segunda-feira, 27 de julho de 2009

P21 Um pedido de desculpas

Coisas da vida...

Assim são certas coisas da vida. Negras como um mar negro, onde estamos perdidos em suas águas sem ter a mínima idéia de para onde ir. Horizonte? Nenhum. Somente a escuridão e o bater de braços, num nado que não se sabe onde vai dar. Ao menos tentar.
Peço desculpas aos poucos, porém bons amigos que aparecem aqui para ler alguns pensamentos.
Por esses tempos, com grave doença da minha mãe e cuidando eu dela em minha casa, só em raros momentos como esse posso escrever.
Doença, problemas que aparecem dia a dia e e em outra situação da vida me surge a perspectiva da solidão, uma velha conhecida que andava ausente. Mas a vida é feita de coisas assim. Nem todas são boas e as que um dia foram, foram mesmo, ao menos fica a lembrança.
Mesmo assim a vida nos coloca trilhos à frente. Podemos estar a pé. Vemos os trilhos enferrujados, então deduzimos que trens não passam alí há muito tempo. O que fazer?

Caminhar.

Um escritor uma vez esteve perdido num deserto. Sobreviveu porque caminhou, mesmo sem ter certeza de onde iria parar.

Ao menos eu tenho os trilhos. Já é é um rumo.

sábado, 4 de julho de 2009

P20 Jagunços de gravata e terninho

Mudam as roupas, continua a tropa...
Começou e terminou a semana passada com os acontecimentos no congresso nacional ( é em letra minúscula mesmo ) a todo vapor. O assunto dos atos secretos onde amigos e parentes dos senadores foram beneficiados com nomeações e vantagens obscenas agitou tanto a cena política que todos trataram de tirar proveito da situação, menos o cidadão brasileiro, que como sempre se resignou a ler os jornais e também o resultado das contas do imposto a pagar. Afinal alguém tem que financiar a farra dos políticos.

Sendo os milhões de contribuintes da Receita Federal muito cuidadosos, poucos erram ao declararem seus bens e patrimônio para evitarem uma multa. Seguindo caminho contrário ao dos cidadãos comuns, um dos principais implicados no caso dos atos secretos do senado, no caso o senador José Sarney, presidente por enquanto do senado, cometeu o pequeno erro de "esquecer" de declarar uma mansão de sua propriedade no valor de 4 milhões de reais, talvez porque estivesse muito ocupado pensando nos discursos que iria fazer ao invés de fazer as devidas contas para o fisco. Em todo caso sua assessoria de imprensa já colocou a culpa em algum contador. Além de ir na contra-mão dos cidadãos contribuintes, José Sarney caminha na mesma direção de um dos ex-diretores do senado, Agaciel Maia, que também se "esqueceu" de declarar sua mansão de 5 milhões de reais.

Apesar dos protestos de que José Sarney não deve ser condenado, que tem uma presença histórica e coisa e tal, o discurso do presidente Lula definitivamente não convenceu a opinião pública, que notou no presidente do senado a espertíssima posição política de discursar sobre moral e bons costumes enquanto espera a poeira baixar. Quanto aos atos secretos, que ocorriam desde 2003 e passam de 600, ele nada fez nem nada vai fazer contra, mesmo porque seria ir contra seus amigos não só do PMDB como de outros partidos.

Vendo que a posição de Sarney já estava na situação do folclórico "balança mas não cai", até a ministra Dilma Roussef, mesmo visivelmente desgastada pelas sessões de quimioterapia, levantou sua enfraquecida voz a favor do senador, uma vez que ela e Lula contabilizam de antemão os prejuízos políticos para a candidatura dela na eventual renúncia do presidente do senado, que nada por nada é membro do PMDB que fez uma aliança com o PT de olho nas eleições presidenciais de 2010. Dizendo que Sarney não deve ser demonizado por atos de outros e evitando tocar na tecla de porque o presidente do senado não escancara de vez o que aconteceu, a ministra Dilma fez o que pôde, mas também caiu junto com Lula na desconfiança da opinião pública.

Para dar uma pausa aos falantes já cansados de tanto falatório sem resultados, o PT chamou sua outra voz de plantão e sempre às ordens, a de Ideli Salvatti, senadora catarinense pelo PT, líder da bancada governista e conhecida últimamente como a mais fiel trombonista política do seu partido, que prontamente subiu na tribuna do senado e fez um discurso defendendo José Sarney de todas as formas possíveis, mas mesmo assim seus protestos passaram no máximo em branco. Visivelmente abatido, o senador Aloísio Mercadante também ocupou a cena política para as defesas exigidas pelo partido.

O que se denota de tudo isso é a vergonhosa atuação de um presidente como Lula, que se nos anos 90 chamou o congresso de um bando de picaretas, hoje se alça ou melhor se rebaixa de forma voluntária à condição de galpão de guarda de todas as ferramentas de arrombamento de que dispõe o senado nacional. O arrombado como sempre é o patrimônio do povo.

Ideli Salvatti, já revendo seu futuro político, marcado pelo seu modo servil de discursar exatamente como os políticos mais conservadores e atrasados que o Brasil já viu no passado, pode esquecer de falar em seus discursos ao povo de seu estado e também do Brasil de qualquer idéia de defesa dos trabalhadores, os quais dizia defender em seu cargo. O senador Aloísio Mercadante que se revezava com Lula nas denúncias contra o congresso, hoje até mesmo sem conseguir disfarçar seu abatimento, aparece também para fazer o papel de defensor de capa e espada do seu partido. Ideologia, defesa dos trabalhadores, tudo é coisa do passado. Já a ministra Dilma Roussef, que nos anos 70, travestida de guerrilheira Vanda pegou em armas dizendo defender a democracia e lutar contra as classes exploradoras dos trabalhadores, hoje decidiu trocar de lado e sem meias palavras aderiu de armas e discurso às classes que um dia disse combater, hoje na defesa do conservadorismo político. O que parece mais triste em tudo isso, relembrando a biografia dos quatro, é que fazendo uma comparação com os soldados do filme "Tropa de Elite" que realmente lutavam para acertar as contas com os bandidos fosse como fosse, neste caso, Lula e seus aliados fazem o papel não de uma tropa de elite, mas sim de uma vergonhosa tropa da elite. Olhando tudo pelo que chamamos de ética, não muito diferente disso, lá pelos idos de 1920, os cangaceiros cearenses aterrorizavam a população de seu estado, mas alguns grandes proprietários de terras ligados a políticos permaneciam longe do alcance de suas armas. Eram os mesmos que lhes traziam armas e munições. Longe da aura romântica e heróica que canções populares lhe atribuíam, os cangaceiros sabiam que no fundo eram apenas isso, jagunços da elite. O que Lula, Dilma, Ideli e Mercadante tem feito nos dias de hoje não é muito diferente. Apenas usam roupas novas, mas continuam perpetuando a tropa da elite. Mudam as roupas, a tropa continua a mesma.