sábado, 24 de dezembro de 2011
P91 Um Feliz Natal
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
P90 Em quem você acredita e confia
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É assim, finalmente, que depois da declaração pública do juiz, que vemos como os corruptos se dão bem neste país. Em todos os países onde o ordenamento jurídico é civilizado e as punições a esses políticos são rápidas e impiedosas, mesmo assim corruptos existem, porém vivem em sobressalto. Assaltar o dinheiro público pode ser rendoso, mas é certeza de punição, de perda dos bens, de longos anos na prisão. Assim os corruptos nesses países confiam acima de tudo em seus planos de fuga para outros países, de troca de identidade, de viverem a partir daí uma vida dupla, oculta, com o risco de a qualquer momento serem descobertos.
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Já os corruptos brasileiros nem sequer pensam nisso. Pensam apenas em escolher uma praia próxima de suas novas residências depois que tudo acabar, onde viverão em residência sabida e conhecida de todos. Afinal, até por dever do ofício de corruptos sempre souberam do que o juiz Lewandowski fez questão de confirmar publicamente.
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Um exemplo é Marcos Valério, um dos envolvidos no escândalo do mensalão. que preso por esses dias pela Polícia Federal denunciado em grilagem de terras, mostrou durante a prisão um ar de enfado, de tédio mesmo, sabendo que aquilo era só um contratempo e logo ele seria libertado. Depois, entrevistado pela imprensa ao ser libertado, Marcos Valério exprimiu numa simples frase o que lhe dá a segurança de viver sempre envolvido em corrupção:
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Com essa singela declaração, ele deixou claro no que os corruptos desse país mais acreditam e confiam ao darem seus golpes.
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Acreditam e confiam acima de tudo na justiça. E de que outra forma poderiam se dar tão bem?
sábado, 3 de dezembro de 2011
P89 Aprendizes de barraco
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
P88 A fazenda
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Com os universitários da USP, que deveriam seguir o exemplo, o Brasil, ingressando oficialmente na astronáutica em 1967, hoje depende de foguetes americanos e franceses para lançar seus satélites e ainda hoje sofre traduzindo manuais americanos e alemães para tentar entender o que se passa dentro de instalações nucleares que importou. Os universitários da USP poderiam seguir o exemplo da Índia e do Paquistão, mas para eles, desses países só interessa a heroína que seus traficantes exportam.
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O pai do estudante morto, vergado com o peso de mais essa injustiça, acusando sempre o silêncio e omissão dos alunos, diretórios e direção da USP, abatido por profunda depressão e mortalmente ferido pela dor de presenciar o segundo assassinato de seu filho, morreu em 2009. Sua esposa ainda vive, cuidada pelos outros filhos que tem.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
P87 Amigos dos amigos
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Em notável demonstração de que ao menos a atitude de auxílio mútuo dos "amigos dos amigos" já foi levada para a cultura da USP em meio à baderna que foi a ocupação por estudantes encapuzados, vimos estarrecidos a atuação ambígua de um reitor desaparecido, incapaz de enfrentar a situação com a força necessária, meios políticos com declarações vazias, um judiciário que foi moroso ao dar a ordem de retomada da faculdade e ainda deu mais um prazo no dia final enquanto que a Polícia Militar de São Paulo, habitualmente violenta ao cumprir ordens de reintegrações de posse no caso de prédios abandonados ou terrenos invadidos por favelados, mostrou uma pouco conhecida suavidade contra os alunos invasores, seguindo recomendações até públicas de seu comandante para não falarem alto, para não baterem nos escudos, para não usarem armas de choque, para serem em suma, de uma educação de fazer inveja a um mordomo inglês.
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Afinal a polícia sabe que entre a massa de favelados que ocasionalmente espanca e baleia durante desocupações semelhantes não tem em seu meio filhos de magistrados ou políticos e quando é contra favelados, pobres ou despossuídos, como queira o leitor, aí é na base do "senta porrada", "mete bala", "passa o trator". Agora na frente da massa de alunos de classe média alta ou rica, onde existiam filhos de magistrados e políticos influentes, filhos de gente com poder político e financeiro capaz de criar sérios problemas para a corporação, aí a tropa de choque foi só "paz e amor" com as poses de força cuidadosamente calculadas e dosadas para que fossem evitados acidentes de consequências duras para o contingente policial. Para piorar, as autoridades acostumadas a baixar os presos pobres para celas imundas, dessa vez preferiu baixar a irrisória fiança estipulada em um salário mínimo para um rídiculo meio salário mínimo. De irrisória, a fiança passou para essa vergonhosa soma, mal se conseguindo esconder a ação entre amigos para favorecer os filhos de poderosos.
