domingo, 31 de julho de 2011

P76 Vale-tudo

Em apenas poucos dias, as manchetes do vale-tudo...
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Para ter uma idéia, mais uma, da situação política e social do país que é sempre vista e analisada por leitores que gostam desse tema, basta coletar as notícias que lemos nos jornais sem nem mesmo completar uma semana.
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No dia 28 de julho, políticos presos sob a acusação de desviarem 10 milhões de reais da prefeitura de Taboão da Serra em SP, foram libertados e responderão o processo em liberdade.
No mesmo dia 28 saiu a notícia de que um desembargador paulista pediu desculpas publicamente para a mãe de um rapaz morto em 1998 após acidente com uma viatura da polícia. Desde 2001 o recurso que ela impetrou no processo contra o estado estava esquecido dentro do TJ-SP.
No dia 29 o apresentador de programas policiais José Luis Datena deixou a Rede Record após trabalhar 43 dias dos 1.825 dias que previa o contrato assinado entre ele e a emissora. Ao ir para a Record Datena teve perdoada uma dívida de 15 milhões de reais da saída anterior da emissora. Assim que a dívida foi perdoada em acordo judicial, passou a alegar censura e abandonou a nova emissora.
Na mesma página saiu a notícia de que uma ex Ronaldinha admite hoje que namorou Ronaldinho em sua fase áurea por dinheiro dizendo que era por amor. Gorda e banida da TV, conta que queria mesmo fama e riqueza mas ficou sem dinheiro e aceitou fazer fimes pornô e depois perdeu tudo de novo. Aí passou a fazer programas com executivos.
No dia 30 saiu a declaração da moça que atropelou e matou um jovem em São Paulo. Segundo o médico que atendeu a ocorrência, ela estava alcoolizada e seu namorado também. No momento do acidente recusou-se a fazer o teste segundo os policiais e depois ela disse que nem a polícia e nem os médicos do instituto médico legal se lembraram de fazer o exame. E nem ela. Apesar do jipe blindado ter capotado e ter ficado muito danificado, ela afirmou que dirigia a apenas 30 km. por hora.
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No mesmo dia 30 saiu a notícia de que a presidente Dilma, irritada com as atitudes e denúncias contra Ricardo Teixeira, decidiu não recebê-lo para manifestar seu desagrado. Mostrando o que seus assessores chamam de mais completo repúdio, apareceu na solenidade e discursou obedientemente no mesmo recinto em que estavam Ricardo Teixeira e Joseph Blatter, também acusado de graves irregularidades. E apesar de ser contra a exclusividade dada pela FIFA para a Rede Globo, aceitou discursar sem dizer uma palavra que fosse de estar contrariada e além disso, de estar no comando. Segundo seus assessores, sua atitude foi firme. Talvez possamos entender isso como de firme obediência ao que já foi acertado entre os que vão ganhar dinheiro às custas do Brasil.
22 políticos acusados de fraude contra uma prefeitura libertados em menos de 100 dias. Uma mãe que tenta processar o estado pela morte de seu filho e tem seu processo esquecido por 10 anos. Um apresentador que diz denunciar crimes e que tem uma dívida perdoada e então rompe o contrato com quem o desobrigou. Uma ex vedete que diz que na verdade só se interessava pelo dinheiro de quem dizia amar. Uma jovem que atropelou e matou que faz um depoimento absurdo no escritório do seu advogado. Uma copa do mundo que antes de começar mostra claramente como está eivada de corrupção. Uma presidente que tenta aparentar que manda nessa bagunça e que diz que é contra o principal acusado e no entanto vai de cabeça baixa discursar no evento que ele montou junto com outro acusado. E são apenas notícias rotineiras.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

