação do STF negando a revisão da lei, a certeza de que no fundo, não só seus juizes, mas também a já assustada platéia de políticos e antigos esquerdistas, inquietos com a perda de controle do alegre bloco jurídico-carnavalesco da OAB indo de encontro à parede trincada, ia dessa vez provocar a queda da casa.

Para alívio dos antigos "guerrilheiros da democracia" que uma vez haviam ficado trancados de fora da faculdade com suas bandeirinhas vermelhas, afinal o bloco jurídico ficou parado na parede, antes que a parede e junto com ela toda a casa do Brasil caísse em cima de todos.

Mas com trincas assim, não há casa que resista. Logo acaba caindo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

P31 O grande truque

De volta ao teatro...
Confesso ao poucos e benvindos amigos leitores que estive ausente neste grande teatro político, a dormir e sonhar tal qual um dissidente russo da antiga União Soviética, enquanto os outros assistiam ávidamente ao pobre e triste espetáculo que se desenrola em nossa frente. Mais outro espetáculo encenado pelos nossos podres três poderes, a exemplo do que também ocorria no finado estado comunista, então chamado de paraíso dos trabalhadores. Sonhavam os dissidentes russos que entravam numa embaixada estrangeira e algum tempo depois estavam livres em outras terras. Livres de toda aquela farsa política. Infelizmente as embaixadas eram cercadas pelos agentes da polícia política formando um árquipelago diplomático, enquanto os russos tentavam se manter à tona no mar em volta. Restava-lhes apenas o árquipelago Gulag, o complexo de prisões soviéticas tão bem denunciado por Alexander Solzhenitzyn.

Vendo as encenações políticas destes tempos, me lembro da citação de um autor sobre o que ele chamava de "monótono desfile de mediocridades" já na década de 70, analisando a baixeza executiva, legislativa e judiciária que entre nós impera.

Despertei bem a tempo de ver o mais recente número de mágica, lamentável por sinal, para encerrar a última peça de teatro do rebolado, onde um assim denominado governador de um chamado distrito federal terminou preso depois de rebolar em meio a denúncias, vídeos e prisões de auxiliares. Enquanto ele representava a peça, outros artistas, travestidos de membros do judiciário e do legislativo lhe deram voz de prisão e o colocaram numa confortável jaulinha onde reluzia a placa "Cadeia" , mas que de cadeia não tinha nada.

Enquanto isso, uma trupe de palhaços entrava no palco gritando elogios aos juízes que estendiam as mãos para serem beijadas. Com as plaquinhas onde se lia "Cidadãos" pregadas em suas testas, os palhaços diziam em voz alta e discursos pungentes que uma nova época se iniciava na política do Brasil, que agora os poderosos estavam indo para a cadeia e voltavam a pular enquanto os juízes diziam estar do lado do clamor popular e depois num canto do palco passavam álcool nas mãos. Beijos do povo, cruzes, que nojo.

Voltei a dormir e acabei acordando algum tempo depois com a encenação da libertação do agora ex-governador, saindo da jaulinha e levado por sua mulher para o conforto do lar e de um ostracismo político, que será regado pelo rico dinheiro público que ele amealhou durante esse tempo todo.

Percebi que tudo havia sido um truque de mágica. Um grande truque. Título mais do que adequado de um filme que vi há pouco tempo e que cai como uma luva para esse teatro do absurdo que temos aqui no Brasil, onde o executivo, o legislativo e o judiciário dançam num infame teatrinho pornô e se pretendem membros de uma grande companhia de teatro a interpretarem de forma virtuosa peças memoráveis da história política.

Enquanto a platéia aqui embaixo aplaude, numa parte dos camarotes os proprietários do teatro se comprazem em ver que tudo sai de acordo com o roteiro. Enquanto isso, na parte superior, os jornalistas estrangeiros encarregados de mandarem suas críticas para os principais jornais do mundo deixam de rir para lamentar a má sorte dos brasileiros abaixo deles, expostos a essas iniquidades que em suas terras faz parte de um secular passado, quando o mesmo tipo de proprietários foi derrubado dos camarotes junto com esses teatros que vieram abaixo em meio a revoluções que de teatrais não tinham nada.

