sexta-feira, 19 de março de 2010

P29 Renovação

Pela força...

Para o observador atento nada tem sido mais desolador do que olhar de forma cuidadosa o panorama político do Brasil atual. A palavra política aqui tem uma abrangência significativa. Me refiro ao que podemos congregar nessa palavra como um todo para retratar uma nação, ou seja, o executivo, o legislativo, o judiciário, a sociedade como um todo.

E o retrato que emerge desse olhar é uma completa e desoladora ruína moral, que espelha de modo incontestável a situação desses poderes no Brasil. É no meio dessa ruína além de moral, humana, que habitam por assim dizer seus membros. Já acostumados com essa habitação que lembra mais a dos fantasmas dos contos de terror, aos poucos foram se moldando aos locais onde moram.

De forma espantosa, como no romance de Franz Kafka, "A Metamorfose" foram tornando suas mentes e seus hábitos tão parecidos com as ruínas que hoje, ruínas e moradores, fantasmas e pedras espalhadas são indistinguíveis. Em seu romance surrealista, Kafka narra o momento assombroso em que o personagem Gregor Sansa percebe que havia se transformado numa barata.

De forma semelhante, os membros desses três poderes no Brasil de hoje também se transformaram em insetos. Mas por vontade própria. No conto de Kafka, Gregor Sansa, abismado, percebe sua horrível metamorfose, da qual sequer sonhara em seus piores pesadelos e pede socorro para retomar a forma humana. Já os membros dos nossos três poderes voluntariamente foram se deixando levar por essa metamorfose que nada mais é do que se tornarem naturais habitantes da paisagem política criada pela infame constituição de 1988, que é cantada em prosa e verso pelos formas de vida parasitárias que por ela foram criadas e que às custas do Brasil e do sangue do povo brasileiro vivem.

Nada mais natural do que a farsesca "constituição cidadã" ter-se tornado apenas um chão fervilhante de insetos políticos dos mais repugnantes, alguns alçando voos aqui e alí. sendo por assim dizer, seus bem adaptados habitantes, em especial os que se regalam com as maiores alturas nesse meio institucional, que por ora temos que aguentar com extrema náusea. Bem, uma barata voa e crê que seu voo alcança ápices gloriosos para a natureza e no entanto continua sendo uma barata.

Não poderia ser de outra forma. Urdida por uma das mais infelizes e corruptas assembléias constituintes que o Brasil já presenciou, chamada por seus poucos críticos de "assembléia prostituinte" tudo mostra que nesses 22 anos de existência a tão falada "constituição cidadã" pode, em vista de tudo o que tem produzido de insetos políticos, ser de hoje em diante chamada de "prostituição cidadã". Assim ao menos a atividade a que se dedicam seus membros se torna mais específica para comentários e reflexões. Continua porém a repugnância de sua metamorfose, voluntária e desejada para se adequarem a esse meio onde vicejam.

Porém mesmo a natureza como a conhecemos, além da política propriamente dita, tem seus mecanismos de limpeza. Um deles é expresso pelo ditado "Ignea Natura Renovatur Integra" que significa que "Pelo Fogo a Natureza Inteira se Renova". O Brasil de hoje, em que pesem os cantantes meios de imprensa, sempre vendidos ao poder, se assemelha a um imenso galpão onde o cheiro de gasolina é mais do que perceptível. Uma fagulha, dessas que a história dos povos sempre faz surgir e tudo voa pelos ares. E com as chamas desaparecem essas repugnantes formas políticas que hoje infestam esse país.

O certo é que por bem, essas pragas jamais irão embora. Que seja pela força então.

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