P75 A praça de touros

O touro que espera...
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Com os mais recentes desdobramentos da crise econômica, também a Espanha começa a dar sinais de que dificilmente sairá inteira da praça de touros econômicos onde se enfiou nos últimos anos.
Fazendo uma comparação com as touradas, uma coisa é que a aparente coragem do toureiro é no fundo uma extrema covardia. Dias antes da tourada, o touro é fechado num curral escuro onde fica sem água e sem comida até o dia da tourada. Enquanto isso dão-lhe laxantes e deixam pesos amarrados em suas costas. Quando está bem esgotado e desorientado é assim que é jogado numa arena para enfrentar de súbito um homem que se diz corajoso, saudável, armado e que treinou durante anos esse ataque. Cultores dessa coisa ainda propagandeiam uma suposta coragem, ocultando todo o horror que existe aí. Pior ainda, se o touro começar a apenas ameaçar seu desafiante, o toureiro é socorrido imediatamente por lanceiros a cavalo e vários outros toureiros também armados. Custa crer que ainda tenha admiradores essa atrocidade.
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Ao ser lançada na América Latina a onda de privatizações de empresas estatais largamente incensada em especial por economistas e jornalistas brasileiros sem nenhum compromisso com seu país, a Espanha se aproveitou disso para voltar a este continente novamente, onde sua última presença em séculos passados só trouxe infelicidade pelos genocídios e exploração social que deixou como marca. Mantendo seu costume secular de se aproveitar de outros povos, não poderia deixar de ser diferente quando os espanhóis viram a chance de novamente desembarcarem por aqui, contando com o apoio dos chamados neoliberais do governo FHC, que depois de terem vendido as estatais brasileiras por preço de liquidação, saíram de seus empregos para trabalharem como diretores de bancos de investimentos que passaram a ter participação nas empresas privatizadas. Afinal de graça é que não venderam todo o patrimônio brasileiro. Se alguém pagou alguma coisa, esse foi o povo brasileiro.
Na época em que se liquidavam as estatais de energia elétrica, as condições de venda eram tão favoráveis a especuladores e aproveitadores que um dos dirigentes de um grupo hidrelétrico espanhol declarou abismado para a imprensa que não conseguia entender como o governo brasileiro estava vendendo empresas totalmente pagas e que estavam dando lucro.
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Enquanto isso um casal de jornalistas brasileiros, figura habitual do noticiário da Rede Globo alardeava durante meses, de forma mais enfática, a ineficiência das empresas estatais brasileiras. Durante anos já vinham vendendo a idéia de que entregar tudo aos estrangeiros era a melhor coisa a fazer. Reportagens minuciosas eram feitas mostrando até mesmo torneiras pingando nas estatais. Hoje esse mesmo casal não faz essas reportagens minuciosas investigando a fundo as dezenas de explosões de bueiros de sistemas elétricos no Rio de Janeiro, cuja manutenção seria dever das empresas privadas que compraram a rede elétrica antes estatal. Mas não era para ter melhorado com a administração privada? Isso o Jornal Nacional não fala muito.
No caso dos bancos estaduais, não só no Brasil como também no resto da América Latina, coisa semelhante aconteceu. Durante anos também não só emissoras de televisão como também uma revista semanal da Editora Abril, noticiavam com destaque qualquer problema nesses bancos, coisa que qualquer administração correta acertaria sem problemas, a não ser que ela tivesse a intenção de pôr tudo a perder enquanto jornalistas faziam a propaganda de que vender para estrangeiros seria melhor. Enquanto isso, uma revista de circulação nacional publicava relatos de brasileiros felizes no exterior com os serviços bancários estrangeiros. Quando o banco estatal de São Paulo foi vendido, em questão de meses o dinheiro da venda evaporou-se nas despesas do estado. Pior ainda, hoje o banco Santander, o comprador, acumulou milhares de reclamações nesses anos, trabalhistas e de clientes, sem contar que em 2011 o Ministério Público Federal carioca concluiu que o Grupo Santander havia cobrado 265 milhões de reais em taxas indevidas dos clientes do Brasil. Mas não ia ficar tudo melhor com os estrangeiros? Isso a revista não investiga nem remotamente.
Nas empresas de telefonia, os grandes grupos jornalísticos do Brasil foram aliados incondicionais dos espanhóis. Os grupos da Espanha puderam ir ás compras com tudo muito facilitado por essa parceria. Hoje operando a antiga Telesp, ex estatal de telefonia paulista, entre outras no Brasil, os espanhóis fixaram um domínio por aqui às custas do brasileiros. Claro que reportagens da revista "Veja" se esmeravam em mostrar relatos de brasileiros felizes no exterior com as empresas de telefonia de onde estavam. Mas ficava complicado contar que a Telefonica de España já havia levado multas de milhões de euros no exterior. Depois da privatização, do dia para a noite os telefones começaram a ser vendidos em 48 horas. Milagre?
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Sim, às custas do povo brasileiro que não foi informado de que isso se devia aos altos investimentos feitos pelo governo FHC pouco antes das privatizações. E que a alta de preços pouco antes dessas mesmas privatizações foi imensamente bem vista por possíveis compradores estrangeiros que receberiam as empresas funcionando, com melhoramentos nas instalações e melhor ainda, com os preços cobrados já deixados mais altos pelo governo vendedor. Algum repórter do "Jornal Nacional" ou da revista "Veja" investigou isso? Não. Ia atrapalhar os negócios de telefonia que ambicionavam e de onde foram postos para fora pelos mesmos estrangeiros que ajudaram a entrar aqui.