Foi tudo um grande truque. Como diz o velho fabricante de aparelhos de mágica no filme, todo grande truque se divide em três grandes atos. O primeiro chama-se a promessa. O mágico mostra um objeto comum, mas claro, provavelmente não é. Todos sabem que os objetos supostamente comuns mostrados pelo mágico para a platéia são cheios de compartimentos falsos, lugares onde se pode colocar ou tirar alguma coisa que ninguém viu no palco. Basta um ato de prestidigitação. Enquanto os olhares se dirigem para um lugar, a mágica é feita em outro.

O segundo ato chama-se a virada. O mágico pega o objeto comum e o transforma em algo extraordinário.

No truque o mágico mostrou um governador corrupto sendo preso. Em outros países isso é menos que comum. É simplesmente a aplicação da lei e de costumes seculares de probidade e justiça. Aqui no palco político do Brasil, é algo tão incomum que a platéia aplaude mesmo.

A terceira parte chama-se o grande truque e é onde tudo acontece. A platéia vê algo que nunca viu antes.

No caso, na semelhança dos truques dos grandes mágicos enfiados algemados em caixas cheias de cadeados onde deveriam ficar para sempre e saem num instante, nesse caso o mágico mostra o ex-governador saindo de uma caixa política parecida sem problemas.

Tal qual os mágicos para os quais não existe cadeia, cela ou algema que prenda para sempre, bastou uma prestidigitação politico-judiciária para que ele saísse livre. Verdade que agora exposto e notório pela reincidência do que a associação dos mágicos do Brasil chama de crimes, vê-se ele compelido a abandonar o palco, mas não sem antes fazer um último ato de mágica.

O de manter em seu bolso todo o ouro público desaparecido dos cofres de sua administração sem dar contas disso e retirando-se para uma aposentadoria, que se não era desejada, ao menos é forrada de dinheiro.

Dinheiro dos mesmos palhaços que retiram suas placas de "Cidadãos" da cabeça e colocam sobre elas, tal qual coroas, as orelhas de burro que o assistente de palco lhes entrega para o próximo ato.

Olho para as portas do teatro sempre fechadas e penso em dormir de novo.

terça-feira, 30 de março de 2010

P30 Construção

Um exemplo a ser lembrado...
Ontem, acessando como sempre o bilogue "Promotor de Justiça" fui lendo os textos novos e percebi que junto do último comentário que eu havia deixado no texto que cita uma obra de Monteiro Lobato havia um comentário a mais. Fui ler para saber da opinião do leitor sobre os personagens que este genial escritor brasileiro criou. Foi uma grata surpresa.

Escreve-me um leitor anônimo da cidade de Sobral no Ceará achando interessante os pontos de vista que deixei no comentário que fiz. Eu o agradeço pelo que disse, mas mais do que isso, seu comentário se tornou para mim tocante pelo que diz, pelas atitudes que toma. É uma verdadeira declaração de coragem, de lucidez e acima de tudo de estoicismo frente às coisas que ele vê e que nós cidadãos de outros pontos desse Brasil também vemos diariamente. Mais do que ver, sofremos no fim das contas.

Morando na periferia de Sobral, presencia ele as cenas habituais de bairros com todos os problemas que vemos hoje afligindo os moradores das cidades brasileiras.

Mas deve ser destacado o que ele diz. Que presenciando as coisas que tornam a vida do cidadão comum mais aflitiva, ele se entristece. Está aí um sentimento que o torna diferente de muitos que hoje, alienados por uma série de circunstâncias, não veem ou preferem não sentir mais qualquer dor que seja pelo dia a dia que presenciam.