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Em meio a tudo isso, associações sindicais ligadas ao meio estudantil imediatamente desembolsaram somas de mais de 30 mil reais para pagar a fiança dos estudantes, afinal existia o risco de que alguns deles, nada afeitos às celas onde vivem os oprimidos que dizem representar, se acabassem levados para lá, caso tudo desse errado, poderiam logo estarem dizendo os nomes de quem realmente deixa traficantes e assasinos andarem sossegados pelo campus da USP, quem realmente leva a droga até lá, quem realmente a esconde e onde ela fica escondida no armário onde os viciados vão buscar a sua ração diária de droga. Afinal não se tem notícia de nenhum caso de crise de abstinência dentro da USP e como o consumo de droga é diário, muita coisa ia ser contada. Informações assim acabariam guardadas em algum fichário policial e os danos seriam grandes e assim maior ainda foi a movimentação para pagar a fiança dos viciados travestidos de estudantes.
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Em retrospecto, com uma ponta da ação passando pelos estudantes viciados e cúmplices dos traficantes, voando por por cima de uma reitoria fantasma, ficando na frente de uma polícia subitamente boazinha, ouvindo um poder político fraco e tranquila com um poder judiciário moroso, acabou se concretizando o mais puro cenário de uma verdadeira cópia de uma ação dos "amigos dos amigos".
Afinal entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Foram os papais e mamães dos bairros mais ricos de São Paulo conversar com os amigos da polícia, do judiciário e do poder político para garantir que os rebeldes sem causa na cabeça mas com drogas na cabeça, voltassem para casa são e salvos. Para melhor aparência para os meios de comunicação foi montada a bonita operação de "retomada" da faculdade, onde em bem sucedida operação policial os estudantes foram "surpreendidos" e não reagiram.
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Depois de mais de uma semana enfiados nas dependências da faculdade, sabendo de todas as notícias e acompanhando tudo o que acontecia dentro e fora da faculdade, cientes das declarações vazias do poder político, percebendo a morosidade da justiça em pronunciar uma decisão de retomada até condenatória, consumindo drogas e bebidas alcóolicas sem parar, isso sim a grande causa da invasão, depredando instalações e equipamentos que a sociedade sim é que vai pagar e além de tudo tendo a certeza da timidez das autoridades, aí sim viram que tudo, fosse como fosse, ia terminar em flores.
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Para completar o buquê de flores entregue aos estudantes das mais novas disciplinas de tráfico, consumo de drogas e depredação do patrimônio público, a reitoria nem mesmo teve a coragem de sequer considerar a expulsão imediata dos envolvidos na invasão, parecendo quase pedir licença para entrar na faculdade. Flores dadas a viciados às custas da sociedade, enquanto eles posam de "heróis da liberdade".
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Hoje esses amigos dos amigos que abrem as portas da faculdade para que traficantes e assassinos andem impunes lá dentro, esses "alunos" que já viram roubos, estupros, assassinatos mas que mesmo assim preferem que tudo isso aconteça desde que tenham a sua ração diária de drogas garantida, agora exultam e levantam os braços na pose de "guerrilheiros" , mas que ao invés de fuzis só empunham cigarros de maconha ou papelotes de cocaína.
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Na verdade, covardemente escoltados pelos papais e mamães nada mais fazem do que se acumpliciarem com traficantes e assassinos para poderem andar tranquilos pelo seu parque particular de consumo de drogas que chamam de "faculdade de filosofia", ladeados pelos seus amigos de crimes. A tudo isso, entre risos e chacotas chamam de "espaço democratico".
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Nos dias atuais, ruas de São Paulo já tiveram seu comércio abandonado, moradores abandonaram casas e até linhas de ônibus foram desviadas de ruas tomadas por avassaladoras multidões de viciados em todo tipo de drogas.
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Assim os "lutadores da liberdade", "adversários da ditadura" e mais outros nomes rídiculos que se outorgam, ladeados por papais e mamães que nada mais fazem do que acobertar os vândalos, viciados e traficantes em que seus filhos se tornaram, já sabem que tem um lugar para irem quando estiverem fora da faculdade.