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Hoje os negócios de telecomunicações das Organizações Globo são praticamente desconhecidos e a MTV da Editora Abril encolheu-se miseravelmente a ponto de ser desconhecida fora da cidade de São Paulo.
E hoje, depois de tudo isso, depois de passarem anos lucrando às custas de um povo explorado e enganado, estão os governantes e empresários espanhóis a baterem na porta das agências de risco internacionais pedindo alguma ajuda, para não terem seu país rebaixado nas notas que graduam os investimentos para melhor ou pior. Já foram rebaixados para pior, pois lidam com gente do mesmo tipo. Enquanto isso, dentro da Espanha sucedem-se as marchas contra o desemprego e a crise no país deles. De novo perderam o que ganharam, depois de terem tido uma triste passagem por aqui, sempre explorando povos enganados ou de alguma forma incapazes de se defenderem.
Assim, o toureiro espanhol subitamente se vê na arena sem capa e sem espada, enquanto que o touro que ele tem pela frente, além de estar em forma e bem disposto, está acostumado a moer o que encontra na arena mas não tem muita pressa. Os amigos que antes o ajudavam de cavalo e lanças em punho agora se voltam contra ele. Sem saída, o toureiro espanhol tem que pedir ajuda para seu povo até se lembrar de que calça de toureiro não tem bolso.
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A platéia de grandes especuladores não está nem um pouco interessada no certo nem no errado, nem no touro e nem no toureiro, mas em sim em quanto vai ganhar. Mas quem se meteu nesse jogo sujo foi ele. Memorável mesmo. Em pouco mais de dez anos depois de retornarem ao continente sul-americano como pretensos reconquistadores, com tudo o que ganharam em negócios obscuros mal conseguem fechar as contas internas e seus amigos de ontem lhes dão as costas hoje. Custa-se a crer que até mesmos seus jornalistas de aluguel os tenham abandonado, mas esses trabalham de acordo com o que ganham.
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Enfim, com touro bem alimentado, a coisa é outra.