Mas o leitor de Sobral sente-se triste e por vezes se deprime com o que vê. Entendo seus sentimentos. E o elogio profundamente por ainda ter a capacidade de sentir as coisas assim, de observar a realidade, mesmo que dolorosa e em seu íntimo sentir-se motivado a fazer o melhor pelas outras pessoas que vê em situação desoladora. No Brasil de hoje poucos são os que ficam tristes com as coisas que vemos, com a nossa nação tão por baixo, apesar do retrato feliz que a imprensa brasileira procura passar, como sempre querendo agradar a quem está no poder. Grandes obras são vistas e propagadas enquanto que o que acontece nos cruzamentos de trânsito, nos bairros mais humildes, nas ruas, tudo isso fica em segundo plano, como pessoas de fora de um grande banquete, contidas por uma cerca e ignoradas pelos festivos governantes em seu repasto de verbas desviadas.

Nos dias de hoje, quando pessoas esclarecidas andam pelas ruas sem nenhum constrangimento com copos de bebida nas mãos, considerando o alcoolismo como comportamento civilizado, quando administradores políticos destroem livros, quando magistrados sentenciam em causa própria provocando a ruína do cidadão ou seja, quando toda a trama social se desfaz na nossa frente, tudo isso é mesmo para entristecer, para deprimir.

Por isso é de se destacar o que diz o leitor de Sobral:

"...porém em meu mundo particular, busco refúgio nos poucos livros que tenho, não para esquecer do que está acontecendo lá fora,mas sim para primeiro munir-me de conhecimento para auxiliar os que são estimulados a não desenvolver uma visão de mundo que os faça melhorar suas condições de vida, em todos os seus aspectos."

No outro mundo além desse, Monteiro Lobato não poderia estar mais feliz, mais reanimado ao ler essas palavras, ao tomar ciência do testemunho desse cidadão, que com seus livros, procura continuar a construção de sua consciência cívica, de sua postura de brasileiro que faz por merecer o caminho dos grandes vultos que tivemos em nossa história, em que pesem os dias atuais, quando de forma esmagadora faz-se verdade o profético ditado de Rui Barbosa:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

Mais do que nunca deve ser admirada a atitude do leitor de Sobral, que mesmo cercado por uma realidade que entristece qualquer cidadão, procura com seus livros, como ele mesmo diz, munir-se de mais conhecimento para fazer o melhor possível para poder ajudar o povo de sua nação, para tentar melhorar esse Brasil de hoje.

Existe mesmo uma vida após essa? Então Rui Barbosa sabe que cidadãos como o leitor de Sobral não estarão sozinhos na luta por melhorar tudo o que está errado. Monteiro Lobato sente que a frase que nos legou de que "Um país se faz com homens e livros" mais do que nunca retoma vida.

Mais do que um simples observador dos dias de hoje, o leitor de Sobral é no fundo, acima de todas as dificuldades, um exemplo perfeito do que entendemos como verdadeira cultura e lealdade ao que há de melhor em sua nação.

Com sua capacidade de observação e com seu altruísmo, dia a dia torna a si mesmo uma construção de tudo o que é melhor para esse sofrido Brasil de hoje.

sexta-feira, 19 de março de 2010

P29 Renovação

Pela força...

Para o observador atento nada tem sido mais desolador do que olhar de forma cuidadosa o panorama político do Brasil atual. A palavra política aqui tem uma abrangência significativa. Me refiro ao que podemos congregar nessa palavra como um todo para retratar uma nação, ou seja, o executivo, o legislativo, o judiciário, a sociedade como um todo.

E o retrato que emerge desse olhar é uma completa e desoladora ruína moral, que espelha de modo incontestável a situação desses poderes no Brasil. É no meio dessa ruína além de moral, humana, que habitam por assim dizer seus membros. Já acostumados com essa habitação que lembra mais a dos fantasmas dos contos de terror, aos poucos foram se moldando aos locais onde moram.