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Sem dúvida eles estarão muito à vontade entre esses "amigos" muitos dos quais devem frequentar a faculdade pelo menos no curso de entrega de drogas.
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Além disso, papel para enrolar cigarros de maconha ou papelotes de cocaína, isso os "amigos dos amigos" da Faculdade de Filosofia da USP tem de sobra na biblioteca que frequentam.
domingo, 30 de outubro de 2011
P86 O professor Fernandinho
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
P85 Com que nome te chamam
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É necessário ler apenas algumas das notícias para chegarmos a uma conclusão nada animadora, mas infelizmente mais do que real. E assim elas vão surgindo na nossa tela.
Barrado pela Lei da Ficha Limpa por abuso de poder político e econômico, Cássio Cunha Lima, da Paraíba, pode tomar posse como senador graças ao entendimento do Supremo Tribunal Federal de que a lei não o alcança, portanto ele está liberado para tomar posse em seu cargo.
Entendamos que a Lei da Ficha Limpa, ao menos acreditam as pessoas mais decentes, foi feita para impedir que maus políticos pudessem alcançar cargos de onde, é claro, passariam a cometer delitos acobertados e protegidos contra qualquer punição.
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Tal é a essência dessa lei tão carregada de civismo, decência e correção moral que qualquer jurista, filósofo ou mesmo o simples cidadão entenderia que o tempo não a alcança. Ela escapa a qualquer apreciação desse tipo. Juristas que contemplassem o civismo, decência e correção moral como valores realmente a serem preservados, entenderiam que tal lei, protegendo o patrimônio da nação contra políticos desonestos, seria de imediata aplicação. Porém o STF decidiu pelo contrário, talvez guiado por entendimentos contrários.
É provável que se Cássio Cunha Lima tivesse sido eleito para o cargo de tesoureiro e transportador de valores do mesmo Supremo Tribunal Federal, talvez o entendimento dos juízes desse tribunal fosse completamente diferente. Mas como ele vai mexer com o dinheiro do cidadão, o problema é do cidadão.
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Em outra votação interessante e mais do que nunca reveladora da situação de decadência moral e corrupção em que se encontram mergulhadas as instituições brasileiras, o político Valdemar da Costa Neto, sempre implicado em denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público, terminou absolvido de qualquer acusação com o arquivamento de uma ação contra ele, arquivamento decidido pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Uma entidade que também supostamente deveria zelar pelo bom nome do Congresso Nacional, tem um notável placar de arquivamentos de denúncias que chegam até ela.
Ou os denunciantes são sempre incrivelmente ineptos, fazendo sempre denúncias absurdas e sem fundamento ou o fundamento do Conselho de Ética é sempre o de dizer que não vê nada demais em certas práticas com o dinheiro público.
No estado do Maranhão governado pela família Sarney, deputados estaduais aprovaram na prática, a estatização da Fundação Sarney, que até hoje parece não ter tido grande impacto no progresso do Brasil e muito menos do estado do Maranhão, que continua mergulhado numa pobreza secular.
Em todo caso, o dinheiro dos cidadãos contribuintes do Maranhão e em certa parte dos cidadãos do Brasil vai arcar com as contas da Fundação Sarney. A fundação era investigada pelo Ministério Público, teve as contas reprovadas pelo TCU no período de 2004 e 2007, mas o problema agora é do cidadão.
Resta saber, já quase adivinhando, com que nome os principais personagens dessas notícias chamariam o cidadão comum. Sempre investigados, denunciados mas no fim das contas absolvidos por votos de tribunais e conselhos espalhados pelo Brasil afora, é mais do que claro.
Depois de tantos nomes como Piolin, Bozo e Tiririca, esse agora recebendo salário graças ao imposto que o cidadão paga, realmente Palhaço Cidadão ia ser um nome bonito mesmo.
sábado, 8 de outubro de 2011
P84 Um homem e seu sonho
Ainda sob o impacto da morte de Steve Jobs há três dias atrás, seus admiradores no mundo inteiro relembram com tristeza pela sua perda, a imagem de um dos criadores do computador pessoal que representou um marco inesquecível na história do mundo. Com sua aparência sempre informal nos modos e na vestimenta, sempre lembrando a mistura de autodidata, empresário, sonhador e cientista, Steve Jobs deixa uma marca toda própria num dos processos civilizatórios mais importantes pelos quais o mundo já passou.