domingo, 17 de julho de 2011

P74 O navio português

Currículos e referências primeiro...
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Nos dias de hoje segue sem maiores novidades o rumo do que podemos chamar de navio da economia portuguesa. Se por um lado parece surreal a imagem de um navio encravado em terra firme, esta seria uma navegação segura para os portugueses. O problema é que lá vem tempestade e faltam botes e bóias para os passageiros abandonarem o navio. Enfim, tendo zarpado junto com a comunidade econômica européia há alguns anos, esse foi o rumo tomado.
É um caso de estudo no qual o Brasil deve se mirar pois não está longe disso, apesar da alegria reinante com dinheiro emprestado, na mesma festa que hoje chega ao fim para os portugueses. Com instituições cópia das portuguesas, a capacidade de mudar e de reagir a qualquer imprevisto se anula a cada dia, se não houver uma mudança radical na estrutura política do Brasil. Enquanto isso, para Portugal, se o cenário já era desolador com a admissão pública da incapacidade para saldar suas dívidas e pedido formal de socorro aos outros países europeus, agora com os problemas financeiros do governo americano, no navio português todos veem que além do naufrágio iminente, falta de botes e bóias, ainda por cima aparecem tubarões no mar.
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Com uma história de lamentáveis 8 séculos de persistência no mesmo sistema político viciado, do qual aliás o Brasil é um dos mais dignos herdeiros, haja visto a espantosa corrupção que a todos hoje assombra por aqui, Portugal e os portugueses, seja lá como for, acharam que estava de bom tamanho viverem sob a égide de um sistema político atrasado, retrógrado e acostumado a viver da pilhagem sistemática de povos colonizados, sempre mais fracos é claro. As guerras de conquista coloniais de Portugal contra os povos africanos sempre tiveram essa marca: um moderno poder bélico sempre voltado contra tribos que ainda mergulhadas numa vida pre-histórica caíam fácil sob as balas das armas portuguesas, compradas dos ingleses, franceses, alemães e outros que tivessem as indústrias e fábricas que os portugueses não tinham. Vale lembrar que até pouco tempo atrás, a cortiça plantada em Portugal era industrializada em outros países de onde voltava como rolha para suas garrafas de vinho.
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As guerras coloniais de Portugal sempre tiveram essa triste marca, a qual procuram não comentar. Guerra de conquista contra a Alemanha ou mesmo contra a Espanha, um pouco menor? Nem pensar. Melhor dar tiros de canhão em aborígenes que pensavam que lanças e flechas eram a última palavra em armamento e que foram aprender o que era a pólvora com os tiros que levaram. Enquanto isso, do século 12 ao século 20, seguia a modorrenta vida de exploração de plantações de cortiça, uvas e oliveiras, com o que Portugal reafirmava seu modo de vida voltado à exploração cruenta dos povos colonizados, enquanto que entregava a seu próprio povo migalhas do que conseguia no exterior através das colonias conquistadas com sua esquadra. Na verdade eles já chegavam nas colônias com saldo devedor para ingleses, de quem compravam as armas e para holandeses, de quem arrendavam os navios. O que sempre foi saque, assassinato em larga escala e tráfico de escravos sempre foi mais palatável contar nas aulas de história de ginásios como gloriosa saga de exploração colonial.
Apesar de uma alentada produção vinícola, tanto hoje como naqueles tempos, barris e mais barris de vinho estavam muito longe de pagar tudo o que deviam aos povos mais cultos, progressistas e industrializados daquela época. Pior ainda, os exploradores portugueses, além de chegarem devendo para holandeses e ingleses ainda hoje seus credores, já deviam dinheiro também para a corte portuguesa que sustentava sua opulência com os impostos cobrados do que viessem a conseguir de ouro e pedras preciosas, sobre o que também tinham que pagar a sua parte para o braço português da igreja católica. Uma situação triste mesmo.
Parece incrível que os portugueses tenham chegado novamente por terras brasileiras com a onda de privatizações que se seguiu com o governo FHC a partir de 1995, onde nenhum pouco de indústria ou trabalho foi preciso para que saíssem lucrando e muito. Basicamente nessas privatizações, um alto funcionário do governo brasileiro dizia que estava em condições de vender por um preço de liquidação tudo o que o povo brasileiro tinha passado 20 anos construindo e pagando. E é claro, esse funcionário, à semelhança do corrupto Major Sandro do filme "Tropa de Elite 1" dizia que quem quer rir, tem que fazer rir, se é que o entendiam. Claro que o entenderam.