De forma espantosa, como no romance de Franz Kafka, "A Metamorfose" foram tornando suas mentes e seus hábitos tão parecidos com as ruínas que hoje, ruínas e moradores, fantasmas e pedras espalhadas são indistinguíveis. Em seu romance surrealista, Kafka narra o momento assombroso em que o personagem Gregor Sansa percebe que havia se transformado numa barata.

De forma semelhante, os membros desses três poderes no Brasil de hoje também se transformaram em insetos. Mas por vontade própria. No conto de Kafka, Gregor Sansa, abismado, percebe sua horrível metamorfose, da qual sequer sonhara em seus piores pesadelos e pede socorro para retomar a forma humana. Já os membros dos nossos três poderes voluntariamente foram se deixando levar por essa metamorfose que nada mais é do que se tornarem naturais habitantes da paisagem política criada pela infame constituição de 1988, que é cantada em prosa e verso pelos formas de vida parasitárias que por ela foram criadas e que às custas do Brasil e do sangue do povo brasileiro vivem.

Nada mais natural do que a farsesca "constituição cidadã" ter-se tornado apenas um chão fervilhante de insetos políticos dos mais repugnantes, alguns alçando voos aqui e alí. sendo por assim dizer, seus bem adaptados habitantes, em especial os que se regalam com as maiores alturas nesse meio institucional, que por ora temos que aguentar com extrema náusea. Bem, uma barata voa e crê que seu voo alcança ápices gloriosos para a natureza e no entanto continua sendo uma barata.

Não poderia ser de outra forma. Urdida por uma das mais infelizes e corruptas assembléias constituintes que o Brasil já presenciou, chamada por seus poucos críticos de "assembléia prostituinte" tudo mostra que nesses 22 anos de existência a tão falada "constituição cidadã" pode, em vista de tudo o que tem produzido de insetos políticos, ser de hoje em diante chamada de "prostituição cidadã". Assim ao menos a atividade a que se dedicam seus membros se torna mais específica para comentários e reflexões. Continua porém a repugnância de sua metamorfose, voluntária e desejada para se adequarem a esse meio onde vicejam.

Porém mesmo a natureza como a conhecemos, além da política propriamente dita, tem seus mecanismos de limpeza. Um deles é expresso pelo ditado "Ignea Natura Renovatur Integra" que significa que "Pelo Fogo a Natureza Inteira se Renova". O Brasil de hoje, em que pesem os cantantes meios de imprensa, sempre vendidos ao poder, se assemelha a um imenso galpão onde o cheiro de gasolina é mais do que perceptível. Uma fagulha, dessas que a história dos povos sempre faz surgir e tudo voa pelos ares. E com as chamas desaparecem essas repugnantes formas políticas que hoje infestam esse país.

O certo é que por bem, essas pragas jamais irão embora. Que seja pela força então.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

P28 Zona de pouso reaberta

Após alguns meses...
Depois de meses tentando reacessar meu antigo bilogue http://vellker.blog.terra.com.br/ (desculpem, aportuguesei o nome) tive a grata surpresa de vê-lo novamente, intacto, reformatado e em ordem ao que tudo indica nesses primeiros dias em que pude olhar. Mas o acesso ainda é precário. Em certos momentos nada consigo.

Em agosto de 2009 não pude mais entrar lá. E não foi porque errei a senha. Simplesmente não sei porque até hoje, mas seja lá como for, desde o dia 11 estou podendo fazer os acessos. É interessante constatar que o último registro marcava 49.423 acessos. Se bem que em certos momentos, como disse, meu acesso não se efetiva.

E ao conseguir reacessar o contador encontrei 55.306 acessos. Agradeço aos leitores que tiveram a paciência de ler os textos sem formatação e com as fotos deslocadas.

Já que a zona de pouso está reaberta, continuarei a escrever lá também, vez ou outra algum artigo a mais. O que pode ser mais interessante do que comentar as últimas loucuras dos nossos governantes?

