
Quando sai para almoçar e encontra seus dois colegas de profissão num restaurante, eles formam um trio surpreendente. Nick está entre seus pares de pensamento. Polly, uma de suas melhores colegas, trabalha a favor da indústria de bebidas convencendo professores, entrevistadores e audiências de que apesar do crescente alcoolismo entre jovens e da destruição que ele causa na sociedade, afinal todos tem o direito de ter uma garrafa de bebida sempre ao seu alcance e amortece as objeções contra a bebida. Bobby seu outro antigo colega trabalha a favor da indústria de armas, convencendo a todos de que mesmo com tiroteios em escolas e violência fora de controle, qual é o problema em que as armas circulem livremente por aí? Os três são mestres em manipular sentimentos, maquiar a verdade e remodelar convicções. Ou pelo menos em deixar todos confusos e sem argumentos. Nunca dizem que estão mentindo. Apenas em seus pensamentos admitem isso. E argumentando com eles mesmos. Mas fazem o trabalho que as indústrias precisam e são bem pagos.
Na vida pública em frente às câmeras de televisão, em frente ao público das conferências e mesmo em frente a um comitê do senado norte-americano, Nick não só defende suas idéias de uma forma que deixa seus opositores sem respostas, como ainda traz à tona certas atitudes ambíguas e contraditórias dos que pretendem combatê-lo, deixando-os em situação embaraçosa em frente a milhões de telespectadores. E ensina ao próprio filho que na verdade as pessoas possuem uma coisa que ele chama de moral flexível. É só saber argumentar direito e mesmo não provando nada, não declarando coisa alguma, fica parecendo que disse tudo o que queriam ouvir.
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Na verdade Nick até passa a ser visto com admiração por parcelas consideráveis da opinião pública, porque parece no fim das contas apenas um sujeito empenhado em defender a causa que todos abandonaram sem saber direito porque e faz sua defesa aguentando ataques de todos os lados. Que ele desarma um a um, claro. -


Belos discursos, evitando-se o quanto possível tocar nesses assuntos e quando impossível, fazendo-o sob uma verdadeira cortina de fumaça de alegações, contra-alegações e desmentidos. E também, de forma quase beatífica, a presença em igrejas e os beijos em estátuas religiosas. Terminada a campanha e com o resultado na mão, tudo isso foi esquecido e ela passou às articulações políticas com a voz subitamente carregada de um tom arrogante, desaparecendo a suavidade suplicante da fala dos dias finais. Santos e igrejas foram completamente esquecidos. Em suas ponderações Nick Naylor era mais cortês com o público, mesmo vencedor.

Serra ainda tentou associar sua imagem também às igrejas e beijos em santos, enquanto falava sobre sua "impoluta" vida pública quando a "Folha de São Paulo" na semana final das eleições publicou a reportagem sobre a suspeita de licitações com preços combinados nas obras do metrô paulista sob a gestão de Serra da ordem de 4 bilhões de reais, enquanto seus antigos colegas, um recém-eleito governador e o seu vice agora no governo davam ordens para investigar as licitações. Nick Naylor quando se via sem argumentos ao menos mantinha a postura corajosa de encarar o público de tal forma que despertava simpatias pelo estoicismo, sem se esconder atrás de bolinhas de papel. -

Tendo acumulado considerável capital político que lhe permitiu fazer a política de pêndulo oscilando para o lado que lhe garantisse mais cargos, Marina Silva nem mesmo pôde ocultar a voracidade do seu Partido Verde, o PV por cargos no próximo governo. Para quem se arrogou a figura de honesta e frugal guardiã da natureza, fica difícil explicar os resultados divulgados pelos tribunais eleitorais que mostraram a contabilidade de que dos 24 milhões de reais doados para sua campanha, 11 milhões foram doados pelo vice de sua chapa, Guilherme Leal, que por coincidência é dono da empresa de cosméticos Natura. Nick Naylor quando pega a maleta de dinheiro do presidente de uma indústria para dar ao ex-ator doente, leva-a até seu destino abrindo-a só na frente dele.
-Seria mesmo interessante que Dilma, Serra e Marina se encontrassem num restaurante em Brasília onde pudessem conversar a sós como Nick, Polly e Bobby conversavam. Só podemos supor de longe, em idéias tenebrosas, que tipo de acertos e negócios teriam sido feitos para essa eleição e que negócios fariam alí.
-É muito provável que se entrasse no mesmo restaurante nessa hora, Nick Naylor saísse dalí e procurasse um restaurante onde pudesse encontrar seus bons amigos Polly e Bobby.
-Ele sem dúvida se sentiria bem mais seguro. E na saída tudo o que ele diria ao rapaz do estacionamento seria só isso :
- - Obrigado por votar...e fumar.