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E assim, somente com a tradição de colher cortiça, engarrafar vinho e enlatar azeite, Portugal, do dia para a noite se tornava proprietário de redes de telecomunicações das quais não havia levantado um poste e nem sequer estendido um fio que fosse. Exultantes e arrogantes, chegavam os portugueses, sentindo-se superiores em tudo, pisando a terra do Brasil como a velha colônia que na verdade sempre deveria ter sido. E recomeçava a transferência de dinheiro da antiga colônia para a velha metrópole, sempre velha em seus hábitos e costumes nada elogiáveis.
Ao mesmo tempo em que fazia isso, qualquer um que fosse estudar a história de Portugal veria que se existem símbolos e marcas de cortiças, vinhos e azeites em profusão, nenhuma marca, nada mesmo existe que indique alta tecnologia, adquirida por conhecimento próprio e avançado em ciências exatas, laboratórios de eletrônica, física e engenharia que andem passo a passo com os mais modernos laboratórios do mesmo tipo alemães, ingleses e holandeses, para não dizer americanos, que com 6 séculos a menos de história até mesmo colocaram o primeiro homem na Lua.
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Existem apenas entidades centenárias que cultivam em grande parte todos os vícios que conhecemos por aqui, deixados como herança pelos antigos colonizadores portugueses. Vícios políticos que por sinal são a única forma de vida da estrutura política que aceitam como instituição nacional. Vícios de educação, onde é privilegiada a formação intensiva de bacharéis que em nada contribuem com o país, a não ser com a malandragem e esperteza institucionais, ou seja, com a redação de leis destinadas a apenas enganar seu próprio povo.
Não podia dar outra coisa. Enquanto durou a festa do dinheiro emprestado da comunidade econômica européia, Portugal foi às compras. Agora que o dinheiro europeu acabou, exatamente como nos tempos em que perdeu o rendimento que vinha de suas colônias, Portugal se prepara para afundar. Até mesmo foi ensaiado um primeiro e discreto pedido para a recém eleita presidente Dilma, que desconversou já que estava mais para fazer negócios com os chineses que tinham muito mais a oferecer. Pedir dinheiro para uma ex-colônia é o ponto mais baixo para uma ex-metrópole. Sem contar que Dilma deixou claro que estava com os cofres empenhados em coisas inúteis tal como o trem-bala, o mesmo que Portugal mandou construir e que hoje está abandonado por lá, enquanto que em imensas rodovias que estariam mais bem situadas na Alemanha, trafegam alguns poucos carros e enquanto os motoristas pagam caros pedágios, o governo português pensa em como vai pagar tudo o que foi construído sem saberem ao certo porque.
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Alheio a tudo isso, o ex primeiro ministro José Sócrates, dirigente que levou Portugal a esse buraco, há poucos dias mudou-se para a França e disse que sua nova residência em Paris é para estudos de filosofia. Formado em engenharia civil, a mudança dele vem bem a calhar já que saiu a notícia de que o novo governo português admitiu publicamente o desvio de mais de 2 bilhões de euros de contas públicas, equivalente a 4 bilhões de reais, o que deixa os países que ajudaram Portugal com 73 bilhões de euros propensos a não dar mais ajuda nenhuma.
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Sem outra alternativa, os portugueses que antes olhavam os imigrantes brasileiros com uma ponta de desprezo, hoje se veem na contingência de chegarem não só no Brasil como também em outros países como imigrantes, levando currículo e referências para candidatarem-se a empregos.
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Com o navio português prestes a afundar, todos gritarão como palavras de ordem currículos e referências primeiro, mulheres e crianças depois. Em caso de cairem na água mesmo, resta ainda fazer como o herói literário Camões, que segundo a lenda, ao escapar de um naufrágio nadou com um só braço e segurou seus manuscritos com outro até chegar em terra firme. Haja braço para isso no mar agitado dos dias de hoje.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