De um lado um jurista que nada entende de material bélico e por esses dias brincando de ministro da defesa querendo comprar 36 inúteis caças Rafale da França e de quebra um mais inútil ainda submarino nuclear, com a promessa, sempre a eterna promessa de transferência de tecnologia. Desde a década de 70 que o Brasil usa radares franceses para controlar seu espaço aéreo. Perguntem se ele já sabe fazer radares. Sabe? Não. E para piorar em 1994, o governo FHC comprou um caríssimo radar da Raytheon americana, que seria a solução para a vigilância da Amazônia. E os traficantes, garimpeiros e invasores continuam fazendo tudo o que sempre fizeram no maior sossego. É claro, vigiados pelos radares do SIVAM. E daí que os radares da Raytheon estão olhando tudo? Grande coisa, não tem força aérea mesmo. Nem exército, cujos contingentes estão isolados no meio da selva, sem equipamento.

E isso tudo depois de todas as lições que tiramos do que aconteceu com a Argentina em 1982, que dependia de equipamentos franceses para lutar contra a esquadra britânica na guerra das Malvinas. E depois de esgotado seu estoque de mísseis franceses Exocet, com os quais afundaram alguns navios ingleses, ao pedirem mais material bélico para a França, que resposta ouviram os argentinos? O mais diplomático não. Disseram os franceses, que não, não venderemos mais mísseis parra vocês, nem peças de reposição para seus aviões Super Etendart, fabricados por nós franceses, pois não queremos ficar de mal coma Inglaterra, que está em guerra com vocês pois ela é nossa grande amiga aqui na Europa. E os argentinos ficaram literalmente a ver navios. Ingleses, é claro.

De outro lado, temos governos estaduais da região norte se esmurrando para pegarem verbas para a construção de usinas nucleares, enquanto crianças dos seus estados mendigam nas estradas ao mesmo tempo que suas escolas e prontos-socorros estão no mais completo abandono. Logo teremos retirantes nucleares. Já é um progresso, sem dúvida. Em seu memorável livro "Loucura Nuclear" de 1979, Kurt Rudolf Mirow já denunciava o absurdo do acordo nuclear Brasil-Alemanha que se destinava em última análise a socorrer a falida indústria nuclear alemã, construindo os reatores de Angra 1 e 2, que hoje são chamadas de usinas vagalume, que acendem e apagam.

Sem contar a produção de detritos nucleares que restam dos tubos de urânio gasto e que tem que ser estocados. A mistura radioativa inclui elementos nucleares que emitirão radiaçào por aproximadamente 24.000 anos. É isso mesmo leitor, vinte e quatro mil anos. Material altamente tóxico, altamente corrosivo, durante todo esse tempo. Claro, a imprensa que tudo descobre, não sabe onde estão estocando esse material.

Uma coisa é certa. Assunto não vai faltar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

P27 A vela e o galpão

A chama que muda tudo...
Podendo agora retornar à observação mais atenta da cena política nacional como todos os brasileiros o fazem, vejo cada vez mais claros os sinais históricos de uma mudança traumática na estrutura política sob a qual, como habitantes de uma grande nação, temos sido tão infelizes.

Ao longo desses últimos 24 anos de "democracia e cidadania" como apregoa uma imprensa abjetamente servil a interesses políticos diversos, temos visto a nação submergir na ignorância política, longamente cultivada na forma de uma progressiva alienação social por essa mesma imprensa. E tudo isso é chamado de "liberdade de informação".

Nada poderia ter sido mais útil aos políticos que desde então conseguiram assim aplicar um dos mais bem sucedidos estelionatos políticos já registrados na história política mundial. Não existem membros dessa política que estejam isentos de culpa. Como classe, julgada numa perspectiva histórica, a classe política brasileira é culpada de todos os crimes contra o povo de sua própria nação.