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Mais do que isso, junto com o progresso que trouxe para o ser humano com a concretização de suas idéias, muitas vezes incompreendidas tamanho o alcance de sua visão, ele deixa também uma lição de vida que serve de exemplo a todos que trilhem um caminho semelhante e que ao mesmo tempo que tenham sonhos, se vejam premidos por todo tipo de dificuldades. Filho adotivo de uma família de poucos recursos, sempre interessado em ciências, Jobs deu mostras de sua tenacidade ao entrar numa universidade. Quase sem recursos para pagar as mensalidades, até mesmo catava latinhas de refrigerantes para reciclagem, com o que amealhava recursos para pagar suas contas. Mas mesmo com todo esse esforço foi obrigado a abandonar seu curso. Não abandonou porém seus sonhos.
Ao lado de seu companheiro de idéias, o engenheiro eletricista Steve Wozniac, deu os passos decisivos na criação do Apple I, o primeiro computador pessoal a alcançar sucesso entre as pessoas comuns e realmente abrir as portas de um novo processo de civilização que hoje alcança todas as pessoas do mundo. Numa época em que os circuitos eletrônicos digitais começavam a se tornar pequenos mas potentes o suficiente para serem montados por dois técnicos numa garagem, os dois amigos precisaram vender o único veículo que dispunham para transporte para financiar a compra de materiais para tornarem real o que hoje chamamos de computação pessoal. Na época Jobs já era um defensor entusiasmado do que ele dizia ser a possibilidade de levar o poder dos grandes centros de computação, até então fechados ao comum dos mortais, para entregá-lo à criatividade, lazer e cultura de milhões de pessoas pelo mundo afora. E conseguiu tal proeza.
Na história da civilização humana desde tempos remotos, os progressos sempre foram difíceis e boa parte das conquistas arrancadas da natureza pelo ser humano sempre veio do seu caminho passo a passo na direção do conhecimento, com o que a natureza, de inimiga impassível passava a aliada sempre que seus segredos eram compreendidos e transmitidos para as novas gerações.
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Ao longo de milhares de anos, o conhecimento acumulado deixou de ser estático em imensas bibliotecas para ser dinâmico em gigantescas máquinas de processamento desse mesmo conhecimento. Até mesmo pelas imposições da tecnologia disponível isso só podia ser feito em imensos centros de processamento. Na época em que iniciou seus estudos, Jobs foi um visionário que via na tecnologia já acessível do seu tempo a possibilidade de miniaturizar aquelas máquinas tornando possível que todas as pessoas dispusessem de toda a força do processamento das informações acumuladas pela humanidade em todos esses milhares de anos.
Com a criação em definitivo da indústria da computação pessoal, tornando a informática um meio de desenvolvimento pessoal, educação e aprimoramento de milhões de pessoas pelo mundo todo, Jobs desencadeou uma revolução na qual nem ele mesmo com toda sua genialidade esteve imune aos efeitos de mudanças abruptas. Foi essa mesma genialidade que se em determinado momento o tirou da liderança de sua empresa, o trouxe de volta tempos depois exatamente para impulsionar a criação de mais e mais aparelhos que elevaram a computação pessoal a um nível do qual talvez nem mesmo ele pudesse sonhar quando começou sua jornada.
Já doente desde 2004 com um câncer de diagnóstico negatvio, ainda assim Jobs demonstrou mais uma vez sua capacidade de superar os problemas que se abatiam sobre ele e lançou-se à luta contra a doença. Mesmo sabendo de que talvez não tivesse muito tempo de vida, assim que se recuperou após o primeiro tratamento, voltou à ativa na sua empresa e deixou o mundo assombrado com suas aparições em apresentações onde demonstrava novos aparelhos criados pela sua empresa, baseados sempre em suas idéias e observações de que os produtos deveriam ser simples, elegantes e funcionais, acima de tudo porque eram destinados à computação pessoal.
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Steve Jobs morreu mas deixou esse legado de um avanço sem precedentes na história da civilização pelos meios que criou desde um simples começo com expectativas nada animadoras até chegar a uma das maiores empresas do mundo, sempre orientada pelo seu gênio criativo. Hoje não milhões, mas bilhões de pessoas tem ao seu alcance tudo o que o processamento de informações pode oferecer em termos de lazer, conhecimento e desenvolvimento pessoal.
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Tudo isso que o mundo hoje desfruta se originou de um sonho que esse gênio jamais abandonou, mesmo quando as dificuldades o cercavam por todos os lados.