P73 Em nome do povo, matam o povo

Tudo em nome do povo...que está no poder, é claro...
Após quase um mês sem colocar outro texto, devo dizer que estes períodos tem a finalidade única de constatar de forma inequívoca a atual degradação política a que estamos submetidos pela simples leitura das notícias apresentadas nos meios de comunicação nesse curto tempo passado. O termo atual aqui se refere aos últimos 20 anos, quando fomos envolvidos pelas promessas de partidos falando em renovação e moralização da vida nacional e desde então tudo o que vimos foi a desmoralização progressiva da nação e administrações seguidas que se pautam pelo exercício de um latrocínio puro e simples, a que a classe política brasileira chama de "democracia", enquanto que grupos de jornalistas subalternos a isso coroam com o nome de "cidadania".
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Qualquer observador atento ao que se passa na vida nacional em pouco menos de um mês vê uma profusão de notícias sobre corrupção e degradação social, que apenas precisa escolher quais dos fatos noticiados são mais dignos de nota para ter a mais absoluta convicção de que uma renovação radical na vida nacional é mais que urgente.
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Tudo é feito pelas autoridades em nome do povo, que dizem que é assistido pela constituição cidadã. Na verdade uma grande farsa política, essa constituição mostrada na foto por um dos mais incensados enganadores do povo brasileiro, o finado deputado Ulisses Guimarães, visou tão somente permitir que os três poderes do Brasil num momento único de transição de poder, ao invés de realmente protegerem o povo brasileiro, protegessem apenas as próprias ambições, criando uma falsa constituição que longe de defender o povo, defendeu apenas prerrogativas, privilégios e a impunidade total dos que a redigiram. Não é por acaso que a assembléia constituinte de 1988 é por alguns críticos chamada de "assembléia prostituinte" tamanho foi o balcão de negócios que se tornou e tudo "em nome do povo".
Isso foi em 1988. Durante 23 anos a nação tem suportado o assalto de dinastias políticas centenárias, obstinadas na corrupção, pois esse é seu único meio de vida, na verdade uma herança familiar.
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Nos dias de hoje, nesses poucos dias passados é possível escolher as incontáveis notícias que infelicitam a todos. Folheando os jornais do mês, só como exemplo vemos que quadrilhas dentro de prefeituras já são coisa comum. De cidades pequenas a cidades grandes de norte a sul, a Polícia Federal se desloca em seu já monótono trabalho de busca e captura dos elementos denunciados, sem nenhum entusiasmo pois sabe da impunidade que todos os acusados desfrutarão. Os acusados, que com igual ar de monotonia e tédio deixam-se prender, já aconselhados por advogados também moralmente comprometidos ou envolvidos nas denúncias, mostram a que ponto chegou a tomada dos meios de governo por bandidos diplomados. Tudo em "nome do povo".
O congresso nacional prossegue sem a menor vontade de mudar, mas sim de persistir no caminho que iniciou há duas décadas, de rapinagem da nação, de proteção de interesses pessoais e recrutamento de bandidos disfarçados de "representantes do povo", assistido por instituições e agremiações das mais diversas, que com discursos vazios e inúteis, procuram apenas tomar parte no assalto às riquezas da nação, com seus bacharéis mais graduados oferecendo seus serviços, pelos quais esperam o pagamento. Aliás, no Brasil moderno a graduação de um bacharel passou a equivaler a receber carteira para cometer assaltos com seus autores protegidos por prerrogativas.
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Entre a rápida e arriscada carreira do assaltante de bancos exposto a todos os perigos e a lenta mas segura carreira de rapinagem política e jurídica protegida por um diploma e por prerrogativas que garantem a impunidade vai uma grande diferença. A diferença de que o assaltante de bancos mostra notável coragem pessoal. É o que os distingue nos dias de hoje.

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Existem os idealistas, fiéis a seus juramentos à Justiça? Existem e alguns até mesmo pagam com a vida por essa coragem, tais como discípulos modernos de juristas que marcaram época na história do Brasil com sua honra, coragem e honestidade, mas só eles não serão suficientes para vencermos todas essas quadrilhas que não só infestam a vida nacional, como destroem a nação dia a dia com sua rapinagem.
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Protegidos por esses verdadeiros chefes de quadrilhas legislativas, hoje chamados de governantes, que nomeiam parentes e cúmplices em todos os níveis da administração pública, a seu serviço todo o tipo de marginais aliados ou úteis ao poder atacam o povo brasileiro em sua vida diária. Desde ladrões já conhecidos no dia a dia da administração pública tanto em nível federal como municipal, até membros da segurança pública como no mais recente e doloroso caso do
menino assassinado por policiais militares do Rio de Janeiro, cujo corpo tentaram ocultar e que hoje são obrigados a reencenar o crime, para uma mera satisfação da opinião pública. Fazem essas coisas porque sabem que no final, a impunidade assistirá a todos. Dependendo do clamor público, alguns companheiros de bando até podem ser sacrificados, mas em nível nacional, o verdadeiro poder político que a tudo isso assiste e protege, permanece intocado.
JustificarEnquanto isso, no plenário do que chamam de congresso nacional, a bandeira brasileira e as riquezas que mostra estampadas em suas cores permanece ainda prisioneira dessa quadrilha.
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Já é tempo do brasileiro comum entender que de forma alguma esse estado de coisas mudará por
si mesmo. Somente um gesto de ruptura radical, revolucionária mesmo, porá fim a esse estado de coisas e derrubará essas falsas instituições, resgatando essas cores para o verdadeiro lugar de honra e trabalho que merecem, junto com a nação brasileira e seu povo.