A situação, apesar do verniz de prosperidade pintado pela imprensa, é clara. A nação como um todo se afunda cada vez mais na pobreza, na violência e na ignorância de si mesma, da percepção individual até a percepção de nossa nação como personagem ativa da comunidade mundial nas mudanças que virão.

Assim como uma vela queima até o fim, também segue assim a política atual, que de forma inexorável vai atingir seu término, que virá na forma de uma mudança radical e violenta, apesar das cores alegres que passam sobre a vida nacional.

Assemelha-se a nossa situação à de um imenso galpão onde o cheiro de gasolina no ar é perceptível a todos.

Inevitavelmente virá a fagulhá que levará tudo pelos ares numa grande e verdadeiramente desejada explosão.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

P26 Sobre ruínas e ratos

Um casarão abandonado...

Com as recentes revelações de mais um escândalo político envolvendo o governador do Distrito Federal e seus assessores, que desempenham bem o papel de entrevistados coerentes e bem falantes, coisa que certamente já haviam treinado para o caso de um flagrante, vê-se a que ponto chegou o abandono de toda e qualquer noção de decência política. A casa política brasileira é hoje um casarão dos tempos coloniais, abandonado e em ruínas e onde esses ratos políticos fizeram seus ninhos e engordam roendo os bens da nação.

Honestidade, lealdade e coragem não fazem parte do ideário dos políticos dos dias de hoje no Brasil. Até mesmo a falta de modos e pudor, que até crianças aprendem a ter desde cedo eles abandonaram, tal a vergonha que foram as cenas explícitas de políticos enfiando dinheiro em suas roupas íntimas enquanto sorriam. Um deles, mesmo respondendo a 28 processos diferentes veio a ser nomeado assessor do atual governador do Distrito Federal.

O governador, egresso do escândalo da violação do sigilo dos políticos votantes no famoso caso do painel do congresso em 2001, pouco depois renunciou em lágrimas, dizendo-se arrependido. Continuou assim elegivel, manobra que já havia pensando e que lhe permitiu ascender a mais esse posto, onde tranquilamente continuou a cometer fraudes e a incentivar a corrupção com uma verdadeira quadrilha trabalhando a seu favor.

As tão cantadas soluções institucionais estão aí para quem quiser ver, putrefatas e bem ao gosto do apetite de aves de rapina, para quem quiser servir-se delas. Aliás, é delas que se servem esses políticos para poderem continuar cometendo crimes contra o povo. Foram eles mesmos que redigiram essas leis.

Devem todos se conscientizar de uma coisa. A de que esse casarão político deve ser derrubado e o será necessariamente pela força. Enquanto isso não acontecer, o povo brasileiro continua preso nessa ruína e pior ainda atacado por todo tipo de políticos, que hoje, de vereadores a congressistas se alimentam dos bem públicos.

Existe na história do Brasil um manifesto político escrito pelos tenentes da rebelião militar de 1924. Uma parte dele descreve com precisão o Brasil de hoje e merece ser lido para reflexões e uma tomada de posição:

"O Brasil de hoje está reduzido a verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens e estabelecendo-se como condição primordial, para acesso às posições de evidência, o servilismo contumaz que, movendo-se pela mola das ambições cada vez mais se generaliza, constituindo fator de degradação social. O povo ficou reduzido a uma verdadeira situação de impotência, asfixiado em sua vontade pela ação compressora dos que detem as posições políticas e administrativas. Dispondo de material bélico moderno, contra o qual os cidadãos inermes nada podem fazem, os dominadores tem-lhe coartado a manifestação da vontade pelas urnas, órgão legítimo pelo qual a soberania popular se exerce nas democracias.".

Nos últimos 25 anos, o tempo tem apresentado a todos os brasileiros, de forma indesmentível, os fatos que podem fazer qualquer um decidir que tudo isso deve ser terminado pela força.


Solução pacífica para nossas contradições políticas e sociais, essa não teremos mais.