Numa imagem simples, como era seu estilo, seus seguidores o homenagearam após sua morte, profundamente entristecidos pela perda do criador de inventos que alteraram suas vidas para melhor.
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Sempre nos livros de história, a vida e a obra de um homem chamado Steve Jobs serão lembrados da forma simples que ele deixou como sua marca pessoal, mas a magnitude de sua criação será de uma riqueza sem fim ao longo dos tempos que virão.
sábado, 24 de setembro de 2011
P83 O mundo era perfeito mesmo
Texto originalmente postado em 20.09.10 no bilogue Cartas no Dia
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Mas esquecido da cena inicial, que havia visto aos 12 anos num pequeno cinema do interior paulista, é que me dei conta de como o mundo era perfeito. O filme começa com a aproximação de um avião a jato. Enquanto ele se aproxima soltando uma quantidade de fuligem proibida nos dias de hoje, a câmera passa para um plano alto e aí a trilha sonora, lindamente cantada, começa. Aí, de forma inevitável e cativante comecei a relembrar das coisas que vivíamos então, num mundo perfeito. O avião, um Boeing 707, com imensas 4 turbinas, grandes consumidoras de querosene e que na época despejavam toda a poluição possível, fora o rugido também proibido nos dias de hoje, é de uma época em que os combustíveis eram baratos, a poluição de hoje era só um assunto desconhecido, aquecimento global era uma coisa nem sonhada e por um instante todos nós nos sentíamos americanos dentro daquele avião, com todo o luxo possível, não brasileiros comendo pipoca dentro de um cinema.
A trilha sonora no estilo de Ray Conniff, claro era apreciada, se bem que essa trilha é um caso à parte, é linda mesmo de se ouvir abraçado com a mulher amada. Na época, ser elegante e fino e aparentar um certo conhecimento do estilo de vida nas grandes cidades era ter o último disco de Ray Conniff. Quem tinha aparelho de som, coisa rara na época, corria para a discoteca (naquele tempo, discoteca era para vender discos mesmo) A MPB era chata demais por isso só uns 3 ou 4 na cidade ouviam. No caso tínhamos a vitrola monofônica de 78, 45 e 33 rotações por minuto. Bom mesmo era o som estereofônico dos aparelhos High-Fidelity ou os chamados Hi-Fi, que aprendíamos a pronunciar para não dar furo na frente das meninas : rái-fái. De novo, tudo vinha da genialidade dos americanos. E lá íamos nós nos bailinhos de jovens inocentes de tudo, dançando de mãos dadas e corpos separados, sob o olhar vigilante dos pais e mães no que era chamado de "brincadeira dançante". Os carros que víamos no filme, claro, deixavam todos nós nos perguntando que tipo de tesouro a América tinha encontrado afinal? Estávamos acostumados a andar de Volkswagen, o usual da época. Naquele tempo, 4 entre 5 donos de carro tinham um. Ou então o velho Jeep, Rural Willys e coisas assim. Vez por outra, algum parente mais rico de algum conhecido vinha da capital no seu Impala importado, e ficávamos de olho naquela lataria reluzente. Nos filmes da época, quase todos os carros como táxis, viaturas de polícia, carros do vizinho ou do protagonista do filme, eram o lindo e imbatível Ford Galaxie. Por dentro e por fora, nos mostrava o que era ser americano. Luxuoso e bem acabado, uma lataria super reforçada, pára-choques de aço capazes de derrubar um muro e com o consumo em inacreditáveis 3 quilômetros por litro. De gasolina azul, é claro. Mas na época, comprar gasolina era como comprar água mineral hoje.
Terminado o filme, íamos para casa certos de que víviamos no mundo mais perfeito possível. Naquela época, o mundo era dividido somente em bloco capitalista e bloco comunista. Por sorte tínhamos nascido na parte capitalista, ou melhor dizendo, americana. A civilização estava em volta de todos, mesmo que incipiente.
Em casa, antes de dormir, íamos escovar os dentes. E todos nós, com um sabor de vida americana na boca, fazíamos isso usando a pasta dental Kolynos. Ou Colgate. Podia ter coisa mais americana do que essa? Não tínhamos carros de luxo e nem aviões, mas pelo menos a pasta de dentes estava lá. Ou que outra coisa poderia fazer com que nos sentíssemos a um passo de começar a falar inglês no próximo momento, como se de repente nos tornássemos parte da vida que tínhamos visto no filme?
Era um mundo perfeito mesmo.